O estudo em latim studium significa empenho, esforço, o trabalho para alcançar um fim. No entanto, quando falamos da orientação espiritual, diferenciando-a da terapia, acentuamos o seu caráter receptivo. A atitude de empenho, esforço e trabalho conota atividade. A atitude de recepção conota passividade. Como, pois, entender a ação da orientação espiritual, como viemos refletindo até agora, dentro desse binômio ativo-passivo?
O espiritual não é nem ativo nem passivo. Ele é antes um movimento sui generis, próprio, a dinâmica anterior a essa divisão bipartida. Digamos é uma ação própria. A sua dinâmica é expressa na língua grega na forma medial do verbo. Em português, o verbo, a palavra que indica a ação, tem a sua forma ativa, passiva, mas não tem a forma medial. Em certas situações, em português esse modo de ser do medial é expresso ou no intransitivo ou na forma reflexiva ou mesmo na forma passiva. Como já foi dito, o modo de ser da ação do verbo medial não é nem ativo nem passivo. Não seria, porém, um meio termo, uma mistura meio a meio, neutra. Seria antes uma dinâmica toda própria, um médium atuante, anterior à divisão em disjunção ativo e/ou passivo. Usualmente, quando falamos de ação e atuação, representamos alguém ou algo causando uma força sobre um alguém ou um algo. Assim, quem causa uma ação e a própria força atuante são ativas; quem ou o que recebe, padece ou sofre a ação é passivo. Quando quem age (o ativo) atua sobre si mesmo (o passivo), se dá o reflexivo: o agente é ao mesmo tempo o paciente, mas, aqui, o agente enquanto ativo e o paciente enquanto passivo não coincidem. Aqui o ser da iteração entre ativo e passivo e reflexivo é de tal feitio que é sempre unidirecional, uma linha reta a modo de flecha. O modo de ser da ação do verbo medial não pode ser captado, reduzindo-o à unidirecionalidade de flecha na iteração ativo-passivo-reflexivo, mas captando-o, vendo-o a ele mesmo, de imediato. O que ali aparece de imediato é o que está dito no verbo ser. Tudo que é se diz em português: o ente. Ente, no latim, ens,-tis é o particípio ativo indicativo do verbo esse (ser) e diz a ação de ser, a dinâmica de ser. Por isso, para que ao usarmos os termos ente, ser, seres, essa dinâmica da ação medial não seja esquecida, podemos dizer em vez de o ente, o em sendo, em gerundivo. O abuso do gerúndio, na forma em <…>ndo é um recurso de linguagem que tenta insistir na consideração de que é necessário captar esse modo de ser da ação medial sui generis nele mesmo. Esse captar imediato de ser da ação medial seria muito simples, por ser imediato e imediato, por ser simples. Só que o imediato e o simples não pode ser percebido no seu ser, a não ser que a percepção ou melhor a recepção seja imediata e simples, a saber, pele a pele, de todo em todo, cada vez de uma vez. O modo medial de ser ação pede a captação imediata dessa ‘realidade’, antes da sua divisão e classificação em sujeito, objeto, ato, em ativo, passivo e reflexivo de tal sorte que a ação ou ato é ‘anterior’ ao sujeito e objeto, é a dinâmica do todo, em sendo. Esse modo de ser imediato e simples deve se tornar centro de nossa atenção, quando falamos do espiritual.
A maneira de o ente, o em sendo se nos tornar presente se chama fenômeno.