Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O critério

08/03/2021

 

Frei Hermógenes Harada

Em sua Regra não-Bulada, ao falar da recepção dos candidatos ao “noviciado”, São Francisco diz: “Se alguém, querendo pela inspiração divina aceitar esta vida, vier a nossos irmãos, seja por eles recebidos benignamente”. ‘Pela inspiração divina’ parece indicar o critério para a recepção dos candidatos. Uma espécie de medida para saber se o candidato tem ou não tem vocação.

Se, porém, as palavras ‘querendo pela inspiração divina’ não forem apenas o enfeite, uma mera expressão ou um modo de falar piedoso, mas querem dizer de fato uma realidade, então a gente fica atrapalhado. Pois, embora a gente admita que a inspiração divina é uma ótima garantia para averiguar a vocação, como sei que alguém quer realmente pela inspiração divina? Com que critério verifico o próprio critério da vocação, como me certifico se é ou não pela inspiração divina?

Pelo teor do texto de São Francisco, se percebe que ele e seus companheiros não tinham esse tipo de perplexidade. Eles sabem realmente se é ou não pela inspiração divina.

E nós, um tanto escandalizados diante de uma tal pretensão, perguntamos a São Francisco e seus companheiros: “como é que vocês sabem acerca da inspiração divina? Mesmo que vocês tivessem uma revelação divina em carne e osso, como sabem que é realmente uma revelação divina?” Mas… que tal, se São Francisco e seus companheiros, em vez de nos responder virassem a pergunta contra nós e dissessem: “Como é que vocês NÃO sabem acerca da inspiração divina?” É que quem pergunta ‘como sabe?’ não sabe. E quem pergunta ‘como não sabe?’ sabe…

Uma pergunta: Por que não sabemos? Costumamos responder: Porque o divino transcende nossa experiência. Essa resposta é uma verdade? Ou é uma teoria aprendida, decorada, mal analisada, que esconde uma irresponsabilidade mental? O que sabemos acerca dessa transcendência, realmente?

Uma suspeita: Não é assim que o divino é uma experiência, sim experiência essencialmente, tipicamente humana, experiência de fundo, sui generis? Uma experiência toda própria, que exige um preparo, um tirocínio, uma busca, uma aprendizagem toda especial, exclusiva dela, e um longo exercício, uma árdua e contínua prática?

Por que não sabemos acerca dessa dimensão, dessa experiência toda própria, chamada o divino? Não é porque não temos a experiência do divino? E por que não temos essa experiência? Não é porque na realidade somos diletantes, uma espécie de amadores, sim turistas na procura, na busca, no estudo dessa dimensão? Não é porque jamais nos exercitamos para valer, dura e radicalmente, com uma boa e discreta, bem esclarecida orientação, na prática dessa experiência?

Um mestre na música sabe de imediato, no primeiro contato, se um candidato tem a disposição musical ou não. Por que sabe? Porque ele é um mestre, isto é, um discípulo dedicado, que de corpo e alma, por longos anos, se doou ao trabalho tenaz, diligente e cada vez mais exigente na arte da música, adquirindo com o tempo um faro certeiro e clarividente.

Entramos no noviciado, aprendemos espiritualidade, aprendemos a rezar, a meditar, nos analisamos, nos ‘psicologizamos’, fazemos pastoral, reuniões, cantos, trabalhos… Depois do noviciado, aprendemos isto ou aquilo, adquirimos, ou melhor, recebemos muitos conhecimentos acerca de uma porção de coisas, teorias filosóficas, trabalhamos nisso e naquilo, fazemos retiros, abertos e fechados, participamos de cursos, cursos de lá, cursos de cá, estamos sempre atualizados, nos engajamos, combatemos a alienação, estamos abertos a tudo o que é bom, fazemos ioga, zen, parapsicologia etc. etc. Afinal, em que estamos engajados? Em que estamos ficando mestres, isto é, discípulos engajados, dedicados, atentos e radicais, de corpo e alma? Na aprendizagem de quê? Em que estamos ficando certeiros, clarividentes?

Talvez seja esse borboletear ‘de leve’ na superfície de uma porção de coisas aquilo que jamais nos permite ter uma busca séria e quente, incômoda, dura e difícil. Não se torna tal por não chegar a pesar como tarefa, compromisso, como imposição de uma realidade-terra, e nos faz falar, falar, falar tanto da necessidade da prática, do engajamento, sem jamais nos clarear a mente e o coração, a ponto de nos capacitar a um julgamento certeiro, justo e claro da realidade, um saber cheio de faro acerca de alguém que vem a nós e quer caminhar conosco…; “Se alguém, querendo pela inspiração divina aceitar esta vida, vier a nossos irmãos, seja por eles recebido benignamente”.

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