Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Introdução à metafísica – V

19/04/2021

 

Da filosofia e do seu método

1.- Do que viemos estudando até agora, como a palavra meta-física já indica, lidamos com a concepção que foi denominada de teoria de dois mundos, a saber, do mundo sensível e mundo supra sensível. O mundo supra-sensível é o tema, o objeto da ciência chamada metafísica. Essa pressuposição que denominamos teoria de dois mundos é como ponta visível do iceberg. Ela implica todo um mundo de compreensão do ente no seu todo, portanto, do universo que agora no início do primeiro módulo e das aulas não podemos explicar tudo ao mesmo tempo a contento. Aqui, no estudo e na aprendizagem da filosofia devemos no início deixar uma porção de coisas em suspenso. É que a filosofia é um saber que tem o seu modo todo próprio de ser, ensinar e aprender. Falemos, pois, um pouco do método em filosofia.

  1. Método (methodós) vem do grego e significa em grego caminho. Só que hoje, o nosso entendimento do que seja caminho está tenso, virado e fixado ao fascínio da excelência do poder, da eficiência da estrada, e quiçá da auto-estrada, da rodovia do tipo high-way: um meio para o fim, a modo de instrumento que possibilite ao homem alcançar o objetivo do seu projeto de modo o mais rápido, o mais fácil e o mais previsto e certo possível. Assim, método significa, hoje, usualmente: um conjunto de teoria e práxis como procedimento sistemático para se alcançar com segurança, rapidez e sem impedimento o objetivo de um plano projetado.

Em grego methodós significa caminho, via, num sentido mais amplo e livre, diferenciado em modos de ser. Por isso a palavra methodós, embora substantiva, conota movimento, um verbo: met’ hodós: meta+hodós: segundo ou seguindo caminho; se enviando, se aviando em seguida; em caminhando em seguimento.

A preposição metá implica duas nuanças de significação: 1. No meio de; no entre-meio de; entre; no médium de; na ambiência de; no seu elemento próprio de; juntamente com, com[1]. 2. atrás de; depois de; seguindo a; Método: methodós = meta + hodós.

“Forçando” um pouco a compreensão que unifica as duas nuanças como momentos de um único movimento, possamos talvez dizer: a preposição metá nos mostra o modo de se mover do caminho d´água: um pequeno olho d’água, em dezenas de minúsculos fios líquidos borbulhantes vem brotando o elemento água e aos poucos formando uma pequena poça d´água ao redor do orifício da fonte. Aos poucos a poça d´água transborda e surge(m) um ou vários encaminhamentos de fios d´água em diferentes direções, e formações, conforme os acidentes da paisagem da Terra. Esse modo de surgir, con-ter-se abrir-se e mover-se em diversas orientações, seguindo o que e o como do que vem de encontro como paisagem é a essência do caminho como met’ hodós.

Ilustremos esse modo de se aviar do caminho, entendido como methodós, reproduzindo mutatis mutandis a descrição de senda, que abre como apresentação, o livro Pensadores Franciscanos, paisagens e sendas[2]. Esse modo de ser do caminho, enquanto methodós, aparece, mormente, no que em português chamamos de vereda.

Vereda é caminho estreito, humilde. No cerrado goiano se diz também trilheiro. Ora como atalho, ora como trilha de animais, pequenos e grandes, ora como sulcos deixados pela chuva, vereda dá voltas, serpenteia através, ao longo e por meio das vegetações, altas ou rasas, densas ou raras, ricas ou pobres, entre colinas e montanhas, nos cimos das elevações e nos vales. Até mesmo desce com cuidado entre as rochas aos abismos. É discreta, sempre pobre e modesta, e é fiel. E não aparece, ela própria. Pois não sabe ser estrada, é apenas trilha, sendeiro. Mas conduz. Sempre, discretamente. Mormente, lá onde não há estrada, por regiões não transitadas. Leva ao seu destino os habitantes da Terra, abrindo-lhes cada vez de novo paisagens ainda não vistas, por onde se avia. As sendas, de diversas maneiras, confluem e se perdem numa trilha menor ainda, que por sua vez se esvai num cerrado desconhecido de vegetação rasa, onde na sobriedade simples da porção de um pequeno ermo descampado, debaixo de uma pequena rocha, salta alegre e silencioso um olho d´água, uma pura fonte cristalina do escondido pais de maravilhas. É possível que esse olho d´água seja a porta estreita, o apertado desfiladeiro, de onde brota silenciosa a inesgotável vida da vigência suave e poderosa do retraimento da presença que toca e discretamente impregna todos os caminhos, mesmo as estradas, rodovias que rasgam o cerrado, fazendo-o desaparecer como vegetação selvagem, inútil e pouco produtiva.

Esse modo de ser que os gregos denominavam methodós, e há pouco descrevemos como o modo de se encaminhar da senda, modo esse que é em seco os fios condutores do nascer, crescer e consumar-se de uma fonte, de um olho d´água, está e se move sempre junto de todas as coisas, e em toda parte, não simplesmente passando-lhes ao lado ou os atropelando ou até mesmo os eliminando, mas abrindo-lhes espaço livre de suas possibilidades, desvelando-lhes a sua paisagem, seu elemento, seu habitat; e lá onde a paisagem é devastada pela violência de um traçado que nihiliza a paisagem, ali já existente, i.é, o modo de ser do encaminhamento seguidor do caminho, o método, ali está silêncio e concomitante, insinuando a tentativa de acenar o sentido do ser retraído da excelência pré-potente da efetividade e produtividade de tal high-way.

Todo e qualquer modo de ser, seja de que coisa for, refere-se ao homem, à existência humana no seu ser. E o modo de ser do caminho como methodós diz respeito ao que a existência humana tem de mais íntima e nuclearmente próprio.

– Fazer um ex-curso bem breve sobre atenção, intuição, introspecção, atenção, calígine etc.

– Ex-curso sobre a importância da leitura de textos das obras produzidas pelo espírito.

– Ex-curso sobre os métodos das outras ciências positivas que no curso de filosofia, ali, entram como que complementando a filosofia: problemas e equivocações na organização das disciplinas.

Caráter incomparável da filosofia

Uma das grandes dificuldades que sentem os que iniciam a filosofia, dificuldade que os acompanha em todo o percurso do seu estudo, é acolher, captar, abordar a filosofia como ela é nela mesma e a partir dela. Assim, no início, nós tentamos compreendê-la, comparando-a com outro saber com o qual estamos familiarizados. São cinco as grandes tentações de não encararmos de frente a metafísica como filosofia, reduzindo-a  na sua compreensão e determinação a outros saberes: à ciência e mundividência, à arte e religião e por fim à historiografia.

  1. a) Nessa exposição identifiquemos metafísica com filosofia e a chamemos simplesmente de filosofia. Essa identificação da metafísica com a filosofia é válida, pois, mais tarde, haveremos de ver que metafísica é a essência, o núcleo, o âmago da filosofia.
  2. b) A filosofia, aqui a metafísica, não é ciência positiva, mas também não é mundividência. É mais do que ciência positiva e mundividência. Esse mais não é no sentido de potencialização, acréscimo, quantificação dentro do espaço, a partir de onde tanto ciência como mundividência se põem e constroem o seu edifício. O mais da filosofia se refere à radicalização, isto é, adentração em direção à raiz, ao fundo profundo, portanto ao aprofundamento, à fundamentação do pré-suposto sobre o qual constrói a ciência positiva, portanto, sobre o positum, e a mundividência, a saber, sobre crença particular ou de grupo de pessoas[3]. Aqui não confundir o positum com o empírico da ciência positiva e crença com a fé, p. ex. da cristidade[4] A caracterização da filosofia como não ciência positiva não nos deve levar à conclusão de que a filosofia é vivência, sabedoria da vida, ação, piedade, etc., portanto contra ciência e seu poder, mas pelo contrário, como ciência das ciências no sentido de sua fundamentação. A filosofia, portanto, não constrói para cima a modo da ciência positiva, mas cava para baixo, para o fundo das pressuposições da ciência, cava para baixo das pressuposições, das pré-compreensões da ciência e da crença. E busca não somente fundamentar ou desfundamentar os posita das ciências positivas naturais e humanas e também das crenças, mas procura, busca como sua tarefa fundamental ir cada vez mais a fundo na direção das raízes do ser, buscando o sentido do ser que dá condição da possibilidade de ser da ciência e da mundividência.
  3. c) Se, em referência à ciência, filosofia era mais do que a ciência, em referência à arte e à religião, ela é menos, não no sentido de ela ser uma arte ou uma religião menor, mas sim de a filosofia ser no seu modo próprio de ser, de não possuir nada da positividade toda própria da arte e da religião, de tal modo que a filosofia não lhe pode nada dar, nem lhe acrescentando algo novo, nem lhe servindo de complementação, mas apenas de co-memoração e re-cordação da fidelidade e limpidez da identidade de cada qual consigo mesmo e nele mesmo.
  4. d) A filosofia não pode ser entendida aproximando-se dela através da historiografia. Pois esta é uma ciência positiva e, como tal, pressupõe a filosofia, como a questão de fundamentação da historiografia no seu positum. Alem disso, a filosofia como um aprofundamento de radicalização de toda e qualquer ciência positiva perfaz o sentido do ser da história, de tal modo que, se quiséssemos falar da história da filosofia, esta possui história e historicidade toda própria dela mesma a partir dela mesma portanto sem comparação.

METAFÍSICA 03 A

Os temas da metafísica

  1. Metafísica como disciplina filosófica tem por tema o mundo suprasensível. Dito de outro modo: tem por tema os entes referidos à realidade que está além do mundo sensível. As coisas do mundo sensível se diziam em grego tà physiká. O conjunto, o todo das coisas physikas se dizia em grego physis, que foi traduzido pelos romanos por natura, natureza. Segundo a enciclopédia Logos, physis é o conjunto, a totalidade

do que nasce e morre, o que está sujeito à geração e à corrupção, o que aparece e desaparece, o que se move no espaço e no tempo, no mundo dos homens. A natureza circunscreve-se ao âmbito da experiência humana, real ou possível. As ciências que tratam das realidades sujeitas ao nascimento e à morte, à mudança contínua e às transformações, eram, para os gregos e para os antigos, as ciências físicas.

  1. Diz Logos:

Para além (metá) destas substâncias ou coisas móveis e corruptíveis (ta physiká) como último fundamento imóvel, eterno e necessário, existiam as substâncias ou seres ou coisas cujas propriedades eram diferentes dos entes materiais sensíveis. A metafísica seria, assim, a ciência que se ocupa desses seres: ciência que demonstra a sua existência e explica os seus atributos.

É a realidade, a totalidade dos entes que é denominada usualmente de mundo suprasensível ou mundo inteligível ou mundo sobrenatural. Esta é a primeira e provisória definição do que seja metafísica.

  1. Tentemos examinar quais as possibilidades existentes de evolução na compreensão da metafísica, a partir dessa definição provisória e primitiva da metafísica. Metafísica é ciência que tem por objeto os entes do
  • Espiritual: divindades, espíritos, demiurgos, anjos, homem enquanto alma e espírito. Antônimo: mundo do corpo.
  • Ideal: idéias, conceitos, números, relações matemáticas, lógicas, conhecimentos apriorísticos. Antônimo: mundo da matéria.
  • Racional: sujeito-homem, sujeito-homem empírico e sujeito-homem transcendental. Mudança de perspectiva na compreensão da metafísica como ciência do além mundo sensível na modalidade aqui acima mencionada: surge a questão pelo sentido do ser do homem e ser do ente não humano, a saber, do ontológico do ôntico.
  1. Necessidade de recolocar a questão do sentido do ser e de-construir a pré-compreensão do sentido determinado do ser que se tornou dominante e fixo na filosofia como metafísico.
  2. Quando colocamos as questões metafísicas sob a mira da questão do sentido do ser, não mais estão em jogo os entes do mundo supra-sensível, nem do mundo sensível, mas do sentido do ser que opera ali quando falamos do ente, seja na modalidade do mundo sensível, seja na modalidade do mundo supra-sensível. Com outras palavras, entra em jogo a busca do sentido do ser que abre horizonte cada vez para o todo da essência da metafísica, seja ela de que época for.
  3. P. ex. na metafísica tradicional distinguimos três grandes áreas do ente que podem ser denominadas sob os termos Deus, homem e universo. Esses termos aqui não indicam propriamente este ente, aquele ente, mas uma totalidade chamada mundo divino, mundo humano, mundo universo. O sentido do ser aqui dominante, que abrange os três mundos do ente como sentido do ser em geral, pode não conseguir abranger o ser do ente homem nem o ser do ente Deus.
  4. Essa questão vamos tomá-la com maior detalhe no fim do módulo. Agora vamos deixá-la apenas mencionada.

METAFÍSICA 03 B

Mais uma vez algo acerca da metafísica

  1. No início, metafísica (metà tà physiká) indicava algumas preleções de Aristóteles, catalogadas atrás ou para além das escritas do mesmo Aristóteles, que versavam sobre a física[5]. E física, então, consistia no saber que dizia respeito a tudo que surge, cresce e se consuma, abrangendo todas as áreas do ente, seja ele pertencente ao mundo natural de minerais, plantas, animais e homens, ou pertencente ao mundo cultural do homem, seus produtos e suas obras. Metafísica consistia, pois, no saber que dizia respeito ao que ultrapassava esse mundo de entes, sujeitos ao aparecimento, ao surgimento e ao desaparecimento, à corrupção, portanto, aos entes mutáveis, apreensíveis sensorial e sensivelmente, acessíveis aos cinco sentidos. Metafísica dizia respeito aos entes do mundo supra-sensível, para além da física no seu sentido bem lato. Dizia respeito também aos princípios fundamentais do saber acerca desses entes supra-sensíveis.
  2. Para compreender melhor esse mundo supra-sensível, devemos pensar no seguinte problema:
  • Quando no mundo sensível nos deparamos com o ente, sempre o fazemos, indicando este ou aquele ente em particular. E isso que indicamos e captamos como este ou aquele ente apresenta o seu aspecto virado para nós, que muda e se transforma em diferentes modos do aparecer. Esses elementos mutáveis se chamam acidentes. E ao mesmo tempo apresenta o seu núcleo interno imutável, permanente que não pode ser captado sensivelmente, mas sim inteligivelmente. Esse núcleo, esse âmago do ente se chama essência. Assim, os antigos faziam diferença entre o modo de ser e de captar o ente puramente pertencente ao mundo suprasensível e o modo de ser e de captar o ente pertencente ao mundo sensível, mas que possuía sua essência, cujo modo de ser e de captar era do mundo suprasensível.
  • Aos poucos, porém, o esquema do ser que dividia o todo em duas esferas, em mundo sensível e mundo supra-sensível (ou mundo visível e mundo inteligível ou mundo natural e mundo sobre-natural), e que reservava à física o mundo sensível e à metafísica o mundo supra-sensível, se transformou em esquema que distinguia de um lado, o aspecto acidental e o aspecto essencial do ente que habitava o mundo sensível, e de outro lado a pura essência do ente que habitava o mundo supra-sensível. Surgiu assim o mundo de puras essências ou de puros espíritos, a saber, o mundo divino, o mundo dos espíritos puros ou anjos e o mundo humano, enquanto era habitado pelo ente em parte espírito (aspecto essencial do homem) em parte matéria (aspecto acidental do homem). Nesse esquema agora já transformado, a metafísica tratava do mundo das essências ou dos espíritos, e a física do mundo dos acidentes.
  • Aos poucos esse esquema também se transforma, e quando se negou ou se duvidou da existência do mundo das essências puras ou dos puros espíritos, permaneceu apenas como realidade o mundo sensível, e no homem o que fazia parte do mundo supra-sensível (a alma e), o espírito, se reduziu ao epifenômeno do corpo. E com isso, a compreensão do universo em física e metafísica, portanto, a compreensão do universo em teoria de dois mundos simplificou-se, tornando-se apenas um mundo (o antigo mundo sensível), um todo, homogêneo e único, e possibilitou o desenvolvimento da ciência moderna.
  • Certamente também restou aqui ainda uma dualidade diferencial entre o modo de ser das ciências naturais e das ciências humanas que na linguagem antiga derivada do mundo científico alemão se chamava ciências da natureza (naturais) e ciências do espírito (humanas), mas em sendo tanto ciências naturais como ciências humanas positivas e as ciências humanas, em adotando cada vez mais o modo de ser científico das ciências naturais, acentua-se cada vez mais a unificação das ciências debaixo de um denominador comum cujo modo de ser e proceder tem por modelo as ciências naturais físico-matemáticas.
  1. Esse esboço ligeiro e superficial da e-volução da metafísica, até desembocar na física, agora de cunho científico moderno atual, nos coloca numa questão[6], de grande inter-esse da metafísica ou filosofia.
  2. A época anterior à metafísica se chama época pré-socrática. A compreensão do ser nos pré-socráticos que lhes determinava o sentido do ser e do compreender de si e dos entes, cujo ser é não-humano se denominava physis (φuσις). O ser, enquanto Physis, em cuja entonação vibravam todos os entes, concretos e diferenciados em mil e mil variantes, numa identidade sintônica polífona, conferia ao todo do ente uma densa unidade harmônica, basicamente homogênea, una, plena e cheia. Tratava-se de uma pura positividade da entidade de ser ente.
  3. O sentido do Ser que determina a abertura de todo um mundo epocal, nos pré-socráticos era Physis; em Platão Ideia, em Aristóteles Enérgeia; na Idade Média, Criação, em Descartes, Cogitatio, em Kant, Eu transcendental, em Hegel, Espírito, em Nietzsche Vontade para poder, em Marx, Trabalho, em nós hoje, ciência ou consciência. E é nessa época que falamos do fim da metafísica, da superação da Metafísica. E o tom dominante hoje é a pura limpidez da exatidão lógica que confere a tudo, ao ente no seu todo, uma homogeneidade, não de plenitude, de conteúdo cheio, mas da densidade da vacuidade, da nihilidade indefinível nítida, clara e distinta na exatidão da sua nihilidade. Surge então a pergunta que é uma questão:
  4. Depois de um longo itinerário, a partir da physis até chegar a ciência, a filosofia, a metafísica não se consumou, retornando à homogeneidade da unidade, tornando-se o vazio ab-soluto da física, agora da physis a modo da ciência lógico-físico-matemática? O que há, pois, com a nossa meta-física? É a questão final e principal da essência da metafísica.

METAFÍSICA 03 C

Excurso: Metafísica e questão da totalidade

  1. Costumamos dizer no curso da disciplina chamada metafísica que, na metafísica, todos os temas que a ela pertencem se referem à totalidade. A mania da metafísica, a sua “especialidade” é captar e falar do todo.
  2. Isto significa que desde o início surge implicância do todo a todos que querem de alguma forma se familiarizar com o pensar metafísico.
  3. Usualmente quando falamos do todo ou da totalidade, de imediato pensamos no todo somativo quantitativo. Aqui distingamos:
  • Pedaço e o todo;
  • Parte e o todo;
  • Membro e o todo;
  • Articulação e o todo.
  1. Falamos também do todo qualitativo. Nesse caso, falamos do todo, no sentido de ele cada vez possuir o seu modo de ser próprio diferenciado do outro tipo de totalidade. Temos assim:
  • Momento e o todo;
  • Substância e o todo;
  • Sistema e o todo;
  • Função e o todo;
  • Estrutura e o todo.
  1. Essas diversas modalidades do todo qualitativo nós as chamamos de mundo.
  2. Para que possamos pensar o mundo na sua estruturação e modo de ser, costumamos usar na filosofia os termos: conjunto, horizonte e dimensão.

Deixemos aqui nomeados esses problemas da metafísica, para mais tarde entramos mais nos seus detalhes.

METAFÍSICA 03 D

Ex-curso: Problema da realidade e conhecimento

Ao estudar a disciplina metafísica, ficar atento à seguinte implicação: o que chamamos de nosso saber é um nó de entroncamento de uma rede, onde se entrecruzam diferentes e diversificados modos de ser que caracterizam e constituem a estruturação de diferentes mundos. Como nós de entroncamento, essa concentração, como entroncamento de diversos fios condutores de modos de ser, aparece compactada como nó, e esse nó compactado nos aparece como algo, coisa, objeto, como isso e aquilo.

Numa visão ainda bastante provisória, podemos distinguir quatro grandes fios condutores do modo de ser diferenciado no seu todo. Eles se chamam:

  1. Simplesmente dado ou ocorrência de coisa como estando à disposição: fatos.
  2. Imbricação funcional, de-para: manualidade.
  3. Pré-sença e relacionamento mútuo: pessoas.
  4. Eu mesmo, Self, Selbst.

De cada um, dar um exemplo e analisá-lo em seu modo de ser:

Para o ponto 1: pedra; para o 2: ponte; para o 3: dois amigos vendo paisagem; para o 4: eu mesmo no processo da individuação.

METAFÍSICA 03 E

Colocação final acerca do tema da Metafísica

(Explicação do que segue nas aulas da metafísica, num resumo acerca da questão da metafísica)

  1. Na primeira fase do módulo I, ao falarmos da metafísica, colocamos provisoriamente como tema da metafísica, os assuntos que ficam para além da física (metá-física) i. é, mundo supra sensível em ambiguidade, característica do início da formação da metafísica como disciplina filosófica, criando seus variantes como mundo inteligível, e como mundo da realidade profundo do ser humano. Temos assim como tema da metafísica: a) mundo supra-sensível (deuses, demiurgos, espíritos, anjos, almas); b) mundo inteligível (idéias, objetos e valores geométricos, matemáticos, conceitos; c) mundo da profundidade da realidade humana (o divino-numinoso, o racional ou o intelectual ou o mental = racionalidade): Daí:
  2. Metafísica investiga (interroga pelo ser):

– Coisas naturais e sua essência: O que é isto, a coisa?

– Coisas vegetais e sua essência: O que é isto, a vida?

– Coisas animais e sua essência: O que é isto, a vida sensível?

– Coisas humanas e sua essência: O que é isto, quem é esse, o homem?

  1. Coisas = mundo sensível;
  2. Essência = mundo supra-sensível inteligível;
  3. O que é isto? = Questão pelo sentido do ser;
  4. Questão do sentido do ser se dá no homem: a essência do homem é logos, physis e éthos: metafísica especial; a questão pelo sentido do ser, da busca do ente enquanto ente: metafísica geral.
  5. Visualizar tudo isso através de gráfico; e pelo exemplo da árvore em Descartes e Hebel:

– Descartes escreve ao Picot, o primeiro tradutor do livro Princípia Philosophiae, do latim ao francês:

Assim, toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, e o tronco é a Physika e os galhos que saem desse tronco são todas as outras ciências.

– Johann Peter Hebel diz:

Nós somos plantas, que – o possamos gostar ou não de confessar – devemos subir, da terra, com as raízes, para poder florescer no Éter e trazer frutos [7].

– Uma parábola, atribuída a Descartes[8], diz o seguinte:

Uma pessoa recebe de um desconhecido uma carta cifrada, cujo código de decifração ela desconhece. Depois de várias tentativas, consegue descobrir uma regra, cuja aplicação lhe permite montar um código que lhe possibilita ler a carta, de tal modo que ela traz à luz uma mensagem com sentido plenamente compreensível e até incontestável na sua coerência. Descartes, porém, especula: Poderia acontecer que, por ser um homem de grande habilidade, o autor da carta a tenha redigido de tal modo que, sob outro código de decifração, a mesma carta contivesse outra mensagem, inteiramente diferente da anterior. Com isso, em nada é alterada a primeira leitura da carta. Que alguém seja capaz de descobrir outro código de decifração é admirável. Mas a pessoa que fez a primeira leitura pode, tranqüilamente, deixar aberta essa questão da existência de outro código de decifração. A ela basta que, no seu modo de ler, a carta lhe dê sentido coerente de início até o fim. Mas a segunda leitura não lhe poderia dar um sentido melhor, mais próximo ao da intenção do autor? Sim, se o autor tivesse fixado como válido e melhor um dos códigos de decifração. Mas suponhamos que esse autor da carta é o próprio Criador, de quem se origina o universo e tudo o que ele contém, seja atual ou possível. Suponhamos que esse Criador cifrou a carta segundo um número interminável, infinito, de diferentes códigos. Segundo Descartes, essa parábola mostraria o relacionamento e a postura própria do pesquisador nas ciências naturais exatas para com o universo.


[1] Em alemão mit (mith, miti, forma arcaica *midi; aparetado com μεσος, medius : cfr. Menge, Hermann, Langenscheidts Grosswörterbusch Griechisch, Langescheidt, Berlin, Munchen. Zürich,  21ª ed., 1970, pp. 447ª.
[2] De Frei Marcos Aurélio Fernandes OFM, IFAN e EUSF (Editora Universitária São Francisco), Bragança Paulista 2007, pp. 13-14.
[3] Positum significa em latim o que foi posto. As ciências constroem um conjunto coerente de juízos logicmanete ligados entre si, num empenho e desempenho bem trabalhados de auto-asseguramento do tododo sistema na certeza de cálculo e controle. O primeiro passo desse epreendimento, a ciência o faz partindo de uma determinação  delimitativa da experiência imediata da vida, que perfaz por assim dizer a base sobre a qual a ciência vai erguendo o todo do seu sistema. Essa base é o positum. Por isso se chama ciência positiva. Essa determinação delimitante da vida experienciada imediata e diretamente, denominada dimensão prepredicativa ou precientífica á é uma “realidade ”bem trabalhada no imediato e concreto do uso da vida, de modo artesanal e manufatural. Mundividência é visão do mundo e da vida, a partir da base chamada opinião ou crença particular ou grupal, que se torna algo como doutrina.
[4] Cristianismo é uma das possibilidades da historicidade da cristidade.
[5] Aqui não confundir essa Física no sentido bem lato da antiguidade com a Ciência moderna Física, cujo modo de ser é todo próprio, do qual falaremos mais tarde.
[6] Distingamos com precisão problema da questão. Problema é dificuldade que surge e quer ser resolvido dentro de uma determinada área de pesquisa, cujo campo está definido, determinado nas suas quadras. Questão é uma ação de busca, na qual se coloca todo e inteiro, na aberta de uma nova possibilidade, até então desconhecida.
[7] HEBEL, Johann Peter. Obras. Editadas por ALTWEG, Wilhelm, Editora Atlantis, Zurique e Frigurgo i. Br., 1940, volume III, p. 314.
[8] DESCARTES, René (ou De Quartis, Renatus Cartesius, Des Cartes, M. du Perron), 31.3.1596 – 11.2.1650, pensador, cientista e filósofo francês, considerado o pai da filosofia moderna. A parábola se encontra de modo muito mais rico e sujestivo em: ROMBACH. Heinrich. Strukturontologie. Eine Phänomenologie der Freiheit. Freiburg/München: Verlag Karl Alber, 1971. p. 139.
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