Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Introdução à metafísica – III

19/04/2021

 

Finalidade comum de todas as nossas 72 horas-aula: o que queremos na e com a escola superior?

  1. Despertar, crescer e aperfeiçoa-se na virtude ética: em concreto, a busca da virtude da atenção.
  2. Despertar, crescer e aperfeiçoa-se na virtude dia-noética: em concreto a busca da virtude da intelecção e volição
  3. Despertar, crescer e aperfeiçoar-se na responsabilidade social de capacitar-se a pertencer à comunidade da existência científica: fraternismo universal.

Finalidade especial de todas as nossas 72 horas-aulas: o que queremos na e com as aulas da filosofia.

  1. Queremos aprender a compreender e a amar uma disciplina filosófica chamada metafísica. No conteúdo e na maneira de tratar essa disciplina, metafísica é o cerne, o centro, o núcleo de toda a filosofia. Quem compreende bem e gosta dessa disciplina, compreende e gosta do modo de ser de outras disciplinas filosóficas, como quem está junto do registro central de uma usina, geradora de eletricidade, ou como quem está junto à raiz de uma árvore, donde toda a energia vital de uma árvore é distribuída. E isso de tal modo que certos autores da filosofia empregam a palavra metafísica como um sinônimo de filosofia.
  2. Importância e vantagem de estudar bem esse módulo:

– Sistemática da filosofia, cf. implícito no n. 1.

– Para a compreensão das epocalidades da história da filosofia:

– Para a compreensão dos filósofos e pensadores através da história.

  1. Ilustração:

– Descartes escreve ao Picot, o primeiro tradutor do livro Principia Philosophiae, do latim ao francês: “Assim toda a filosofia é como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a physika e os galhos que saem desse tronco são todas as outras ciências”.

– Johann Peter Hebel diz: “Nós somos plantas, que – o possamos gostar ou não de confessar – devemos subir, da terra, com as raízes, para poder florescer no Éter e trazer frutos[1]. 

– Traçar no quadro negro o esquema tradicional das disciplinas filosóficas e situar a disciplina dentro desse esquema. Refletir: o significado dessa situação.

– Uma breve história das divisões das disciplinas filosóficas. Os estóicos (Escola de Estoa – fim do séc. 4  até séc. 1 a. C.) dividiam a filosofia em lógica, física e ética. → Meta-física: vem de logos, phýsis e éthos = três palavras fundamentais: → Lógica formal tradicional, lógica matemática; teoria de conhecimento; filosofia da linguagem, metodologia, introdução, didática; antropologia, psicologia, pedagogia, ética, cosmologia, filosofia da natureza, ecologia; história da filosofia.

– Resumindo: a) Lógica, Física, Ética. b) Lógica, Física, Metafísica, Ética, Retórica. c) Lógica; Metafísica Geral; Metafísica Especial: (cosmologia), (psicologia racional), (teologia natural). d) Lógica Menor, Lógica  Maior, Epistemologia ou Gnosiologia ou Teoria de Conhecimento, Ontologia, Cosmologia, Antropologia, Teodicéia; e) Lógica formal, antiga e moderna (lógica matemática); Filosofia da linguagem, Metodologia, Didática, Epistemologia ou Teoria das ciências, Teoria de Conhecimento, ontologia, geral e regional, Antropologia Filosófica e Cultural, Filosofia Antiga e Medieval, Moderna e Contemporânea, Post-Moderna.

  1. Observação metódico-técnica

– Aspecto exotérico e esotérico da filosofia

– A defasagem dessa compreensão grega, hoje, criou o preconceito: filosofia como reflexão e filosofia como informação.

– Um esquema melhor é: saber e pensar.

– Ilustração:

– Problema é dificuldade que encontramos dentro de um campo temático aberto, cujas coordenadas estão fixadas como posições básicas para uma construção sistemática.

Problemas nós os encontramos, nos afazeres da vida cotidiana, como também nas ciências. Nos problemas científicos o modo de ser da dificuldade acima mencionada aparece com maior nitidez, ao passo que nos problemas dos afazeres da vida cotidiana o modo de ser da dificuldade parece ser mais difuso, opaco e ao mesmo tempo indeterminado, ou mais concreto, corpo a corpo e imediato, sem exibir uma estrutura interna própria. Mas tanto num caso como no outro, as dificuldades querem ser resolvidas, e isso acontece dentro de um determinado âmbito de colocação já pressuposto. Nos problemas o nosso interesse é de buscar a solução, e eliminar ou amenizar a dificuldade. Denominamos tal trend da nossa vida de necessidade vital. Nosso compreender e querer aqui estão movidos pelo sentido do ser livre de.

Questão: Convenhamos chamar de questão, distinguindo-a do problema, a ação de uma busca, na qual o interesse não é tanto de resolver dificuldades dentro de uma determinada colocação já posta, mas de colocar-se para dentro de uma busca que renovadamente e sempre de novo lança para dentro da questão as pressuposições postas ali como posições básicas de um saber positivo, e isso não tanto para saber mais e mais dentro do horizonte a partir donde e onde as colocações estão já pressupostas, mas numa trabalhosa e trabalhadora disposição livre, sim paixão em clarear de que se trata. E isto cada vez mais, anelando estar na proximidade, junto[2] da coisa ela mesma, a partir dela e nela mesma. Nas questões, o nosso interesse é o de nos colocarmos sempre de novo e cada vez mais na busca, tornando densa a inquietação da saudade de estar em casa em toda a parte na evidência do descobrimento de todas as coisas. Denominamos a tal intencionalidade presente na nossa vida, de necessidade livre. Aqui o nosso compreender e querer estão movidos pelo sentido.

– Embora haja muitas definições de filosofia e correspondentemente seus diferentes modos de acionar a aprendizagem, o ensino e a pesquisa, a filosofia na pré-compreensão básica de si mesma não busca a excelência a modo das outras ciências, chamadas positivas. Dito com outras palavras, o modo da sua cientificidade, e também a sua excelência é de modo todo próprio, diferente. Essa diferença pode ser caracterizada, dizendo que as ciências constroem, a filosofia desconstrói. Explicando:

– As ciências positivas partem de um fundamento já dado como posto (daí o nome ciência positiva) com sua definição, conceitos fundamentais determinados, e seus métodos correspondentes à sua colocação positiva. A partir dali constrói, para cima, todo um sistema de conhecimentos certos, concatenados entre si numa rigorosa coerência lógica.  Esse fundamento, já posto, é por assim dizer, um projeto que a ciência lança sobre a realidade, como hipótese de trabalho. Esse lance é sempre de novo examinado, em diversas e sempre renovadas experimentações. Assim o lance primeiro é testado na sua validade e eficiência, de tal sorte que na medida em que se dá a averiguação positiva, vai confirmando a validez da sua colocação posta inicialmente, passando-se da hipótese à teoria. Mas na medida em que as experimentações não confirmam a validez da hipótese, volta-se à sua colocação primeira, para ampliar, aprofundar, recolocar ou purificar a hipótese, buscando para a colocação positiva de início uma fundamentação mais vasta, mais profunda e mais purificada de interferências indevidas de outras colocações ou de extrapolações. Esse movimento de retorno das ciências positivas para o lance inicial do seu projeto como ao fundamento da sua positividade para re-fundação e aprofundamento da sua base, se dá nas ciências positivas, quando o todo do seu sistema entra em crise. É no aprofundamento da sua colocação primeira que se dá propriamente o progresso de uma ciência.

– Esse movimento de ir à sua base e ali cavar para baixo na direção do fundo de si, nas ciências positivas é somente feito ocasional e operativamente, e não é propriamente a sua tarefa. Isso porque essa é a tarefa da filosofia e o seu trabalho.

No ensino acadêmico, a filosofia aparece também ao lado das outras disciplinas  acadêmicas, sendo tratada como uma ciência positiva. Enquanto tal, ela aparece como mundividência, i. é, opinião, convicção ou crença de uma pessoa, ou grupo de pessoas, ou até mesmo da humanidade de toda uma época histórica acerca da vida e do mundo. Enquanto assim aparece no mundo acadêmico ou é tomada como fenômeno cultural, fenômeno histórico, ou mesmo como ciência de uma determinada época, mas não como ciência no sentido preciso e mais específico da nossa compreensão hodierna do saber por excelência, do saber científico. Nesse sentido, a filosofia não é considerada como ciência, mas como uma espécie de sabedoria da vida, ou fenômeno sócio-cultural ou histórico, objeto da historiografia. É nesse sentido da mundividência que temos então p. ex. filosofia cristã, filosofia marxista, filosofia positivista, filosofia naturalista, filosofia da vida etc. Apesar de todas essas aparências viradas para a publicidade e sociedade, a filosofia na sua essência, desde o seu início na Grécia, p. ex. em Platão e Aristóteles até hoje nos mais avançados pensadores da filosofia analítica, conserva no seu fundo a autoconsciência de que ela é uma busca do saber de rigor. Mas de rigor na precisão de escavar sempre mais e sempre de novo na direção do fundo de cada colocação preestabelecida, a começar primeiramente de e em si mesma. E isso como tarefa fundamental e única da sua dinâmica do saber. Nesse fundo de si mesma, a filosofia é acribia e dinâmica da busca sempre renovada e cada vez mais rigorosa da crítica dos fundamentos e das pressuposições de todas e quaisquer mundividências, crenças, ideologias e dos dogmatismos que podem se aninhar, primeiramente em si mesma e também nas ciências positivas, mormente em relação ao seu fundamento inicial. É na limpidez e coerência dessa critica que está a alegria e a cordialidade, a excelência da filosofia.

– Finalizando, assinalemos uma parábola, atribuída a Descartes[3] que expõe de modo simples e com precisão tudo que dissemos acima sobre a questão da excelência na filosofia.

Uma pessoa recebe de um desconhecido uma carta cifrada, cujo código de decifração ela desconhece. Depois de várias tentativas, consegue descobrir uma regra, cuja aplicação lhe permite montar um código que lhe possibilita ler a carta, de tal modo que ela traz à luz uma mensagem com sentido plenamente compreensível e até incontestável na sua coerência. Descartes, porém, especula: Poderia acontecer que, por ser um homem de grande habilidade, o autor da carta a tenha redigido de tal modo que, sob outro código de decifração, a mesma carta contivesse outra mensagem, inteiramente diferente da anterior. Com isso, em nada é alterada a primeira leitura da carta. Que alguém seja capaz de descobrir outro código de decifração é admirável. Mas a pessoa que fez a primeira leitura pode, tranqüilamente, deixar aberta essa questão da existência de outro código de decifração. A ela basta que, no seu modo de ler, a carta lhe dê sentido coerente de início até o fim. Mas a segunda leitura não lhe poderia dar um sentido melhor, mais próximo ao da intenção do autor? Sim, se o autor tivesse fixado como válido e melhor um dos códigos de decifração. Mas suponhamos que esse autor da carta é o próprio criador, de quem se origina o universo e tudo o que ele contém, seja atual ou possível. Suponhamos que esse criador cifrou a carta segundo um número interminável, infinito, de diferentes códigos. Segundo Descartes, essa parábola mostraria o relacionamento e a postura própria do pesquisador nas ciências naturais exatas para com o universo.

A inquietação contínua de dispor-se a ser tocado pela abertura de códigos cada vez mais abrangentes, profundos e  originários e perder-se no abismo do não saber a não ser o ânimo cordial e intrépido da busca sem fim é a excelência da filosofia.


[1] HEBEL, Johann Peter. Obras. Editadas por ALTWEG, Wilhelm. Editora Atlantis, Zurique/Frigurgo i. Br., 1940, volume III, p. 314.
[2] Cf. Novalis.
[3] DESCARTES, René (ou De Quartis, Renatus Cartesius, Des Cartes, M. du Perron), 31.3.1596 – 11.2.1650, pensador, cientista e filósofo francês, considerado o pai da filosofia moderna. A parábola se encontra de modo muito mais rico e sugestivo em: ROMBACH. Heinrich. Strukturontologie. Eine Phänomenologie der Freiheit, Freiburg/München: Verlag Karl Alber, 1971. p. 139.
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