Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

I – Legenda dos três companheiros

10/02/2021

 

Epístola

LTC Epístola

1Cel Prólogo

Usualmente pensamos que precisaria de um técnico-cientista com toda a pesquisa histórica para não cair numa leitura subjetiva, para não ler ingenuamente o texto. As quem “pode”, quem tem mesmo condições de ler o texto: Ou haverá outro sensorial a partir do qual é possível ler o texto que não o cientista?

Os autores dizem referir-se a fatos históricos. Mas o que entendemos por história? O que corresponde objetivamente à realidade do acontecido? Se tivéssemos chamado um repórter com máquina fotográfica e gravador para transmitir e repetir a experiência de S. Francisco, teria conseguido?

Esses textos foram escritos por discípulos, são portanto textos não “históricos”, mas de seguimento. Esta é a postura a partir da qual esse texto é histórico-verdadeiro. O repórter não nos transmitiria a mesma coisa que o discípulo e companheiro, pois não está na mesma afeição, na mesma experiência para “pegar” o que transmitir.

O discípulo e companheiro relata tudo o que experimentou como precioso: O tesouro de S. Francisco. Assim nasce um outro tipo de história: é o relato daquilo que move SF, da alma dele, que só o seguidor pode captar. Histórico é o que faz a história. Este texto é “legenda”, isto é, guarda em si aquilo que fez com que SF fizesse história.

Para fixar um fato tem que ter olho. O olho que escreveu este texto que força, que interesse tem? O olho, a alma é o seguimento ( se fosse psicológico e não companheiro-discípulo, escreveria toda outra coisa). O seguimento é o vigor da existência franciscana.

Temos assim o critério para perceber o que é histórico e o que não, entre os escritos e em cada escrito sobre SF. Os textos nos põe num contexto em que muitas palavras adquirem um valor todo próprio. A pergunta “quem consegue ler?”, no fundo, é abstrata, porque quem quer ler somos nós “os franciscanos”: a grande família que sempre “leu” SF.

Tradição é algo como sangue familiar. “Estar familiarizado” significa comunhão com esta herança longínqua, cultivada ao longo de séculos. Estamos associados a uma grande corrente que é o cristianismo e o franciscanismo. O noviço que ouve falar de SF e lê a sua vida parece ingênuo, mas não é: ele lê dentro de um “instinto” familiar, uma simbiose que afeta a raiz originária. E a partir disso ele colhe o que está dentro dou fora deste “faro” quase animal, mas que na realidade é “espiritual”.

Dentro de nós existe então esta espécie de instinto. É muito importante e interessante tentar fazer vir à tona este faro-instinto e cultivá-lo, porque é uma espécie de inteligência-entendimento intuitivo que tem sua vivacidade crítica. O próprio estudo científico das fontes ou é marcado por este instinto ou é ideológico.

Como seria na prática estar associado a esta grande corrente e cultivar essa “associação”? Somente lendo cada um, por décadas, muitas vezes, desesperadamente SF; centenas de pessoas que fazem o mesmo; aos poucos começariam a fluir as próprias “leis” do viver franciscano. Será que não era isso que os antigos faziam? Aí Francisco ressuscitaria! É a comunhão dos santos trabalhando! Nosso jeito de entender Igreja, comunidade, ordem é sociológico, mas na experiência religiosa essas realidades são antes de tudo “corpo místico”, “comunhão dos santos “ que ultrapassa o espaço-tempo, para estar numa “corrente” maior. Isto e originário da experiência religiosa. Para os formadores, esta pertença à fam ília é fundamental e essencial; de outro jeito o formando não engata, porque no fundo o próprio formador não acredita.

ESSES SÃO ALGUNS ESCRITOS DE TRÊS COMPANHEIROS… A palavra companheiro, em latim socio (social, vem daí), é usada também no contexto de certos partidos políticos, mas aqui companheiro tem o sentido da palavra latina e medieval “socio”: um amigo de tipo especial, aquele que livremente e engajadamente está na busca do mesmo ideal. O que une não é tanto uma amizade pessoal, mas a mesma maneira de buscar, de estar afeiçoado a um valor. O que une, portanto, é a caminhada, o caminhar. É nítida no texto a compreensão da vida religiosa como caminhada de companheiro. Por isso, toda a luta assinalada pelo texto, toda diferença e tentativa de unir, não está orientada para a realização da afeição mútua (também isso), mas antes de tudo isso está orientada para a mesma busca.

Companheiro, sócio, é aquele com quem há troca de responsabilidade, de experiência. Mestre não é líder, mas o sócio mais velho na andança. Esse grupo faz círculo ao redor de uma busca comum. Os três sócios por isso anotam tudo o que são Francisco falou-fez: é a sociabilidade. Não somente companheiros, mas também discípulos. Nós entendemos o mestre liderando. Mas este é o tom do companheiro socialista. O que nós consideramos de mestre em SF é o que ele aprendem como discípulo de Jesus Cristo e Jesus Cristo do Pai.

FALAM DE SUA VIDA ENQUANTO NO MUNDO SECULAR. Secular, o mundo secular, o que é “terreno” é uma tradução da palavra bíblica carne, na teologia de S. Paulo. Mundo secular significa uma maneira de pensar diferente do originário, do crístico, do cristão. Nós temos que ver melhor, ficar de olho em cima da palavra “mundo secular”. Existem diferentes posturas, diferentes maneiras de se colocar na vida; SF passou de uma para uma outra.

ADMIRÁVEL E PERFEITA CONVERSÃO. Vamos acentuar a expressão: perfeita conversão. Nós sempre compreendemos a palavra perfeição no sentido espiritualista, de não ter defeito. Mas esta turma, quando diz perfeição está falando no sentido de uma caminhada conduzida até o fim: per-feito. A palavra perfeição indica o engajamento, a decisão de, numa certa convocação, ir até o fim. Jesus Cristo quando diz: Quem quiser ser perfeito venda tudo e venha atrás de mim, não está dizendo: quem quer ficar íntegro, não se machucar e sair a bonitinha da luta, venha atarás de mim. Esta dizendo, pelo contrário: quem quiser seguir atrás de mim, não pode ter duas ou três outras intenções; tem que se colocar inteiramente, a vida inteira, num engtajamento de um compromisso até o fim.

DA ORIGEM DA ORDEM. Os companheiros falam agora da origem e princípio d ordem e vão colocar diante de nós aquela flrpa originária, ainda límpida no seu modo de ser, que fez nascer, desabrochar pouco a pouco os escritos. Hoje nós quase não lemos mais, e quando lemos, lemos como se vê televisão. Para nós uma leitura é boa quando é fácil, ilustrada; quando é carregada de vivência e dá resultado imediato; e quando um escrito é difícil à primeira vista é rejeitado. Nós religiosos temos que adquirir a capacidade de ler, pois não estamos mais lendo. Ler não significa estudar muito, ler jornal ou revista. Ler significa confrontar-se com sabedoria e experiência em cima de um papel e extrair de novo dessa coisa chamada escrito a experiência que o gerou.

AO REVERENDO… A maneira de escrever é de medievais, cheia de fórmulas, curial. Nós, quando usamos uma linguagem assim, a usamos burocraticamente. Mas o estilo curial na aboca dessa gente não era burocrático. Quando, por exemplo, você chama a um bispo de V. excelência, pode ser etiqueta, mas quando vai para casa e trata o pai e a mãe de senhor e senhora ainda é etiqueta? Estas fórmulas para essa turma são expressão de um profundo relacionamento; nelas está expressa uma profunda pertença. Essa pertença é aquele ideal, aquele valor que une a todos. E quando se diz: “reverendo em Cristo”, é reverendo, sim, mas em Cristo. Os companheiros estão sempre lembrando a fonte, estão sempre dizendo que a reverência não é dirigida ao sujeito, mas à graça de Deus.

ANTIGOS COMPANHEIROS. O texto não diz companheiros velhos, mas antigos. Há uma diferença enorme entre velho e antigo. A raiz é antiga, o galho seco é velho. Os antigos chamam de antigo aquilo que estava mais perto da fonte, aquilo que tinha mais jeito de fonte. Tanto faz se está no tronco ou no galho. Quando se perdia esse jeito, nascido da fonte, então chamavam de velho. Velho, então, é desgastado, aquele que se afastou da fonte originária.

POR ORDEM VOSSA E DO ÚLTIMO CAPÍTULO GERAL, OS IRMÃOS ESTÃO OBRIGADOS. Os companheiros entendem a ordem do ministro geral como um dever, como um enquadramento a que todos eles estão ligados. Mas eles veem neste enquadramento uma tentativa de conservar a fonte. Como surgiu o convite do capítulo a transmitir os atos do beatíssimo Pai Francisco? Surgiu uma tentativa da própria Ordem de distinguir entre eflúvios subjetivos, meio petistas, de pessoas que colocavam SF num contexto de culto de personalidade, como fãs, inventando coisas. Houve, então por parte da instituição, a tentativa de guardar a fonte e limpar o que era subjetivo. Todos os que conviveram com SF foram convocados a contar as diferentes coisa que tinham visto, para que desde o início não se confundisse a interpretação subjetiva dos interesses particulares com a herança e a riqueza do carisma, da experiência originária de SF.

Os companheiros estão encarando essa ordem como uma convocação para cuidar da fonte, e por isso escrevem. Portanto, a reverência que está expressa nesta carta, que parece estilo curial, demonstra uma pertença à ordem que pega o essencial da instituição que é a função e o trabalho de guardar límpida a fonte. É cheia de reverência, mas não tem propriamente nada a ver com uma reverência formal; também não tem nada a ver com subserviência de querer agradar a autoridade. É uma espécie de reverência bem nobre, bem madura, pegam do o fundamental que caracteriza a própria essência da instituição.

POR ISSO NOS PARECEU DEVER NOSSO. Aqui, palavras como dever, obrigação, não tem conotação de subserviência, nem de obrigação imposta, mas conotação de companheiros, de sócios. Uma espécie de dever assumido no engajamento de pertença à ordem como um enorme grupo de companheiros numa mesma busca. Todos os nomes citados são de pessoas que não somente olharam e estiveram grudadas em SF mas que tinham olho para ver. Muitos dos que estavam junto de SF eram fãs dele, faziam culto de personalidade, mas não enxergavam; estes não são citados pelo texto que cita só pessoas que eram companheiros mesmo. Neles a verdade aparece mais porque não se trata de um testemunho factual, como se fosse científico historiográfico, mas de comungar do mesmo espírito.

Frei Egídio era mestre, junto com SF. SF e Egídio estão grudados como gêmeos siameses. Os primitivos franciscanos consideravam a F. Egídio também como quase ao lado de SF. Em SF e Egídio há duas maneiras um pouco diferentes de entender o carisma franciscano. É muito importante estudar F. Egídio para melhor compreender SF. Do contrário, compreende-se SF de maneira muito carismática, ao passo que F. Egídio puxa para o chão. (Sabe o que SF falou uma vez? Ele criticou SF e disse: quando a gente fala a palavra Francisco derrete na boca; ele é mel; mas tinha um defeito: se ele tivesse cuidado da saúde, imagine o que poderia ter feito! Esse Egídio é de um realismo danado. Ele não tinha vergonha nem medo de dizer isso para a turma. Então, capta-se SF verdadeiro estudando os dois. São nomeados também outros companheiros, mas esses não eram propriamente mestres do mesmo nível; eram mais discípulos.

NÃO NOS MOVE SIMPLESMENTE O DESEJO DE RELATAR MILAGRES. Isto é, não estamos querendo contar histórias miraculosas; isto não interessa pois não faz a santidade, mas somente a mostra, é sinal da santidade; em grego “semeion” tem significado bem diferente de sinal, como usualmente o entendemos, embora seja traduzido por sinal. Se, por exemplo, você plantou uma árvore e descuidou dela, ela fica amarela; se você começa a cuidar dela, depois de certo tempo ela começa a recuperar o verdor. Você está vendo isso externamente. Este “estar ficando mais verde”, chama-se semeion, mostrar-se, isto é, sinal.

Jesus fez milagres, coisas extraordinárias; mas o extraordinário não é argumento para crer em Deus, porque um diabo também pode fazer a mesma coisa; mas no milagre você consegue sentir, enxergar uma força originária, tanto que logo diz: é Deus! Hoje há quem descreve o maravilhoso como se fosse extraordinário e pensa que isso é santidade, mas o maravilhoso é brilho da santidade, mostra a santidade, é o aparecer, o viço da santidade; esse viço não é tão importante ficar descrevendo, porque ele é apenas sinal e não se identifica com a santidade. Há pessoas que afirmam que a magia faz as mesmas coisas que um santo faz! Então o mágico também tem o viço de Deus, a força de Deus? Esses companheiros diriam: Olhe bem e você vai distinguir se é milagre ou magia, porque no milagre aparece a santidade e na magia não. Então o fato de eu ser curado não é prova de que é força de Deus.

Pelo milagre você vê alguma coisa que sem ele não conseguiria enxergar. Por que será que Pedro diz: Afasta-te de mim que sou pecador! O que será que ele viu? Como será o esperar milagres de uma mãe cujo filho está sequestrado e na oração diz; seja feita a tua vontade, e que dê certo!”. Ela está entregue a Deus e quando dá certo acolhe isso como milagre: o milagre é manifestação do ato quase divino de doação que o homem faz. A grandeza humana está nessa entrega total porque esta é a força divina. Acontecem milagres, mas eles não constituem a santidade, somente mostram. Santidade é o caminho da entrega.

O NOSSO PROPÓSITO É TAMBÉM DE REFERIR OS FATOS NOTÁVEIS. Fatos digamos de nota, que fazem você ficar atento. Você está meio dormindo, de repente acontece alguma coisa, você arregala os olhos: o que é isso? Isso é notável.

VONTADE DE EM TUDO SEGUIR A VOZ DIVINA. A dinâmica fundamental da vida do nosso pai SF foi de em tudo seguir a voz divina.

PARA A EDIFICAÇÃO DE TODOS AQUELES. Experimente entender a voz divina como fonte, em tudo conservar, buscar , seguir a dinâmica originária de uma graça. Para que conservar tudo isso? Para a edificação, para a construção de todos aqueles que se animam a seguir seus vestígios. Para que todos que vem atrás, de alguma maneira, possam beber da mesma água pura; isto é, nós vamos transmitir essas histórias com todo cuidado, com aquele compromisso de não arruinar a fonte, para que quem vem depois bebe também dessa água como água da fonte. Nessa epístola está nítida a consciência, do cuidado pela fonte.

NÃO ESCREVEMOS ESSAS COISAS EM FORMA DE LEGENDA. Legenda: texto-Bandeira de uma raça, de um povo, a ser lido na comunidade como relato daquele vigor que constitui a história de SF. É como hino nacional. É para levantar o ânimo. Fala da raiz da raça, da força da família. Os vários nomes de companheiros são como que uma “árvore genealógica” dessa família.

Legenda é como uma agenda. Agenda é aquilo que você anota porque tem que ser feito (agido). Por exemplo: tenho plantão tal dia; é agenda, tem que ser feito. Ó que é legenda então? É aquilo que tem que ser lido. Às vezes se entendeu a legenda como aquilo que tem que ler por obrigação. Mas os antigos tinham uma legenda não como obrigação, mas como uma necessidade deles mesmos como sociedade. Cada sociedade, cada nação, cada de pessoas que buscam livremente uma coisa tem a sua legenda, isto é, aquilo que continuamente tem que ler, aquilo que sempre de novo tem de estudar, aquilo para o qual sempre de novo tem que voltar.

Esses escritos no fundo são a cristalização, a materialização de uma tradição. Tradição significa sabedoria, método, experiência transmitida de boca em boca, ensinada na prática viva para não perder a dinâmica, passando de geração em geração. Com o tempo, isso foi sendo colocado por escrito para não se perder e se tornou livro daquela nação, daquela religião, daquela comunidade; isso se chama legenda. Depois acabou dando um gênero literário. As congregações modernas têm dificuldade de entender isso porque não tem “legenda”; elas têm normas! Mas todo povo, toda raça que de alguma maneira tem energia herdada na experiência sempre tem legenda.

SE ESSES FATOS FOSSEM DO CONHECIMENTO DOS HOMENS VENERÁVEIS QUE AS CONFECCIONARAM (redigiram). Confeccionar significa com-fazer; isto é, escrever a memória dos outros não é simplesmente relatar uma coisa que aconteceu; é con-fazer, fazer junto. Ao contar acontecimento, no fundo fazem juntos; fazem juntos a tradição, fazem juntos a guarda da fonte. Quando os companheiros escrevem, estão escrevendo com o cuidado e a consciência de guardar a fonte.

Redigir não significa usar qualquer palavra, mas usar a palavra que ajuda aos que vieram depois a guardar a memória de SF. Nós perdemos a compreensão da memória. Na psicologia a memória virou armazém de dados; mas a memória não é isso. a memória é recordação, isto é trazer de novo ao coração. Então, memória é como a raiz de uma árvore, cada vez que voltar lá, você traz de novo o coração originário. É nesse sentido que a Sagrada Escritura diz: fazei isto em memória de mim. A memória no sentido de recordação, só têm os companheiros, só tem quem tem o mesmo cuidado de levar para a história e transmitir pela história a verdadeira tradição, guardada, conservada, lutando para manter limpa a fonte.

OS TERIAM DECORADO (ornado) Com Elóquio (estilo elegante). Os antigos entendem o falar não como simples transmissão de algo. Elóquio significa falar para fora, eclosão: imagina um frei Egídio que vivia com SF, participou da mesma busca, do mesmo espírito; ele vai querer dizer para os outros do melhor jeito possível, de tal maneira que o outro não entenda só a palavra dele, mas entenda a própria coisa; seu esforço então será fazer “elóquio” de como falar isso: será que vou usar essa palavra ou esta outra. Fica assim recordando, trazendo ao coração a experiência originária e tentando dizer. Se estas pessoas que tiveram tanto cuidado e, transmitir a fonte, tivessem conhecido o que nós vamos relatar, teriam tentado decorá-lo, isto é, não somente enfeitar, mas teriam tentado falar de tal modo que aquilo aparecesse na sua identidade, na sua dignidade, na sua grandeza.

Vê-se logo que essa epístola foi escrita por pessoas que queriam a todo custo, seguindo a ordem do ministro geral, conservar a fonte como tal, para que não se perdesse o sentido originário do que está ali.

MEMÓRIA DOS PÓSTEROS. É a responsabilidade para os que vem depois. Aqui não se trata de transmitir o nosso próprio subjetivismo, não se trata de transmitir os nossos próprios interesses e nossos costumes. Trata-se de transmitir a tradição, de fazer a tradição originária.

QUE VOSSA SANTA PATERNIDADE GOZE SEMPRE DE BOA SAÚDE EM NSJC. Por goze de boa saúde nós entendemos cuidar da saúde física. Mas a tradição leria: que vossa paternidade sempre valha integralmente em Jesus Cristo. Valha significa que tenha valência. Quando você fez uma coisa, não diz valeu? Os romanos ao invés da saúde, diziam: Valha! Isto é, seu valor seja vigoroso. Portanto: que vossa paternidade tenha um valor, tenha valentia, tenha vigor integralmente em Jesus Cristo.

A pertença à ordem é entendida como participação engajada no ser companheiro; companheiro de uma fonte, de um carisma, de uma graça, de uma vitalidade originária que vem de JC e que foi transmitida por SF. O que se está colocando nessa epístola, como grande reverência e respeito ao ministro geral e à ordem, é a grande consciência de pertença ao povo de Deus, não tanto instituição; muito mais do que isso, pois dentro da instituição, nos limites da instituição, há a consciência da pertença à grande corrente cuja fonte é Jesus Cristo. Esta corrente não é abstrata, mas nitidamente delimitada dentro de uma determinada conversão, chamada aqui são Francisco.

O MODO INICIAL DE FRANCISCO CAMINHAR

Ltc 1,2-3 – o título do cap. mostra a. Francisco natural 

c. Francisco da graça
b. Francisco secular
a. F. natural: nascivo, de boa índole, originário. Mas o natural é ambíguo: pode aparecer distorcido do secular e pleno na graça. Temos uma vitalidade ambígua, mas o cepo é bom.
b. F. secular: manifestação decadente do nascivo-nataural. Vaidade, extravagância, boemia, jogralesco são manifestações seculares do natural nobre, cortês, generoso…
c. F. da graça: o natural tocado pela graça alcança sua plenitude e o secular recupera sua possibilidade última. O mestre-deus está continuamente agindo no natural e o secular de Francisco para que supere a ambiguidade, se molde, se forme, tenha nova afeição. O texto fala do cuidado de deus para que o natural de Francisco não descambe em secular, mas antesse abra para a graça; por exemplo, a prodigalidade está sendo moldada para a caridade.

Então propriamente não existe uma conversão como sendo ruptura com o passado; há uma ruptura, mas esta não é negação de sua história, antes pelo contrário, é cada vez mais a continuação de si mesmo em direção à raiz últimas da existência: Deus.

DO NASCIMENTO (nativistas: nascimento de um destino), DA VAIDADE E DA CURIOSIDADE (fidalguia), E DA PRODIGALIDADE DE FRANCISCO, E COMO DE TUDO ISSO (daí) CHEGOU À LARGIDADE (generosidade) E À CARIDADE ACERCA DOS POBRES. É importante observar o que o texto está dizendo: F. tinha certas coisas chamadas vaidade, curiosidade, prodigalidade; esse foi o material a partir do qual chegou a uma largura para com os pobres.

Curiosidade: em português perdemos o sentido originário desta palavra. Curiosidade para nós significa o bisbilhotar, de quem quer saber tudo, mas curiosidade vem de curial, vem da cúria. No fundo é a mesma palavra que curial; curiosidade é pois o vigor da cúria. Cúria não é a cúria do bispo ou a cúria romana; cúria é a corte. Como é o viver na corte? Já viu um organizador ou uma recepcionista? Esta é a que diz: “Como vai o Sr.? De onde vem?” Enquanto isso, fica olhando tudo e cuidando de tudo; esse jeito muito dedicado, mas vido, de ficar movimentando tudo com cuidado, se chama curioso; a decadência disso é bisbilhoteiro”. Já reparou que um estudante, um aprendiz curioso aprende mais? Há aprendiz que só estudo o que é mandado e há outro que se interessa por tudo. Então, ele é curial, ele é como alguém que se movimenta na corte, num grupo social onde tem que ver todas as coisas e cuidar, onde não pode ficar fechado num canto. Francisco tinha muito dessa qualidade.

Vaidade: a pessoa vaidosa não tem algo de charmoso? No fundo não é um tanto ingênua? Você já viu uma pessoa maldosa que seja também vaidosa? Pode ser que F. gostasse de roupa bonita, de ser chefe, mas há qualquer coisa como uma ingenuidade vital ali. O texto não está censurando a vaidade, como se dissesse: “F era vaidoso, mas depois se converteu”. Está dizendo: “a vaidade se transformou em largura”.

Largidade: é uma generosidade qualitativamente diferente da prodigalidade. O texto está descrevendo algumas qualidades naturais de SF, como aparecem e como, bem trabalhadas, deram num coração largo acerca dos pobres. Não diz para com os pobres, mas acerca dos pobres, pois F irá centrar toda a realidade neste binômio: pobre e Jesus Cristo.

E como de tudo isso: anuncia a dinâmica de crescimento de F. começa com o natural, passa para o natural secular, depois passa para o mundo da graça e da conversão. Mas não é como semente que vai evoluindo deterministicamente; há uma passagem qualitativa, uma ruptura, um abandonar que não é rejeição ou negação do natural, mas um retornar o natural a partir de outro fundamento. E nesta passagem sempre acontece a presença do Senhor. O texto nem elogia nem critica o que Francisco é. Quais são os elementos fundamentais indicados no texto sobre o modo de evoluir da caminhada que se dá sempre em etapas? Na vida religiosa o crescimento por passagens (cf. n. 3, 2) é essencial; uma bondade natural não basta, deve nascer a “bondade religiosa”.

ORIUNDO DA CIDADE DE ASSIS, ASSENTADA NOS LIMITES DO VALE DE ESPOLETO. O texto é muito conciso. Como um filme mostra antes o mapa da Europa e aos poucos vai focalizando a Itália, depois Espoleto, focalizando mais e mais o Vale, agora não mais como mapa mas como paisagem, até chegar num cantinho a uma cidade e uma casa. Concretamente o texto não está falando de um acidente geográfico; o próprio acidente geográfico é uma virtude natural. O texto está colocando Francisco dentro de uma limitação concreta, aqui e agora.

Isso significa que todos temos o nosso “vale de Espoleto”. O produto do “vale do Espoleto” é essa cara, esse nariz, esses pais… bem concreto; tão concreto que se fica assustado. Para a vida espiritual e religiosa é muito importante não pular esse ponto. Que tal se pensássemos que o fato de nascermos no século XX também não é acidente histórico mas uma virtude natural, isto é, uma herança concreta, uma graça de Deus, talento de Deus de que nós temos que dar conta. Quando você começa a pensar assim, isto fica bem concreto e interessante. O fato de nós nascermos masculino, feminino, amarelo, vermelho, branco. Estamos aqui porque nascemos nesse tempo, nesta família, destes pais, homem ou mulher… todos temos uma identidade. Cada um é tanta coisa que carrega desde o seu nascer. E toda vida tem uma história. É muito importante estar bem com aquilo que somos. Tudo o que temos é muito nosso. Se quisermos caminhar bem para a VR, a primeira coisa que devemos fazer é agarrar bem com as mãos a nossa herança, o que somos. Pois tudo é graça.

Conhecemos muito pouco a nós mesmos. O que temos demais é energia, que porém precisa ser trabalhada. Cada um tem sua peculiaridade. SF fala de cada um de nós: cada um tem um núcleo muito nobre; como ele, cada um tem grande nobreza de coração. OI problema é fazer crescer este núcleo, como fez Francisco. Ele teve coração bondoso para com o pobre, sofreu, lutou; era carente, mas no fundo tinha grandeza, nobreza, sensibilidade para tudo o que é profundo; sensibilidade para o sofrimento. Ele continuará como nasceu, também depois de sua conversão! O importante é fazer crescer o que somos. Mas nós não nos conhecemos! Talvez conheçamos melhor os outros do que a nós mesmos!

Então: como eu tenho a mim mesmo? Que sabedoria é conhecer-se e aceitar-se, agarrar-se e familiarizar-se consigo mesmo? Como nos relacionamos com nossa raiz? Não existe VR abstrata, mas muito concreta. Como me relaciono com o “lugar onde eu estou”? Tiro força disso ou começo a arrumar problema porque não estou bem ligado com essa raiz oriunda? Por exemplo, um defeito físico: aceita-lo como sua raiz é viver melhor do que outro que não se aceita como é. Trata-se da tarefa de sermos livres! Quanto mais você se relaciona com você positivamente, melhor estará louvando o Criador. Cada um de nós é limitado, mas para Deus somos preciosos; para ele somos tão importantes quanto Maria e SF. Neste caminho ninguém está perdido, mas por outro lado ninguém está garantido, pois a partir disso se dá a grande “jogada” do humano que se chama liberdade: o destinar-se da vida como decisão enérgica de viver cristãmente.

RECEBEU PRIMEIRO DE SUA MÃE O NOME DE JOÃO; NO ENTANTO, SEU PAI, EM CUJA AUSÊNCIA O MENINO NASCERA, AO VOLTAR DA FRANÇA LHE IMPÔS O NOME DE FRANCISCO. Para nós humanos dar o nome é como colocar uma etiqueta ou dar o nome tem uma grande significação humana? Se a família se reúne; pai e mãe até brigam para dar o nome… e depois você tem que aturá-lo para o resto da vida!

O medieval dá importância ao nome. O nome não indica uma pertença, indica a ligação que F. tem com o pai, que ele depois rejeitou, trocou com o Pai do céu. O pai sempre ia viajar para a França, gostava da França, gostava dos cantos dos jograis, gostava daquele vida cheia de romance… O jogral era muito liberal, cheio de uma vitalidade quase mundana. Quando se diz França, pensa-se logo no jogralesco, ao mesmo tempo cavaleiro e romance.

Nós estamos com ojeriza do pai de Francisco. Mas o texto parece estar querendo dizer que este nome Francisco, através do qual ele ficou célebre, ele o recebeu do pai. Em seguida vai dizer: este F trabalhava no ofício do pai; era um negociante como o pai, só que de um jeito bastante diferente. Então o texto dá a impressão de estar dizendo: Francisco dentro dele, oriundo daquele vale, oriundo de tal pai e mãe, nele há a herança dos dois, ele tem pertença. Pode ser que Francisco era uma pessoa muito generosa, mas nele se percebe a safadeza de um negociante italiano; como ele pechincha na vida, como ele negocia, como ele tem um senso danado de negociar, pegando o lucro onde pode pegar. O texto está dizendo que ele recebeu isto do pai. É bom guardar esta ligação.

JÁ O ADULTO É FEITO SUTIL NO ENGENHO. O compilar não está dizendo que f era bem dotado, mas que cresceu e se tornou sutil no engenho: crescer, ficar adulto significa fazer-se adulto, tornar-se sutil o que ele já tem; isto é, f teve certa herança, certos vigores, virtudes naturais: ele trabalhou essas virtudes de tal maneira que tornaram-se mais finas. Então, já adulto e depois feito sutil no engenho (no espírito) exerceu a arte (em lugar de ofício) paterna. Estes textos têm uma compreensão bem nítida do humano.

Nós, quando falamos natural entendemos natureza: o crescimento da planta é natural, filhote de baiacu cresce biologicamente, isto é , natural. Aí entendemos o bebezinho que nasce também natural, nesta interpretação a partir da dimensão físico-biológica; interpretamos a nós mesmos como se fôssemos animal ou planta e dizemos: se você vê o embrião humano é igual ao de um animal: nasce, cresce. Entendemos virtude como uma força, uma energia vegeto-animal.

O medieval tinha uma antropologia mais inteligente; dizia: nós somos parecidos com toda essa bicharada e nos podemos interpretar a partir delas; mas o nosso próprio, a alma, o espírito tem sua lógica própria, tem modo de ser próprio; o natural humano não é igual a esse natural vegetal e animal. Nosso natural não é do tipo ocorrência; ele tem que ser trabalhado com responsabilidade. Por isso, não adianta ter muito talento natural, pois se deixar assim, ele se corrompe, só pelo fato de não o ter trabalhado; ao contrário, pode não ter aparentemente muito talento mas o fato de você assumir, trabalhar, lutar, aquilo cresce. Por exemplo, pensamos que ser pessoa de boa índole dá grande felicidade. Na realidade isso não basta; pois a pessoa tem que assumir sua boa índole e colocar-se diante dela, trabalhando-a, fazendo “caminho” e continuamente cuidando para não cair no mal. Em outras palavras: o homem é o único que tem a possibilidade de pecar, de cair no mal. Tem que acionar o próprio do natural humano que é a liberdade, a responsabilidade.

Francisco tinha uma força, virtude que recebeu de nascença; quando jovem começou a soltá-la. É o que acontece conosco: aparentemente soltamos tudo isso como instinto que recebemos, mas na realidade soltamos na medida em que começamos a crescer com responsabilidade. Se você não cuidar, pode cair; depois de cair, se você cuida, pode subir; depois que subiu, senão cuidar cai de novo. Continuamente tem a tarefa de se conquistar, vencer-se a si mesmo. Pelo contrário, a partir da compreensão moderna de natural, gasta-se muita energia em prepara o ambiente e não se trabalha a si mesmo; este não trabalhar a si mesmo dá tipos humanos que tem dificuldades enormes de enfrentar dificuldades; fica sempre pensando nos recursos para remover as dificuldades; dá uma espécie de educação de remoção das dificuldades, e não de enfrentar; ao passo que essa antropologia descrita acima confia muito na força própria da virtude humana, isto é, do assumir e trabalhar a liberdade.

Na medida que se cultiva a “Virtude humana”, criam-se personalidades que conseguem criar ambiência, isto é, que colaboram para que o ambiente fique bom, mas não esperam que o ambiente seja bom. O medieval pensava assim: o homem tem imagem e semelhança de JC, filho de Deus; pode ser finito, nascido num lugar, com esse corpo, ter essa doença, mas o coração dele é de filho de Deus, então tem a capacidade de criar, e criar não somente para si, mas de mediar toda a natureza que aí está. Ele é o pastor da natureza, ele tem a possibilidade de levantar, com esforço, o nível da natureza decaída. Essa experiência é uma conquista da história muito preciosa que temos que conservar; mas nós quase perdemos essa espiritualidade, por isso ela nos parece tão penosa. Nossa pedagogia é de remoção das dificuldades, por isso hoje quando reagimos contra esse tipo de pedagogia, colocando tudo muito livre, à vontade, temos que cuidar muito porque o formando se quebre todo, pois não está acostumado a enfrentar dificuldades; tem que ir aos poucos, se reconquistando de novo. É como alguém que já não anda mais, diante de um morro: tem que desviá-lo; o físico dele se adaptou para andar de carro; foi criada toda uma tecnologia onde todas as dificuldades , tudo o que é obstáculo foi tirado. O que acontece com uma pessoa assim? Ela nunca é desafiada para tirar de dentro de si aquela força que podia resolver; então a tendência é decair sempre mais, chegando ao nível assustador de ter que viver em redoma. Psiquicamente ou espiritualmente começamos a ficar assim; de repente tem que se sair disso e não mais se pode tirar a pessoa da redoma senão morre; aí então aos poucos tem que consolidar de novo, para viver na terra. A tarefa da espiritualidade hoje é de tirar as pessoas da redoma. Esses textos são de gente que vivia assim, continuamente sendo desafiados a viver corpo a corpo com as dificuldades.

Francisco, oriundo de Assis, comerciante, esbanjador e com uma porção de outras coisas ruins… como pode o texto chamar a tudo isso de “virtudes naturais”? é que nisso tudo ele tem jeito de “fazedor”; tem tudo o que é bom e ruim, mas não fica classificando o bom e o ruim: tudo é material que tem que ser trabalhado. Francisco no começo não trabalha muito, mas começa a surgir certa abertura e aí dentro ele tem um núcleo fiel de trabalho; dentro da mixórdia subdesenvolvida vai descobrir o núcleo bom. Alguns pontos bons já de antemão talvez os tenha recebido dos pais, sem mérito nenhum, mas eles não podem ser deixados assim, soltos, porque assim apodrecem. Ele precisa trabalhá-los. É impressionante como SF trabalhou suas “virtudes naturais”! ele tem uma generosidade natural e uma espécie de tenacidade de negociante. Ao longo da vida toda quanto se propõe alguma coisa , vai atrás e se de um jeito não dá certo, inventa outro; ele mesmo diz: se te expulsam por uma porta entra por outra; ele faz isso continuamente!

Ele herdou isso do pai; mas com um modo um pouco diferente; era mais ambicioso que o pai, tanto que ultrapassou o objetivo de ser bom comerciante; assim, começou o conflito com o pai. Mas essa tenacidade de ir até o fim a recebeu do pai. Quando os dois se chocam, o pai ficou firme: “Meu filho ficou doido, não vou deixar esse rapazola esbanjar o seu futuro, não senhor! Vou botar juízo nele”, e Francisco também: “Descobri uma coisa e não vou deixar o Jesus Cristo que me chamou pelo pai Pedro, não!”: os dois são parecidos.

Um noviço foi falar com o mestre: “vou embora porque sou irascível, sensual; já lutei muito tempo contra o meu defeito e não consigo vencer, principalmente a irascibilidade; sou um homem estourado que ofende muita gente; quando o sangue sobe à cabeça não consigo me controlar”. Então o mestre disse: “Que qualidade interessante você tem. Mostre-me aí. Um, dois, três, fica furioso!” Disse o discípulo: “Não é bem assim; o senhor tem que me ofender primeiro”. O mestre disse: “Se você não consegue em um, dois, três, então isso não é de nascimento não!” O medieval pensa que não existe defeito em si; se acha que algo é defeito, é porque padroniza uma medida e mede a partir dela: pensa-se que extroversão é coisa boa e que introversão não presta. Na realidade, porém, a introversão é que tem que ser trabalhada, tanto quanto a extroversão.

Nos textos não se encontra momento algum em que SF desanima. Mas isso não significa que não tenha desanimado. Os textos estão dizendo que quem quer caminhar para frente tem que sempre transcender a si mesmo; tem que sempre sair de si e voltar-se para o que é maior do que ele. Por isso, são Francisco diz: “Vou ser grande coisa!” Uma humanidade que enfrente uma dificuldade, por pior que seja, medindo a realidade só a partir do que é empírico, não tem muito futuro. O importante é transcender aquilo. As pessoas que sobreviveram no campo de concentração foram todas pessoas que acreditavam numa realidade maior daquela que estava acontecendo ali. É isso que os medievais querem dizer quando pinta um Francisco otimista. Isto é, para entrar numa caminhada como oi seguimento de Jesus Cristo é muito importante adquirir esse modo de ser humano, que é a opção de jamais ser empírico, materialista, de achar que o que está acontecendo é tudo; de forma muito realista, com os pés no chão por pior que seja, optar de novo para abrir-se e crer numa realidade maior que aquilo que está acontecendo. Esse ponto é tão difícil; em geral, quando temos dificuldade, deixamos que a dificuldade tome conta e dê cor a tudo o resto.

Se você fosse uma galinha e encontrasse só um grãozinho de milho e dissesse: “O que adianta comer só um grão de milho: isso não enche o papo”, e só fica naquele grão de milho e não acredita que daqui a pouco pode ter outro, se uma pessoa toma essa atitude, diante de outro grão diz de novo: “o que adiante eu comer esse grão também”, e vai repetidamente raciocinando assim, depois do quinto grão vai dizer: “oh, se tivesse comigo os cinco grãos já teria a barriga cheia”. Mas aí acrescenta: “O que adianta agora, se já não comi os cinco!?”

Nós dizemos: “Já tenho 60 anos, o que adianta se me educaram desse jeito?” é contra essa postura que o medieval combate a ferro e fogo, porque essa postura não é postura de fé. Essa postura não leva para frente. Não é que Francisco não tenha dificuldades, mas otexto na elaboração de sua vida, está pouco se incomodando com os momentos em que desanimou, porque aquilo não é exemplo. Exemplo é o momento em que se animou como uma estrutura de decisão de como viver a vida.

Essa postura vale para tudo: pastoral, estudo… Por exemplo: se vc tem que estudar matemática e e começa a dizer: a matemática é seca! Pode ser seca, mas a matemática nunca é só matemática; é mais do que matemática. Se uma pessoa se empenha muito no trabalho da matemática, se se disciplina dentro da matemática, adquire uma qualidade maior do que simplesmente cálculo. Uma dificuldade comunitária é sempre mais do que uma dificuldade comunitária; pobreza social não é só pobreza, promoção é sempre mais do que promoção humana.

Então, quando diz o céu, Deus, espiritual, o medieval está pensando nesse tipo de colocação existencial. Isso é importantíssimo para entrar numa vida como a de seguimento de Jesus Cristo. Por melhor que seja uma pessoa, se permanecer numa postura empírica, e hoje há muito disso, vai ter dificuldades na vida. Ela não vai entender como pode ter tantas imperfeições e porcarias nas instituições, e um dia por causa do idealismo cai fora. Não está percebendo que aquela imperfeição, que a instituição, a lei jurídica é mais do que imperfeição e lei jurídica.

Exerceu a arte paterna, mas de forma muito diferente. Francisco nasceu num lugar bem concreto, tinha suas qualidades que recebeu do pai e da mãe, cultivou o que recebera como “virtudes naturais” e se tornou mais sutil, mais fino na sua própria força; e exerceu (praticou, trabalhou) a arte do pai, isto é, o negócio. Só que ele exerceu o negócio de um modo diferente.

Nós nos enganamos muito quando pensamos que SF, filho de um empresário, tinha raiava das “estruturas capitalistas” e quisesse dar uma de carismático. Buscar a fundamentação de um carisma como reação a uma estrutura capitalista não tem muita força humana, aliás, nenhuma. É preciso buscar o carisma que é maior do que aquela coisa que você encontra na estrutura; essa é uma diferença enorme de dinâmica humana. Francisco era comerciante e crescer na lide do comércio; estava na ganância do dinheiro e não escutou o pobre que pedia; só que no modo de fazer comércio, era diferente do pai. A lide do comércio não era suficiente parta Francisco, desejava algo mais, algo maior.

VIVIA NOS CANTOS E JOGOS (boemia jogralesca) CIRCULANDO DE DIA E DE NOITE PELA CIDADE DE ASSIS, ASSOCIADO AOS SEMELHANTES A ELE… EXPEDENDO (espalhando) LARGAMENTE TUDO QUE PUDESSE TER E LUCRAR EM... Francisco não é mesquinho, ele quando gastava, ele gastava “grande”; o texto está descrevendo o caráter de Francisco; era um dragão (que na China significa ter um gênio de ser grande), que não era mesquinho, e tudo o que ganhava ou que pudesse ganhar e gastar, ele empatava em alguma coisa. Mais tarde foi a mesma coisa; tudo o que ele tinha colocava a serviço do grande rei. Mas aqui (no texto), ao invés de dar para Deus, dava em banquetes e festas.

OS PAIS ARGUMENTAVAM (REPREENDIAM) POR ISSO DIZENDO QUE PELAS GRANDES DESPESAS QUE FAZIA CONSIGO E COM OS OUTROS NÃO PARECIA SER FILHO DELES, MAS DE ALGUM GRANDE PRÍNCIPE.

Como se o texto dissesse que Francisco tinha cara de comerciante, mas barriga de príncipe; isto é, escondido por dentro, Francisco tinha uma outra coisa. É como se de uma galinha nascesse um pintainho maiorzinho e dissesse: “Esquisito esse filhotinho; tem bico, tem pena, tem tudo, mas dentro parece ter um cisne; acho que andei chocando outro ovo”. É isso que os pais de Francisco estão dizendo.

COMO PORÉM ERAM RICOS E O AMAVAM COM TERNURA, TOLERAVAM AS EXTRAVAGÂNCIAS, PARA NÃO TURVAR. Dá a impressão que os pais desconfiavam de alguma coisa e não queriam atrapalhar o seu crescimento, por isso aguentavam. A mãe dizia: “Oh, não fique falando dele, que ele vai ser outra coisa ainda”. Este texto não está falando só de Francisco, está falando de todos nós. Nós sempre pertencemos a outro ovo. Se não se toma consciência disso não se anda. Os nossos pais mais do que “pais corujas”, são pais que no fundo vêm outra coisa, mais do que somos factualmente. Será que o texto não está dizendo que toda pessoa humana é assim? Que toda pessoa humana guarda dentro de si uma nobreza que é diferente da factual?

Quando a mãe de Francisco ouvia as vizinhas comentar acerca de sua prodigalidade, respondia: que pensais de meu filho? Ainda será filho de Deus. Quer dizer, ele ainda não é filho de Deus; está cheio de vaidades, correndo atrás dessas coisas… mas, não estão vendo a nobreza que tem nele. Ele não é grande não? No modo de gastar, ele não é qualquer mesquinho; pode ter 10 reais no bolso, mas 10 reais ele os dá como príncipe.

Não só era largo em tudo e mesmo pródigo, como também se excedia nas muitas maneiras de vestir, trajando roupas mais caras do que lhe seria conveniente. Não somente Francisco era largo em tudo, mas tinha alma larga, era de bitola larga. Na sua curiosidade, na sua maneira de cuidar dos outros, de estar presente, na sua amnabilide, ele era tão bom a ponto de colocar remendos ordinários em seu raje de fazenda caríssima. Francisco é grande na sua maneira própria de vestir (como manifestação de vitalidade, de originalidade, de generosidade de ver) que não fica bitolado numa coisa só, pensando nesta função, naquela função; ele é largo. Mas esta largura é vazia a ponto de fazer a besteira de remendar uma roupa cara com pano ordinário. Mas o texto está admirando isto. Não vê que o cara é grande? Até na besteira ele é grande.

Era contudo naturalmente curial (cortês) nos costumes e nas palavras. Francisco era muito dado, muito liberal; brincava, cuidava do outro, no entanto era cortês com todo mundo; se você não cuidava ficava gamado por ele, pensando que estivesse gamado pela gente. E no entanto, ele tinha um limite dentro de si, um núcleo muito disciplinado. Nós partimos de uma ideia naturalista do humano: o bom é meu por natureza, o que me falta é por falha da criação! Mas o medieval pensa em Deus criador que dá tudo e também a tarefa de cultivá-lo. O natural espontâneo é bruto-grosso, mas “em tarefa” torna-se sutil, elaborado. O bruto é matéria prima para o sutil, como o barro para a cerâmica. Francisco por natividade é igual a nós, não é melhor do que nós. Mas elaborado dá SF.

Guardava o firme propósito em seu coração de jamais dizer palavras injuriosas ou torpes a quem quer que fosse; antes, sendo jovem brincalhão e lascivo (boêmio). Lascivo para nós é pessoa que tem palavras e busca coisas sujas; mas na origem, lascivo significa pessoa solta, capaz de fazer brincadeiras, gostar da vida, fluindo na vida, espontâneo; significava gostar de tudo que é vida; mesmo que seja meio erótico, quando é bonito gosta. Dá a impressão de que é uma pessoa muito aberta e vibrante com tudo que é vida.

Partindo desses graus de virtudes naturais. Esse parágrafo indica a intenção deste capítulo. Tudo o que o texto descreveu como vaidade, como largura, lascívia, cortesia, curiosidade, mas que era aplicado para valores que no fundo não tinha muito valor, tudo isso o texto chama de virtudes naturais, isto é, forças nascivas bem concretas recebidas; assim está descrevendo o concreto da existência humana, aqui aplicado a Francisco, mas que pode ser aplicado a cada um de nós. A pessoa humana não é pedra, planta ou animal. Nasce dentro de uma pertença, de uma raça, de uma família, de um país, de uma época. Isso bem concreto, com todos os seus limites. Mas aí dentro recebe uma dose originária de vigor de Deus, vigor que pode ser aplicado no início a diferentes realizações, aparentemente vãs; mas que são virtudes naturais.

Chegou a tal graça (perfeição). Partindo disso, Francisco começou a andar e chegou a tal brilho, a tal vitalidade de dizer a si mesmo… Francisco é sempre tocado antes, e depois “assume” o toque. Esta é uma característica da dimensão religiosa, que exige muita atenção e disposição; é por isso que pessoa muito voluntariosa tem dificuldade; tem que ter “vontade de ser conduzido”, pois a vontade, por mais forte que seja, não basta, precisa de “docilidade” que é uma vontade nova. Vontade natural – vontade religiosa.

“Se és generoso e cortês com os homens de quem não recebes coisa alguma, a não ser favaores transitórios (de pouco proveito ) e vazios, e justo que por amor de deus, que é largíssimo em retribuir, o sejas também com os pobres. E desde então olhava de boa vontade (com prazer) os pobres, dando-lhes copiosas esmolas. É uma antecipação que anuncia o caminhar religioso, no qual sempre há a participação do “Deus que nos amou primeiro”, nascendo assim o destino religioso. Nisso é que se diferencia o hagiógrafo do historiador: o hagiógrafo capta esta presença de Deus que faz nascer a caminhada, isto é, a estrutura de diálogo entre o natural de Francisco e a graça de Deus. Isso faz evoluir, mas um tipo de evolução não como a da semente-árvore, mas “evolução” por passagens qualitativas. Uma história religiosa não pode ser escrita por um historiador porque este não capta a verdadeira alma do acontecimento. Somente um “sócio-companheiro” a capta!

Certo dia, estando na loja solícito (entretido) na venda de panos, veio um pobre pedir esmolas pelo amor de Deus. Detido pela ganância das riquezas e pelo cuidado do negócio, negou-lhe a esmola. Mas logo, pela graça vendo para frente (tocado). Francisco revela uma sua qualidade: era um vendedor solícito, mas pela graça ele conseguiu ver mais para frente. Francisco tem muita ambição. Quem não tem ambição não fica bom profissional, pois para ser bom profissional precisa-se de muita ambição. Francisco não abafa sua ambição, mas a canaliza. Nós temos uma imagem de Francisco como quem ficava só passeando e circulando por aí, fazendo festa. Na verdade, nesse último parágrafo vemos que ele trabalhava sério; e que estava tão absorto no trabalho, que mandou o pobre embora. Isto é sinal de que ele fazia negócios mesmo, pra valer. Só que no jeito de fazer o negócio dele, era mais ousado que o pai. O pai estava vendo no Filho um sucessor; um sucessor de estilo moderno, talvez mais criativo, alguém que vai colocara fábrica tradicional numa nova perspectiva. Francisco usava a generosidade, a criatividade, e outras coisas também no negócio. É por isso que o pai ficou doido.

Repreendeu-se por tanta rudeza. Rústico é algo grosseiro. O texto lembrou antes que Francisco tinha “ficado adulto e sutil de engenho…”, esta “sutileza” o faz se arrepender de ter sido grosseiro e não ter entendido a finura da colocação de Deus. Francisco não estava arrependido tanto por ter xingado. Ele diz mais ou menos assim: eu fui burro; eu não vi a chance sutil, que estava sendo colocada diante de mim; eu tratei o pobre como um ignorante A minha mente, o meu modo de ver é inteiramente grosseiro, não vê coisas ‘finas”, não vê coisas verdadeiras”. O pivô não está em ficar censurando a si mesmo porque agiu agressivamente; está antes em dizer: “Eu já devia ter o olho muito fino para ver a verdade, mas o meu olho é tão grosseiro que não conseguiu ver que quem pediu estava numa realidade muito maior do que estivesse pedindo a partir de um barão e tivesse pedido para mim”. Francisco tem extraordinária capacidade de responder aos toques de Deus. Ele não fica se queixando do erro, mas do erro aprende e retoma logo o caminho.

Propôs em seu coração nunca mais negar o que pedissem em nome de tão grande senhor. Temos aqui a primeira postura de SF perante os pobres: Francisco vê nos pobres os enviados de Deus a ele e ele por amor de Deus os ajuda. Os pobres são meio. Sua atenção para os pobres vem de sua “cortesia”; no pobre aparece a fragilidade do que é límpido, puro, sacrificado, entregue. Há nisso algo que cutica. É o instinto divino de compaixão que conserva a vida. Este é o instinto natural, mas que tal se por trás dele estivesse o instinto divino pulsando?! Crescendo em compreensão Francisco chamará isso de misericórdia. Francisco começa a ser envolvido pela dimensão religiosa, ainda não tematizada positivamente. É Deus-graça presente e atuando sem que Francisco o saiba.

Oriundo da cidade de Assis, situada nos confins do Vale de Espoleto, num bem determinado momento da Idade Média, numa determinada família, povo, raça, carregando em si toda a herança do nascimento (vaidade, curiosidade, prodigalidade…: para indicar todo esse concreto-limitado de Francisco (e de cada um de nós!) vamos usar a palavra finitude.

“A partir de tudo isso, Francisco chegou à largueza acerca dos pobres”. A palavra usada em latim é “perveio” que indica movimento; em português é ‘aviar”, isto é, começar ou “prevenir”; atravessar tudo um caminho para chegar ao fim. O texto está dizendo: a partir dessa realidade finita, a existência humana de Francisco começou a caminhar para chegar a um crescimento.

Cada um, a exemplo de Francisco, é finito, bem concreto; somos aquilo que somos, somos aquilo que recebemos ao nascer com todas as limitações implícitas Limitações das quais nem sequer temos consciência, às vezes, porque se meu tataravô foi um bandido lá nas montanhas, eu devo ter as taras que ele teve, mas essas taras são ao mesmo tempo também vigor. Assim nascemos e começamos a andar. Para esse modo de andar podemos usar a palavra destinar-se; mas não é um destino fatal, como algo predeterminado que não escolhemos. Carregando o que nos coube ao nascer, nos aviamos dando origem ao “nosso” destino. Este modo, que é ao mesmo tempo limitado e livre (isto é, assumido) de ter que caminhar, isso se chama destinar-se, ter que dar sentido. Finitude e destinar-se caracterizam o modo de ser humano. O que mais de concreto temos, o que mais de pesado temos, o que mais sentimos na carne é essa finitude é esse destinar-se.

É engraçado que o texto diga que “a partir de sua finitude, Francisco ficou aberto, chegou à largueza e à caridade acerca dos pobres”. Nós entendemos caridade como compaixão, comiseração para com os pobres. Mas quando o cristianismo usa a palavra caridade, entende uma abertura cheia de simpatia, que vê um grande valor altamente positivo, ocultamente presente em tudo. Caridade vem da palavra karis (carisma, eu-caris-tia) e significa força, brilho, beleza de um vigor. Francisco chegou a um brilho de um vigor que lhe deu olho novo para se aproximar do pobre; mas não coimo de alguém que vai simplesmente ter comiseração, antes como quem vai vendo a pobreza de maneira inteiramente diferente. Trata-se do ponto fundamental da compreensão franciscana do que é “espiritual”: a finitude humana compreendida não como carência ou privação, mas sim como graça; a finitude humana tem como sua essência um coração pulsante chamado karis, isto é, beleza, vigor, graça do Deus de nosso senhor Jesus Cristo.

O texto entende a finitude como a possibilidade, como o poder (no sentido daquilo que o humano pode) todo próprio do homem: a possibilidade de criar junto com Deus a chance de ser co-criador com Deus. Digamos, por exemplo que a sociedade me chame de burro porque não consigo acompanhar a escolaridade de uma sociedade que tem certo tipo de escolaridade, e até explica minha burrice dizendo que sou burro porque quando criança faltou comida e fiquei com o cérebro lesado: essa turma tem a coragem de dizer: pode ser que toda essa explicação esteja certa, mas essa delimitação para Deus é uma possibilidade; uma criança idiota no fundo tem a tarefa e a possibilidade de co-criar com o criador tanto quanto outra pessoa. Claro que tem que lugar para melhorar a situação dessa criança na sociedade, mas na valorização daquela limitação não entra nem um pingo de desprezo, de diminuição, antes pega em cheio o jeito com que Deus está naquela possibilidade e você é convocado a se colocar como Deus se coloca diante dessa finitude.

A possibilidade humana, portanto, jamais é preestabelecida, presa, definida de antemão; não tem padrão para ela. Sociedade, épocas, sistemas sempre colocam padrões, mas a realidade originária não tem padrão. E a possibilidade é esta: poder se dispor, poder ser, estar positivo ao convite para o encontro com o deus de JC; entender a realidade humana sempre como uma possibilidade de encontro. Encontro é uma experiência inteiramente fora do padrão, porque é no próprio encontro, cheio de amor e simpatia, que se forma o que nós somos. E esse encontro é livre e imenso.

Daí a definição que os primitivos franciscanos “deram” de pobres: pobre é quem está exposto na finitude e disposto para o convite de ter disposição para ser filho de Deus; por isso, o texto diz: “Você vai ver! F que é vaidoso, esbanjador, ele vai ainda ser filho de Deus!” é esta disposição que ele trouxe para dentro de sua finitude. Parece ambíguo, parece ser um defeito, mas no fundo na finitude está pulsando a possibilidade de colocar-se na dinâmica do encontro. Esta disposição livre é o que se chamou de espiritual ou espírito. Então ser pobre é ter disposição para o encontro; essa valentia de jamais abaixar a cabeça diante da finitude como se fosse carência, mas antes um convite altamente pessoal, cheio de amor para o encontro. Esse modo corajoso de ver a realidade da terra dos homens é o “espiritual”. Tudo o que fazemos com este ânimo é espiritual. E as coisa mais “espirituais”, que fazemos sem este ânimo, não são espirituais, são coisas.

Isso dá uma diferença enorme na compreensão do que é espiritual, porque o espiritual como nós o entendemos usualmente, é no fundo um padrão, um padrão que nós estabelecemos como o mais alto, um padrão que sempre se mede com a quantidade de inteligência, de poder, de riqueza, de posse. Mas, nesta compreensão de “espiritual”, se uma pessoa sadia, movimentando todo seu talento, diz “sim” e outra inteiramente idiota diz “sim” só movimentando um piscar de olho porque mais não pode, as duas tem valor máximo. Este modo de pensar, os primitivos franciscanos tiraram do Evangelho.

Esta é a compreensão que está por traz da finitude. Por isso Francisco, na medida em que ia crescendo na caminhada, começou a entender os pobres; começou a ver nos pobres a valentia de viver que eles tinham. Veremos em outros capítulos da LTC que Francisco aciona continuamente com solicitude enorme esta disposição, num nível cada vez mais fiel, cada vez mais límpido. Ali é que Deus vai conduzindo-o para a grande vocação de ser cavaleiro da Senhora Pobreza.

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