Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Fraternidade São Boaventura – Um olhar humanístico

03/03/2013

Com profunda alegria, eu ouvia o mais velho dos treze irmãos, Frei João Crisóstomo Arns, expressar seu grande sonho
Construir uma escola ecológica que pudesse expressar o espírito de São Francisco de Assis, e, assim, propiciar a educação integral dos alunos. O Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns assim a ele se referia: “Frei Crisóstomo é um gênio da educação integral. Ele amava os alunos, conhecia-os pelo nome, como também aos pais. Acolhia a todos com amizade e confiança”.

Lembro-me que ele, e mais especialmente meu marido, Aloysio Bruno Neumann, na época diretor da Faculdade de Administração e Economia – FAE, visitaram famílias proprietárias de terras em Rondinha.

Apresentaram os objetivos e verificaram o interesse dessas famílias em vender as terras. Efetuadas as aquisições, o Bom Jesus da Aldeia pôde dar o primeiro passo: ter o chão para planejar e realizar o sonho de uma educação de alta qualidade, dentro da mística franciscana.

Parte dessas terras, mais adiante, seria doada para a construção do complexo da Fraternidade São Boaventura, com o objetivo de formar os frades estudantes de filosofia. Isto me fez lembrar, muitas vezes, minha mãe Helena e meu pai Gabriel, junto aos filhos, rezando de joelhos a cada noite “pela paz no mundo, pela nossa Santa Igreja e pelas vocações sacerdotais e religiosas”. Assim, atravessando os tempos, Deus aí estava a guiar os nossos passos, pois a Igreja somos todos nós.

Meu irmão, Felippe Arns, engenheiro civil, e seu sócio na Construtora Marna, o arquiteto francês René Mathieu – irmão de Frei Luc Mathieu, franciscano, provincial e amigo de Dom Paulo nos anos em que este fazia o doutorado na Sorbonne, em Paris – acompanhavam atentamente as diretrizes gerais, afim de que tudo pudesse convergir para a concretização do meio ambiente propício à vivência do Canto das Criaturas e aos estudos.

Pronta a lindíssima Capela, construída em tenda, estilo arquitetônico acolhedor, com vitrais coloridos, inspirados na mística franciscana – que transporta a nossa alma ao Senhor das Criaturas – foram eles apresentar a obra. Felippe disse a Frei João Crisóstomo: “eu vou doar o órgão para que os jovens frades possam aprimorar a liturgia”. Assim aconteceu.
Quando os primeiros franciscanos começaram a chegar, Frei João Crisóstomo pediu-me que fosse ter com eles, e juntos elaborássemos um cardápio para os estudantes. Lá conheci o irmão frei Barnabé. Gostaria de chamá-lo de santo. Ele era responsável pela horta de verduras, pelo pomar e outros recursos. Foi muito fácil o diálogo. Eu lhe falava de um princípio aprendido de minha mãe, “onde há alimentação saudável à mesa, não entra médico”. Frei Barnabé concordou comigo.

Dois anos depois, em 1983, eu estava iniciando a Pastoral da Criança. A missão exigia muitas viagens e não conseguíamos ir sempre à missa dos “Freis”, pois ainda não morávamos em Campo Largo.

Um belo domingo de julho, tempo frio, o irmão sol irradiando esplendor por todos os cantos, fui com meus cinco filhos adolescentes à missa na Capela do Convento. Já na entrada me informaram que Frei Barnabé estava muito mal e gostaria de falar comigo.

Fazia tempo que ele não saía do quarto. Ao perceber que ele estava perto de se encontrar com o Deus da Vida, perguntei-lhe se não queria dar uma volta para louvar a natureza, tão formosa e bela. Ele imediatamente disse: “Quero”. Meus filhos Rubens e Nelson o carregaram para a caminhonete Veraneio, no banco da frente. Agasalhei-o com o cobertor quente, e me sentei ao seu lado. Fomos andando devagar, como quem transporta um santo.

Ele admirava tudo e, de repente, levantou os dois braços ao céu e cantou o Cântico das Criaturas. Demos uma volta no centro de Campo Largo. Na Praça da Igreja Matriz estava um caminhão cheio de laranjas e tangerinas. Ele pediu que parássemos para observar melhor. Pedi uma penca e deixei que ele sentisse o aroma: “São iguais às que eu cultivava no Seminário de Agudos” Ele quis abençoar a nossa chácara e fomos até lá.

Estava ele em estado degraça, sempre admirando a natureza e louvando o Deus Criador. Assim, o levamos de volta ao Convento.

Ao voltar de uma viagem, fui informada de que ele morrera três dias após o passeio, dia 6 de julho, de 1983, quarta-feira.

Há quatro anos, com a morte de minha filha caçula, Sílvia, resolvi morar na nossa chácara em Campo Largo, a fim de dar melhor ambiente para seu filho Danilo se desenvolver junto aos tios e primos; tinha ele apenas dois anos e quatro meses. Assim, praticamente todos os domingos participamos da Missa às nove horas na Capela São Boaventura, com os estudantes de filosofia. São missas muito especiais, edificantes e de formação franciscana.

Formamos uma comunidade com outras famílias e participamos das iniciativas coordenadas pelos clérigos.

Com muita alegria e esperança, percebo que os estudantes de filosofia têm a oportunidade de fazer estágio nas paróquias e capelas próximas. Muitos deles participam da Pastoral da Criança, que aplica a metodologia comunitária do Evangelho de São João, quando narra a multiplicação de dois peixes e cinco pães, que saciaram cinco mil pessoas. Com a mística da fraternidade cristã, os líderes comunitários, voluntários capacitados e acompanhados, multiplicam o saber e a solidariedade entre as famílias e semeiam a paz. Estas têm, assim, melhores condições de criar seus filhos “para que todos tenham vida e a tenham em abundância”.

Agradeço a Deus pelos vinte e cinco anos de existência desta casa de formação e estudos. Em especial, pela graça de poder fortalecer-me no espírito de São Francisco, junto com minha família, pela convivência fraterna e amiga com a Fraternidade São Boaventura. Meus parabéns pelo jubileu de prata, àqueles que se doaram para que este sonho se tornasse realidade.

Aos que já partiram e foram alicerces da concretização deste ideal, meu irmão Frei João Crisóstomo, Frei Barnabé e tantos outros, a nossa gratidão e profunda saudade.

Que o Deus da Vida ilumine e abençoe a todos os que têm o privilégio de usufruir deste recanto do Cântico das Criaturas, para que possam contribuir, com seu espírito e talento, na construção de um mundo mais justo e fraterno a serviço da vida e da esperança!

Dra. Zilda Arns Neumann, médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa idosa – organismos de ação social da CNBB.
O presente texto foi escrito em ocasião do Jubileu de Prata do Convento São Boaventura.
Doutora Zilda faleceu em Porto Príncipe, Haiti, em 12/01/2010, vítima de um terremoto.

Download WordPress Themes
Download WordPress Themes Free
Premium WordPress Themes Download
Download Premium WordPress Themes Free
lynda course free download
download samsung firmware
Download Premium WordPress Themes Free
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=

Conteúdo Relacionado