Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Fraternidade no e do trabalho

22/04/2021

 

O que segue é apenas um pequeno subsídio para refletir em detalhes, através das perguntas e questões que poderiam e deveriam ser levantadas por nós todos sobre o que foi exposto por frei Guido. Dos vários pontos de destaque da exposição de frei Guido, nos concentremos no ponto que diz:Costumamos dizer sempre que as atividades são as mais diversas, desde o faxineiro ao coordenador de um curso, mas a missão é a mesma, a de educar. Somos todos educadores. A dimensão fraterna se faz presente nesta tarefa”. E dentro dessa perspectiva a exposição diz também: a dimensão fraterna é o impulso que está no e atrás do nosso fazer, e não as atividades simplesmente.

O objetivo desse encontro de troca de idéias é de tentarmos nos tornar mais claros na compreensão do que seja a dimensão fraterna, acima mencionada, na exposição de frei Guido. Pois essa compreensão vai ser decisiva na prática, quando passamos a realizar no nossos trabalho e afazer institucionais o carisma da fraternidade que é o de Francisco de Assis. Aqui nesse pequeno subsídio examinemos apenas o significado da palavra fraternidade e similares como fraternal, fraterno, fraternismo.

I Modalidade – Fraternidade como ser irmão do mesmo sangue, fraternidade familiar

  1. a) Termos como fraternidade, fraternismo, fraternal, fraterno contêm a palavra frater[1]. Frater é um termo latino e significa irmão. Irmãos, irmãs dizem respeito às pessoas que nasceram dos mesmos pais: pai e mãe. São pessoas que estão unidas pelo mesmo sangue que possuem dos pais e com eles formam uma família. O elo de união aqui vem do nascimento. Assim, na sua significação nominal fraternidade é comunidade de convívio das pessoas que são e se consideram irmãos, unidos no mesmo sangue, através do nascimento. Porque nascimento se refere à natureza, e natureza se refere ao nascimento, podemos chamar esse tipo de fraternidade, de ser irmãos no mesmo sangue, de fraternidade natural familiar ou simplesmente de fraternidade natural.
  2. b) No sentido acima mencionado, elementar, digamos, físico-corporal de participação no mesmo sangue, a palavra sangue contém um elemento significativo de conteúdo muito maior e mais denso e qualificado do que apenas ser aquele líquido vermelho bio-químico. Sangue, aqui, se refere a toda a herança humana corporal, psico-anímica, cultural, espiritual que, pela nascença, faz com que uma pessoa adquira laços de uma pertença em carne e osso, em alma e corpo de parentesco a uma família, a um clã, a uma tribo, a um povo, a uma raça. Assim, a fraternidade natural familiar, o seu modo de ser, e as implicâncias das vicissitudes de sua “melhorização”, mas também de sua “piorização”, podem constituir princípio, modelo, ideal e padrão do ser fraterno e fraternal e da sua instituição “social” da humanidade em diferentes períodos da história humana. Talvez o que São Francisco chama de ser irmão, de fraternidade, e nós hoje chamamos de fraternismo franciscano, tenha por modelo elementar a fraternidade natural familiar, mas modificada pela inserção no modo de ser trazido por Jesus Cristo, cujo laço de união recebe o nome de Amor que o Deus de Jesus Cristo nos revelou através da Encarnação do seu filho, tornando-se nosso irmão, e como tal princípio, meio e fim da perfeição de todo o universo. Mas, como esse ponto é um tema que necessita uma reflexão toda própria, deixemo-lo de lado, apenas lembrando que a socialização, a solidariedade universal, o ideal da humanidade livre e esclarecida na igualdade, liberdade e fraternidade universal nasce da compreensão cada vez mais clarividente do que recebemos como herança da inspiração, do sopro vital da assim chamada cristidade, i. é, da essência do ser cristão que era a respiração, o impulso vital que estava atrás de todas as suas atividades, sejam elas de que denominação, de que dimensão forem. Assim, no segundo item, reflitamos rapidamente acerca da fraternidade, do ser irmão, não tanto como irmãos de sangue, mas irmãos do “mesmo espírito” que nos faz companheiros, sócios do mesmo ideal, do mesmo engajamento por uma causa comum.

II Modalidade – Fraternidade como ser irmãos do mesmo “espírito” que nos faz companheiros, sócios do mesmo ideal, dispostos, no mesmo estar ali, no mesmo engajamento por uma causa comum.

  1. a) Aqui, na compreensão adequada da fraternidade como comunidade de pessoas que estão unidas no mesmo “espírito”, que nos faz companheiros da mesma causa nobre e grande, aprendemos e ensinamos a capacidade de ser sociais, i. é, a responsabilidade de chegarmos à idade madura da excelência humana. O perfazer-se dessa maturidade da excelência humana se chama trabalho livre, i. é, profissão liberal. No mundo grego, no início do Ocidente, o modo de ser do trabalho livre, no qual se perfazia o ser humano, a humanidade, se denominava Scholé, donde vem a palavra escola.
  2. b) Scholé, a escola era o lugar, o modo de ser, e o próprio perfazer-se do ser humano, portanto, onde e o como se ensina e se aprende a liberdade, a disposição para, a assim chamada necessidade livre, em diferenciação com a necessidade vital. Em latim se traduziu a palavra scholé por otium, ócio, não na acepção de ócio, de dolce far niente, mas de trabalho, empenho e desempenho cordial, livremente assumido como tarefa de humanização, cuja recompensa era o próprio crescimento na perfeição do realizar-se. O contrário desse modo livre do trabalho se chamava negotium, a saber, non + otium ou nec + otium = negócio, que era o trabalho forçado dos escravos.
  3. c) Esse conceito do trabalho como profissão livre, e o sopro vital, a respiração, ou o espírito que anima esse tipo de trabalho, portanto, a scholé, a escola, é o vigor fontal que pulsa no âmago de todos os empreendimentos de humanização da nossa modernidade como ideal universal do esclarecimento e da libertação humana, portanto, também e principalmente no empreendimento chamado educação, escola, pedagogia. Esse modo de ser e agir da fraternidade, do ser sócio e companheiro, unido na busca desse modo de ser da excelência humana, se chama fraternidade social, e foi expresso na palavra de ordem da revolução francesa: igualdade, fraternidade, liberdade.
  4. d) Essa ordem da nova fraternidade, no entanto, não nos trouxe a realização da plenitude da excelência humana, embora nos tivesse aberto imensa possibilidade de progresso e bem estar no fomento da necessidade vital. E a tendência que percebemos é de que o modo de ser do negócio se acentue cada vez mais, de tal sorte que o vigor da scholé vá se retraindo cada vez mais para o esquecimento. Esse fato pode tornar-se para nós uma tentação e tentativa de empreender ações de cuidado “pastoral”, pensando corrigir esse esquecimento através do retorno ao fraternismo do tipo natural e familiar, na tentativa de humanizar o impulso do espírito do negócio, que neutraliza, desvitaliza e torna selvagem, eliminando toda e qualquer unção de um fraternismo mais humano, afetivo e livre. Aqui a reflexão acerca do impulso do nosso fazer, na melhor das boas vontades do nosso empenho de tornar-nos cada vez mais irmãos, talvez nos pudesse conduzir a debates e aprofundamentos acerca da fraternidade no e do trabalho, no nosso caso, do trabalho de fomento da “escolaridade da escola”, em cujos debates e reflexões possamos talvez entrever que a ausência do ser fraterno nos afãs dos nossos trabalhos não se deve a termos esquecido a fraternidade natural e familiar, mas porque não conseguimos ver no trabalho de uma humanidade, cujo modo de ser se expressa como igualdade, fraternidade e liberdade, uma fraternidade e um fraternismo talvez mais cordial, mais vigoroso e mais “cristão” (leia-se humano), no qual estamos como irmãos e irmãs de todas as pessoas e de todas as coisas, de todos os encargos, tarefas, labutas e empregos, seja em que grau de produtividade da eficiência, em casa, no impulso gratuito, cordial e franciscano da nossa missão de sermos humanos, seja no que for.

III

Conclusão aberta

Voltemos, pois, ao início da nossa reflexão, quando a partir da exposição de frei Guido começamos a falar do ser fraterno, exposição que nos recordou:Costumamos dizer sempre que as atividades são as mais diversas, desde o faxineiro ao coordenador de um curso, mas a missão é a mesma, a de educar. Somos todos educadores. A dimensão fraterna se faz presente nesta tarefa”. E dentro dessa perspectiva a exposição diz também: a dimensão fraterna é o impulso que está no e atrás do nosso fazer, e não as atividades simplesmente.


[1] Encurtado, frater deu em português frei.
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