Como encarar esta questão crucial? Para iniciarmos a busca de bem empostar esta questão, damos as seguintes possibilidades de trabalho.
A primeira possibilidade é a mais imediata e consiste em buscar equilíbrio entre o engajamento à vida espiritual e à vida pastoral.
No caso de esse equilíbrio ser impossível, sejam quais forem os motivos dessa impossibilidade, dar preferência à vida espiritual, mesmo com o ‘prejuízo’ da vida pastoral, por ser aquela o específico e o próprio da Vida Consagrada conforme a exigência da própria Igreja. E esta é uma Segunda possibilidade.
Observando-se que essas colocações 1 e 2 são muito úteis e necessárias, principalmente para quem não consegue de imediato ou mesmo com o tempo operar a mudança de concepção, tenta-se colocar uma terceira possibilidade de orientação de busca não como solução, mas sim como tarefa de uma busca e de estudo, a saber, recuperar uma compreensão tanto da Vida espiritual – (vida interior, vida espiritual, Vida Consagrada, vida de intimidade pessoal de encontro, contemplação, união de amor com Cristo e Deus, etc.: usamos sem pensar todos esses termos como que dizendo a mesma coisa) – como da Vida Pastoral – (vida ativa, vida externa, vida de engajamento social de trabalhos para o Povo de Deus que é a Igreja, trabalhos numa paróquia, etc.: usamos estes termos todos e similares, sem pensar, como que dizendo a mesma coisa) – inteiramente mais radical, no sentido de ir para as raízes tanto da vida espiritual como da vida pastoral, a ponto de, tanto uma como a outra só podem caracterizar a essência da Vida Consagrada se forem compreendidas tout court, imediatamente, simplesmente, precisamente com rigor como Seguimento de Jesus Cristo: Vem, segue-me!
Esta terceira possibilidade é um tipo de hipótese de trabalho e pode-se tirar a partir daqui a conclusão de que, para assim nos colocarmos tanto diante de nossos afazeres, denominados de Vida Espiritual (rezar, meditar, contemplar, viver as Constituições, trabalhos caseiros da comunidade local, provincial ou mesmo geral, os deveres e os compromissos vindos referentes à Ordem etc.) como também diante de nossos afazeres, denominados de Vida Pastoral (atividades extra-conventuais na participação das ações pastorais da paróquia e da diocese, da Igreja no sentido mais amplo etc. em diferentes modalidades novas de novas fronteiras abertas) é necessário considerar com precisão que tanto a Vida Espiritual como também a Vida Pastoral são somente então exercícios e realização legítimas e autênticas da Vida Consagrada se forem realmente, isto é, para valer Seguimento de Jesus Cristo, isto é, tiverem as exigências e os modos de ser, para nós franciscanos, de Jesus Cristo Crucificado.
O que chamamos de intimidade de encontro do Amor com Jesus Cristo ( a mística esponsal) significa todo o carinho e cuidado de doação total e absoluta ao Seguimento de Jesus Cristo no devotamento expresso pelos votos de obediência, castidade e pobreza, de tal maneira que toda a nossa afetividade, todo o nosso ser, em corpo e alma, esteja suspenso, voltado, inserido apenas, somente, totalmente e integralmente ao Seguimento e o seu modo de ser e de operar.
O devocionalismo e o espiritualismo que compreende esse seguimento como uma realização de satisfação das minhas necessidades particulares, por mais belas e delicadas e ‘nobres’ que sejam não podem ser chamados no sentido pleno cristão de espirituais ou interiores ou íntimos, pois espiritual significa com todo o sopro vital, para valer; interior significa Homem Interior, isto é., Homem Essencial que nasce e cresce e se consuma na Idade Madura para a estatura de Cristo e íntimo significa entrar para o abismo da comunhão trinitária, para suas exigências, suas missões manifestadas em Jesus Cristo, o apóstolo, o enviado do Pai.
O pastoralismo e o ativismo que compreende esse Seguimento como uma realização e satisfação das minhas necessidades de expandir o vigor e o poder do meu eu, por mais idealista e nobre que ele seja, ainda não compreendeu com precisão que pastoral não significa apenas engajamento pela causa nobre e ideal, mas sim imediata e diretamente Seguimento de Jesus Cristo, o Pastor de toda a humana criatura, no Amor de Serviço, manifestado no Lava-pés, isto é, permanecer Nele como ramos na sua videira.
Aqui, longe de haver oposição, equilibração, cálculo de prioridades, e mesmo complementaridade, há simplesmente Vem, segue-me! à Pessoa de Jesus Cristo e seus interesses, seu sentimento, seu encontro, sua causa, e nada mais seja na vida ‘espiritual’, seja na vida ‘pastoral’.
Acentua-se aqui algo muito importante, isto é, liquidificar o nosso espírito bitolado, isto é, instalado em bitolas de conceitos petrificados da vida espiritual e da vida pastoral, para poder de alguma maneira compreender e viver essa ‘hipótese’ que aliás não possui nada de novo, mas era já a ‘teoria’ e ‘praxis’ entre os irmãos de Actus e das Fontes Franciscanas.
É também importante observar que para que sejamos capazes de mudar de mentalidade, nas coisas essenciais da Vida Consagrada, é necessário talvez realmente captar que mudar a mente não é mudar de idéia, de vida, de costumes, trocar sistemas de pensamentos, aderir a outras explicações de diferentes mundividências e ideologias, mas sim de despertarmos para a novidade do Espírito do Senhor e do seu santo modo de operar. Espírito, cujo modo de ser nos já foi dado, a cada um de nós como o que de melhor e mais adequadamente foi distribuído aos humanos por Deus . Para aprofundar este ponto ler a Carta a um Ministro de São Francisco de Assis e os textos abaixo.