Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

As três lições de um megafone

03/03/2014

“Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim”

 

Frei Diego Atalino de Melo, OFM

Há pouco tempo atrás, após a realização da última Caminhada Franciscana da Juventude, com a participação de mais de 180 jovens, meus confrades estudantes de filosofia me deram um presente muito útil, talvez um dos melhores que eu tenha ganho nesses últimos tempos. Deram-me um megafone. Segundo eles, comprado em uma loja de produtos chineses de Curitiba, não muito caro, mas que me seria muito útil para as Caminhadas que estamos realizando. E certamente o será.

Pois bem, confesso que fiquei tão feliz com esse presente, que resolvi escrever um pouco daquilo que um simples megafone pode representar para nós, frades menores, mas também para todos aqueles que um dia sentiram o coração arder ao terem ouvido o chamado do Senhor.

Se olharmos no dicionário, o megafone, esse aparelho em forma de cone, é definido como um aparelho utilizado para amplificar o som e a voz, portátil e que não necessita de um complexo sistema sonoro.
Assim, acabei me dando conta de o quanto esse simples aparelho, incômodo para alguns, útil e necessário para outros, pode servir como um instrumento de evangelização. Mais do que isso, o quanto ele pode nos ensinar um novo modo de sermos missionários. Mais do quem um objeto, abordarei as três características do megafone como uma metáfora de uma necessidade muito mais profunda: a necessidade de Evangelizar.

1 – Amplificar o som e a voz:

A fonoaudiologia define a voz como sendo o processo fisiológico da passagem do ar pelas pregas vocais que, ao gerar uma vibração, produz o som. A origem hebraica da palavra espírito (ruah), é também sinônimo de ar, vento, sopro de vida. Assim, podemos concluir que o mesmo ar (ruah) que produz o som e a voz, também pode ser o espírito que está dentro de nós, o sopro de vida. Uma vez que o Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial, podemos concluir que a voz que deve ressoar por todos os lados é, no fundo, aquela própria voz que clama dentro de nós, aquela voz que rompe a nossa surdez, aquela voz que nos inquieta e nos faz sair do nosso comodismo e nos faz portadores da sua mensagem.

Mas porque utilizar um megafone para amplificar esse som? O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (EG), resgata São Tomás de Aquino ao lembrar que ‘o bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão’.

Assim, no desejo de expandir e de comunicar o Bem, o Sumo Bem, a Plenitude do bem, não podemos medir esforços em propagar e fazer chegar a todos a Boa nova do Reino de Deus. O desejo de anunciar com voz forte e firme nasce desse encontro pessoal e transformador com o verbo que se fez carne (Jo 1,1). Afinal, conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria. (Documento de Aparecida, 32).

São Francisco de Assis, não satisfeito em simplesmente falar do Evangelho, queria torná-Lo conhecido pela sua própria vida. Sentia-se Arauto do grande rei. Seu objetivo, certamente, não era fazer-se conhecido, mas dar voz Àquele por quem um dia tinha se enamorado. Queria levar as pessoas a amar aquele Amor que ainda não era amado. Sua boca falava da abundância do coração, e a fonte de amor iluminado que enchia todo o seu interior extravasava (I Cel 115). E nesse extravasamento de amor, convidava todas as criaturas a louvarem o Criador, saia pelas ruas cantando, dançando, louvando. Tinha se tornado o grande anunciador da Paz e do Bem.

2 – Não necessita de um sistema complexo de som:

Inúmeras vezes já ouvi pessoas dizerem que antigamente tudo era mais simples e melhor. Que hoje as coisas estão demasiadamente complicadas. Inclusive a evangelização, em tempos de outrora, era muito mais fácil. Hoje temos que enfrentar o secularismo, a ausência de uma educação religiosa nas famílias, o consumismo e a cultura do prazer fácil e momentâneo, o imediatismo e tantos outros desafios. Assim, nesse mundo cada vez mais complicado, acabamos por cair na tentação de achar que para se anunciar o Evangelho é preciso entrar nessa lógica de complexidade: planos pastorais, diretrizes, estratégias, conselhos, atas, reuniões, assessoria jurídica, marketing religioso, prestação de contas, grandes estruturas e etc. Sem desconsiderar a validade e a importância disso tudo, penso que a simplicidade do funcionamento de um megafone talvez nos ajude a conceber uma evangelização mais descomplicada, mais leve e mais próxima da realidade das pessoas. Na própria pastoral vocacional, às vezes acreditamos que o bom êxito de nosso trabalho depende da multiplicação de folders, panfletos, vídeos, diagramações bem feitas, planos e estratégias bem formuladas e etc, quando, na verdade, o maior anúncio vocacional é o nosso próprio entusiasmo de vida. Afinal, a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração (EG 14).

Uma das belezas da proposta de Francisco está na simplicidade com que ele concebe todas as coisas. Sua pureza original e sua capacidade de fugir de todas as estruturas e amarras geraram uma liberdade evangélica que até hoje é admirada por pessoas dos mais diferentes credos e religiões. O ‘sine glosa’ (sem comentários ou interpretações) de Francisco, nos faz sentir o desejo de voltarmos àquela realidade paradisíaca onde Deus passeava tranquilamente entre os seus. Talvez hoje, mais do que nunca, o nosso desafio é sermos simples e descomplicados. Como sempre nos lembra um grande confrade, experimentado na vida franciscana: Simplifica, não complica!

3 – Portátil:

Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1, 38).

Conforme nos narra a Legenda Maior, quando os filhos se São Francisco chegaram ao número de sete, ele os enviou de dois em dois para as quatro partes do mundo. (3,7). Se para São Francisco o nosso claustro é o mundo, a itinerância franciscana é parte constitutiva desse novo modo de ser. É preciso caminhar, peregrinar, sair de si, ir ao encontro, deixar-se encontrar, romper o comodismo e a estabilidade infértil.

Mas não se trata de um caminhar sem eira nem beira, sem objetivos claros. Trata-se de uma caminhada cujo caminho já é a própria meta que buscamos, pois é no caminho que descobrimos a presença Daquele que faz o nosso coração arder, conforme experimentaram os discípulos de Emaús. Ou ainda, mais do que isso, Ele mesmo é o próprio Caminho (Jo 14,6).

O Papa Francisco, insistentemente tem nos lembrado que devemos ser uma Igreja em saída, uma igreja que vá de encontro às periferias existenciais, que possa remediar as misérias alheias, que vá ao encontro dos que ficaram caídos pelo caminho. Não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos, sendo necessário passar de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária (EG 15).

Desse modo, a portabilidade do megafone nos ensina que devemos chegar a todos os recantos do mundo. Podemos ir até mesmo aos lugares mais inusitados e mais esquecidos. Podemos chegar lá onde as grandes e complicadas estruturas já não conseguem entrar. Podemos superar as velhas, complexas e superadas estruturas, e nos deixarmos surpreender pela liberdade do Espírito, que tem a sua dinâmica própria, soprando como, quando e onde quer.

Por fim, estou convencido de que já não posso mais partir em missão sem esse megafone, que muito mais do que um objeto, é um modo todo próprio de ser e estar em missão. Sei que para se usar um megafone não se pode ser muito tímido, mas é preciso ter um pouco daquela santa ‘loucura’ do Evangelho que fez de Francisco um santo tão amado e querido. Também me alegro por saber que não estou sozinho nessa ‘loucura’ evangélica, pois tenho ao meu lado tantos confrades, jovens caminheiros, irmãos e irmãs que não tem vergonha de gritar em alto e bom som a mensagem do Reino de Deus e sair pelo mundo anunciando a Paz e o Bem.

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