Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Sermão feito por Frei Jaime Spengler na missa de sepultamento de Frei Hermógenes Harada

20/04/2021

 

“A vida dos justos está nas mãos de Deus”.

Irmã morte nos visitou!

Visitou-nos e colheu, recolheu algo de bom, de muito bom, talvez o melhor!

E por isso, talvez, nos sintamos, hoje, um pouco mais pobres…

Ao redor desse corpo franzino, em torno da mesa da eucaristia e aos pés da cruz, nos encontramos para homenagear, cultivar a memória, dar graças ao bom Deus por ter posto em nossos caminhos a figura do “Japa”, do “Samurai”, do “Amarelo”, de Frei Harada. Ele foi mestre para gerações de religiosos e religiosas franciscanos/as, espalhados/as por esse Brasil afora, por esse mundo…

Ele nos ensinou que o espírito franciscano não é teoria abstrata, mas algo de nobre, vigoroso, vivo que precisa ser ensinado e aprendido. E nesse caminho de aprendizado – sim porque ensinar é aprender – nos dizia o quanto são importantes a decisão, a precisão, a determinação, a dedicação, o exercício, a disciplina para se aproximar do espírito de Francisco de Assis…

Ele nos ensinou, nos ensinava e haverá de continuar a nos ensinar filosofia. Filosofia compreendida como via, como caminho, como vida. Sua inspiração não morre! Nesse sentido, quero lembrar o que nos comunicou Leonardo Boff, meses atrás: “Lembro-me que seu professor e orientador Heinrich Rombach me confessou um dia: Harada se situa na tradição dos grandes filósofos do Ocidente, começando com os gregos, passando por Agostinho, pelos medievais, por Kant e culminando em Heidegger. É uma estrela que não foi ainda descoberta. Estas são as mais belas. E quando aparecer seu esplendor, a Terra inteira rejuvenesce…”

Ele nos ensinou fraternidade!

Como foi bom conviver com esse homem bom. Não fazia média! Franco, transparente, sábio, pobre, duro… Sim duro, porque quando sabia ser necessário dizer algo para orientar, para corrigir, não tinha meias palavras, era direto. Como doía quando ‘batia’… Doía, mas não feria…

Seu sentido de pertença à Fraternidade Local e Provincial, à Ordem era grande. Preocupava-se e sofria com as mazelas dos frades e das freiras. Não cansava de dizer: “falta estudo, falta espírito…”

“A vida dos justos está nas mãos de Deus”.

Quero nesse momento parafrasear a carta que Frei Hermógenes escreveu a duas religiosas (Cecília e Inês) quando perderam o pai:

‘Ontem à tarde recebi no celular a mensagem do passamento de Frei Hermógenes, ou seja, que ele tinha nascido para a verdadeira e real Realidade.

Agora o temos mais perto de nós!

Na hora da despedida – que palavra esquisita para nós que cremos e ficamos – é difícil para nós sentir essa presença próxima!

Mas logo haveremos de perceber que ele continua sim bem perto de nós de uma forma que ele não conseguia enquanto andava no meio de nós.

Por isso, em vez de ficarmos tristes e abatidos, vamos nos animar porque segundo a nossa tradição, quando a irmã morte nos visita, nos recorda que a Vida continua; por isso, enquanto vivermos, somos convocados a trabalhar a nós mesmos como religiosos e honrar aqueles que nos precederam, servindo ao Senhor alegremente. Isto é difícil, quando se trata de ser irmãos e irmãs de um irmão que, tão autenticamente, serviu o Senhor como Frei Hermógenes.

Mas querer ser como e melhor que tal irmão, é exatamente o melhor modo de honrar, alegrar e homenagear a memória desse nosso irmão’.

Lembremo-nos que ontem foi o dia em que o Senhor Jesus subiu aos céus. O conselho que os discípulos receberam não era de ficar olhando para o céu, mas voltarem-se para a missão que ele legou…

“A vida dos justos está nas mãos de Deus”. Assim seja!

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