Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

I – A Frei Antonio Corniatti, ofm

22/03/2021

 

– Como trabalhar o tema da libertação inspirando-se em São Francisco3

– A possibilidade intrínseca de cada coisa

– Querer ter a vez não é vigor da Verdade

Petrópolis, 1. 6. 77

Frei José (Guaíra)!2

Muito obrigado por sua carta de 10. 5. Desculpe a demora.

Não sei se lhe consigo dar a orientação pedida acerca do tema ‘Francisco e a Libertação’.

A ideia de explicitar o fenômeno Libertação através do Capítulo VIII de I Fioretti é boa. Só que na sua situação deve ser bem feito, do contrário você é capaz de levantar, não uma questão, mas sim discussão vã.

Portanto, na exposição, tentar não criticar tematicamente a mania da Libertação hoje4. Nem dar a impressão de que está defendendo uma posição mais profunda ou radical. Colocar a questão Francisco e Libertação como a perplexidade que você realmente sente diante de um texto franciscano medieval e a sua situação hoje de ser solicitado pela ideia e pelo ideal dominante de Libertação.

Para isso, sem falar muito de si, do que é o meu problema etc., procurar colocar bem patente essa perplexidade num quadro ‘objetivo’ diante de si.

Para isso, ler um ou dois livros que tratam da Libertação, só para pegar a definição que eles dão da Libertação. Não é necessário ler muito. Talvez só o prefácio. Tenho a impressão que Boff5 tem alguma idéia nos seus livros. Apresentar então esse quadro Libertação em algumas características, tentando trazer à fala, isso que hoje o consumo clerical pensa usualmente. E fazer tudo isso sem criticar, até com simpatia, como quem apenas expõe um status quo de uma questão.

Depois, coloca ao lado desse quadro o Capítulo VIII de I Fioretti6.

Dá o contraste, sem você expor a sua individual perplexidade. A própria posição uma ao lado da outra gera a perplexidade.

a) Colocar então a questão: Como conciliar as duas posições?

b) NB: a colocação ‘a’ é um truque. É para trazer bem clara à fala a perplexidade em que estamos todos nós. É também um truque da capoeira espiritual. Você dá a impressão que vai dar um golpe num lado em que todo o mundo espera. Você, porém, dá um outro golpe na direção contrária, dizendo:

c) Antes de tentar conciliar essas aparentes posições opostas, vamos antes tentar entender bem a posição de VIII Capítulo, para ver se ela não nos ajuda a compreender melhor as nossas profundas aspirações, quando hoje falamos de Libertação?

d) Então você expõe o Capítulo VIII, analisando-o como acha melhor. Nessa análise, cuidar de mostrar o vigor da Perfeita Alegria não como crítica da Libertação, mas como uma reflexão de profundidade, da qual o pensamento de Libertação pode receber uma firmeza, um âmbito e uma riqueza muito maior do que o usual.

e) – Jamais tomar um tom polêmico. O que deve convencer é a coisa ela mesma, e não eu.

– Não discutir, opondo uma posição à objeção, mas tentar ver no fundo da objeção um anseio para aquilo que pensa ser a essência do VIII Capítulo,

– Evitar no máximo usar o pronome eu. Expor como se fosse uma exposição de mecânica. Impessoal.

Creio que o tema proposto é bom. Só que acho que não devia tomar os meus textos7. É muito importante você dar o seu texto. Fica mais concreto.

O que acho de importância, porém, é o modo de abordar. Começo a achar cada vez mais que o conteúdo, na realidade é bastante indiferente. Também não tem importância se é ou não profundo, vivencial, atuante ou não. O importante é ser real, e não um falar bonito sobre uma situação que é fictícia.

Com outras palavras, ser uma teoria que pratica, isto é, que agarra a realidade com as duas mãos, sem se incomodar se é bonito, profundo, prático ou não. Portanto, em vez de questionar muito, etc., pegar o fenômeno nas mãos e tentar dizer ao outro: está sentindo como é a coisa? E só então questionar.

Quanto à sua iluminação, ao seu satori, a respeito da ‘possibilidade intrínseca de cada coisa, a materialidade’, acho que é isso mesmo!

Aqui8, tudo bem. Com a convicção cada vez mais firme de que a Teologia hoje está bobeando, em querendo ter a vez na sociedade de hoje. Pois esse querer ter a vez não é vigor da Verdade, mas sim um aparecer, o que por sua vez o Pensamento usa como lugar de sua intuição.

A você todo o Bem e a Paz.

fr. H. Harada


2 Frei Antônio (José) Corniatti (OFMConv) Conheci Frei Hermógenes, pela primeira vez, no
carnaval de 1973 em Petrópolis (RJ), ano em que fiz o Curso CEFEPAL. Ele me chama aqui
GUAÍRA. Este cognome é devido à cidade paranaense de Guaíra, de onde eu viera para o
CEFEPAL. Dado que no curso havia três Antônios, Frei Antônio Zancanaro OFM de São Paulo
(Zanca), Frei Antônio Francisco Blankendaal OFM de Minas (Antônio Holandês) e eu (Antônio
Guaíra), cada um recebeu um cognome.
3 No início de cada carta, o organizador, Frei Antônio Corniatti OFMConv, colocou um índice dos
assuntos tratados por Frei Hermógenes Harada em cada carta.
4 Na época, o tema Libertação era tema quente na Igreja Católica do Brasil e da América Latina.
5 Frei Leonardo Boff OFM., propagador da teologia da libertação no Brasil.
6 I Fioretti VIII: Como a caminhar expôs S. Francisco a Frei Leão as coisas que constituem a
perfeita alegria. Corresponde ao Capítulo VII de Atos do Bem-aventurado Francisco e dos seus
Companheiros: Da doutrina de São Francisco a Frei Leão que só na cruz seja a perfeita alegria
Portanto:
7 Frei Hermógenes Harada tem vários artigos onde comenta I Fioretti VIII (Cf. Atos VII).
8 Nesta época, Frei Hermógenes Harada era professor de Filosofia em Petrópolis no Instituto
Filosófico-Teológico da Província Imaculada Conceição e professor de Espiritualidade Franciscana
a partir da leitura espiritual das Fontes no curso CEFEPAL, sendo também conselheiro do mesmo.
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