Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Do Apostolado – Experiência de Deus e o trabalho

03/03/2021

 

Uma grande parte da vida gastamos trabalhando. Usualmente, para nós, o trabalho é oposto a ou ao menos diferente de descanso, lazer, jogo.

O trabalho pode ser sentido como algo duro, penoso, pesado e incômodo, um mal necessário para se obter um fim, como por exemplo, o sustento da vida. Pode também ser ocupação para preencher o tédio da vida.

Onde, como e em que você trabalha?

Usualmente entendemos por trabalho aquilo que fazemos como nossa profissão: por exemplo, ensinar, cozinhar, estudar, sacramentar, evangelizar, cuidar dos doentes, administrar, planejar, etc.

Nossa vida, porém, é Vida Consagrada.

Em que consiste, pois, o trabalho da Vida Consagrada? Em que trabalhamos na Vida Consagrada? Que é isso a Vida Consagrada  enquanto trabalho? Que profissão é essa, a Vida Consagrada?

Não é assim que sou bom profissional como professor, mas assim de biscate, religioso franciscano?

O que é, pois, esse trabalho da minha vida chamado ser franciscano? Ser religioso?

Ser religioso franciscano é uma das atividades, um dos fazeres, um dos trabalhos ao lado do ensinar, sacramentar, evangelizar, rezar a missa, descascar batatas, construir uma igreja, contar dinheiro na portaria?

O que significa, pois, dizer: somos primeiro religiosos franciscanos, só depois professor, cozinheiro, assistente social, pároco, etc.?

Surge e volta, assim, sempre de novo a pergunta: onde está o vigor fundamental do meu viver que unifica todos os meus fazeres e atividades na interioridade dinâmica do único necessário, dando-lhes o sentido coerente e vivo e sem o qual eu deixo de ser religioso franciscano?

Percebemos logo que esse vigor não está simplesmente nisso ou naquilo da articulação do que externamente chamamos de formas da vida. Pois, ao realizarmos essas formas, por exemplo, hábito, regras, breviário, determinada pastoral, determinada doutrina, estatutos provinciais, etc., pressupomos que tudo isso esteja pervadido, animado pelo vigor fundamental.

Não se nega, aqui, as articulações e as estruturas. Afirma-se, porém, que as articulações e as estruturas são sempre ‘mais’ do que articulações e estruturas.

Esse mais, para nós, o que é?

Respondemos dizendo: é a vida espiritual, é o Evangelho, é o serviço aos irmãos, é caminhar na perfeição, é a busca da auto-identidade, é isso ou aquilo, etc.

Mas, ao assim responder há a seriedade na sua resposta?

Essa sua resposta, seja ela qual for, até que ponto é uma resposta trabalhada, resposta que brota de uma caminhada bem experimentada?

Para que uma resposta, uma afirmação, um fazer, um não-fazer, tenha a seriedade, não basta que seja apenas um desejo, uma aspiração, um querer, um ato de boa vontade e sinceridade. Tudo isso é ‘positivo’, mas insuficiente para que a resposta seja real.

Eu posso, por exemplo, desejar ser, com toda a sinceridade um grande violinista. Isto, porém, não basta para que seja realmente um grande violinista. Para sê-lo realmente é necessário o trabalho da longa experiência.

Não é, portanto, a representação que eu faço de uma coisa, não é o querer essa representação que me dá a resposta real à minha busca, mas sim o trabalho da experiência. Esse trabalho da experiência começa numa determinada representação. Exige o empenho do querer. Mas tudo isso é começo, pois, somente o trabalho da experiência na longa e paciente caminhada que torna real a minha aspiração, o meu querer, não assim como eu imagino a realidade, não assim como eu quero a realidade, mas assim como a Vida a quer.

Para o trabalho da experiência se requer, portanto, um empenho todo ‘sui generis’, que é mais do que o nosso querer, mais do que o nosso saber, um empenho que sabe ouvir, acolher e dinamizar o empenho e o querer da Vida em nós.

Nós religiosos, nesse ponto, somos muito irreais e impráticos. Pois, ao perguntarmos: o que é isso, a Vida Consagrada? O que é Deus? O que é identidade? O que é ser franciscano? Buscamos a resposta nas representações, nos projetos do nosso eu, deixando de lado o ponto essencial, simples e imediato: a necessidade urgente de adquirir um modo de ser e de viver que tenha o modo de ser do trabalho da experiência.

A aprendizagem no trabalho da experiência pode se dar em tudo, em tudo que fazemos, em tudo que somos, no andar, no dormir, no ensinar, em curtir a fossa, no alegrar-se, no entristecer-se, no simples respirar, etc.

Demos um exemplo para ilustração:

Trabalho num escritório e tenho a função de copiar à máquina os dados estatísticos de uma firma. É um trabalho para o meu ganha pão.

Como seria o modo de um religioso franciscano trabalhar esse trabalho a partir de sua “religiosidade”?

Poderia, por exemplo, assumi-lo como penitência, fazer a boa intenção e oferecer tudo a Deus, tentar dar o testemunho da humildade, dedicação, disponibilidade, etc. etc. Tudo isso pode ser muito certo, mas ainda não é propriamente o trabalho da experiência. Pois, ao assim assumir o trabalho, na realidade eu por assim dizer justaponho um fazer chamado penitência, boa intenção, dar testemunho, etc. ao lado do fazer mecânico da datilografia. Esta justaposição no fundo não assumiu o trabalho mecânico da datilografia a partir da possibilidade interna dela mesma: não tenho, pois, a compreensão do que seja o trabalho da experiência. Talvez, por isso, é que acho um trabalho mecânico, despersonalizante…

Um assumir assim exterior, com o tempo, me leva a dizer: para que perder o tempo com um trabalho tão mecânico, se eu posso realizar a dimensão religiosa num trabalho muito mais adequado com o ‘humano’ e de repercussão mais pastoral, etc. Mas, se um fazer mecânico me leva à crise, é porque esse fazer mecânico já foi sempre mais do que o puro mecânico…

Para que realmente faça experiência, é necessário trabalhar na datilografia o trabalho da experiência. Como se dá esse trabalho?

Ao bater a estatística você percebe que as batidas se dão num ritmo de tempo.

Mas, como é o tempo do seu ser? Não é assim que ao bater a máquina você já está longe, fora do seu fazer, lá no almoço ou já no fim do trabalho? O seu viver na sua totalidade não é a modo desse tempo de precipitação fora de si mesmo? Não é esse tempo da precipitação que cria em você o vazio do momento presente, estendido a todo sentido da sua vida, transformando o seu viver em mecânico, monótono, rotineiro, trazendo-lhe a irritação, a frustração?

E não é assim que trabalha no seu próprio crescimento? Não é assim que representa a escatologia da sua vida?

De repente começo a perceber que bato à máquina como vivo a minha vida na sua totalidade. Em batendo a máquina, agora e aqui, no fundo estou trazendo à fala o modo de ser do meu viver. Assim você começa a perceber que bater a máquina é trabalho da experiência da Vida. Começa a perceber que é necessário descobrir no bater à máquina um modo de caminhar que deixa ser o tempo da Vida na concreção plena do presente do ser. Começam, então, surgir diversos fios de evocações da Vida que me convidam a trabalhar na experiência da Vida em trabalhando na datilografia.

Aos poucos você está aprendendo um outro modo de trabalho, onde se exige mais do que o seu saber e o seu querer, isto é, uma atitude de espera atenta, decisão lenta, mas rigorosa na percepção do tempo oportuno de salto, maior concentração no essencial, capacidade de captar o essencial, abnegação do pequeno eu, etc. etc. em toda a linha do seu ser. E talvez comece, então, a perceber que todas as realidades humanas na sua raiz e a fortiori todas as realidades divinas em nós e nos outros, só crescem, aparecem nesse modo de aumento do trabalho da experiência. E de repente descobre que a profissão chamada Vida Consagrada  é a profissão que tem como tarefa e desafio o engajamento total nesse tipo do trabalho da experiência. Pois, se Deus aparece na experiência como experiência de Deus, Ele só pode vir ao nosso encontro num trabalho da experiência.

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