(Santo Antônio, Sermão do XIV Domingo de Pentecostes)

“Bons ministros e bons administradores são os prelados e pregadores que administram a Palavra de Deus e pregam o batismo de penitência para a remissão dos pecados”, escreveu Santo Antônio de Lisboa e Pádua (1195-1231) em um de seus Sermões; mas (devemos dizê-lo) entre ele e certo tipo de clero, era guerra declarada. Santo Antônio era muito intransigente contra os maus costumes de certos eclesiásticos contemporâneos. Ele nutria uma grande estima para com os ministros do Senhor que viviam segundo a Regra deixada aos frades por São Francisco de Assis (1181-1226) em seu Testamento: “O Senhor me deu e me dá uma fé tão grande nos sacerdotes que vivem segundo a forma da Santa Igreja Romana por causa de sua ordenação, que, se me perseguissem , quero recorrer a eles mesmos!”

Mas Santo Antônio tornou-se ardoroso na presença de prelados de seu tempo que afogavam o próprio carisma em um estilo de vida mundano e pecaminoso. Em 1220, ele foi ordenado sacerdote no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra (Portugal), pouco tempo antes de “bater asas” entre os franciscanos, após uma preparação teológica e espiritual que acendeu sua fé e seu zelo. Naqueles tempos, a Igreja havia evangelizado quase o mundo inteiro então conhecido, mas, muitas vezes, também era atraída pelas coisas temporais, dividida entre o chamado do Espírito e das seguranças terrenas.

Santo Antônio (assim como São Francisco de Assis ou São Domingos de Gusmão [1170-1221]) era um enamorado de Cristo enviado a pregar onde a Igreja instituição não sabia chegar por cansaço ou por uma barreira estrutural. Mas por que Santo Antônio, assim como São Francisco, eram exigentes com os sacerdotes? Antes de tudo, porque a vida do sacerdote deve ser coerente. Santo Antônio escreveu: “Cinco são as prerrogativas absolutamente necessárias para o bispo e para o prelado da Igreja, isto é, a vida, a fama, a ciência, a riqueza da caridade, a túnica talar da pureza”. Sem uma harmoniosa copresença de todos esses dons, é impossível subsistir um verdadeiro ministro sagrado. Ele conheceu alguns “prelados e sacerdotes indignos ou corruptos, privados da luz da vida e da ciência. Cães mudos, são incapazes de latir contra o lobo, visionários porque pregam pelo dinheiro, dormem nos pecados, amam os sonhos, quer dizer, as coisas temporais; são cães muito ávidos, petulantes como uma prostituta, e não ficam vermelhos de vergonha”. Segundo o santo, eram justamente eles que deveriam ser como obstetras, “devendo assistir e ajudar os pecadores a se confessarem”, tirando deles o peso que carregavam, como em um parto libertador. O poder, a posse, a vanglória eram uma tentação também para os homens de Igreja, enquanto Santo Antônio, abraçando a vida dos Frades Menores, colocou-se no seguimento de uma Regra que diz: “Os frades devem sentir-se felizes quando vivem entre pessoas simples e desprezadas, como entre os pobres ao longo do caminho”. Longe dos poderes e livres da posse que gera avareza, avidez e luxúria, os frades tornam-se também livres para servir somente a Deus e aos irmãos, na oração contínua e na fraternidade.

Em Pádua, Santo Antônio quis dedicar parte de seu tempo para completar, por escrito, seus Sermões por dois motivos: de um lado, eles poderiam ajudar os sacerdotes um pouco “ignorantes” na pregação. Por outro lado, poderia deixar-lhes um chamado constante e forte a uma vida sacerdotal santa a serviço exclusivo (até o martírio, se necessário) da dimensão espiritual do povo de Cristo. Para ele, os sacerdotes deveriam fugir com horror dos escândalos de qualquer tipo, que sempre eram um verdadeiro “ferimento” no corpo de Cristo.

Sempre no ano de 1231, citado muitas vezes nestas páginas, exatamente na Quaresma, pregada pela primeira vez diante de todo o clero (inclusive o bispo), Santo Antônio soube envolver muitos sacerdotes para ajudarem nas confissões, animando-os a um ministério que se tornara desinteressante. Parece-nos escutá-lo falando com todo o entusiasmo também para os irmãos sacerdotes: “Irmãos caríssimos! Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo que faça descer sobre nós a palavra inspirada por Ele mesmo. Que nos purifique com o batismo da penitência por meio do qual nos tornamos capazes de preparar-Lhe o caminho e endireitar Suas veredas. Conceda-nos Ele mesmo, que é bendito nos séculos dos séculos. Amém”.

Frei Danilo Salezze, Revista o “Mensageiro de Santo Antônio”