Devoções

Devoção às terças-feiras

Santo Antônio foi sepultado no dia 17 de junho, terça-feira. Teve então início o costume de lembrá-lo nesse dia. Com o decorrer do tempo o costume passou para o esquecimento.

Reapareceu no século XVII, como explicam os Bollandistas num caso de 1616. Um casal de Bolonha não conseguira ter filhos durante vinte e dois anos, por mais que o desejassem. Foi aí que entrou Santo Antônio. Os esposos apelaram para sua intercessão.

O santo apareceu à esposa, mandando-a visitar por nove dias sua imagem na igreja de São Francisco na dita cidade. Ela conseguiu engravidar, mas deu à luz uma criança deformada. Cheia de confiança levou o filhinho à igreja e o colocou sobre o altar de Santo António.

Tocada apenas a pedra do altar, desapareceu a deformidade. Após isso, espalhou-se a notícia e a devoção das nove terças-feiras, acrescida com o tempo de mais quatro dias, formando o número treze, em lembrança do dia da morte do santo.

Há ainda muitas igrejas, nas quais, às terças-feiras, o movimento de fiéis é considerável. Horários especiais de celebrações eucarísticas, muita gente na fila do confessionário e, ao fim da missa, a bênção de Santo António, com aspersão dos fiéis. Algumas também distribuem pãezinhos de Santo Antônio.

Um exemplo muçulmano – Conta o Ministro Geral dos Frades Menores Conventuais que, em suas passagens por Istambul, impressionou-o o que ocorre às terças-feiras na igreja conventual de Sent Antun. “Nesse dia, todas as semanas e já desde o começo deste século, a bonita e ampla igreja fica sobretudo à disposição dos turcos, e estes, desde a manhã até à noite, sem pausa nem mesmo na hora do almoço, passam em ordem e com devoção diante do altar do Santo e exprimem, cada um segundo a própria sensibilidade religiosa, os próprios pedidos. Fazem-no sem contar as horas, com profunda compreensão, em silêncio e com respeito, com muita compostura e sinceridade. Depois de percorrerem o templo, pausadamente, e muitos tendo até assistido à missa, celebrada em turco, antes de saírem exprimem, em um livro volumoso, os próprios sentimentos, na multiplicidade das línguas médio-orientais…”

Do livro “Santo Antônio Popular”, de Frei Ildefonso Silveira


O QUE É A TREZENA

São as orações que se fazem em louvor a Santo Antônio nos treze dias antecedentes à sua festa. Esta devoção é muito antiga: teve origem em Bolonha, na Itália, no ano de 1617.

Uma senhora, necessitando de um grande favor dos céus, recorreu a Santo Antônio com insistência, por nove terças-feiras sucessivas visitou sua imagem na Igreja de São Francisco, e aí rezava com fervor. Alcançou de modo admirável o que desejava.

A notícia se espalhou e muitas pessoas necessitadas de graças e bênçãos seguiram seu exemplo de visitar a Igreja durante nove terças-feiras para rezar com fé, diante da imagem de Santo Antônio.

Como se multiplicassem as graças e milagres, essa prática se divulgou rapidamente. Mais tarde, o número das terças-feiras foi aumentando para treze, uma vez que o Santo passou para a eternidade no dia 13 de junho de 1231.


PENSAMENTOS DE SANTO ANTÔNIO

1. A vida contemplativa não foi instituída por causa da ativa, mas a vida ativa por causa da contemplativa.

2. A fé se compara ao peixe. Assim como o peixe é batido pelas freqüentes ondas do mar, sem que morra com isso, também a fé não se quebra com as adversidades.

3. Quem está cheio das glórias do mundo se assemelha à bexiga que, cheia de vento, parece maior do que é; basta uma picadinha da agulha da morte e se verá o pouco que é.

4. Não é o temor que faz o servo nem é o amor que faz o livre; mas antes o temor é que faz o livre, o amor que faz o servo.

5. Em todo o corpo do homem o diabo não encontra nenhum membro tão conveniente para ser caçado, para espiar, para enganar, como o coração, porque dele procede a vida.

6. A paciência é melhor maneira de vencer.

7. Quanto mais profundamente lançares o alicerce da humildade, tanto mais alto poderás construir o edifício.

8. Jerusalém tinha uma porta chamada “Buraco da Agulha”, pela qual não podia entrar um camelo, porque era baixa. Esta porta é Cristo humilde, pela qual não pode entrar o soberbo ou o corcunda avarento. Aquele que pretende entrar por ela tem de se humilhar.

9. Maria não afugenta nenhum pecador, antes, recebe a todos os que se refugiam nela e, por isso, é chamada Mãe de Misericórdia: é misericordiosa para com os miseráveis, é esperança para os desesperados.

10. O coração profundo é o coração do que ama, do que deseja, do contemplativo, do desprezador das coisas inferiores. Quando te aproximas de tal coração com passos devotos. Deus é exaltado, não em si, mas em ti; a sua exaltação é a intensidade do teu amor, é a elevação do teu espírito.

11. Feliz aquele que arranca de si o coração de pedra e toma um coração de carne, capaz de se doer compungido das misérias dos pobres, de modo que a sua compaixão lhe sirva de consolo e este consolo lhe dissipe a avareza.

12. Oscula com a boca a própria mão quem louva o que faz.

13. Acredita o estulto no conselho da raposa, fiado em que o bem transitório e mutável seja verdadeiro e duradouro.

14. Não poderás levar os fardos de outrem, se não depuseres primeiro os teus. Alivia-te primeiro dos teus, e poderás levar os fardos de outrem.

15. O que o Senhor faz em nós com a nossa cooperação é maior do que tudo o que faz sem nós.

16. Assim como o vento que entra pela boca aberta não mata a sede, mas aumenta-a mais, o mesmo sucede com a vaidade da dignidade.

17. Assim como a flor, quando espalha o odor, não se corrompe, também o verdadeiramente humilde não se eleva quando louvado pelo perfume da sua vida de bondade.

18. A mentira reside na língua, o roubo na mão, as extorsões no coração.

19. Aquele que segue a outro no caminho, não olha para si, mas para aquele a quem constituiu guia da sua vida.

20. Antes de entrar um raio de sol em casa, não aparece dentro, no ar, o pó; se, porém, entrar um raio de sol, parece cheia de pó.

21. Todo enfermo diz: Amarga é a poção para os que a bebem, mas quando se afastar a enfermidade, então se gloriará.

22. O insensato, como um asno, ouve somente o som da palavra divina, mas o sábio percebe-lhe a força e leva-a ao coração.

23. Dizem que o filho da cegonha ama tanto o pai que, ao vê-lo envelhecer, sustenta-o e alimenta-o. Isso faz por instinto. Também nós devemos sustentar o nosso Pai nos seus membros débeis e doentes e alimenta-los nos pobres e necessitados.

24. A soberba, para não ser desprezada, procura encobrir-se na preciosa humildade.

25. Usa mais vezes os ouvidos do que a língua.

26. O hipócrita se assemelha ao pavão: ao ser provocado pelas crianças, mostra o esplendor das suas penas e, quando faz rodar a cauda, descobre torpemente o traseiro.

Pensamentos extraídos do livro “Ensinamentos e Admoestações”, da Editora Vozes; e “Obras Completas de Santo António de Lisboa”, Editorial Restauração, Lisboa.


SIMBOLISMO

O hábito de Santo Antônio
Na imagem de Santo Antônio, o hábito representa sua pertença á Ordem Franciscana. No século XV, algumas representações mostram o santo usando um hábito cinza, simbolizando os mendicantes ou penitentes. O hábito marrom simboliza a certeza de sua fé em Jesus Cristo e sua morte para a vida mundana. O hábito é um símbolo de consagração a Deus, de humildade e de pertença a uma ordem religiosa.

O Livro nas mãos de Santo Antônio
Na imagem de Santo Antônio o livro é o símbolo mais antigo. Representa o Evangelho, a sabedoria de Santo Antônio e o fato de ele ser Doutor da Igreja. Representa, também, o pregador extraordinário que reunia multidões para ouvi-lo. Por seus conhecimentos e sabedoria bíblica, o Papa Gregório IX chamava-o “Arca do Testamento”. Pessoas se convertiam e inimigos se reconciliavam ao ouvi-lo pregar. E, quando não quiseram ouvi-lo, ele foi pregar para os peixes e, milagrosamente, um cardume enorme ficou com a cabeça fora d”água enquanto ele pregava, tamanho era o dom da pregação que ele tinha.

O Menino Jesus com Santo Antônio
O menino Jesus representa a intimidade de Santo Antônio com Cristo. Ele é mostrado de três modos diferentes:1. Sobre o livro: estar em cima do livro, a Bíblia, significa que Santo Antônio anunciava Jesus Cristo, o Verbo encarnado. De fato, todos os sermões de santo Antônio foram sobre Jesus e as passagens do Evangelho. Ele revelou com poder e força o Verbo divino.2. No colo de Santo Antônio: representa a extraordinária intimidade do santo com Jesus. Em algumas representações o menino acaricia lhe o rosto. Todo o dom da pregação de santo Antônio vem da sua intimidade com Jesus na oração profunda e na Eucaristia. Daí vinha toda a sabedoria e os dons que se manifestavam em Santo Antônio.3. Sendo mostrado ao santo pela Virgem Maria. Revela a devoção de Santo Antônio para com a virgem Maria. Nesta representação, Santo Antônio aparece em estado de profunda adoração a Jesus.

O lírio de Santo Antônio
O lírio na imagem de Santo Antônio representa sua castidade e pureza de coração. Simboliza também a estação do ano na qual o santo morreu, o verão no hemisfério norte.

A tonsura de Santo Antônio
O cabelo raspado no centro da cabeça se chama tonsura e representa o voto de castidade de santo Antônio. A tonsura era uma cerimônia religiosa, na qual o Bispo raspava o cabelo de quem estava sendo ordenado no primeiro grau da Ordem. A tonsura tinha também o de renúncia das vaidades e ser como o Cristo, sendo coroado rei que se oferece a serviço de todos.

O Pão de Santo Antônio
O pão na imagem de Santo Antônio também é bem comum. Representa um de seus vários milagres feitos em vida. Em algumas obras vimos o santo distribuindo o “pão dos pobres”. Essa é uma característica mais recente, do século XIX. Surgiu durante uma época de muita fome na Europa.

O Terço de Santo Antônio
O Terço na imagem de Santo Antônio representa sua entrega e devoção à Mãe de Deus. Santo Antônio começou a ser representado com o Terço na cintura, no século XVI, para mostrar que ele era homem de oração. O terço também fazia parte do hábito franciscano.

O cordão de Santo Antônio
O cordão na Imagem de Santo Antônio representa seus votos perpétuos. O cordão faz parte do hábito franciscano. É um cinto de corda que contém três nós. Estes nós simbolizam os votos de obediência, pobreza e castidade, que todo religioso franciscano faz quando faz os votos perpétuos.

O PÃO DE SANTO ANTÔNIO

À luz da Teologia do culto dos santos, podemos perceber que Santo Antônio, por ter sido um “homem enamorado de Cristo e do seu Evangelho”, apresenta uma mensagem muito rica. Poderíamos desdobrá-la a partir dos símbolos com os quais ele é representado, como o Livro dos Evangelhos. o Menino Jesus sobre o Livro, a Cruz, o lírio.

Aqui gostaríamos de deter-nos no símbolo do pão. O pão constitui um elemento inseparável de toda a devoção a Santo Antônio, independente de sua origem. Ele até se chama “Pão de Santo Antônio”.

A história do “Pão de Santo Antônio” remonta a um fato curioso que é assim narrado: “Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros, quando, na hora da refeição, percebeu que os frades não tinham o que comer: os pães tinham sido roubados”.

Atônito, foi contar ao santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. O Irmão padeiro voltou estupefato e alegre: os cestos transbordavam de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento.

Até hoje na devoção popular o “pãozinho de Santo Antônio” é colocado, pelos fiéis nos sacos de farinha, com a fé de que, assim, nunca lhes faltará o de que comer.

Mais do que a lenda da origem do “Pão de Santo Antônio”, importa perceber toda a riqueza do seu simbolismo. Sem dúvida ele revela toda a riqueza da dimensão apostólica da vida de Santo Antônio.

Por curiosidade interessei-me em saber se havia alguma estátua de Santo António com o pão em sua figuração. Assim, certo dia, entrei por acaso na igreja de Santa Luzia no Castelo, no Centro do Rio de Janeiro. Encontrei no fundo da igreja uma Imagem de Santo Antônio, tendo sobre o braço esquerdo o Livro dos Evangelhos, com o Menino Deus sentado sobre o livro, segurando um cesto repleto de pães, enquanto Santo Antônio com a mão direita oferece um pão a alguém. Era o que procurava.

Fato é que, através de Santo Antônio, Jesus continua a realizar o grande milagre da multiplicação dos pães. Jesus tem compaixão da multidão faminta e multiplica o pão para saciar-lhe a fome.

Mas se olharmos para as narrações da multiplicação dos pães, vemos que Jesus nunca age sozinho. Pede a colaboração dos apóstolos: “Dai-lhes vós mesmos de comer; quantos pães tendes, ide ver”. Voltando de sua procura, trouxeram-lhe cinco pães e dois peixes. Deu ordens para que fizessem sentar-se à multidão, em grupos, na relva verde. Jesus dá graças sobre os pães e os peixes e dá aos discípulos para distribuí-los. E no fim foram ainda os apóstolos que recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e restos de peixe (cf. Mc 6,35-44).

O grande milagre de Jesus está em multiplicar sua presença e sua ação nos seus discípulos. Através deles é que Jesus quer saciar a fome da multidão faminta, tanto da fome corporal como espiritual. Através dos seus discípulos Jesus deseja ser alimento, deseja ser o pão para a vida do mundo.

O pão simboliza tudo. Simboliza a vida. simboliza a fraternidade. Quando se diz que falta o pão, dizemos que falta a comida, falta o alimento, falta o necessário para a vida. Por isso, Jesus ensina a pedir o pão de cada dia, em outras palavras, que Deus nos conceda a vida, para que possamos realizar a sua vontade, para que o seu Reino venha, e, assim, seu nome seja santificado, ele que é nosso Pai.

Como diz Santo Irineu: A glória de Deus é a vida do ser humano. Por isso, diz São Tiago em sua carta: “A religião pura e imaculada diante de Deus Pai é visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se sem mancha neste mundo” (1,27).

Há duas maneiras de se fazer a memória e assim tomar presente Jesus Cristo hoje na Igreja, nos cristãos, no mundo: A primeira é a memória ritual ou celebrativa, principalmente pelos sacramentos e de modo especial pela Eucaristia. O segundo modo é pela memória testamentária.
É viver o testamento de Jesus Cristo transmitido na última Ceia, isto é, viver o sentido do lava-pés: viver o novo mandamento, ser também Corpo dado e Sangue derramado, a exemplo de Jesus Cristo.

São duas expressões da ação de graças, da Eucaristia, são duas maneiras de se viver a Eucaristia. Uma sem a outra é estéril; uma alimenta a outra. Não há verdadeira Eucaristia celebrada sem que também sejamos pão partilhado para a vida do próximo, a exemplo de Jesus Cristo.

Talvez o maior milagre que Santo Antônio continua realizando é justamente que sua mensagem, sua caridade, continuam presentes em tantas obras de caridade, em tantas “Pias Uniões de Santo Antônio”, em tantas mulheres e homens também, capazes de dedicarem toda a sua capacidade de amor e de serviço ao próximo necessitado junto a igrejas dedicadas a Santo Antônio através do pão de Santo Antônio.

Quantas senhoras que dão seu tempo, sua dedicação para assistirem famílias e pessoas necessitadas! As contribuições em dinheiro oferecidas pelos fiéis para o “Pão de Santo Antônio” ou entregues aos frades “para os seus pobres”.

Tudo isso poder-se-ia acusar de paternalismo. Não. Nosso Senhor mesmo disse: Pobres sempre tereis entre vós (cf. Jo 12,8). Penso que em relação a eles devemos distinguir dois aspectos: As obras de misericórdia fazem parte da vida evangélica, da vida cristã.

Contando a parábola do bom samaritano, Nosso Senhor nos ensina claramente que cada um deve aproximar-se do necessitado, ser próximo daquele que necessita de compaixão. Fazer o que estiver em nossas mãos para auxiliá-lo em sua necessidade.

Poderão dizer: Devemos promover a pessoa, dar-lhe o anzol para que possa pescar. Contudo se não tiver força nem para segurar o anzol será preciso dar-lhe também e, em primeiro lugar, o peixe. Claro que num segundo momento, ou simultaneamente, vem a promoção, que consistirá em criar todo um conjunto de condições para que a pessoa tenha condições de se autopromover. Através de suas imagens se percebe que Santo Antônio não retém o Menino Deus para si.

Apresenta-o, oferece-o a todos. Esta oferta transforma-se concretamente em pão, em alimento, e promoção das pessoas, principalmente das mais necessitadas.

Santo Antônio foi, sem dúvida, o grande pregador do Evangelho, o anunciador da verdadeira doutrina sobre Jesus Cristo. Encontrou Jesus Cristo e o seu mistério no estudo e na meditação dos Santos Evangelhos. Mas não o reteve para si.

Ele continua revelando esta faceta da vida evangélica e apostólica à Igreja dos nossos dias, convocada para a nova evangelização. Importa, porém, que os pregadores do Evangelho hoje também o vivam, também tenham encontrado nele o Cristo Jesus.

Só assim, o testemunho, o anúncio de Jesus Cristo será proclamado com novo ardor, será autêntico, e, por isso, eficaz. Como Antônio, o grande pregador, o missionário incansável, o homem de oração, todos os cristãos que aderem a Cristo, que são batizados e recebem o Espírito Santo como Dom do Pai e do Filho, no Sacramento da Crisma, também são chamados a viver sua vocação profética.

Ser profeta significa antes de tudo dar o testemunho do novo mandamento da caridade. Significa imitar Deus que é amor. É viver o amor na comunidade conjugal, na comunidade familiar, na comunidade social. Ser profeta e profetisa é revelar Deus neste mundo através do amor e apontar para Deus, imitando-o no seu amor em todas as circunstâncias da vida, é levar uma vida segundo o Evangelho.

Não só os apóstolos, não só os Bispos e os sacerdotes e os religiosos e religiosas devem pregar ou anunciar o Evangelho. Também o fiel leigo participa desta missão da Igreja. Desta forma ele se transforma em pão multiplicado para saciar a multidão faminta.

Quais as modalidades de sua pregação? Primeiro, sendo fiel à sua vocação cristã de viver na graça de Deus. Na medida em que ele estiver em comunhão com Deus, já está realizando um apostolado. Mas não basta evangelizar-se.

O cristão leigo também é chamado a evangelizar: pelo exemplo de vida cristã, ou pelo testemunho; pela palavra de exortação e de edificação quando se lhe oferecer a ocasião; pela ação, participando das diversas Pastorais da Igreja em suas diversas dimensões: a comunhão e a participação, nos ministérios leigos, nos diversos serviços da Comunidade, na Pastoral vocacional; na colaboração com as missões da Igreja, indo eventualmente para terras de missão; na Catequese; nos diversos serviços na Liturgia; no Ecumenismo; na dimensão sóclo-transformadora, ajudando a construir um mundo mais justo e fraterno.

Mas é próprio do apostolado ou da evangelização do cristão leigo, a consagração do mundo através de sua ação, nos diversos estados de vida, nos diversos campos de trabalho e nas mais variadas profissões: no mundo do trabalho, do esporte, da arte, das ciências, da política, da justiça, da promoção da Paz, da Justiça, da Ecologia.

São fundamentalmente dois os modos de agir do Divino Espírito Santo na vida do cristão. Ele suscita vida, faz surgir a vida. Eis o sopro de Deus na manhã da criação, o sopro de Jesus Cristo, na manhã da ressurreição. Mas, por outro lado. ele faz com que a vida se desenvolva e chegue à perfeição. No Batismo ele nos faz filhos de Deus, nos faz renascer pela água, símbolo de vida. Mas esta vida não pode permanecer como uma semente.

Deve germinar, nascer, crescer e produzir frutos, ser fecunda, multiplicar-se. Eis o sentido da Crisma. Para que possa realizar sua vocação e missão batismals, o cristão é ungido pelo Espirito Santo na Crisma.

Assim como a Páscoa é a celebração do Batismo, o Pentecostes celebra a Crisma, reavivando na Comunidade Eclesial o Dom do Espirito Santo, para que possa realizar em sua vida a mensagem do Evangelho como discípulo e discípula de Cristo, e contribuir para a construção de um mundo mais justo e mais fraterno. Não está aqui também o “Pão de Santo Antônio” multiplicado nos cristãos, o própio Cristo Jesus como Corpo dado e Sangue derramado para que o mundo tenha vida e a tenha em abundância?

Através de Santo Antônio. Nosso Senhor está convidando continuamente os cristãos a pensarem no bem do próximo, a amarem o próximo como a si mesmos e a darem uma atenção especial ao necessitado, ao pobre. Claro que não se trata apenas do pão de Santo Antônio, da esmola oferecida ao frade ou ao Convento, com as palavras: “para os seus pobres”.

Esta doação tem também o valor de um símbolo, de uma celebração, como a contribuição material colocada na salva na hora da preparação das oferendas. Através da esmola ou da contribuição colocada em comum, o cristão que deseja ser discípulo de Cristo, que deseja viver segundo a mensagem do Evangelho, celebra a generosidade e a dadivosidade do Deus Criador, e a de Jesus Cristo, o Redentor que deu a própria vida para que os seres humanos tenham vida.

Através de sua oferta, o cristão celebra a própria vocação de poder imitar a dadivosidade e a generosidade de Deus criador e de Jesus Cristo, pois como diz Jesus: “Recebestes de graça, de graça dai” (Mt 10,8). É uma graça poder dar. poder partilhar.

Dar de graça, ser generoso, pensar no bem comum, no bem do próximo, promover a vida do próximo, eis o mistério revelado no símbolo do pão de Santo António. Não se dá apenas uma esmola. Podemos e devemos dar o trabalho, o tempo, a atenção, o perdão, a seriedade e a honestidade em nossa ação profissional que vale muito mais do que o dinheiro.

Sim, o milagre do Pão de Santo Antônio continua até hoje em seus devotos. Ele nos ensina e nos ajuda a sermos mais cristãos. Nele manifesta-se a espiritualidade pascal, dos atos de amor, das ações de serviço ao próximo, da promoção do ser humano, para que tenha vida e a tenha em abundância.

A devoção a Santo Antônio constitui elemento integrante da tradição religiosa do povo brasileiro. Esteve presente desde o Inicio de sua evangelização e continua vivo em nossos dias. Por isso, na nova evangelização e no aprofundamento da fé cristã do povo brasileiro, a devoção aos santos em geral e, especialmente, a Santo Antônio, terá que ser respeitada e cultivada na Pastoral da Igreja no Brasil.

Importa estar atenta ao que o nosso povo tem como seu e valoriza, para, a partir daí, ajudá-lo a encontrar sempre mais intensamente a Cristo e chegar por Cristo ao Pai em comunhão com o Espírito Santo

A nova evangelização no Brasil passa pelo culto dos santos, e, de modo especial por Santo Antônio, quando este santo vem apresentado por João Paulo II como um homem “enamorado de Cristo e do seu Evangelho”.

Extraído da Revista “Grande Sinal”, autoria de Frei Alberto Beckhauser, ofm


Oração do Responsório de S. Antônio “Si quaeris miracula”

Se milagres desejais
Contra os males e o demônio,
Recorrei a Santo Antônio
E não falhareis jamais.

Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro e a morte,
Quem é fraco fica forte,
Mesmo o enfermo fica são.

Rompem-se as mais vis prisões,
Recupera-se o perdido,
Cede o mar embravecido
No maior dos furacões.

Penas mil e humanos ais
Se moderam, se retiram:
Isto digam os que viram,
Os paduanos e outros mais.