Rio de Janeiro (RJ) – O sétimo dia da Trezena de Santo Antônio no Convento do Largo da Carioca, neste 6 de junho, teve como tema “Santo Antônio e a Eucaristia”, que foi refletido e partilhado por Frei Neylor Tonin, aniversariante do dia, Pe. Medoro de Oliveira Souza Neto, pároco da Paróquia São José Operário de Três Rios (RJ), e o guardião do Convento Santo Antônio, Frei José Pereira.

Frei Neylor iniciou sua reflexão contando como se deu o milagre eucarístico de Santo Antônio, quando ele fazia uma pregação sobre o Santíssimo Sacramento em uma de suas viagens à França: Um homem incrédulo na presença de Jesus na Eucaristia, levantou-se de seu lugar e, em meio à assembleia, lançou um desafio ao santo franciscano, dizendo: “Padre, acreditarei na Eucaristia se a minha mula se prostrar diante da Hóstia Consagrada, ao invés de comer o feno que eu oferecer depois de três dias de jejum”. Santo Antônio, após ouvir uma inspiração divina, resolveu concordar com o desafio. Passaram-se três dias, e uma multidão se aglomerou na praça para conferir o resultado do desafio. Enquanto Santo Antônio rezava, o senhor infiel chegou conduzindo sua mula. Faminto, o animal estava tão violento que nem o próprio dono obedecia. Contudo, ao se aproximar do Santíssimo, a mula se acalmou, e diante de todos ali presentes, milagrosamente, se ajoelhou diante a Hóstia Consagrada ostentada por Santo Antônio.

Frei Neylor, o presidente da Celebração Eucarística, convidou Pe. Medoro e Frei José para partilharem com ele a reflexão do dia. “Gostaria que eles falassem como a vida de um padre pulsa por esse amor a Deus quando coloca em suas mãos, todos os dias, o Corpo e o Sangue de Jesus”, propôs. “Sabe, esse é um presente diário que Deus concede a nós, padres, quando obedientemente dizemos e seguimos Jesus: ‘Fazei isso em memória de mim’. E nós fazemos e obedecemos. E nós queimamos por dentro pela Santíssima Eucaristia. Não é um sacramento qualquer, mas é o Sacramento da Eucaristia. Os outros podem até desaparecer se for o caso, mas esse não pode nos abandonar porque a Igreja tem um centro nervoso, divino, que é o altar”, disse. “Ali nós celebramos a paixão, a morte, a ressurreição, a ascensão, a vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte. Ele se dá a nós e nós comungamos Jesus”, acrescentou.

Segundo Pe. Medoro, de fato, a grande paixão do ministério sacerdotal, mais do que o ser sacerdote, é a vida eucarística. “É uma intimidade indizível. Tenho 38 anos de padre. Cada Missa que celebro é como se fosse a primeira. Tenho vontade de ficar no altar em intimidade com o Senhor. Ao mesmo tempo, essa paixão pelo Senhor, recordando a última Ceia, quando o Senhor instituiu a Eucaristia e lavou os pés, implica na compaixão pelos irmãos. Então, a intimidade eucarística me faz ser cotidianamente o homem de oração e o cuidador da vida”, refletiu.

Pedindo desculpas por dar um testemunho pessoal, disse que acorda às 3 horas da manhã para rezar. “Durante o dia não tenho tempo para rezar dado à solicitude que temos que ter para com os pobres que acorrem à nossa Igreja e também para com os penitentes. Eu sou sozinho numa paróquia na periferia de Três Rios. Então, a paixão por Jesus Cristo e compaixão pelos irmãos me parece ser a síntese da mística sacerdotal que a gente procura viver”, acrescentou.

Frei José, referindo-se ao evangelho do dia – a continuação da oração de Jesus ao Pai -, disse que esse caminho de intimidade com o Pai, essa comunhão sempre mais radical, nos questiona e o interroga a cada dia. “Eu não posso receber o Cristo se não enxergar o outro, se não amar o outro, se não perdoar o outro. Por isso, essa intimidade de Jesus com o Pai, ele passou para os seus discípulos e para cada um de nós”, observou.

“Então, a alegria desta festa – Eucaristia é ação de graças – é sempre o reconhecimento de nossa pequenez, da gratuidade, da grandeza e do amor incondicional de Deus no meio de nós”, continuou.

Segundo Frei José, como Pe. Medoro havia falado há pouco, a Eucaristia da quinta-feira, o lava-pés, é o caminho do sacerdote. “É o caminho de uma Igreja missionária, sempre mais incomodada, e sempre mais desafiada, para que a graça de Deus, para que o amor de Deus possa sempre suplantar a nossa fragilidade, e transmitir, com simplicidade e fé, que o amor de Deus é que comanda, que ilumina, que fundamenta, que alimenta a nossa vocação”, completou Frei José.

Segundo Frei Neylor, na Eucaristia e na Missa só há um tema e uma oração: Jesus. “E há apenas uma razão de festa: Jesus. Nós não estamos aqui para ouvir grandes sermões, elucubrações teológicas, não estamos por causa da música, da beleza do templo, do ouro ou do altar. Nós estamos aqui por uma única razão: Jesus”, enfatizou.

“Padres gagos, que falam mal, não são eles que nos afastam da Igreja. Quem nos afasta da Igreja é a falta de fé, de aceitação de Jesus Cristo”, observou o frade.

Para ele, Jesus é o Senhor da Grande Mesa. “É ele que ocupa a cabeceira da última Ceia e de todas as Missas. O padre, por mais santo ou indigno que seja, é apenas ministro. Mas é Jesus Cristo o sumo-sacerdote que serve e nos serve o seu Preciosíssimo corpo, o Preciosíssimo pão eucarístico. Quando comunga, o fiel faz um ato de fé. Ele diz amém e Deus planta dentro dele uma semente de imortalidade. Na Eucaristia, nós recebemos uma semente de vida eterna”, ressaltou.

Segundo Frei Neylor, nem todos comungam o corpo de Cristo, mas quem comunga se responsabiliza pelo destino de todas as pessoas que são as destinatárias do Cristo vivo e encarnado. “Quem comunga se faz responsável da salvação dos outros. Quem entra numa igreja para rezar, sai de uma Igreja orante, cheio de Deus, para levá-Lo às pessoas e acender nelas a chama da vida eterna. A chama de Deus, da misericórdia e do perdão. Quem amar os pobres, os doentes, os necessitados é de Cristo e pode comungá-Lo. Quero sublinhar essa frase e escrever com letras de fogo na alma e no coração de vocês: ‘Quem ama os pobres, os doentes, os pecadores, podem comungar Cristo, porque Cristo veio exatamente para eles. E nós, cheios da Eucaristia, levamos esse mesmo anúncio de salvação para os pobres, doentes e pecadores”, completou.

FREI NEYLOR FAZ ANOS

Frei Neylor J. Tonin completou hoje 81 anos. Mas explicou: “Então, eu acordei hoje ainda com 80 anos. Eu nasci à 13h30”, explicou. Ele ganhou um bolo de “três andares” para festejar sua data. “Eu não quero celebrar esses anos de vida, mas quero celebrar e louvar muito a Deus pelos anos de padre, de sacerdote”, garantiu, já que tem 54 anos de ordenação presbiteral.

“A melhor coisa que aconteceu na minha vida depois de nascer foi ficar padre. E eu disse para vocês, algumas vezes, que me tornei padre não porque eu quis. O que queria era jogar futebol, correr atrás da bola. Eu via os seminaristas jogando bola perto da minha casa e queria jogar futebol, quem sabe chegar à seleção brasileira. Meu pai disse pra mim: ‘meu filho, se você quiser jogar bola, entre para o seminário!’. Eu entrei e os padres foram me ‘engabelando’ devagar e fui me deixando me fascinar por esse caminho. Eu nem sabia o que era ser padre. Quando eles vinham à minha casa, minha mãe se prodigalizava em servir o melhor que tínhamos a eles. Me lembro que no alto de um armário, minha mãe guardava latas pintadas com bolachas. Como estavam bem altas, nós, crianças, não chegávamos atingi-las. Quando os padres faziam visitas, era uma festa. Todas essas latas pousavam sobre a mesa. Aí, eu disse: ‘Se a vida de padre é assim, então eu também quero ser padre’”, revelou, fazendo o povo rir.

Frei Neylor nasceu em Luzerna, SC. Mestre e doutor em Espiritualidade, bacharel em Psicologia, estudou também Jornalismo e Sociologia. É professor e conferencista, presidiu a CRB-RJ de 1980 a 1986, foi redator da revista “Grande Sinal” por 17 anos e editor da Editora Vozes por 8 anos, além de colaborar em outras editoras, atuar como conselheiro espiritual de casais, terapeuta, escritor e manter um programa de rádio diário no Rio de Janeiro. Fundou e mantém um curso de Teologia e Espiritualidade. É autor de vários CDs e livros de espiritualidade.

Nesta sexta-feira, 7 de junho, oitavo dia da trezena, o tema é “Santo Antônio e a Paixão de Jesus”.


Moacir Beggo