Rio de Janeiro (RJ) – “A gente precisa ter uma vida como a de Santo Antônio, que torna essa Palavra de Deus evidente. Que as pessoas possam olhar para nós, cristãos, e reconhecer a Palavra de Deus”. Foi com esta exortação que o Ministro Provincial da Província Franciscana da Imaculada Conceição, Frei César Külkamp, celebrou a Missa solene em honra a Santo Antônio no Convento do Largo da Carioca, neste dia 13 de junho, às 10 horas. O guardião Frei José Pereira fez a apresentação de Frei César, que celebrou pela primeira vez neste histórico Convento no serviço de Ministro Provincial.

“É uma alegria estar aqui com vocês neste Convento que leva o nome de Santo Antônio, fundado há 411 anos, celebrando sua solenidade, depois da Trezena que chegou à edição de número 337”, saudou Frei César, recordando os milhares de frades que passaram pelo Convento nesse tempo, entre eles Frei Vicente do Salvador, que lançou a pedra fundamental desse Convento e foi o primeiro historiador do Brasil. Depois citou Frei Fabiano de Cristo, muito querido pelos cariocas; Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, e tantos outros que “deram sua profunda contribuição para que tudo isso existisse e nós tivéssemos essa presença”.

O Ministro Provincial também lembrou da multidão que sobe o Morro de Santo Antônio em busca desse serviço dos frades, de orientação, dos sacramentos e, acima de tudo, da intercessão do nosso querido Santo Antônio. “Que multidão contemplou aquela face, cheia de ternura, aquela face paternal do nosso querido e glorioso Santo Antônio! E a gente poderia pensar em quanto socorro foi dado em momentos de aflições e angústias das pessoas! Quantos milagres de todos os tipos aconteceram na vida de tantas pessoas! Quantas famílias foram construídas, restauradas, a partir deste olhar de fé e amor!”, reconheceu.

“Depois dessa belíssima história de fé e devoção, é a nossa vez de celebrar a vida, as virtudes e a poderosa intercessão do nosso querido Santo Antônio. Nós viemos até aqui trazendo as nossas próprias aflições, também a nossa vida, para depositar neste olhar. Para que ele olhe, com a mesma paternidade, com o mesmo amor, para a nossa vida. Porque nós sabemos que Santo Antônio é verdadeiramente o pai dos pobres, dos abandonados, dos que não têm casa, dos que não têm ninguém, que são doentes, dos que já não mais creem, dos famintos, dos enfermos, dos que não têm esperança. Mas ele é também o nosso pai. Nós que acreditamos, que amamos a Deus, e queremos acima de tudo cumprir a sua vontade. É ele que vem também em nosso auxílio nessa jornada da nossa vida”, situou Frei César.

Segundo Frei César, citando o mandato de Cristo aos discípulos, segundo o evangelista Marcos, Santo Antônio não teve dúvida: empregou sua curta vida no projeto de Jesus. “Por isso, ele teve uma vida onde transbordaram todas as virtudes. Mas ele não ficou preocupado em cumprir todas elas. Ele fez da sua vida apenas o cumprimento da vontade do Senhor, presente na sua Palavra. E ele teve, na sua vida, dois propósitos: converter o próprio coração e contribuir para converter o coração dos outros; transformar a própria vida e empenhar em transformar a vida dos outros; santificar-se, que é a caminhada de todo cristão, e ajudar cada irmão e cada irmã a se santificar. Somente isso ele quis viver com toda a sua intensidade, sabendo que receber a Deus não é para ficar numa relação íntima: só Deus e eu. Deus se dá a nós para que, através de nós, Ele possa tocar o nosso irmão”, ensinou, acrescentando que esse é o modelo que Antônio deixa para nós hoje nesta 337ª Trezena e solenidade.

Falando do tema da Trezena e Festa – “Santo Antônio, amigo de Jesus” -, Frei César lembrou que a palavra ‘amigo’ vem da mesma raiz da palavra ‘amado’. “Ou seja, Santo Antônio procurou amar com todo seu coração e como uma grande prioridade da sua vida a esse Deus que se dá tão próximo, tão encarnado em Jesus Cristo”, ressaltou.

O Ministro Provincial ilustrou esta parte da sua reflexão falando sobre o significado da imagem de Santo Antônio com o Menino Jesus. Recordou a história em que o Santo, nas suas andanças para pregar a Palavra de Deus, hospedou-se na casa de uma família e, quando estava sozinho fazendo sua oração, o quarto se encheu de muita luz e o dono foi ver o que estava acontecendo, pois naquele tempo não existia ainda energia elétrica. “E ele viu Santo Antônio com o Menino Jesus nos braços. Os dois conversavam com profunda intimidade”, acrescentou Frei César.

O celebrante chamou a atenção que o Menino está sobre a Palavra de Deus, que Santo Antônio buscou com toda intimidade, e também carrega a cruz que nos recorda essa entrega total desse mesmo Menino, que é a figura da encarnação de um Deus grandíssimo que se faz tão pequeno. “A Palavra não é uma letra morta, mas é vida. É isso que Santo Antônio nos mostra. Ela se faz ser humano, ela se faz esse Menino carregado de ternura. E justamente Santo Antônio mergulha com tanta intensidade nessa Palavra, que ele se torna a Trombeta do Evangelho e, para o mundo, ele é a Arca do Testamento, como cantamos esses dias na Ladainha”, explicou.

“Amar a Jesus não é ficar nessa relação íntima, mas é seguir seu mandamento que consiste em anunciar a sua Palavra, em primeiro lugar com nossa vida. Não se trata de descer até a praça e gritar as palavras do Evangelho. Mas a gente precisa ter uma vida como a de Santo Antônio, que torna essa Palavra evidente, que as pessoas possam olhar para nós, cristãos, e reconhecer a Palavra de Deus. É o que o nosso Papa Francisco falou na liturgia no domingo passado na Missa de Pentecostes: ‘Como seria bom se as pessoas do mundo inteiro olhassem para a Igreja e enxergassem o amor misericordioso em cada cristão’”, citou.

“Então, não se trata de gritar as palavras, de chegar em casa e cobrar, julgar. Tudo isso é contra o Evangelho. A gente tem que fazer com que essa Palavra possa transpirar, transbordar da nossa vida e tocar os corações, porque a força não é nossa. Quando se julga, condena, estamos tomando a dianteira. Nós temos que deixar que a força venha da Palavra”, frisou.

Para o Ministro Provincial, o ensinamento de Santo Antônio, seu testemunho e seu modelo de vida cristã hoje pode ser traduzido naquilo que a Igreja do Brasil adotou, que é de sermos discípulos e missionários. “Sermos discípulos como ele, amigos de Jesus, ficar aí sentado aos pés de Jesus em oração, na contemplação, tocados por essa Palavra, deixados se transformar pelo amor de Jesus. E depois também sermos missionários, levarmos a todos a alegria que nós experimentamos e descobrimos em sua Palavra. E assim o mundo inteiro será transformado, sem pretensões, começando de forma bem pequena com o nosso coração, com a nossa família, com o nosso círculo de trabalho, de convivência, e aí a ação de Deus vai chegar até onde ela quer chegar, com a sua força, com sua vitalidade, como fez e nos ensinou o glorioso Santo Antônio”, encerrou Frei César.


Moacir Beggo