Moacir Beggo
Rio de Janero (RJ) – Ao falar do tema “Santo Antônio e a Igreja como sacramento de salvação”, neste 11º dia (11/6) da Trezena de Santo Antônio no Convento do Largo da Carioca (RJ), Frei Almir Guimarães fez uma declaração de gratidão e amor ao Papa Francisco e ao seu apelo por uma Igreja em saída. “Eu tenho muita alegria de viver minha vida com quase 80 anos na Igreja de hoje, com esse argentino que veio pra ficar e pra valer!”, celebrou Frei Almir.
O frade, que reside na Fraternidade do Sagrado em Petrópolis (RJ), fez a pregação na Celebração Eucarística do meio-dia. O guardião Frei José Pereira, o concelebrante, lembrou que Frei Almir estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, é o assistente das Clarissas e tem um carinho especial pela OFS, para quem foi assistente nacional durante muitos anos.
Bem ao seu estilo, Frei Almir deixou de lado os papéis da pregação que preparou e passou a falar de improviso. Contou que desde pequeno, com quatro anos, a imagem do Coração de Jesus na casa de seus pais o marcou profundamente. Depois passou a frequentar a capelinha de Nossa Senhora das Vitórias, que existe até hoje em Petrópolis. “A dª Clara, mulher do seu Alfredo, lavava toalhas do altar. Impecáveis. Era muito quieta, muito silenciosa. Costurava para homens: calça curta, calça comprida…. Vivia na igreja. Aos poucos, fui compreendendo que Igreja não era apenas um prédio. Fui compreendendo com as falas de Frei Atico Eyng, que me deu a Primeira Comunhão, que existia uma coisa maravilhosa: uma comunhão de pessoas querendo seguir a Cristo”, revelou.
Segundo Frei Almir, é muito comum se pensar que Igreja é só dos Papa, bispos, padres e religiosos. “Não é não! A Igreja é Dª Clara, é o sr. Alfredo, é a mãe que comungava todo domingo…”, disse enfaticamente. “De repente, a gente cresce e diz: ‘Eu sou da Igreja!’ E na Igreja está Cristo, este Cristo Jesus ressuscitado, onde dois ou três se reúnem em nome dele. Como gostaria, desde criança, de dizer para as pessoas: ‘Entrem numa Paróquia, vivam numa paróquia!’ É tão bom a gente sentir a fé dos outros nesse Cristo que está na Igreja como um sacramento da salvação, como um sinal de um mundo novo”, partilhou.
Frei Almir contou que no bairro Bingen, em Petrópolis, costuma celebrar na capela Nossa Senhora Auxiliadora, uma comunidade no alto do morro. “A gente celebra a Missa sem microfone. Não tem ninguém fazendo barulho. Quando acaba a Missa, a gente come pastel de queijo ou de carne. E a gente não vai embora, porque a gente está na Comunidade. Eu fico até emocionado, porque, com meus quase 80 anos e 50 anos de padre, sonho ainda viver num lugar assim, onde a Igreja não seja só para ir à Missa e ir embora, mas seja um lugar que a gente se queira bem”, disse, lamentando que hoje vai-se à igreja ‘como pode, onde pode’, onde tem suas preferências e suas “panelas”.
“Eu tenho um orgulho muito grande de dizer: eu sou da Igreja, a Igreja Corpo Místico onde está presente Cristo Jesus”, enfatizou. “Então, a Igreja é a reunião de irmãos que se amam, que se perdoam, que buscam uns aos outros. É um sinal, um sacramento de um mundo novo. Não o mundo da corrupção, não o mundo da violência, não o mundo da morte, esse mundo que anda no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Nós, aqui, precisamos ser um sinal, sacramento de gente que se estima, que se perdoa, de gente que se ama de verdade. Então, a Igreja é um sacramento da salvação. Eu me salvo nessa Igreja. Santo Antônio viveu numa Igreja que foi sacramento da salvação”, reforçou.
DE PIO XII A FRANCISCO
“Tenho orgulho de dizer que vivi numa Igreja de muitos papas. O Papa não é o principal da Igreja, mas ele é a figura que faz unidade. Me lembro de Pio XII, que declarou o dogma da Assunção em 1950. Depois veio João XXIII, de Veneza, e abriu as janelas da Igreja. Com ele veio o Concílio. Quando ele desapareceu, veio Paulo VI, o Cardeal Montini. Eu tenho muita admiração por ele. O maior documento de evangelização é dele: “Evangelii Nuntiandi”. Se vocês puderem, leiam. É melhor do que muitos ‘documentinhos’ por aí… Depois, veio a era do João Paulo II, que andou pelo mundo afora, mas puxou as coisas para botar no eixo. Era meio conservador. Não tenho nada contra. Que ele interceda por nós na glória!”, ponderou.
“E, finalmente, o Papa atual, que veio de Buenos Aires, o hermano que veio do fim do mundo. E esse homem quer que nossa Igreja seja, de fato, um sinal de um mundo novo. Com ele, vimos uma porção de palavras: ‘não quero saber de carreirismos dentro da Igreja’, ‘não quero saber de prosopopeia’, ‘de pensar que a nossa Igreja é a única santa, a melhor’. Eu quero que vocês conversem com os irmãos muçulmanos, quero uma Igreja em diálogo. Nada intransigente, onde tudo é pecado! Quero uma Igreja de gente santa, isso eu quero!