Moacir Beggo
Rio de Janeiro (RJ) – O quarto dia da Trezena de Santo Antônio no Convento Santo Antônio do Largo da Carioca foi especial neste 4 de junho de 2018. Há exatos 410 anos, no dia 4 de junho de 1608, véspera de Corpus Christi, foi lançada a pedra fundamental do Convento, que hoje é um dos monumentos mais importantes da cidade do Rio de Janeiro. A história desta casa franciscana se confunde com a da própria cidade. Nesses quatro séculos, o belíssimo conjunto arquitetônico, no Centro do Rio, abriga gerações de franciscanos que fielmente celebram o Padroeiro com a Trezena todo ano.
Nesta segunda-feira (4 de junho), chuvosa e fria, esse momento de ação de graças foi lembrado por Frei Róger Brunorio, responsável pelos Departamento de Bens Culturais da Província da Imaculada, durante a Celebração Eucarística ao meio-dia, presidida por Frei Carlos Branco, pároco da Paróquia de São Francisco de Assis, em Duque de Caxias, e concelebrada pelo guardião e reitor do Convento, Frei José Pereira.
“O Morro Santo Antônio ia até onde está hoje está a Catedral, o BNDEs, a Rua Evaristo da Veiga e a Rua do Lavradio. Em 1955, para tornar realidade o aterro do Flamengo, foi usada a terra proveniente do desmonte e demolição parcial do morro de Santo Antônio. Então, a gente perdeu um pouco essa noção do espaço, mas o morro está aqui. Um pedaço dele ficou aqui. Graças a Deus temos esta casa, este Convento, para oferecermos nossos louvores e agradecimentos a Deus sob a intercessão de Santo Antônio”, lembrou.
A “Igreja em saída”, o tema que identifica o Pontificado do Papa Francisco, foi escolhido para este dia da Trezena. Francisco lembra na Evangelii Gaudium que a “intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante”. Segundo Frei Carlos, Jesus era itinerante, Santo Antônio era itinerante. “Esse é o pedido do Papa e acredito que é o desejo de Deus de que a gente possa estar do lado do mais necessitado. Quando fala em igreja, não se refere ao templo de pedra. A Igreja somos nós, povo de Deus itinerante. No templo nós celebramos a Eucaristia, mas não podemos ficar parados. Temos um motivo para ir lá fora e fazer valer essa Eucaristia. Quem comunga o Corpo e Sangue de Cristo e não comunga do sofrimento do outro não está comungando”, disse.
“Em saída é ir ao encontro do outro. Jesus fez isso até no sábado, quando era proibido. Então, todos nós devemos buscar forças no Senhor, rezar muito, buscar coragem, mas depois também dividir, partilhar com o outro”, ressaltou o frade.
Santo Antônio também foi um grande itinerante segundo o pregador deste dia. Depois de permanecer um longo período no eremitério de Montepaulo (comarca da Romagna), Frei Antônio começou uma das etapas mais significativas de sua vida como evangelizador popular. “Ele estava pregando sempre nas praças. Quantos milagres foram feitos fora da igreja, no meio do povo! Milagre dentro da igreja só existe aquele quando, tentado pelo demônio, traçou-o o sinal da Cruz sobre o mármore que estava ajoelhado, e a pedra tornou-se mole”, recordou. “Que Santo Antônio possa nos inspirar e nos dar força, coragem, para que possamos dar uma resposta positiva a esse desejo e vontade de Deus”, completou Frei Carlos.
Santo Antônio foi sepultado no dia 17 de junho, uma terça-feira. Teve então início o costume de lembrá-lo nesse dia. Hoje, nas igrejas e conventos franciscanos, as terças-feiras têm um movimento de fiéis maior. Será assim neste Convento amanhã: Horários especiais de celebrações eucarísticas, muita gente na fila do confessionário e, ao fim da missa, a bênção de Santo António, com aspersão dos fiéis e distribuição dos pãezinhos de Santo Antônio. O Cardeal D. Orani Tempesta preside a Celebração Eucarística das 18 horas. Neste dia, o tema é “Santo Antônio e o cuidado pela vida”.
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CONVENTO SANTO ANTÔNIO
O lançamento da pedra fundamental do Convento Santo Antônio realizou-se com grande festa no dia 4 de junho de 1608, véspera de Corpus Christi. Depois de sete anos de trabalhos, a comunidade pôde entrar na parte do Convento acabada no dia 7 de fevereiro de 1615. Mas a construção de todo o Convento com igreja somente ficou pronta em 1632.
Frei Jerônimo de São Braz se tornou o primeiro guardião do Convento Santo Antônio, depois de constituída Província autônoma a Custódia da Imaculada Conceição.
O primeiro Provincial, nomeado pela Santa Sé na criação da Província e empossado no dia 24 de dezembro de 1677, era, como já foi noticiado, o carioca Frei Eusébio da Expectação.
O Convento foi sempre a casa principal. Primeiro lugar de moradia do custódio desde 1659 e, desde 1677, era residência do Provincial com seu Definitório. Era, pois, o centro de onde irradiava a ação franciscana nas Capitanias do Sul, conta o historiador Frei Basílio Röwer, OFM.
Por Breve do Papa Clemente X, de 15 de julho de 1675, a Custódia não somente foi separada da Província Santo Antônio, mas erigida em Província autônoma, conservando o título da Imaculada Conceição.
O primeiro jovem “carioca” que tomou o hábito franciscano no Convento de Santo Antônio foi Frei Sebastião dos Mártires, provavelmente no ano de 1638. Assinalou-se por sua inteligência e ilustração e não menos por sua vida de verdadeiro filho de São Francisco. Morreu em 1666 no mesmo Convento em que tomara o hábito.