Moacir Beggo
Rio de Janeiro (RJ) – O sexto dia da Trezena de Santo Antônio no Convento do Largo da Carioca teve como tema “Santo Antônio e a Igreja-comunidade”. Coube a pregação ao aniversariante do dia, Frei Neylor Tonin, que completou 80 anos de vida. Falando do tema, o pregador disse que em momentos de crise da Igreja, devemos cuidar bem dela assim como ela cuida de nós. “Não jogar pedras”, pediu.
Frei Róger Brunorio fez a acolhida dos fiéis. Frei Neylor também presidiu a Celebração Eucarística e teve como concelebrantes o guardião do Convento, Frei José Pereira; Frei Walter Ferreira Júnior, pároco de Nossa Senhora Aparecida (Nilópolis, RJ); e Pe. Medoro de Oliveira Souza Neto, pároco da Paróquia São José Operário de Três Rios (RJ). Todo dia, a Trezena tem início com uma procissão trazendo o andor de Santo Antônio, enfeitado com lírios, que, segundo a tradição católica, quando Santo Antônio morreu os campos estavam repletos de lírios brancos – flores que, no imaginário popular, estão associadas ao casamento, à doçura, à inocência, à pureza de alma.
Segundo pesquisa do pregador, a palavra “comunidade” e “Igreja” aparecem pouco nos escritos de Santo Antônio. “Naquele tempo, ‘comunidade’ não era um tema iminente, necessário, assim como também ‘Igreja’ não era um tema focal. Sobre Igreja se fala um pouco mais. Se diz que ela se apresenta a nós como ‘alma fiel’, ‘Jerusalém celeste’, como ‘Corpo de Cristo’, como ‘Mãe da Divina Graça’. A Igreja é apresentada como sacramento e como lutadora”, explicou.
“O que diria sobre a Igreja? Primeiro lugar, diria que a Igreja é o berço de todos nós. Nela, fomos batizados, nos levaram ainda nos braços. Nós mal tínhamos aprendido a chorar e a mamar, nossos pais já nos levavam para a Igreja para recebermos, através do batismo, uma graça única de Deus e um caráter indelével. Temos na Igreja o berço de nossa fé”, disse Frei Neylor.
Na Igreja, resumindo – disse o frade – temos a Doutrina de Cristo. “Bem ou mal apresentada, mas é a doutrina de Cristo. Nós escutamos o Evangelho, nós escutamos os apóstolos falando desse Evangelho. E nós aprendemos que Ele é o caminho, a verdade e a vida dentro da Igreja, um lugar sacratíssimo de encontro com Jesus. E, depois, a Igreja é a grande mesa que oferece para nós o Corpo e o Sangue de Cristo. Na Igreja, temos também o alimento que nos faz prosseguir e estar mais perto de Jesus. Quando a gente comunga, a gente toca Cristo”, acrescentou o pregador.
“Eu termino dizendo. A Igreja cuida de nós. Cuidemos da Igreja também. Isso é muito importante. Não jogar pedras na Igreja. É preciso cuidar da Igreja, amar a Igreja, respirar a Igreja, sofrer com a Igreja, mesmo quando os escândalos se multiplicam ou se tornam patentes, nós, apesar de sermos dessa Igreja, dizemos: ‘Ela é a minha família’ e a esta família eu dedico o meu amor, tenho alegria de pertencer a ela. Assim como digo: ‘este é meu pai, esta é minha mãe, estes são meus irmãos’. Tenho orgulho de ser dessa família. Eu digo também: ‘Eu tenho orgulho de ser também da família que se chama cristã e católica”, encerrou, em sintonia com uma frase do Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “Os males do nosso mundo – e os da Igreja – não deveriam servir como desculpa para reduzir a nossa entrega e o nosso ardor. Vejamo-los como desafios para crescer”.
EXEMPLO DE ESPIRITUALIDADE E COMUNIDADE
Frei Neylor deu a palavra para seus concelebrantes durante a pregação. Pe. Medoro preferiu mudar o tema do dia e fazer um depoimento sobre o aniversariante que mudou a vida da comunidade de Três Rios. “Eu estou aqui com dois fiéis da minha paróquia para dizer a esta comunidade que essa espiritualidade da comunidade é tão forte no coração de Frei Neylor que ele foi sensível a nós, lá no interior do Estado, em Três Rios, ao nos possibilitar a criação de uma Escola de Música para a inclusão de jovens que estavam na violência, que estavam marginalizados. Em sete meses, com os setenta violões que vieram daqui, nós conseguimos pacificar um bairro que era o mais violento da cidade. A nossa UPP é a Escolinha de Música Frei Neylor em Três Rios. Estou aqui para louvar e bendizer a Deus pelo dom da sua vida, que trouxe mais vida à nossa comunidade. Fez nossa comunidade ser mais irmã e mais fraterna. Seja muito feliz e tenha essa longevidade lúcida e saudável, que tanto nos edifica”, desejou.
Frei Walter Ferreira lembrou que foi discípulo de Frei Neylor há 24 anos em Petrópolis. “Deu aula para nós de espiritualidade e retórica. A vida de Frei Neylor sempre foi uma busca de espiritualidade, vocês sabem disso. E ele fala dessa espiritualidade que vem de dentro. Do jeito que Deus deu o dom para ele. E isso ele consegue transmitir para nós. Quando ele editou a revista ‘Grande Sinal’, muitos religiosos e padres beberam dessa espiritualidade. Então, Frei Neylor, que Deus te conserve sempre neste caminho e te dê todas as bênçãos que conseguiu passar para nós!”, pediu.
O guardião Frei José Pereira lembrou um trecho do livro Eclesiastes 3: ‘Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer’.. E tempo de agradecer. Frei Neylor foi ordenado no dia 15 de dezembro de 1964. Daqui a pouco, ele vai fazer 54 anos de presbítero. Isso me lembra que é necessário a gente dizer sempre obrigado, porque Deus nos deu a vida. E essa vida ele não as guardou para si mas a comunicou com alegria, doação, com espírito de serviço. Parabéns Frei Neylor em nome da Fraternidade”, completou.
Frei Neylor J. Tonin é frade franciscano desta Província da Imaculada, nascido em Luzerna, SC. Mestre e doutor em Espiritualidade, bacharel em Psicologia, estudou também Jornalismo e Sociologia. É professor e conferencista, presidiu a CRB-RJ de 1980 a 1986, foi redator da revista “Grande Sinal” por 17 anos e editor da Editora Vozes por 8 anos, além de colaborar em outras editoras, atuar como conselheiro espiritual de casais, terapeuta, escritor e manter um programa de rádio diário no Rio de Janeiro. Fundou e mantém um curso de Teologia e Espiritualidade, hoje com 100 participantes.
É autor de vários CDs e várias obras. Nesta Trezena está relançando os livros: “Convite à Oração” (com CD na voz do autor); “De coração aberto” (psicologia e espiritualidade); “A vida é um luxo” (O grande luxo é viver); “Vida, mais vida” (Psicologia e espiritualidade); “Domingo é dia de festa” (Bíblia e espiritualidade); e “Mestres da espiritualidade”. Quem comprava um livro, ganhava um pedaço de bolo.
O frade garante que até o final do ano terá um livro novo para comemorar os 80 anos de vida: “Os jardins continuam florindo”. Nesse trabalho de garimpar palavras, a melhor frase que seleciona é bem curta: “O ódio jamais construiu jardins. Só cemitérios”.