Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Relativo ao estudo da filosofia e teologia, um problema

19/04/2021

 

O desejo desse nosso encontro é esclarecer para mim mesmo uma questão, referente ao estudo da filosofia e teologia e pedir esclarecimento a todos aqui presentes que, quer pelo ensino, quer pela aprendizagem, estão na experiência e no uso desse tema. O desejo do esclarecimento é movido por um problema que poderíamos formular na pergunta-suspeita: se no estudo eclesiástico da filosofia, o ensino e a aprendizagem da filosofia não visa como tarefa própria da filosofia resolver problemas em favor do ensino e da aprendizagem positiva da teologia? Essa suspeita não se refere ao ensino e à aprendizagem da filosofia nesse Instituto. Pois, aqui o empenho e desempenho do ensino, tanto da filosofia como da teologia, são feitos com boa e grande sensibilidade crítica em manter viva a questão acerca desse problema.

Assim, distingamos primeiro o resolver problema e o colocar-se na questão.

Problema

Problema é dificuldade que encontramos dentro de um campo temático aberto, cujas coordenadas estão fixadas como posições básicas para uma construção sistemática.

Problemas nós os encontramos, nos afazeres da vida cotidiana, como também nas ciências. Nos problemas científicos o modo de ser da dificuldade acima mencionada aparece com maior nitidez, ao passo que nos problemas dos afazeres da vida cotidiana o modo de ser da dificuldade parece ser ou mais difuso, opaco e ao mesmo tempo indeterminado, ou mais concreto, corpo a corpo e imediato sem exibir uma estrutura interna própria. Mas tanto num caso como no outro, as dificuldades querem ser resolvidos, e isso acontece dentro de um determinado âmbito de colocação já pressuposta. Nos problemas o nosso interesse é de buscar a solução, e eliminar ou amenizar a dificuldade. Denominamos tal trend da nossa vida de necessidade vital. Nosso compreender e querer aqui estão movidos pelo sentido do ser livre de.

Convenhamos chamar de questão, distinguindo-a do problema, a ação de uma busca, na qual o interesse não é tanto de resolver dificuldades dentro de uma determinada colocação já posta, mas de colocar-se para dentro de uma busca que renovadamente sempre de novo lança para dentro da questão as pressuposições postas ali como posições básicas de um saber positivo, e isso não tanto para saber mais e mais dentro do horizonte a partir donde e onde as colocações estão já pressupostas, mas numa trabalhosa e trabalhadora disposição livre, sim paixão em clarear de que se trata. E isto cada vez mais, anelando estar na proximidade, junto[1] da coisa ela mesma, a partir dela e nela mesma. Nas questões, o nosso interesse é o de nos colocarmos sempre de novo e cada vez mais na busca, tornando densa a inquietação da saudade de estar em casa em toda a parte na evidência do descobrimento de todas as coisas. Denominamos a tal intencionalidade presente na nossa vida de necessidade livre. Aqui o nosso compreender e querer estão movidos pelo sentido do ser livre para.

A pergunta acima mencionada em forma de uma suspeita diz respeito a impostação acerca do ensino e da aprendizagem da filosofia como meio para dispor o estudioso ao empenho e desempenho da teologia, para que aqui através da filosofia se resolvam certos problemas pelo uso da força e da luz da razão. De que problema se trata, mais em detalhe, na perspectiva da pergunta acima formulada como uma suspeita?

Problema de estudar filosofia na formação para ser teólogo

            Certamente há muitíssimas e diversas maneiras de formular esse problema. Uma das formulações talvez as mais usuais e corriqueiras é: por que quem estuda teologia, ou outras ciências não filosóficas, não gostam de estudar filosofia, e se o fazem, o fazem na marra, ou somente enquanto ela lhes é útil para resolver problemas, quer pessoais, quer da matéria em que querem ser especialistas. A esse problema, quem estuda teologia, porque quer ser sujeito e agente de uma missão eclesiástica futura, o formula na pergunta: “por que e para que estudar filosofia para ser pastor de vida e práxis da Fé cristã?”. Assim colocado o problema do nosso estudo, os problemas concomitantes são tantos que não sei por onde começar, e como começar.

A maneira como de alguma forma discutir esse problema, aqui,  porém, não é de uma pergunta assim concreta e prática, mas mais teórica. Mas de uma pergunta digamos teórica que no fundo não sabe bem o que está a perguntar, mas que em não sabendo bem o que quer perguntar, tenta deixar mais clara a pergunta à mão de uma colocação, feita por Martin Heidegger, na sua conferência Fenomenologia e Teologia, Vittorio Klostermann, Frankfunrt a.m. 1970, pp. 13-21. No entanto, aqui não vamos propriamente estudar essa conferência. Da conferência apenas tomemos o início da abordagem que Heidegger faz do exame do relacionamento entre filosofia e teologia, entendendo a filosofia como fenomenologia. Ao entender a filosofia como fenomenologia, o que parecia como tema do problema de relação entre filosofia e teologia, deixa de ser problema para se transformar numa questão. Examinemos, pois, juntos, brevemente essa abordagem inicial da conferência, para entrarmos numa colocação da questão do estudo da filosofia para quem ao mesmo tempo estuda teologia num instituto eclesiástico.

Questão da Filosofia e da teologia, insinuada na abordagem do problema da relação entre dois modos de ser ciência, absolutamente diferentes

Na Conferência de Heidegger a relação entre filosofia e teologia é explicada como relação entre duas ciências.

A teologia é ciência positiva ou ôntica. Ciência referida ao ente.

A filosofia é ciência ontológica. A qualificação ontológica é o próprio da ciência, chamada filosofia. E está referida ao Ser.

As ciências ônticas diferem entre si relativamente, conforme cada relação, através da qual uma ciência ôntica está orientada a uma determinada região do ente. Mas cada ciência ôntica ou positiva é absolutamente diferente da Filosofia. Na perspectiva dessa colocação temos: A teologia é uma ciência ôntica, positiva e como tal e por isso absolutamente diferente da Filosofia.

Explicitemos o problema de cunho mais teórico do que prático, o qual gostaria de discutir hoje nessa manhã, diante dessa colocação de Heidegger, é o seguinte: usualmente, diante das verdades da teologia, cujo princípio, i.é, fonte da vigência evidente é Fé, sentimos algo como totalidade plena absoluta, onde não cabe dúvida, fragmentação, mas total soltura da absoluta positividade e aderência: diz São Francisco de Assis Deus meus et omnia. Mas para quem de alguma forma foi tocado pelo hálito do sabor do abismo do nada, na ab-soluta insatisfação acerca de tudo que se põe como algo, na busca cada vez mais im-portante da inserção para dentro do fundo de retração do sentido do ser, o que há de interessante num estudo, onde se ensina e se aprende o empenho e desempenho de busca de dois caminhos absolutamente diferentes, cuja identidade e diferença parecem ser cada vez absoluta? Para que essa pergunta se torne mais clara, vamos, pois, aprofundar o que Heidegger diz da relação entre duas ciências absolutamente diferentes, entre Filososofia e Teologia como ciências:

Diz Heidegger, a definição formal da ciência “é o aprofundamento-desvelante de uma região, cada vez finita em si, do ente, respectivamente, do Ser, por causa do próprio aprofundamento-desvelante ele mesmo”. E explica: “Cada região-objeto possui conforme o caráter da coisa e conforme a espécie do Ser dos seus objetos, uma maneira toda própria da possibilidade do seu desvelamento, da sua mostração, do assentamento fundante e da pregnância conceitual de tal formação do conhecimento. A partir da idéia da ciência simplesmente como tal mostra-se, enquanto ela é compreendida como uma possibilidade do Dasein o seguinte: há necessariamente duas possibilidades de fundo de ciência: ciências do ente, ciências ônticas – e a ciência do Ser, a ciência ontológica, a Filosofia. As ciências ônticas fazem seu tema cada vez o ente ali pré-jacente, que já sempre num certo modo está desvelado diante (vor) do desvelamento científico. A ciências de um ente pré-jacente, de um positum, nós as chamamos de ciências positivas. O seu característico está nisso que a direção da objetivação (Vergegenständlichung) disso, que elas fazem seu tema, justamente se dirige ao ente como uma condução progressiva da impostação pré-científica já existente em referência a esse ente. Ao passo que a ciência do Ser, a ontologia, necessita fundamentalmente de uma transmutação da mira dirigida ao ente: do ente ao Ser, e nisso justamente ao mesmo tempo, o ente certamente para a impostação modificada, é mantida ainda na mira”.

Tentemos ler frase por frase esse trecho do texto de Heidegger, comentando cada passo.

  • Definição formal:

Definir é tornar finito. Finito não significa fixo, encaixado dentro de uma cerca fechada, mas sim acabado, completo, pleno na medida de si mesmo, concreto na sua possibilidade. É um modo de ser bem diferente ao do indefnido, indeterminado, avoado, do indefnido carente da plenitude do ser no finito, infinito.

  • Formal:

Distinguimos fôrma e forma. Fôrma é padrão, o encaixe, a moldura No entanto posso considerar a própria fôrma como orla, como contorno, figuração de uma coisa, Como tais a fôrma não é encaixe, moldura, mas o próprio ente no seu consumar-se pleno da sua possibilidade. Quando o ente se perfaz na sua possibilidade dada, é perfeito, é bom: é formal na acepção da forma como essência. Forma aqui possui a significação do uso medieval da palavra forma como vigor determinante, como pique de uma força, como plenitude de uma potência, como possibilidade. É nesse sentido que dizemos que um atleta está no ponto, i.é, no pique da sua força, em forma. Se, entendo aqui o formal como padrão, geral, apenas lógico torna se difícil perceber de que está falando a definição formal aqui enquanto conteúdo decisivo concreto e real

  • Ciência é o aprofundamento-desvelante:

No original alemão está die begründende Enthüllung. Begründende significa fundante, que dá fundamento. Só que Grund, significa o fundo, mas não como a laje do fundo, o fundamento, mas profundidade de um ab-ismo inesgotável e insondável. Enthüllung quer dizer descobrir, desvelar. Só que esse movimento de fazer ou deixar aparecer conota nuance subtil de ao deixar vir à luz, no mesmo movimento de desvelar faz aparecer o movimento de retrair-se para o fundo, de ocultamento. É o aprofundamento que ao velar o abismo insondável e inesgotável no retraimento para dentro do seu ocultamento o faz presente no seu pudor.

  • De uma região do ente, respectivamente do Ser:

Região em alemão se diz Gebiet. Indica uma região, um reino, um setor. Mas na palavra (gebieten) conota algo como uma área aberta disposta e generosa em se ofertar, aberta sim, mas não escancarada, e ao mesmo tempo finita, concreta, perfeita na consumação, uma paisagem, um mundo. Essa abertura do mundo na sua finitude, em si cada vez concluída, conclusa, fechada, conjunta como paisagem é o ente, o em sendo, o prenhe de ser, o ser, não simplesmente como isso ou aquilo, mas como paisagem da doação e recepção do abismo da possibilidade inesgotável de ser.

  • por causa do próprio aprofundamento-desvelante ele mesmo:

Se, ciência é o aprofundamento-desvelante  do mundo na disposição da oferta generosa, a causa ou a coisa do aprofundo-desvelante que é o mundo na disposição da oferta generosa não é outra coisa ou outra causa do que o próprio aprofundamento-desvelante ele mesmo.

  • Cada região-objeto:

O que assim aparece como mundo é o fenômeno. É comum, representar o aparecer como movimento de algo que estava escondido, atrás ou dentro de uma outra coisa, dela sair e vir para frente ou para fora.

O aparecer do fenômeno, no entanto, não diz respeito ao relacionamento entre duas coisas: entre a fachada e o que se oculta atrás dela. Refere-se antes à auto-apresentação ou auto-presentação ou à intensificação de uma presença. Nesse sentido é algo como luzir, incandescer. É tomar corpo, crescer no sentido da expressão cresça e apareça. É, pois surgir, crescer e se consumar, vindo a si, tornando-se presença. Assim, quando aqui ao falar do aprofundamento-desvelante do mundo na disposição da oferta generosa, usa a palavra Gebiet (região, paisagem, mundo) essa oferta generosa, a densificação dessa auto-presentação se dá como concreção, na qual eclode o movimento do estender-se e abir-se de paisagem do ente como que vindo de encontro a, que em alemão se diz: Gegenstand ou Gegen (gegnet, dagegen, begegnis etc.) e que numa mira defasada captamos como isto ou aquilo isolado e seu conjunto e denominamos com o termo objeto.

  • Essa região-objeto descrito acima no seu modo de ser e denominado de auto-presentação ou mundo ou paisagem do ente é na sua dinâmica um conascimento, surgir, crescer e consumar-se de todo um mundo de elementos e momentos constitutivos do seu tornar-se: é conhecimento. Conhecimento como conascimento, i. é, como a estruturação do aprofundamento-desvelante do mundo, portanto, como estruturação da ciência, abre-se em leque de realizações, seguindo o toque da possibilidade de ser e de sua causa, conforme o esplender da face desvelada do sentido do ser, criando cada vez a maneira toda própria da possibilidade do seu desvelamento, da sua mostração, do assentamento fundante e da pregnância conceitual de tal formação do conhecimento.
  • Esse desvelar-se do sentido do ser como mundo e os fios condutores da estruturação do mundo em configurações da paisagem do ser se esboçam a partir e dentro da imensão, profundidade e vitalidade da possibilidade de ser já aberta na impostação precientífica do ente no seu todo.
  • A ciência como aprofundamento-desvelante da estruturação do mundo acontece em duas orientações, uma voltada para o desvelamento do ser em sendo, e a outra insistente nesse movimento do desvelamento para dentro do abismo de retrimento do sentido do ser, como possibilidade insondável e inesgotável de ser. A primeira direção se chama positiva, ôntica, entificante, a segunda, negativa, ontológica, nadificante.

A idéia da ciência como uma possibilidade do Dasein?

 Entendamos aqui a palavra idéia não como representação, figura mental, conceito, mas sim como o incandescer, o tinir da potência do ser ciência, como aprofundamento-desvelante, cujo vir a si é o fenômeno mundo. Ciência como possibilidade do Dasein significa que a ciência assim entendida como acima foi insinuada, se torna necessidade livre, se torna o lance do projeto-homem, se torna o destinar-se, a facticidade do homem, em suma, se torna o Da sein; portanto, ciência é existência. Tentemos nos colocar dentro desse aspecto da existencialidade da ciência, recorrendo ã palavra a-létheia. E interpretemos:

  • o a como momento desvelante;
  • létheia ou léthe como momento velante;
  • e o hiato (-) como Da  do Dasein.

Aplicando tudo isso no processo da ex-sistência científica temos:

  • O a equivale à positividade ou entidade das ciências ônticas;
  • Létheia ou léthe equivale à negatividade ou nadidade da ciência ontológica;
  • E o hiato (-) equivale à possibilidade do Da-sein.

Se afirmamos com Heidegger agora dentro dessa colocação esquemática insinuada pela palavra a-létheia que a Teologia é uma ciência positiva e como tal e por isso absolutamente diferente da Filosofia, podemos assumir nessa afirmação variantes de interpretação não muito rigorosa da diferença e dizer:

  • Filosofia e Teologia são duas mundividências diferentes, tendo como objeto o mesmo tema, a saber, vida humana e mundo, mas tendo pontos de vista diferentes da sua impostação, uma a da Razão, a outra da Fé. Aqui é possível a síntese, dando-se prioridade a uma das mundividências..
  • Teologia é uma ciência positiva. As ciências positivas, cada qual, são ciências particulares, específicas que tem por fundamento comum uma ciência geral, fundamental que é a Filosofia. Filosofia é propedêutica, pressuposição geral e comum para a Teologia, dão conceitos fundamentais que podem ser subsumidos e ser usados na Teologia. Philosophia ancilla theologiae. Seu variante moderno: Filosofia funciona como correção e limpeza dos filosofemas usados pela teologia, que pode operar na equivocação de que eles podem ser usados como colaboração racional da natureza à graça.
  • A afirmação de Heidegger, porém, nos pede maior precisão na determinação da diferença. A absoluta diferença vem da diferença entre a identidade da ciência positiva ou ôntica e a identidade da ciência ontológica ou filosófica.
  • A teologia como ciência positiva pertence no esquema de cima ao momento desvelamento: ao
  • Filosofia como ciência ontológica pertence ao momento velamento: a létheia ou léthe.
  • Ambas, porém, podem se referir ao Dasein como sua possibiidade que se refere ao momento hífen (-) no esquema acima.

Se permanecermos na nossa reflexão somente nesse nível de compreensão, deixamos escapar uma outra diferença que caracteriza a diferença absoluta entre Filosofia e Teologia. É que a Teologia é uma ciência positiva, mas o seu positum é tal que o diferencia de todos outros posita de outras ciências positivas atuais e possíveis. E isso de tal modo que modifica a própria compreensão do que seja positivo, ôntico e ciência. E juntamente com essa diferença absoluta como diferenciar a identidade da Filosofia enquanto ciência ontológica, não mais no sentido de ele funcionar como ciência fundamental e geral de todas as ciências ônticas ou positivas, mas absolutamente diferentes no sentido mais radical? É que quando dizemos fundamento, o fundamento sobre o qual se constrói o edifício, sempre é ainda parte do edifício a ser levantado, e se assenta na terra. Ao passo que se cavarmos na direção de fundo, em vez de termos uma base ou fundamento, começamos a nos adentrar o abismo sem fundo, insondável.

Tentemos examinar essa colocação de cima com mais precisão e detalhe:

  • Se é absolutamente diferente, devemos evitar de entender a direção da tendência da Filosofia como ciência ontológica que se dirige ao abismo, como se esse abismo ali estivesse a modo de fundamento ou fundo, mesmo que seja abismo, sem fundo. Devemos também, por conseguinte, evitar que entendamos o desvelamento, o a da alétheia, as ciências positivas como explicitação, elaboração mais detalhada, melhorada, mais distinta do caos e indeterminação de fundo do ontológico, geral e informe.
  • De tudo isso que acima dissemos, no entanto, filosofia e teologia, enquanto ciência, a saber, o aprofundamento-desvelante de uma região, cada vez finita em si, do ente, respectivamente, do Ser, por causa do próprio aprofundamento-desvelante ele mesmo e ciência enquanto uma possibilidade do Dasein não são mais, no sentido usual, meio instrumento, cultura, informação sobre, estudo, ensino, aprendizagem, mas sim concretamente caminho, destino, hisória, a própria existência.

Mas então como se deve entender tudo isso? O que segue é, certamente, insatisfatório, mal formulado e mal dito e pensado. Mas se apesar de tudo for de alguma forma viável, pediria ajuda para que ele se torne um pouco mais claro. É o seguinte:

  • Os três momentos elementares na colocação de Heidegger, a) ciência como o aprofundamento-desvelante de uma região, cada vez finita em si, do ente, respectivamente, do Ser, por causa do próprio aprofundamento-desvelante ele mesmo; b) o mundo, o que aparece como tema da ciência, de modo diferente para ciência ôntica ou positiva e ciência ontológica, ente e Ser; c) ciência como possibilidade do Dasein; pertencem mutuamente, formando uma totalidade chamada ciência enquanto possibilidade do Dasein.
  • Os três momentos elementares na transposição dos elementos da colocação de Heidegger aos momentos constitutivos da palavra grega a-létheia, a saber, a) o a como a totalidade do ente desvelado como mundo; b) létheia ou lhéte como Ser, enquanto ocultamento, enquanto como abismo insondável e inesgotável da possibilidade de ser; c) o hiato (-) como Dasein, e sua possibilidade; pertencem mutuamente, formando uma totalidade chamada verdade, no nosso caso, ciência enquanto possibilidade do Dasein.
  • A dificuldade de entendermos essas duas colocações num sentido mais próxima ao de Heidegger está no fato de, no fundo, estarmos entendendo ente, mundo, Ser como referidos ao objeto e ciência e possibilidade do Dasein como referido ao sujeito. E isso, entendendo tanto o objeto como o sujeito enquanto esta coisa, aquela coisa, esta substância, aquela substância, em diferentes níveis de abstração ou concreção da compreensão da substância. E dentro dessa perspectiva entendemos, queiramos ou não, o Ser, seja como e o que for, também como esta coisa, aquela coisa, esta substância, aquela substância, em diferentes níveis de abstração ou concreção da compreensão da substância. P. ex. Deus, abismo, espaço aberto, conceito geral do ser, pontos de referência, reais ou lógicos etc.
  • Se, porém, esquecermos essa posição estreita da esquematização sujeito-objeto

e olharmos de modo imediato e simples a nós mesmos e ao nosso redor, temos a imensidão, profundidade e a dinâmica criativa inesgotável da possibilidade abissal de ser, ora desvelante, ora velante, portanto, o universo do ente em mil e mil diferentes modalidades e nuances de ser, inclusive a mim mesmo como momento constitutivo desse todo universo. Consideremos e denominemos essa universalidade grandiosa e generosa de ser com a expressão Positividade absoluta de ser. E incluamos como pertencente a essa positividade o abismo insondável e inesgotável, o absoluto sem fundo do retraimento da possibilidade de ser, o Nada absoluto e consideremos toda essa positividade e tudo que a ela pertence, o ente no seu todo, inclusive o nada, como ôntico, cujo aprofundamento-develante é a tarefa da ciência positiva, ôntica. O que resta então para ciência ontológica, para a Filosofia como tarefa? Nada a não ser o instante atônito e perplexo de aperceber, de receber, de deixar ser essa imensidão, profundidade e vigência da absoluta soltura da dinâmica da sua liberdade. Quem é, o que é esse que recebe, deixa ser, esse nada a não ser o instante atônito e perplexo de aperceber, de receber? O próprio universo na positividade absoluta de doação de si em sendo, o ente no seu todo, a entidade do ente enquanto absoluta gratuidade de sua doação, a qual o poeta e pensador  Angelus Silesius cantou no verso Rosa é sem porque, floresce por florescer. Isto significa que Tudo e Nada, Ser e não ser, o ôntico e o ontológico é o mesmo, coincide. Chamemos essa coincidentia oppositorum de aprofundamento-desvelante do ente no Ser e do Ser no ente de o Positum da ciência positiva Teologia: nominadamente, Cristo, o Crucificado, Deus e Homem.

O problema da relação entre Filosofia e Teologia, relação entre duas ciências absolutamente diferentes, não é a questão da possibilidade impossível e a impossibilidade possível do Dasein, cujo Da, cuja aberta é grilhão, o espinho na carne da nossa agraciada finitude que entoa a cada instante, cheia de gratidão: Pouco saber, mas muita jovialidade, é dada aos mortais?

Mas então, o que é a Fé, o que é a Razão, Tudo e Nada como verso e reverso de

uma e mesma página chamada História de uma alma?


[1] Cfr. Novalis
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