(Anotações fenomenológicas)
O que segue são anotações de pensamentos avulsos ao redor do tema feminino e masculino, proposto pelo encontro. Como o tema é muito vasto, tentei delimitar o âmbito do tema. E encontrei uma grande dificuldade em fazê-lo. Pois sob os adjetivos feminino e masculino se entrecruzam vários pontos de vistas cujos horizontes, por sua vez, não se encontram tematizados. No entanto, o próprio encontro parece dar uma dica para essa delimitação, pois os pontos de vista, sob cuja perspectiva se tenta mirar o tema são mencionados no circular enviado por frei Marcos, a saber: psicologia, filosofia e espiritualidade. Só que esses três “pontos de vista”, por sua vez, se nos apresentam, ao menos de imediato, também como entroncamentos de vários pontos de vista das interpretações assumidas acerca da psicologia, filosofia e espiritualidade. Na perplexidade diante dessa dificuldade tomei a liberdade de determinar de antemão como tratar o assunto. Assim, o como da abordagem do tema aqui é filosófico. E entendo Filosofia como Ontologia. E Otologia como Fenomenologia. Só que há tantas fenomenologias quantos há autores e escolas de fenomenologia. Por isso, determinamos a seguir, de modo sucinto e a grosso modo, o suficiente para o nosso uso nesse encontro, o que se entende aqui por método fenomenológico. Método fenomenológico não significa um instrumento de aquisição do saber, no qual se descreve um objeto de vários ângulos de vista para se ter uma captação na medida do possível integral do objeto. Por método entendemos simplesmente um processo no qual se vai, se caminha seguindo fios condutores que estão implícitos no horizonte, a partir e dentro do qual um objeto nos vem ao encontro. Dito de outro modo, sonda as pressuposições de um objeto dado. Esse modo de ir para dentro da pressuposição do que ali está como dado, se chama in-tuir, i. é, intus ire, ir para dentro de. É o que se expressa pelo slogan busca do sentido do ser do ente, ou ir de volta à coisa ela mesma. Assim, nessa exposição, não vamos dizer positivamente o que é feminino e masculino, mas tentar dizer como sondar o horizonte, a partir e dentro do qual algo como feminino e masculino se torna possível. Intuir significa também ver imediato. A imediatez do ver não se refere ao objeto, ao quê.. Diz respeito ao horizonte, a partir e dentro do qual o objeto me é dado, i. é, ao como. Horizonte não se pode ver como objeto. Horizonte só é como evidência ou transparência ou afinação do perceber. Esse caminhar e o seu encaminhamento, o método, busca intuir como a aberta, como a transparência para gênese, recolhimento e acabamento, o ente no seu ser. Por isso é ontologia. O ente, i.é, o vir á luz, à automanifestação do ente nele e dele mesmo se chama em grego phainómenon, por isso uma tal ontologia é fenomenologia.
Só que intuir assim de modo preciso e concreto exige muita habilidade e competência, o que eu não tenho de modo algum. Por isso, o que segue são apenas anotações e tentativas de colocar alguns pensamentos fugidios nesse sentido, para começarmos todos juntos a examinar o tema feminino e masculino.
- Usualmente se distinguem os adjetivos feminino e masculino do fêmea e macho. Correspondentemente se distingue o genital do sexual. Genital indica o membro físico-corporal de reprodução animal do ser humano e sua “ambiência”; sexual, não indica membro físico-corporal, mas sim um horizonte do ser humano que se chama de vários modos como p. ex., anímica, psicológica, sensorial, sensível, erótico, sensual ou o que pertence à alma, no sentido da ordenação do ser do pensamento medieval. Pergunta-se: o sexual diz respeito, de alguma forma, também à dimensão chamada espiritual? Os medievais perguntariam pois: os espíritos (os anjos) tem sexo? Se o tem, de que sexo é?
- Genital: acima dissemos que genital indica o membro físico-corporal de reprodução animal do ser humano e sua “ambiência”. Indica pois um objeto. Mas ao mesmo tempo em que indica um objeto bem determinado, indica esse objeto dentro e a partir do horizonte denominado biológico. Como horizonte genital não é objeto, mas sim um ocular, como tal não é visível, mas faz visível, toda uma paisagem da possibilidade de ser. Horizonte como o ocular ou a aberta de uma paisagem da possibilidade de ser considerado no vir à fala na sua plenitude concreta se chama dimensão.
- Na fenomenologia o que significa feminino e masculino depende de como o “algo” chamado “feminino” ou “masculino” se torna visível no seu ser. Tentemos ilustrar o que foi dito de modo muito abstrato e desengonçado com duas anedotas budista de mesmo teor.
- Anedotas
1ª anedota: Dois monges budistas estavam à caminho na busca da iluminação. Um deles era mais idoso, outro bem novo. Depois de muito andar, chegaram a um rio, onde era necessário arregaçar as vestes quase até a cintura, para passar a vau. Uma moça viajante, muito bela, em quimono, estava em apuros, pois o encarregado de transportar as pessoas para a outra margem do rio, não viera trabalhar. O monge mais idoso se aproximou da jovem, disse-lhe “Com licença” e a carregou nos braços, atravessou o rio e a colocou na outra margem. E sem dizer nada prosseguiu o caminho com o seu companheiro mais jovem. Este, a caminhar atrás do outro monge mais idoso murmurava: “Onde se viu, à caminho da iluminação, abraçar uma moça, ele que deveria ser sóbrio e casto, já maduro na sua experiência da busca e realização?” Ao ouvir atrás de si a murmuração, disse o monge idoso: “A caminho da iluminação, há alguém que ainda está abraçado a uma bela e atraente jovem mulher”.
2ª anedota: Era uma vez velha viúva rica, budista, leiga, muito piedosa, fervorosa na busca da iluminação. Desejava ter tido um filho monge, mas nenhum dos filhos seguiu o caminho da perfeita iluminação. Decidiu adotar um monge. Construiu um pequeno eremitério, num lugar silencioso e retirado, cercado de uma belíssima paisagem, longe dos burburinhos mundanos. Foi ao mosteiro mais próximo e ofereceu ao abade o eremitério, e lhe prometeu cuidar do sustento e do bem-estar do monge que quisesse doar-se full time à meditação, de tal modo que pudesse concentrar inteiramente todas as suas forças apenas para alcançar a iluminação. E recebeu do abade um monge, de grande dedicação à contemplação, que meditava sem cessar, dia e noite, sem nenhum apego às coisas mundanas, sem nenhuma distração. A velha viúva estava satisfeita. Mas depois de um ano, quis ver o progresso do seu monge de adoção. Chamou uma empregada, belíssima e ansiosa, a encontrar um marido e lhe deu a seguinte tarefa: “Minha filha, o monge que mora naquele eremitério, seria um bom partido para ti. Ele é bom, belo, cheio de saúde, é um homem sério e reto. Vai seduzi-lo, usa de todos os teus recursos femininos para que ele se apaixone por ti. Se o conseguires, ele que é meu monge adotado, é teu”. A moça que já há muito tempo sentia uma grande atração e admiração pelo jovem monge, usou de todos os recursos para atraí-lo a si. Depois de uma semana de tentativa, achegou-se à velha mulher, em prantos, e sem nada dizer mostrou-se um pequeno bilhete, escrito pelo monge. Ali estava uma haikai, uma pequena poesia, escrita em belíssimas letras chinesas, mais ou menos de seguinte teor: Sou uma grande rocha, firme, impávida e fria, a pedra de iluminação. O que quer esse raquítico cipozinho a se enroscar em mim, com seus fiapos de tentáculos, carentes e sem consistência?”. Ao ler essa poesia, a velha se encolerizou, e disse numa voz surda, baixinha mas cheia de determinação: “Alimentei por um ano um charlatão preguiçoso, travestido de um monge!” Incendiou o eremitério, e expulsou o monge a golpe de caçarola”.
- Por que essas duas anedotas que na realidade nada dizem do feminino e do masculino? Mas trata do modo de ser de dois homens a respeito de uma jovem mulher em apuros e de duas mulheres a respeito de um monge “exemplar” na busca da iluminação. O nosso interesse aqui, a seguir, parece ter abandonado o tema feminino e masculino, para se desviar num blá-blá que tenta ilustrar de que se trata, quando falamos de dimensão. Em que sentido um tal desvio pode, se é que pode, contribuir para o tema feminino e masculino, vai ou não aparecer no fim. A seguir alguns pensamentos a modo de um comentário das duas anedotas.
- Comentário:
Da 1ª anedota: O monge mais velho carregou uma moça muito bonita em apuros para transportá-la à outra margem do rio. Essa meta parece tê-lo deixado indiferente para todos os outros aspectos que não os desse fim, dessa meta ou, diríamos hoje melhor, desse objetivo. Ele, como velho, deve ter sentido o peso dela; como varão deve ter sentido o contato corpo a corpo com a carne jovem da mulher; deve ter percebido afeto de alívio, de um certo constrangimento, mistura de receio, pudor e ao mesmo tempo de segurança vindo da moça, e ao mesmo tempo do sentimento de afeição, cuidado que vem dele como homem de mais idade, diante de uma pessoa frágil viva, bela e indefesa como criança; e quem sabe, ao mesmo tempo, até mesmo algo como um ímpeto de fazê-la sua como mulher. Mas todas essas afetações ou afeições, se é que elas tenham vindo à tona, não tomavam conta do monge mais idoso como motivo, como móvel principal da sua ação, mas estavam todas elas como que subsumidas sob a dominância da meta de ajudar a uma pessoa em apuros. Por isso, enquanto estava transportando a moça, o monge estava abraçado à jovem, e isso em vários sentidos, mas logo que alcançou a meta, não mais estava grudado nela. Ou até nunca estava grudado nela, a não ser somente como a serviço da função da meta. Aqui perguntemos e deixemos a pergunta aberta: mas tudo isso não aconteceu aos monges à caminho da iluminação? A iluminação não era pois a meta final? E transportar a moça para a outra margem do rio não é uma das etapas para alcançar a meta final? É por isso que o monge mais novo murmurava: “Onde se viu, a caminho da iluminação…”. O monge mais novo não abraçou fisicamente a moça, talvez nem sequer tenha sentido tudo quanto acima foi possivelmente atribuído ao monge mais velho. Pelo contrário, estava estranhando, para não dizer, decepcionado, escandalizado ou indignado com o comportamento do mais velho.
Deixemos por enquanto suspensos os nossos comentários dessas duas anedotas, apenas destacando do que dissemos que é a meta, o objetivo que determina o que devemos entender quando dizemos que isto é, aquilo é etc.
A meta, o objetivo para que algo é feito, dito, pensado ou sentido se chama intenção. Assim, no caso do abraço do monge do 1ª anedota ele significa diversas coisas, conforme a intenção do monge.
- O modo de ser da intenção se chama intencionalidade. Intencionalidade é um conceito-chave da fenomenologia. O fundador da fenomenologia Edmund Husserl, no que diz respeito à ideia da intencionalidade, foi inspirado no texto do seu professor Franz Brentano no seu livro, intitulado Psicologia sob o ponto de vista empírico, na p. 115. Diz ali Brentano: “Todo o fenômeno psíquico contém algo como objeto em si, embora não cada um de igual modo. Na representação algo é representado, no juízo algo é reconhecido ou rejeitado, no amor, amado, no ódio, odiado, na cobiça, cobiçado”. Uma afirmação banal em que, se não a captarmos com precisão, nada encontramos de novo, nada que denotasse uma descoberta importante, a não ser o óbvio de uma constatação, conhecido por todos, a saber que todos os nossos atos tendem a um objeto e recebem o ser e o significado que há neles do objeto. Em que consiste, porém, o pivô da questão? Esse pivô aparece na ambiguidade do termo objeto. Se entendo por objeto esta ou aquela coisa que está ali em si, diante ou ao redor de mim, tenho apenas o modo de compreender usual da intencionalidade. Se entendo objeto como meta, que por sua vez tem sua meta, que tem sua meta etc., então começo a entender intencionalidade como Franz Brentano nos apresenta. Dito com outras palavras, objeto não indica coisa, indica um momento de processo de desvelamento de toda uma paisagem que se chama mundo. Isto significa que a assim chamada coisa diante de mim ou ao redor de mim é uma abstração fixada de multifários mundos na sua mundidade e o que chamamos realidade, o Ser é inesgotável e insondável possibilidade de ser cada vez no e como mundo. Com outras palavras, o que no texto de Brentano aparece como fenômeno psíquico, cada qual com a contenção do seu objeto, é um modo ainda um tanto defasado na linguagem do esquema S – O de dizer o ser-no-mundo.
- As expressões “ser-no-mundo” e “Da-sein ou Existência ou Pré-sença” dizem o mesmo, a saber, essência do Homem: a aberta do sentido do ser. Horizonte é um termo ainda um tanto abstrato para dizer a dimensão que vem à luz como nascer, crescer e consumar-se do e no ser-no-mundo. O que denominamos aspectos ou pontos de vista indica no fundo o modo ainda bastante abstrato e fixo do ser-no-mundo.
- O tema feminino e masculino abordado fenomenologicamente pode ser, a “grosso modo”, considerado sob aspecto do:
a). Horizonte material
b). Horizonte sensorial
c). Horizonte afetivo-sensível
d). Horizonte sensual
e). Horizonte do amor-de amizade
f). Horizonte do amor esponsal
g). Horizonte do Celibato religioso.
- h) Horizonte da matéria como físico-matemático.
- Usualmente, a modo antigo, a) pertence à matéria; b) e c) à carne ou ao corpo; d) à alma; e), f) e g) ao espírito, h) ao saber denominado ciências naturais. Sem poder dizer o que seja feminino e masculino, vejamos esses aspectos agora com maior precisão como ser-no-mundo, para ver que implicância tudo isso nos pode trazer para as nossas discussões do tema. Para vermos de que se trata, quando falamos a seguir dos horizontes, tenhamos em mente o exemplo ilustrativo da anedota 1, um monge (masculino) abraçando uma jovem mulher em apuros (feminino).
10 a) b) c) d): todos esses horizontes tem em si a maneira diversificada, o modo de ser do ser-no-mundo que tem o característico não próprio da existência enquanto o modo de ser do simplesmente dado (coisa: nesse sentido coisa, coisa viva, coisa psíquica, coisa espiritual etc.)
a). Horizonte material: uma coisa pesada que vai mudando de aspecto dentro da medida do peso: leve, aos poucos mais pesada; fofa ao carregar, mas escorregadia ou difícil de pegar, ou dura, cantuda, mais fácil de pegar, mas causa dor nos braços etc. Aqui o feminino não aparece como feminino; e o monge enquanto carrega o peso, não aparece enquanto masculino. Um guindaste carregando um bloco de coisa. A moça aparece aqui, vem de encontro ao monge dentro da abertura de um fardo, carga. Analisar o mundo do peso, entendido como carregar fardo no mundo cotidiano, i. é, o homem na aberta do ser-no-mundo cotidiano familiar que se chama pré-pedicativo ou pré-científico. Examinar a extensão e a qualidade, ou melhor, a mundidade desse horizonte. Observar como aqui não ocorre nenhuma tentação sensual, nem sexual, nem paixão de amor etc. (Discutir e distinguir). Imaginar carregador (a) de corpos defuntos.
10 b) Horizonte sensorial: a moça é fofa (“fofa” entre aspas não pertence a esse horizonte!), mole, dura, murcha, cheia, pesada-pra-burro, leve como pena, pesada-desengonçada, fina, grossa, seca, molhada, cheirosa, fedorenta, quente, fria. Observar extensão e a qualidade, ou melhor, a mundidade desse horizonte. Observar como aqui enquanto sensorial, nem o monge, nem a moça aparece como masculino ou feminino. (Discutir e distinguir). Imaginar massagista. Como seria médico(a) ou enfermeiro(a), quando tem como atitude profissional não se envolver subjetivamente com os doentes? Aqui não poderia existir um variante mais refinado na área do paladar, olfato, audição, tacto, e visão enquanto captação sensorial onde começa a entrar um horizonte de sensibilidade, mas permanece no nível sensorial, de tal maneira que aqui o feminino e o masculino não aparecem enquanto tais. (Estética e anti-estética do sexo p. ex.: na homossexualidade refubada, chique ou elementar e brutal, cf. os SS do nazismo, ou expressão “comer” para a união sexual). Examinar a extensão e a qualidade do horizonte e sua mundidade. Equívoco: no homossexualismo ou lesbianismo não aparece sexo, portanto nem o feminino nem o masculino. É mais um fenômeno da incapacidade da dimensão sexo, por ter confundido o horizonte sensorial com sensual e sexual.
10 c): Horizonte afetivo-sensível: perguntar se esse horizonte não é variante de refinamento do 10b. Distinguir o horizonte estético do horizonte da dimensão arte. Área do erotismo, p. ex. na antiga China e no Japão: a obra prima da literatura medieval japonesa: da poetisa Murassaki, Genji-monogatari (contos do clã Genji). Um pensamento jogado, a ser examinado melhor: o Celibato Religioso está num horizonte bem diferente, mas as pessoas que se fascinam com a estética do refinamento do 10 c) veem a mística e o “espiritual” a modo “assexuado”, i. é, espiritualista. Mas sobre isso mais tarde.
10 d). Horizonte sensual: aqui nesse horizonte entra qualidade toda própria que parece dizer respeito ao sexo de alguma forma. É aqui que começa uma tonância (Stimmung), cujo modo de envolvimento, fascínio de alguma forma indica a direção para o modo de ser do sexo no horizonte amor esponsal (f) e no horizonte do Celibato religioso, (g!) num sentido todo próprio a ser explicitado mais tarde, onde o não sexo está subsumido pela dimensão amor que no horizonte amor esponsal tem característico do sexo no amor matrimonial. Só que aqui, nesse horizonte sensual, a tonância desse horizonte está carregada de uma ambiguidade, onde o dominante próprio do Horizonte amor esponsal e do amor Celibato religioso, aparece como que abafado sob a tonância do sensorial do modo ainda bem elementar.
10 e) f) g): Esses três horizontes, que agora chamaremos de preferência de dimensão, se caracterizam por uma tonância que determina o próprio do ser-no-mundo, enquanto existência, cujos dominantes se chamam liberdade e história.
e). Dimensão do amor-de amizade:
f). Dimensão do amor esponsal
g). Dimensão do Celibato religioso.
Aqui, tentar conversar e dar exemplos para destacar da melhor maneira possível como é a existencialidade da existência e ilustrar a mundidade toda própria do existencial.
Mostrar a diferença de densidade da mundidade nos casos dos horizontes a) b) c) d) e das dimensões e) f) g).
Mostrar como os horizontes a) b) c) d) em seu modo de ser se aproximam das classificações e padrões. Aqui o modo de ser é mais da generalização. Sendo assim, se torna possível considerar todos os outros horizontes também como objetos do seu próprio horizonte. Resultado: totalidades generalizantes. Dificuldade ou impossibilidade de compreender a diferença dimensional.
11: Na existência não há nenhum momento que possa ser considerado por si mesmo como se fosse algo em si, portanto, jamais como objeto, ou momento ou componente do objeto. Aqui desaparece toda e qualquer possibilidade de classificação e generalização. Aqui todo o ser-no-mundo é o próprio perfazer-se do destinar-se da pré-sença, i. é, história no sentido da história da alma, enquanto a realidade do encontro Eu-Tu. Aqui todos os horizontes que antes foram apresentados como sendo horizonte a modo de ser do simplesmente dado se transformam na concreção da “história de uma alma”. Todos os traços do ser no frescor e na nitidez da vivacidade originária no uno: pessoa. Aqui o que se dá nem sequer pode ser caracterizado como horizonte, dimensão, mas sim como evento: união do amor. Esse modo de ser todo próprio que acima se denominou de modo bastante inadequado e bossal como evento: união de amor é o que está como que insinuado qual um vislumbre fugidio no que chamamos de: amizade, esponsal e celibato. O fascínio do sexo no feminino e no masculino é um aceno para essa profundidade abissal da essência do ser-humano. Na mística medieval, chamou-se essa existencialidade de Minne. Dos assim chamados Minnelieder, canções de amor dos trovadores que nos vem a ideia do romance e da romântica.