I
A formulação o que é isto? expressa uma pergunta essencial. Pois “o que é” pergunta pelo ser, pela essência, disso que está diante de mim como isto. E isto, aqui, recebe o nome de a coisa ela mesma. E isso quiçá na fenomenologia. Temos assim desde o início três palavras, a saber: essência, coisa ela mesma e fenomenologia, concatenadas dentro de uma estruturação, expressa num juízo em forma de pergunta: O que é isto? Embora, como estudantes de Filosofia, tenhamos ouvido muito e saibamos bastante acerca da essência, coisa, o mesmo e também de algum modo acerca da fenomenologia, se nos colocamos sob o aperto da pergunta pela essência disso ou daquilo, descobrimos que essas palavras essência, coisa, o mesmo e fenomenologia permanecem indeterminadas como tais e nos saltam aos olhos como isto, como esta coisa, aquela coisa, aqui agora, visível, palpável, diante de mim. E com esse destaque do isto, num modo de ser que no nosso modo usual sabe à realidade concreta, escorregamos para dentro da expectativa de uma resposta que está também formulada: isto é isto e aquilo. E de imediato e na maioria dos casos a nossa mente rastreia a resposta que já aprendemos como informação: essência é isto que faz com que algo seja o que ele é; é isto que constitui o núcleo imutável da coisa; coisa ela mesma é isto que sub-jaz debaixo das aparências mutáveis como o núcleo permanente dessa coisa que ali se apresenta assim e assim; fenomenologia é isto que na história da Filosofia é indicado como uma corrente, uma escola de pensamento contemporâneo, cujo fundador se chama Edmund Husserl etc. etc. Assim, uma vez dentro da obviedade da pergunta e resposta, onde isto é o tom dominante, fica-se perplexo, sem entender que tipo de pergunta é essa, a pergunta essencial, pois o que há mais a perguntar para além disso e aquilo que está ali presente como essa coisa individual e concreta.
Essa dificuldade de entender o que busca a pergunta essencial é uma experiência comum, quando começamos a estudar filosofia. Torna-se pois necessário despertarmos para a pergunta essencial, antes de iniciarmos a nossa reflexão. E com isso, tentemos examinar com mais detalhes a própria pergunta: O que é isto, a coisa ela mesma, na fenomenologia?
II
Usualmente, quando perguntamos o que é isto, apontamos para uma coisa bem visível e concreta diante de nós e queremos saber o que é essa coisa. O que estamos perguntando, buscando, quando dizemos o que é?