Ó Glorioso Deus Altíssimo, iluminai as trevas do meu coração, concedei-me uma fé verdadeira, um esperança firme, um amor perfeito. Dai-me Senhor, o reto sentir e conhecer, a fim de que possa cumprir o sagrado encargo que na verdade acabais de dar-me. Amém.
Altíssimo: altaneiro e imenso, acima de tudo, cobrindo todas as coisas com a grandeza benigna, sereno como o céu, na dominância aconchegante da imensidão bondosa que faz surgir e deixa ser todas as coisas em casa. (Dominância, domínio, dominar é grandeza bondosa do Dominus – Senhor. Mas Dominus contém a palavra Domum, que significa casa. O altíssimo Senhor é a Grandeza e Imensidão alta, espaçosa e livre como o céu, é a Serenidade bondosa do Pai da casa que deixa todas estas à vontade em casa).
Glorioso: o brilho translúcido e altaneiro da Imensidão do céu que enche o universo, tudo aclarando na sua diafania. Treva: à luz da Diafania do Altíssimo Glorioso Deus todas as nossas realidades são trevas, pois a partir de nós mesmos, a partir de nossas medidas, mesmo os mais nobres, altas, profundas, vastos e originárias, somos opacos, fechados e cegos para com a Grandeza transparente da Realidade de Deus.
Coração: o mais precioso, o mais profundo, o mais íntimo, o núcleo, o âmago do nosso ser.
Meu coração: Tornado próprio de mim, meu, isto é, apropriado, conquistado, trabalhado e tornado meu depois de muita labuta, cuidado, empenho e esforço. Isto é: com todo o meu ser, colocando todas as minhas potencialidades, as mais nobres, as mais preciosas e ricas me dispus todo o meu ser até ao âmago de mim mesmo para Ti, ó Senhor, mas todo esse meu ser apropriado para Ti é treva, cegueira, fechamento diante da Tua imensidão e transparência bondosa. Para que eu possa, pois, receber a imensidão da tua Diafania, para ser iluminado por Ti necessito da disposição que vem de Ti, para poder ser atingido por Ti. Por isso, dá-me fé reta, esperança certa e caridade perfeita, senso e conhecimento.
Dá-me: abertura de absoluta positividade ativa para receber. Fé reta: atitude de pura positividade discipular em abraçar sem titubear com um salto; tudo que vem é do Senhor, assumido de antemão cordial e disposto todas as consequências que um tal salto nos traz.
Reta: disposto, num lance firme, sem timidez ou indecisão, franco, aberto, sincero, de pé. Esperança: atitude de antecipar na disposição cordial o acolher e captar. Certa: é o que está acertado, adequado, afinado. Perfeita: perfazida, amadurecida e consumada através de muito trabalho lutas e provações.
Senso: habilidade de acertar e captar a verdade na medida certa, com precisão e sensibilidade, o faro. Conhecimento: conascimento, saber que vem da identificação com a pessoa amada. Que eu faça: é um desejo e um pedido a Deus para que eu faça. Se sou eu que devo fazer, porque ainda peço que Deus faça eu fazer? Mas sou eu que devo fazer e não Deus fazer me fazer?! É um modo de dizer de uma pessoa que faz tudo que está a seu alcance, de si mesma, com toda iniciativa e responsabilidade, mas tem plena consciência de que é um servo inútil e indigno, quando se trata do serviço ao Senhor.
Santo: referido a Deus, todo próprio, sancionado por Deus, todo especial de Deus. Veraz: qualidade de quem não engana, é fiel e confiável, verdadeiro está atrás da sua palavra. Mandato: não gostamos da palavra mando, comando, porque escutamos nesta palavra o autoritarismo militar. Na realidade o comando, o mando é um mandato, um mandamento, isto é, uma convocação cheia de força e verdade, que se nos impõe não pela violência ou dominação mas pela grandeza e dignidade e nobreza de quem pede. Amém: o sine absoluto, irreversível de oferecer o que pôs a mão no arado e não mais olha par atrás.
De como rezar uma tal oração antiga, que vem da tradição da nossa tribo (!) franciscana: imaginar que está entoando, tocando num universo imenso, fazendo coro na sinfonia universal da comunhão dos Santos. Só que isso não é imaginação, e sim realidade essencial. Pois o essencial não é visível a nossos olhos materialistas. Esse tipo de oração nós a rezamos com todo o sentir íntimo e pessoal de Encontro (ó meu Senhor), mas esse íntimo e pessoal jamais é privativo, particularista, individualista, pelo contrário é católico, isto é, comunidade universal no tempo e no espaço.