Enquanto cultiva a vontade própria, a gente não cresce, vá para onde Deus te chama e lute…
A pedagogia atual visa muito o cultivo do próprio eu, e não a correspondência à vontade de Deus.
Você pensa no seguimento? No dispor-se, no estar à disposição ou na realização do próprio eu?
Atrás do projeto de eu estar cá ou lá, onde coloco condições para ser religioso, está a vontade do próprio eu.
A intranquilidade vem do próprio eu, da vontade própria, não contente com a vida. É descontente, amargurado, porque não se dispõe para fazer algo maior.
Vontade própria = intranquilidade – desajuste vêm do registro falso = vontade própria. Enquanto acredito muito na efetividade da vontade própria, estou agitado, exacerbado, então não flui contentamento.
Isso tudo pode se manifestar brigando ou quieto. O eu livre não é desligar-se, anestesiar-se.
Não deixe a vontade própria comandar, deixa-a de lado, aí começa a entrar uma força maior, que nos inspira, força que nos dá intuições boas.
O fariseu tem um eu diferente do publicano, o publicano está quieto no fundo da Igreja fazendo o que pode.
O publicano lança-se na busca de Deus, sem incensar o eu.
Lança-te de corpo e alma no Senhor. Quero corresponder ao Senhor. Ser límpido, lança cada vez mais sua vida na correspondência a Deus. Tua vontade Senhor é a inspiração de minha vida.
Como funciona o mecanismo do eu? Como se forja o conteúdo do eu?
Eu é história de vida, a concreção da vida se integra numa história própria.
No plano de Deus a história é um encontro, onde Deus pode ter acesso, ressonância em nossa vida.
Não insufla o eu, pois Deus vai se retraindo. É preciso trabalhar num esvaziamento.
Não trabalhe o eu superficial, vá num nível mais profundo, não cuide do eu da exterioridade, vaidade, poder.
Busque colocar o eu em confronto com Deus na limpidez interior, você percebe que nada é, você é patrocinado pela força maior. Ela subassume a natureza humana.
Se fizeres sempre tua vontade própria ninguém te aguenta, e nem você mesmo se aguenta.
Se você pensa que para se realizar precisa disto, daquilo, eremitério, Japão etc… você é o obstáculo! E pode estar sempre se relacionando de modo errado.
Olhe a coisa de frente! Não pelo avesso. Posso estar em qualquer lugar, aí é chance para o confronto com Deus. Qualquer lugar é lugar de luta para fazer a vontade do Pai, Deus! Trabalhe em profundidade em qualquer lugar.
Querer trabalhar com alguém ou não querer, é o eu, a vontade própria que vem à tona.
Com as pessoas que Deus te colocou, trabalhe criativamente, limar-se para estar na prontidão para a vontade de Deus.
Mude de atitude de vida, senão tudo racha, não dá certo. Pode ser que o “eu” da gente esteja ensoberbecido. Ilusão que deve ser derrubada, para ter um eu mais empenhado, entre num relacionamento mais consonante, em harmonia.
Não fuja da coisa, és tu mesmo o obstáculo. Colocar-se numa maior profundidade. Deus está me querendo dizer algo com essa situação – aprender é atitude de pobreza.
Pode ser que você se relacione erroneamente. Se a pessoa se abre, transforma.
Deixe aquilo ao qual você está aferrado, deixe ser! Deixe a outra vir a ser ela. É o aspecto positivo ligado a renúncia.
Ex.: Deixar pai e mãe… deixar ser a afetividade para com o pai e a mãe, é que vem uma afetividade própria e profunda.
1º Deixa-te = deixa o teu eu, deixa-o ser numa outra grandeza. Como entender isso fenomenalmente? Tem que ter uma referência no que é a possibilidade de referência.
Não é desprezo da pessoa. Tudo o que fazemos está ligado ao eu. É preciso chegar ao eu original profundo e trabalhado.
* A Congregação desencadeia um eu comunitário, um projeto comum.
Deixar o eu… renunciar os apegos, dogmatismos… ser obediente, atento, escutar, farejar, estar acordado para esse mundo significativo, então deixar ser. Então o deixar ser não acontece sem esse eu empenhado, responsabilização.
A nossa renúncia está na escuta de algo muito maior. Rever as representações vai aos poucos ganhando essa sua identidade.
A própria doença tem significado religioso, pode clarear a postura da vida.
Se a pessoa ensimesmar, deixa do projeto chamado seguimento de Jesus Cristo. Quem experimenta o seguimento mais denso, se vai para amizades fúteis, é estreito. Ligar-se a esse projeto comum.
Está perdido, e quanto mais anda, mais se perde… se perde… como trabalhar para sair dessa? Como que a consciência tem que começar a trabalhar para sair? Limpar os parabrisas. Como? Isso para andar por caminhos mais certos.
Muitos religiosos estão enrolados no eu. Como perceber? Como examinar?
É seguimento duro, ser generoso, derrubar o ensimesmamento. Quanto mais cedo vencer o eu, melhor; mais tarde na velhice aparece numa maneira terrível. Fazer muitos exercícios de vencer-se a si mesmo. O egoísmo na velhice aparece pior do que quando novo. Poucos chegam a uma realização boa.
Fazer renúncia positiva, para levantar o nível, ler um bom texto. Nossos pais todos os dias renunciavam. É preciso trabalho, luta, ir em frente, exercitar-me.
Nós estamos na época da subjetividade humana, isso vai crescendo, crescendo até estourar, será que sobra alguém?
Trabalhe-se para uma prontidão mais vigorosa, não deixe exceção para a vontade própria, o capricho.
Vida religiosa é o canteiro, onde as pessoas treinam a fim de superar esse ensimesmamento. A verdade de Jesus Cristo está vindo à fala. Viva a vida buscando a verdade. Quer fazer, comece, aos 50 anos, não é tarde!
O que fazes faça-o bem, lute com todo o ser, não deixe entrar a preguiça, mas seja pobre, disponível.
Lute corpo a corpo, no que é seguir Jesus Cristo, não se preserve; se renunciou a si mesmo, passa para essa prontidão de articular tudo em vista do seguimento a Jesus Cristo.
Apossar-se egoisticamente é morbidez enganosa. Ser pobre, despojado, isto é seguimento a Jesus Cristo. Deus enche, dá honra, vem dessa disposição com total prontidão, não deixando nada de fora do seguimento a Jesus Cristo. Essa pobreza nos atinge em tudo, no diálogo fraterno, enfim em tudo, para experimentar o seguimento com maior concretude, renunciar a tudo e ser disponibilidade total a Jesus Cristo.
No fundo, fazemos um só voto, que é uma vida de obediência em todas as circunstâncias, numa leitura de fé.
Fazer a vontade de Deus a toda hora, instante, sem saber o que vem… Vontade de Deus é a questão mais séria de sua vida (no fundo é um só voto).
É próprio da liberdade, com todas as suas consequências, cada vez mais coerente, decidido. Cada vez mais consciente.
Lê com seriedade o mais fundamental, bem centrado no juramento livre, até que a força de Cristo vá morar em nós, assentar em mim. Se levo a sério, após vários anos Jesus Cristo, essa nova força, vai tomando conta de mim.
Ser fiel no pouco, dá tudo no que pode, ter vigor de lance, que está presente e lhe dá a mesma dignidade de um grande projeto. Cada vez luta de novo.
Vontade da mente. Vigia sobre ti mesmo. Se for bem entendido. É renúncia cada vez mais total, seguir mais a Jesus Cristo. Vigia a tua mente, vontade. Vem empenhado, com mente disponível para buscar.
Mente e vontade como funciona? Inteligência, vontade e sentimentos. Que compreensão eles têm de vontade? É questão mais decidida. A mente deve ser empenhada, límpida, na busca da verdade.
Pobre na vontade = só a vontade de Deus é o alimento do verdadeiro pobre.
(Retomando a reflexão anterior)
Qual a vantagem de aprender de um filósofo como Mestre Eckhart e de outras filosofias? É mais frutuoso e alimenta mais.
Toda a obra realizada na obediência tem grande significado, no sentido de estar no seguimento a Jesus Cristo, em cada obra que fazemos, estar nesta correspondência.
Isso só teremos, se tivermos um grande sentimento de profunda reverência e pertença a Deus. Exercitar em nós uma afeição a Deus, por termos sido criados por Ele e responder com afeto e reverência à vontade de Deus. Ter esse registro de afeição reverente à vontade de Deus, é nível de encontro. Isso só podemos entender bem, numa atitude de pobre.
Afeição, ser afetado, tocado. Não fomos nós que inventamos (a Vocação). Afeição a Deus é uma resposta a afeição que Deus tem conosco, é correspondência, resposta nossa, livremente temos que nos guardar nessa afeição. Essa afeição se não for bem forjada endurece. Afeição para Deus, livre, não mais presos ao nosso eu, libertar-se desse amarramento.
A medida que nos desapegamos da força do eu, Deus vai tomando conta, Deus opera em nós.
Ter abertura, sensibilidade para o mistério. O eu provoca rebeldia, fica-se anestesiado, endurecido. Dificulta até nas virtudes naturais do dia a dia.