b
Glossário comentado[1]
1.Wirken, Werk, Wirklichkeit[2]
[Wirken: causar, atuar, efetuar, efetivar, realizar, operar[3], agir, fazer, fazer ação, fazer uma obra, pôr em obra; Der Werk: a obra; die Wirklichkeit: a realidade, a atuação do realizar-se].
O verbo wirken significa de preferência operar no sentido de fazer obra, produzir[4], agir, a partir e dentro da existência artesanal.[5]. Também os seus variantes atuar, realizar, agir e fazer conotam o modo de ser do trabalho e do perfazer-se na criatividade da existência artesanal. Existência aqui é entendida como a aberta, a partir e dentro da qual o medieval realiza o sentido do ser da realidade, do ser do ente na sua totalidade[6]. Isto significa que as palavras fundamentais do mundo medieval como p. ex. ser, coisa, substância, causa, matéria-forma; causa-final, causa eficiente, de imediato ressoam na sonoridade do sentido do ser, próprio da experiência do fazer e perfazer-se do fundo, artesanal-artística, herdado da ontologia substancialista, ainda de alguma forma permanente, dos gregos do início. Por isso, a relação Criador-criatura não pode ser simplesmente reduzida a Causa e efeito e Criação à Causação. Essa realização medieval artesanal-artística da realidade é, por sua vez, subsumida por uma pré-compressão do ser, proveniente da experiência religioso-cristã, na qual tudo que pode ser de alguma forma referido ao ente, inclusive o próprio nada é, apenas participação e comunicação do Ser, denominado Deus, no qual reside a plenitude do ser, de tal modo que fora Dele não há ser, nem atual, nem possível, e isso tão radicalmente que ser propriamente só é Deus. Se aqui ser é entendido de alguma forma como substância, mesmo no seu sentido ainda intacta dos gregos do início, se dá o panteísmo. Por isso o sentido do ser de Deus deve ser entendido, não a partir do sentido do ser de sejam quais forem entes, mas absoluta e exclusivamente a partir Dele mesmo. Por isso o ser de Deus é Abgeschiedenheit (Desprendimento).
A esse modo de ser que precisamente não é mais modo, mas simplesmente ser, ou ser como plenitude ab-soluta, a Tradição do Cristianismo chamou de Deus, quaod se ou vida interior ou vida íntima de Deus, formulada como Mistério da Santíssima Trindade. E os termos da compreensão dessa vida que é o próprio Deus ou o próprio seu, são o uno ou um e o três como pessoa (Pai-Filho-Espírito e na dinâmica da sua geração e processão ou filiação). O a priori dessa pré-compreensão do sentido do ser de Deus, ab-soluto, livre e solto em (in) e a partir de si (a se), portanto, do Desprendimento (Abgeschiedenheit) assume a pré-compreensão do sentido do ente no seu todo como o da existência artesanal-artística medieval, e faz com que a própria compreensão da Criação e das criaturas, não mais seja nem a da causação, nem a da criação artístico-artesanal, mas sim a da participação na dinâmica da geração da vida interna de Deus, denominada na teologia medieval Mistério da Santíssima Trindade. A causação e a Criação são no fundo a dinâmica da filiação divina. Todos os entes referidos à dinâmica da causação e da Criação participam na dinâmica da filiação divina da intimidade da vida interna de Deus na ternura e no vigor da sua Abgeschiedenheit. Se evitarmos rigorosamente de entender pessoa, geração ou filiação e tudo que diz respeito à vida íntima de Deus, portanto à Abgeschiedenheit a partir e dentro de compreensão que não venha a não ser dela mesma, e se tentarmos entender todos outras compreensões do ser, a partir da Abgeschiedenheit, então o fantasma do panteísmo se esvai. E aparece a sonoridade de fundo, a partir e dentro do qual devemos ouvir a toada universal da presença operativa, i. é, do wirken, do Werk e da Wirklicheit da bondade difusiva do Pai-Filho-Espírito em todos os entes, desde os mais sublimes até aos mais insignificantes, como imenso, profundo e originário abismo do encontro no Amor que nos amou e gerou primeiro. Essa atuação, denominada criação e considerada a partir e dentro do sentido do ser da existência artesanal-artística tem o correlativo agente dessa ação que se denomina Deus Criador. Essa consideração, cuja perspectiva não leva em conta a subsunção e transformação desse ser da existência artesanal-artística pelo sentido do ser da Filiação, denomina uma tal ação de atuação ad extra de Deus, e aqui Deus é considerado quoad nos. Como o sentido do ser operante em uma tal Criação e correspondentemente em seu agente, a saber no Criador e no seu efeito Criatura é o sentido do ser do ente simplesmente dado como “coisa”, todo o cuidado a ser tomado é para que a aproximação e o contato Deus-Criatura não nos leve a um panteísmo. No momento em que se leva em conta que com a subsunção e transformação desse sentido do ser da existência artesanal-artística através do sentido do ser da Filiação, tudo muda, de tal forma que aqui a possibilidade de um panteísmo só surgiria se não se guardar com precisão o sentido do ser operante nessa nova concepção de Deus – Abgeschiedenheit e na dinâmica da Filiação que de lá eflui. Na leitura dos sermões de Eckhart é necessário guardar a precisão da ambiguidade, onipresente nos seus textos, proveniente dessa subsunção “ontológica” realizada pelo ser ou sentido do ser da Abgeschiedenheit do ser ou sentido do ser da Criação e causação.
1.1. Kunst, können [Kunst: Arte, (em latim ars, -tis, na acepção do artesanal); können: poder, saber poder]
O adjetivo artesanal diz respeito à habilidade ou o hábito de uma classe de trabalhadores denominados artesãos, na confecção de um artefato. Essa habilidade, no entanto, não se referia, primordialmente só à produção do objeto arte-fato. Pois, o artefato aqui não era propriamente um objeto fabricado, mas sim uma obra, em cuja elaboração, a própria humanidade, i.é, o ser do homem, do artesão se perfazia, vinha a se tornar cada vez mais ser. A obra não era outra coisa do que o vir à luz, o vir à uma determinada consumação desse perfazer-se do próprio ser humano do artesão. A habilidade do artesão em latim se diz ars, –tis. Trata-se, pois, da competência de um agir todo próprio, cujo modo de ser se caracteriza como um saber que está por dentro de e capta a dinâmica da possibilidade de ser, do poder ser. Esse saber no alemão é kunst. Kunst vem do verbo können que significa saber poder. Na ars, na Kunst não se trata da potência de uma força natural, mas sim de uma possibilidade da concreção humana na habilitação do seu ser, conquistada a duras penas, a partir de um dom natural, e tornada uma sua segunda natureza, denominada virtude[7]. A tal saber poder se chega através do empenho de busca, no uso da inteligência e vontade, i.é, no exercício da liberdade, em contínuo e bem orientado exercício de aprendizagem. É dom de uma conquista, pois, o surgir, crescer e consumar-se na realização desse perfazer-se não é causado simplesmente pelo arbítrio de quem busca, mas salta da total disponibilidade de dar de si o melhor para acolher a possibilidade finita, bem determinada concedida gratuitamente de antemão à pessoa, em busca, e de seguir a condução que lhe vem de encontro, do fundo dessa própria possibilidade. É desse encontro do empenho de total doação de si e do dom da possibilidade gratuita que salta a possibilidade de ser inteiramente nova como obra de uma criação. Salta como dom de uma busca a inteiramente nova possibilidade como obra do perfazer-se de si, como obra da perfeição.
1.2 Existência artesanal
O agir a modo da ars, -tis, próprio do artesão, no seu agir e criar obras, era no entanto, manifestação do que constituía o modo de ser e se interpretar do homem medieval, na realização da sua humanidade, como gênese, crescimento e constituição de um mundo, sob o toque de uma determinada possibilidade de ser. Tal abertura da possibilidade de ser, se chama existência. Assim, o artesanal no medieval, não é apenas um atributo e qualificação de uma pessoa ou de grupo de pessoa, mas sim o modo de ser próprio, característico do ser medieval.
- Abgeschiedenheit, abgeschieden [Abgeschiedenheit: desprendimento, retraimento, aseidade; abgeschieden: desprendido, livre solto, à vontade no próprio seu].
Ab-geschieden-heit vem do verbo abscheiden. Este é composto de ab que significa de ( ab, em latim; ἀπό, em grego), afastando-se de; e scheiden, separar, cujo particípio passivo é geschieden, separado de. Daí: Ab-geschieden + heit. E -heit é um sufíxo para indicar a formalidade abstrato-essencial. Abschied é também despedida, i. é, deixar ser a remissão de cada coisa na unicidade da sua identidade. A tradução portuguesa de Abgeschiedenheit ficou desprendimento, acentuando a conotação de não estar preso a nada, a não ser a si mesmo; livre e solto, na ab-soluta identidade diferencial de si, a partir e em si, portanto na aseidade e inseidade da plena satisfação e fruição de si mesmo. Essa mesmidade se chama para Eckhart Deus, uno e trino. Deus é ele mesmo, separado de tudo quanto não é ele mesmo. Uma separação de tudo quanto não é si mesmo, a in-sistência na ab-soluta identidade para dentro do abismo da solidão de si mesmo é a separação, cuja despedida (Abschied) remete a Deus, à unicidade decisiva de si mesmo, livre da contração a si, como diferença do e contra outro. É unicidade solta, à vontade como identidade como tudo, na união com outro, na intimidade abissal de identificação com todos os entes no encontro. Essa unicidade da liberdade, fonte donde salta o ser com e o ser do e para outro recebe no pensamento do cristianismo medieval o nome de pessoa, e perfaz o núcleo da dinâmica do mistério da Santíssima Trindade, um Deus em três pessoas, Pai Filho e Espírito Santo. A dinâmica do relacionamento Pai-Filho-Espírito Santo como absoluta soltura da liberdade do mesmo, como Abgeschiedenheit se chama geração e processão ou geração, da qual surge o relacionamento de Deus com os seres humanos como o da geração ou melhor filiação divina, de tal sorte que a criatura-homem é filho de Deus no Filho Unigênito do Pai, no Espírito Santo. E então através do homem, tudo que é e não é, tudo que pode ser, tudo quanto possa surgir dentro de um determinado possível sentido do ser, portanto a imensidão, profundidade e vitalidade criativa do abismo da possibilidade de ser se torna também partícipe da filiação divina, de tal sorte que Criação e o seu Universo no seu ser repercute em mil e mil modulações e variações o tonus e a tonância do sentido de ser da Filiação divina. Nesse sentido ser humano é abgeschieden, ele mesmo, na finitude, i. é, bem concreto e definido da sua singularidade única, ab-soluta e livre, pessoa como cada um, filho único e singular na intimidade do ser com e do ser para do Deus Uno e trino. E todos os entes do universo não-humano recebem o seu ser e o sentido do seu ser a partir e dentro da sonoridade da filiação divina, como partícipes da mesmidade dessa imensa sinfonia do encontro do amor de Deus. Essa visão de Deus, o único ser simpliciter, e a pregnância da sua presença como Universo-Criação no fluxo da dinâmica da Filiação divina, faz duplicar o conceito de Deus em: Deus e Deitas, Deus e Deidade, que na Tradição teológica medieval, recebeu a formulação: Deus, quoad nos e Deus, quoad se.
2.1 Desprendimento, renúncia, desapego
- Gottheit, Deitas [Gottheit: deitas (em latim), deidade]
Na consideração de Deus como Abgeschiedenheit, distinguimos Deus da Deidade. Portanto Divindade da Deidade. Divindade é a qualidade do ser Deus. Deidade é, porém, o ser de Deus, o próprio seu, digamos a sua “quinta essência”, ele, ele mesmo nele mesmo, na sua aseidade e inseidade, solto, despreendido de tudo que não é ele mesmo, pura e simplesmente, portanto Deus-Abgeschiedenheit.
Costumamos explicar essa duplicidade do conceito eckhartiano de Deus com o binômio: Deus quoad nos e quoad se, i. é, Deus referido a nós criaturas, e Deus, referido a si mesmo. Muitas vezes essa dupla referência é interpretada como o modo de conhecer de nós, criaturas, e o modo de conhecer de Deus, referidos a Deus ele mesmo. Nesse sentido a Deus quoad se nos é inacessível. Tudo que Dele podemos conhecer quoad nos, é o que Ele não é. Daí, Eckhart seria um dos grandes representantes da assim chamada teologia negativa. Outras vezes, a dupla referência é formulada como Deus virado para fora dele mesmo, na perspectiva do seu relacionar-se para com as suas obras ad extra; e Deus virado para dentro dele mesmo, na perspectiva do seu relacionar-se com a sua vida interior, com a sua intimidade ad intra. Tanto a primeira maneira de considerar a dupla referência como a segunda, no fundo, parece não fazer jus à “idéia” da Abgeschiedenheit. Pois ambas operam com a pré-ocupação da adequação com o objeto do conhecimento, cujo sentido do ser é a da coisalidade física e de sua adequação.Talvez o inter-esse de Eckhart não está primeira e acentuadamente nas questões da teoria do conhecimento de Deus, mas sim da experiência de identificação com o ser de Deus, i. é, da Abgeschiedenheit no mistério da Filiação divina. Trata-se portanto não propriamente de conhecimento de um objeto chamado Deus, mas sim do conascimento de Deus na alma e da alma em Deus, dito de outro modo, do toque de Deus na união de encontro Dele conosco, e assim da realidade do conascimento com o Filho unigênito do Pai, na participação da sua filiação. E isto de tal maneira que esse interesse não é propriamente o aspecto místico-moral-espiritual do ensinamento de Eckhart, místico e pastoralista, em diferenciação ao aspecto especulativo-teórico de Eckhart teólogo e filósofo, mas sim, a fonte e a plenitude dentro da qual ele se acha, portanto é a dimensão do seu ser, saber, querer, sentir enquanto realização da realidade chamada mundo da Revelação cristã. Isto significa que para entendermos bem, de que se trata quando se distingue Deus e Deidade, é necessário aprofundar a compreensão da Abgeschiedenheit enquanto a dinâmica do Mistério da Santíssima Trindade. Esse aprofundamento, porém, não pode ficar no nível de classificação da Revelação cristã como o ponto de vista subjetivo particular religioso, ascético-moral, ou místico-espiritualista ao lado de outros pontos de vista, mas levar em conta o ser, o sentido do ser, a essência da existência cristã, a partir e dentro da qual fala Eckhart, i. é, considerar o ser da Revelação cristã como o ontologicum da fala de Eckhart.
3.1 Deidade, a absoluta liberdade de a Plenitude ser
Para Eckhart, a essência do ser, desprendido, solto, na sua ab-soluta liberdade, é direta e imediatamente a Plenitude simplesmente. Esse é o sentido da expressão medieval: Deus, ipsum esse. E é o sentido da definição dada por próprio Deus a Moisés na sarça ardente: Sou quem sou. Trata-se da absoluta plenitude de ser, na vigência da total soltura da liberdade na inesgotável e insondável abismo da sua gratuidade, como que a tinir na superabundância da sua identidade difusiva. Por isso, se transborda como movimento da dinâmica interna, a partir e para dentro da sua, a mais abissal intimidade como vida trinitária. E então a partir dessa erupção trinitária, através do Filho que se encarna e é Jesus Cristo, se difunde como cuidado e disponibilidade da presença generosa da sua doação cordial, gerando e sustentando toda a Criação, na presença do seu amor. Por isso o Deus da Abgeschiedenheit jamais é um ente supremo na exclusividade da alteridade “absoluta”, isolado e ensimesmado na preciosidade da sua transcendência neutra, meta-sísica. Um deus assim, exclusivo e isolado um, seria apenas um ente gigantesco a modo do “ser-coisa”, jamais um Deus vivo. Na interpretação do Deus da Abgeschiedenheit de Eckhart, podem surgir duas modalidades que não fazem jus ao que nos dizem os sermões alemães de Eckhart acerca do Deus cristão.Uma é entender a Abgeschiedenheit como uma radical acentuação da alteridade de Deus, para evitar o panteísmo, de tal sorte que dessa radicalização pode se chegar por fim à conclusão de que de Deus nada podemos saber. Eckhart seria nesse caso um agnóstico! A outra é entender a Abgeschiedeneheit como a incondicional afirmação de que Deus é ab-soluto, solto, ele mesmo como o ente supremo e transcendente, na posse exclusiva do ser. Assim fora dele não há propriamente nenhum ser, a não ser nada, de tal sorte que se algo é, esse algo é prolongamento, é modalidade, é manifestação do próprio Deus. Eckhart seria nesse caso um panteísta. É de grande importância para uma compreensão mais própria dos sermões alemães de Eckhart, observar que essas duas tendências de interpretação operam a partir e dentro do horizonte de um sentido do ser, inteiramente inadequado para compreender a dimensão a partir e dentro da qual os sermões estão falando. Sem podermos entrar mais em detalhes nessa questão do sentido do ser, assinalemos apenas que as interpretações acima mencionadas e similares, entendem por ser entidade e entificação a partir e dentro do sentido do ser da coisalidade físico-material, quantitativo. A suspeita do panteísmo e do agnosticismo no fundo vem, não tanto do que Eckhart diz, mas sim do ser da coisalidade fisico-material, quantitativo projetado para dentro e sobre ser de uma fala, cuja tonância e ressonância é de origem e pertença inteiramente diferentes. O cuidado do pensamento medieval atuante na mística de alguém como Eckhart, que aparece de um lado como preocupação de distanciar Deus das criaturas e ao mesmo tempo por outro lado, de impregnar as criaturas com a presença real de Deus não era o receio do panteísmo nem preocupações “epistemológicas” da teoria de conhecimento acerca de Deus, mas sim de abordar com finura e fidelidade Deus e as criaturas a partir e dentro do sentido do ser, cuja dominância e sonoridade fundamental é da Minne.
Deus de Eckhart, cuja deidade se chama vida trinitária é Vida no seu sentido o mais pleno, e é denominado por Eckhart de Minne[8]. Portanto, para Eckhart ser é plenitude da vida e Vida plena é Minne.
3.2 Minne
[Caridade, amor, ágape]
Minne é termo usado no alemão medieval de Eckhart para Liebe, i. é, amor. Seguindo a grande Tradição cristã, Eckhart define a essência., o âmago visceral de Deus, a deidade, como amor (Jo ). A palavra Minne possui parentesco bem antigo com grego μένος, sentido, μιμνέσκειν, recordar-se, com latim memini, lembrar-se, mens, mente, monere, admoestar. A raiz indogermânica men que está em todas essas palavras significa pensar. Desenvolve para “liebendes Gedenken” Minne trinken, e de início erbarmende, helfende Liebe, depois direito, freiwillige Leistung, gütlicher Vergleich, na mística Liebe zu Gott, Eckhart Gottesminne – Brautmystik; usualmente na IM Liebe zum anderen Geschlecht; na cultura cavaleresca do século XII/XIII, entwickelt sich ein höfische Auffassung der Liebe, die die geliebte Frau zum Idealbild erhebt und inder die Minne höchster Antrieb für den Ritter wird. Para conseguir o amor da amada, Minnelieder, und Heldentat. Canção de gesta. Um ideal de vida e social: Minnedienst, hohe Minne, mas também niedere Minne.
Ágape refeição em comum, o espírito de comunhão, ἅγαπε ἔρως φιλία, amor, charitas et dilectio, não amor-desejo, egocênatrico. Mas sio amor-generosidade. Aqui, a grande dificuldade é de permanecer com precisão na compreensão da Minne, do amor, como na do sentido do que o medieval chamou de ato puro, e isso justamente no sentido do ser do ato puro como Minne. A dificuldade, pois, é de ater-se limpidamente na evidência de que Minne não é isto ou aquilo, não é nem ato de uma faculdade chamada vontade, intelecto ou sentimento, mas sim ser, tout court, como tal, simplesmente, em vigor, cuja plena vigência dá, mantém e consuma o sentido do ser de todo e qualquer ente, possível e atual. Com outras palavras Minne é a presença de pura e límpida atuação da livre doação de si, como condição da possibilidade de ente ser. Minne é, pois, o ontologicum do ente na sua totalidade. O que significa, porém, mais em detalhes: Minne é como ato puro, como a plenitude de ser, o ontologicum do ente na sua totalidade? A presença da pura e límpida doação total da Minne no todo, na totalidade do ente, do que é e pode ser, atua como imensidão, como profundidade, e como origineariedade. Como imensidão Minne abraça e assume todos os entes, desde os supremos até aos ínfimos, não deixando de fora nenhum ente, nem sequer o próprio nada. É a largueza da generosidade. Como profundidade, atravessa e impregna de cima a baixo todas as dimensões e ordenações do ente, de tal sorte que desce do céu até ao inferno, subsume, suporta, faz seus todos os altos e todos os abismos, todas as positividades e todas as negatividades do ente, penetra nos seus mais obscuros e ocultos recantos da maldade, para ali buscar por mínimos que sejam vestígios de igualdade com o seu ser-Minne, nos fundos de mais variegados níveis da intensidade de ser. Como originariedade, Minne é como que o in-stante do ponto de salto de todo o ente, i. é, de cada ente, cada vez na novidade da primeira e última chance da possibilidade da acolhida do ser, se oferecendo sempre nova e de novo, como fonte, livre e solta na gratuidade da geração do ente, fazendo-o sua cria, seu filho, como a refundação de si, sem mais nem menos, na igualdade de condição.
Tal sentido do ser, viva e livre, não pode mais ser percebido a partir e dentro do sentido do ser atuante no uso corrente das palavras como ser (ocorrência), energia, impulso, força, vigor, vida, vitalidade, ânimo, espírito, ou melhor, não pode ser nem dito, nem pensado nem percebido por nada que de algum modo atribuímos ao ente. Mas precisamente, para dizer que não pode ser dito, pensado e percebido pelo sentido do ser no qual estamos em uso, Eckhart emprega palavras como Minne, deitas, Abgeschiedenheit. Daí, ele é considerado como representante típico da assim chamada teologia negativa.
3.3: Teologia negativa, especulação mística
- (Das) Eins, (das) Eine, (das) Einige; gleich, gleichen, Gleichheit, Gleichnis [Das Ein(s): o um; das Eine: o uno; das Einige: o unitivo; gleich: igual, gleichen: igualar, die Gleichheit: igualdade; das Gleichnis: a equação ou a comparação].
Nos sermões alemães de Eckhart, os termos um, uno, unitivo, igual, igualar-se, a igualdade são usados freqüentes vezes, quando se fala da geração e processão e da filiação, dentro do mistério da Santíssima Trindade, portanto do “relacionamento” “entre” as pessoas intra-trinitárias, Pai, Filho e Espírito Santo; mas também quando se trata da união da alma com Deus. Em referência a esses termos, também aqui, devemos observar o que dissemos da Abgeschiedenheit, a saber, eles devem ser entendidos neles mesmos, não a partir e dentro da acepção do que usualmente entendemos por um, uno, igual, mas a partir e dentro do que se sucede na dinâmica da geração e processão das pessoas da Santíssima Trindade e, então a partir dali compreender o que usualmente entendemos por um, uno e igual.
Usualmente um ou indica o número 1 ou o demonstrativo indefinido. Uno diz o todo do conjunto de elementos, unificados sob um denominador comum; igual dizemos de duas ou mais coisas que coincidem, ora sob um determinado, ou todos os aspectos, exceto no seu existir ocorrente. Igualdade pode ser de atribuição de um determinado aspecto (este lápis é igualmente azul como aquele lápis) ou de proporção (2 + 2 = 4; 1/2 = 2/4; [2+3] = [10-5]). Aqui numa tal igualdade, uma coisa jamais se torna outra, jamais é a mesma; cada qual guarda a sua individualidade numérica como este um e aquele um. Nesse sentido, nessa acepção usual da igualdade de duas coisas ocorrentes como entes físicos, se representamos a Deus como uma entidade e as criaturas como outras entidades, jamais se dá a fusão de mesmidade Deus criaturas, de sorte que por mais que se queira fundir esses diferentes entes, disso nunca resultaria o panteísmo. Se aqui nesse modo de entender a igualdade, observarmos bem o sentido do ser ali operante, haveremos de perceber que ele se refere aos entes físicos materiais e diz respeito ao seu aspecto quantitativo. O aspecto do todo muda completamente, quando estamos diante de uma sentença como essa: “Eu e Pai somos um”, “todos unidos num único coração”; “Deus uno e trino”. Aqui Eu, Pai, todos, coração, Deus não são entes de coisalidade físico-quantitativa. São pessoas, cuja coisalidade (leia-se causalidade; causa é o âmago, o coração de uma causa) é a realidade denominada liberdade. Aqui nessa realidade, toda e qualquer realização requer mais, muito mais e qualitativamente mais do que a equiparação igualitária de “igualação” em aspectos ou em atributos ou em proporcionalidade. União, ser um, ser uno, portanto ser igual significa aqui ser total, inteiramente, absolutamente outro num “modo de ser todo próprio”, de intensidade e comprometimento radical que na falta de recurso de linguagem denominamos de identificação. Portanto, o igual no sentido usual, jamais é o mesmo; igualdade, jamais mesmidade, identidade; igualar-se, jamais identificar-se.
No entanto, se dissemos: “A criatura humana é igual a Deus”, nesse uso corrente do termo igual, ouvimos de imediato uma identificação total com Deus, de tal modo que aqui não mais existem dois entes, mas um único ente, se dá uma fusão de dois num só ente, como ente criatura e ente Deus fossem dois pedaços de ferro que se fundem num. Essa é a representação que opera no panteísmo. Nesse caso e em casos similares, o medo do panteísmo faz com que evitemos os termos igual e igualdade, para substituí-los por mesmo, e mesmidade, ou identidade. Com isso guardamos a diferença entre o ente Deus e o ente criatura, e conservamos o relacionamento de união entre dois entes. E, no entanto, não percebemos que aqui igual e igualdade, corresponde a uma relação do tipo entre um ente e outro cujo sentido do ser se refere a uma comparação entre uma coisa material física e outra coisa também material física, vista a partir de fora, por um observador que as enfoca sob um determinado aspecto comum de dois. E esse aspecto comum é sempre de algum modo quantitativo. Nesse nível da realidade, não há união, não á propriamente relacionamento, sim nem se quer relação entre uma “coisa” e “outra”, pois o que chamamos aqui de relação é produto da comparação do sujeito observador que se relaciona com objetos, no interesse de medição sob um determinado medida pré-moldada. Relacionar-se, unir-se, identificar-se, o contato, o toque, tornar-se outro, somente é possível a partir e dentro do sentido do ser da dimensão pessoa. O problema do uso dos termos igual, igualdade, igualar-se, que pode insinuar o panteísmo não está no fato de eles fundirem Deus e criatura numa só coisa e confundirem a diferença de Deus e a da criatura, mas sim de operar no sentido do ser que coloca tanto a Deus como a criatura como dois objetos entes, cujo modo de ser é o de coisa físico-material, de tal modo que aqui o sentido do ser operante, na qualificação e na intensidade da realização da realidade, está abaixo do exigido pela realidade como a que é tratada nos sermões e nos tratados de Eckhart.
Eckhart, em tudo que ele fala, diz a partir e dentro do sentido do ser próprio da dimensão pessoa, pois o seu inter-esse é dizer a dinâmica da presença do Deus no seu ser e na sua atuação na humanidade e através dela em todo o universo como é proposta pela cristidade no assim chamado mistério da Encarnação, onde não se trata de equiparação, de divinização, mas sim de geração, de filiação, na qual o homem, é realmente filho de Deus no Filho Unigênito do Pai, na identificação e união tão profunda, intensa e íntima que igualação a modo panteísta sabe à palha, insípida, neutra e coisal, diante da paixão de união e de identificação que se dá numa tal realidade do que, na falta de outra palavra, chamamos de encontro. Como Eckhart fala a partir e dentro da dimensão pessoa e do encontro, usa a palavra igual, igualar-se, igualdade, para indicar o ser um, o ser uno, na união identificadora do encontro, face à face, mano a mano, tu a tu, pois se se permanecer limpidamente na lógica dessa dimensão, o fantasma do panteísmo se esvai como ilusão de uma inadequada colocação do sentido do ser, alheia e deficiente para a realização da realidade Deus e ser-humano. Portanto, o sentido do ser da unidade, do um, do uno e do igual, do igualar-se e da igualdade deve ser rastreado, interrogando-se os entes, constituídos a partir e dentro da dimensão pessoa e do encontro, no seu ser, evitando-se ter como o interrogado, o ente, cujo sentido do ser é da coisalidade físico-material, alheia à vida e liberdade.
4.1 Ser Um, Uno e Trino, e a multiplicidade dos entes
A questão é do Um e do Múltiplo na sua unidade, mas sob uma impostação, na qual surge o problema de como o único ente que é ser propriamente (Deus), está presente em todos os entes, sem se imiscuir nem fundir-se com eles, guardando intacta o seu absoluto e infinito Desprendimento, portanto sem jamais diminuir na sua identidade, mas ao mesmo tempo sem liquidar a realidade dos entes, sem reduzi-los a pura ilusão da entificação mental, a ens rationis. Nessa questão encontramos nos sermões alemães de Eckhart um duplo aspecto. O relacionamento de Deus (Criador) para com suas criaturas e a referência do Um (a liberdade desprendida da Deidade na dinâmica Una e trina) ao conjunto Deus Criador e suas criaturas. Esse tema foi abordado sob diferentes aspetos também em outros verbetes. (….).
Embora exemplos manquem, podem-nos dar o tom, em cuja sonoridade podemos ouvir as colocações de Eckhart, acerca do duplo aspecto, a respeito da questão do uno e múltiplo no relacionamento Deus e Criação e suas implicâncias com a subsunção da Criação sob a dinâmica da Filiação. Tornemos presente o todo do esquema da ordenação do universo na concepção medieval, onde Deus está como que no ápice de esferas que constituem desde os entes criaturas os mais sublimes e próximos de Deus até os ínfimos, mais afastados de Deus. Imaginemos Deus como uma intensa e inesgotável fonte de luz que irradia luz em diferentes modalidades de cor. Essa luz na sua refractação colorida é como uma cascata de escalação das cores em mil e mil variantes, misturas, em cujo fluir, perde aos poucos a pura brancura da claridade inicial e na medida em que desce no nível da ordenação dos entes vai criando esferas e seus entes cada vez mais escuros, até se esvair na pura negrura da escuridão. Um pintor, ao configurar e colorir uma tal paisagem, usará a tinta branca para clarear e tinta preta para escurecer. Nessa perspectiva da coloração das tintas, quanto mais clara a tela , tanto mais tinta branca e quanto mais escura a tela, tanto mais tinta preta. O mais e o menos aqui se mede segundo o ser da quantidade. Temos portanto aqui dois elementos opostos, a tinta branca e a tinta preta. Numa extremidade a pura brancura, sem mistura e na outra, a pura negrura,, sem mistura. As diferentes variações na escalação da claridade e escuridão se dão pela proporcionalidade na quantidade de tinta branca e da preta na fusão de mistura dos dois elementos opostos. Se entendermos o ser como a cor branca, Deus seria a brancura pura da tinta branca e o nada a negrura pura da a tinta preta. E os níveis diferentes da intensidade de ser, – os espíritos puros ou anjos em diferentes degraus da intensidade de ser, o homem, o animal, o vegetal e as coisas inanimadas seriam diferentes variedades de cinzento, desde o mais branco, até o mais preto. E a assim chamada matéria prima, seria a negrura da pura tinta preta e Deus, a brancura da pura tinta branca. Considerar assim a Deus como o todo ser e as criaturas como níveis de intensidade da quantidade do ser até se chegar ao puro nada, a exemplo do nosso exemplo em questão leva ao dois princípios da realidade, o puro ser (a pura brancura da tinta branca) e o puro nada (a pura negrura da tinta preta) e diferentes modalidades da tinta cor de cinza. De uma tal colocação, só pode dar o Panteísmo e maniqueísmo.
Toda colocação da questão muda completamente se percebermos que claridade não é brancura, a cor ou tinta branca. E a escuridão, não é negrura, a cor ou tinta preta. Mas sim diferentes modos de a luz se tornar presente. Assim o ser de Deus é Presença, e o ser de todos outros entes que não são Deus, são diferentes modos da Presença de Deus. Só que o exemplo da claridade e escuridão, da tinta branca e preta aqui manca totalmente para entender com precisão o que se deve entender por Presença, em substituindo o termo ser, em se tratando do ser de Deus e o ser das criaturas como diferentes modos de Deus se tornar presente. É que na precisão no rigor da determinação cada vez própria do sentido do ser não poderia usar a palavra Presença, em se tratando de “realidades” da coisa físico material quantitativa. Nem na luz, nem na tinta, nem na brancura ou negrura, nem na claridade ou escuridão há presença ou ausência, nem toque, contacto, união, separação, pois todos essas realizações pertencem à realidade, cuja dimensão recebe o nome de relacionamento do mútuo perfazer-se no conhecer e querer, cujo ser nasce do que no pensamento medieval se denomina Conhecimento (leia-se conascimento) e amor inter-pessoal da vida íntima trinitária de Deus. Compreendidas primeira e primordialmente a partir e dentro dessa dimensão não quantitativo-material, mas sim humano-divino-inter-pessoal é que algo como luz e claridade, treva e escuridão pode servir de metáfora para realidade da realização do sentido do ser essencialmente diferente e mais diferenciado, trascendente ao do sentido do ser da coisalidade físico-material.
4.2 Ambiguidade da duplicidade na compreensão do ontologicum eckhartiano
- 2. Gleichnis, comparação, semelhança; Gleichheit, igualdade; Bild, forma, figura, exemplar, exemplo
De alguma forma ligado com o que foi exposto no glossário-comentário do n. 4 e n. 6 possamos talvez aqui, tentar entender em que sentido se pode falar de Deus e da sua Deidade, se ele é inteiramente desprendido, se é simplesmente a Abgeschiedenheit. Com outras palavras, em que sentido se pode falar em Eckhart de teologia negativa, e em que sentido ela o autoriza a falar com tamanha eloqüência da Abgeschiedenheit.
- Geburt [Geburt, nascimento, geração, filiação].
Nascimento, geração é diferente da causação, da efetivação, da produção e da criação de uma obra. Em Eckhart nascer, gerar se refere primeira e primariamente à geração e processão dentro da Santíssima Trindade, ao surgimento do Filho, do Pai no Espírito Santo e à união que se dá “entre Deus e alma” enquanto nascimento de Deus na alma e nascimento da alma em Deus, a modo de vigor e ternura da intimidade unitiva do Pai na geração e no nascimento do Filho no Espírito Santo. O ponto de contato da alma com Deus é o Filho, no qual, pelo qual e através do qual o homem é filho no Filho. E no homem, pelo homem e através do homem todos os entes criados e criáveis, portanto o universo inteiro, atual e possível, se torna também “filhos” de Deus.
A dinâmica da geração e processão. Pai e Filho no Espírito Santo não pode ser pensada como relacionamento de três substâncias, primeiro, existentes em si, para então se relacionarem entre si mutuamente. O que há ali nasciva e fontalmente é a ação do gerar e ser gerado, e tanto Pai como Filho como Espírito Santo são concreções ex-plicantes de como é essa ação. Essa ação é abgeschieden, i. é, desprendida de toda e qualquer mediação que não seja o mediar-se dela mesma, nela mesma, a partir e dentro dela mesma. É pois nesse sentido, solto, à vontade, livre, na pura dinâmica do seu ser. que devemos cada vez de novo ler as mútuas implicâncias do Pai no Filho e do Filho no Pai, no Espírito Santo, em recebendo e no receber, dando, a si no, pelo e através do outro como outro no outro, como o mesmo no outro, como que num movimento centripetal e centrifugal simultâneo de um espiral a partir e para dentro da profundidade abissal, em cujo ponto de fuga, qual no olho de furacão, vislumbramos por instante um abismo de unidade, de unicidade, única que recebe o nome de Um. A condução para dentro desse movimento, na dinâmica da turbilhão trino de ser com e ser em mutuamente na força unitiva e gerativa do Um não é especulação, um saber sobre uma realidade em si, mas sim a própria intensidade e vitalidade de participação do ser com e ser em do âmago de nós mesmos denominado alma na realização da realidade explicitada na cristidade como a vida íntima de amor gerativa chamado Pai e Filho no amor unitivo chamado Espírito Santo dentro do Mistério do Deus uno e trino. Esse movimento é como percussão de origem que repercute como cadências em diferentes níveis da intensidade de ser, criando diferentes ordenações da totalidade dos entes do uni-verso, em suas dimensões, mais ou menos na seguinte escalação da intensidade do ser: dimensão Deus, dimensão espírito ou anjo (em nove coros), dimensão homem, animal, vegetal, e dimensão substância material- inanimada. Em cada uma dessas dimensões, de modos diferenciados, cada vez conforme a intensidade de ser das dimensões se constituem milhares de entidades em variegadas modulações. Todas essas entidades são como que repetições de cintilação em diferentes níveis e intensidades do esplendor que salta de e em Deus, como deslanche e eclosão do ser, como que vindo do abismo do seu interior, o mais íntimo e oculto, naquela dinâmica de geração e processão trinitária, que por sua vez se perde para dentro da profundidade unitiva do Um, como foi acima insinuado. Isto significa que a percussão da assim chamada vida íntima do amor trinitária na força da geração, é repetida em milhões e milhões de variações, em cadências e toadas de ecos e repercussões, formando as entidades do universo na sua totalidade como Criação. É de grande importância para o pensamento medieval observar que o homem, ou melhor a alma como o núcleo do ser humano, no seu fundo o mais profundo, é o lugar do toque da percussão da vida íntima do amor trinitário, onde se dá o nascimento de Deus na alma e o nascimento da alma em Deus, gerada como filho no Filho Unigênito do Pai, Deus que se encarna como Jesus Cristo, Deus feito Homem. E através do Homem feito Deus, e todos os homens nele nascidos como filhos de Deus, todos os entes não humanos participam dessa filiação, de tal maneira que a deidade, o próprio de Deus na sua absoluta Abgeschiedenheit, na mais pura soltura da sua liberdade, se torna como que também o fundo abgeschieden, de todos os entes no seu núcleo, na jovialidade da liberdade dos filhos de Deus.
Essa onipresença da deidade como Abgeschiedenheit em todos os momentos da cadência, da escalação, da cascata das entificações constitutivas dos entes do universo, as hierarquias dos entes, as diferenças de superioridade e inferioridade, os degraus e as intensidades do ser, não são valorações diferenciais de dominação e poder, mas sim riquezas de prodigalidade e generosidade da doação e recepção da iniciada e sempre de novo retornada de-finição do encontro como concreção da filiação divina. O Um como o mistério do retraimento da Abgeschiedenheit, a deidade, assim se torna como que a condição da possibilidade de todas as coisas, sem jamais aparecer, sem jamais se mostrar, sempre oculto, retraído na humildade e pudor da sua doação incondicional e ilimitada. Esse ser, ou melhor sentido do se é o ontologicum do pensamento de fundo dos sermões de Eckhart.
- Allgemeine [allgemein: comum, geral, universal; gênero e espécie]
Allgemein se traduziu quase sempre por universal. Em Eckhart parece ser mais preciso entender o universal, não a partir do usual comum, geral, mas entender o usual comum e o geral como uni-versal (em latim: universalis, -e). Usualmente, aplicamos os termos comum e geral para indicar classificação, a mais abrangente extensionalmente, mas a mais abstrata ou vazia de conteúdo e concreção. Trata-se pois de uma classificação lógica generalizante dos indivíduos, dos particulares. No pensamento medieval, no seu modo mais originário, universal indica essência, portanto species (espécie) e genus (gênero). Como hoje usamos os termos espécie e gênero como classificação lógica generalizante, temos dificuldade de entender o universal medieval e também a species e o genus como intensidade do ser, portanto, como consumação optimal, como exelência do conteúdo e contenção no ser. A intensificação do e no ser chamamos de essencialização. O universal medieval como essencialização aparece, quando escutamos o termo species como graça e beleza que esplende na face de uma pessoa, como aspecto, e genus referido à geração, ao nascimento, à nascividade do surgir e assentar-se da vida. Trata-se da intensidade da presença, sui generis, na sua manifestação cada vez no frescor nasciva da gênese, coesa, sem fragmentação nem parcialização, mas como todo, cada vez uno, na plenitude do seu ser: como obra, que se se perfaz como universo. Nessa tendência, universal significa literalmente vertido, virado ao uno. Essa uni-versalidade não significa tanto centrado num ponto-algo chamado uno, mas sim o universal é ser presença cada vez voltada, virada, i. é, , em circulando ao redor de, em voltas com, a partir, dentro de e para o uno. O uno se diz em latim simplex (simples) e significa: uma dobra, ou melhor sem dobras, inteiriço, intacto, pura e inteiramente ele mesmo, nada de alheio a ele mesmo, i. é, solto e livremente ele mesmo em ab-soluto, portanto abgeschieden, desprendido. Se aqui entendermos o uno como o Um, segundo o que foi sugerido no n. 5 desse glossário, sob o verbete Geburt, nascimento, geração, filiação, podemos intuir que o problema dos universais no fundo do pensamento medieval, não se refere em primeiro lugar nem substancialmente aos temas da disciplina chamada Teoria do conhecimento, mas sim à questão ontológica da estruturação interna do ente na sua totalidade, vislumbrada a partir e dentro do que na interpretação do pensamento medieval, aparece em Eckhart como Desprendimento, i. é, Abgeschiedenheit da Deidade. Aqui quanto mais próximo, quanto mais às voltas com e na cercania do Um, tanto mais ser e quanto mais longe dele, tanto menos ser. O que significa pois aqui menos ser, se como foi sugerido no n. 5, o Um é onipresente em toda a parte, como percussão primeira do ser do ente, como condição da possibilidade do ente ser?
No universal falar de menos e mais não é adequado, pois conota quantidade da entificação da coisalidade-material físico-corporal. Na escalação da ordenação do pensamento medieval esse “nível” constitui a esfera de pouca intensidade universal. É nesse nível que se dá o uso do termo universal, na nossa acepção corrente, onde o binômio particular (ou individual) – geral (ou comum) opera no sentido do ser da classificação lógico-formal. Aqui indivíduo indica o elemento indiviso, numericamente 1, que serve como átomo, que entra na conjuntura de classificação segundo maior ou menor nível de quantificação. Se projetamos essa acepção da generalização como medida inicial e fundamental das ordenações do ser do mundo medieval, desfocamos e neutralizamos inteiramente a complexidade e riqueza dimensional das outras esferas ou ordens da escalação do sentido do ser do universo medieval, nominadamente dimensão-vida (mundo vegetal), dimensão-sensibilidade ou ânimo sensível (mundo animal), dimensão-humana (animal – ou “ânimo e ânima”, i. é, “alma”- racional) na escalação de pontencialização da intensidade do nível de ser, qualificado de humano – espiritual : portanto dos níveis ratio (razão), intellectus (intelecto ou inteligência), spiritus (espírito) e mens (mente), este último se adentrando para dentro da “dimensão” Deus; e dimensão-espíritos puros (anjos em diferentes níveis como coros de anjos). Essa escalação da intensidade de ser é como escada de Jacó. É um único movimento simultaneamente descendente e ascendente, no qual os anjos, mensageiros portadores da vida divina, descem e sobem, formando a dinâmica do encontro do Céu e da Terra. Deve ser entendida primeiramente como intensidade de ser, descendente. No movimento de descida dessa intensidade descendente, não se deve deixar conduzir pelo aspecto da diminuição da intensidade, mas sim pela jovialidade do derrame da doação pródiga de si, do ser pela excelência, do ser ab-solutamente simples, do único ser no qual o ser é todo o ser, plena e inteiramente. A descida, o movimento descendente significa pois primeiramente intensidade da alegria e do gosto de ser derramada numa cascata de difusão, constituindo de modo diferente, cada vez próprio as acima mencionadas dimensões de ser e seus níveis e seus entes, como comunicação da prodigalidade de doação de si, atuante no seio do ser de Deus, e que como fonte da possibilidade de ser, insondável e inesgotável, brota do abismo da vida íntima trinitária da sua deidade. Essa comunicação de Deus é ao mesmo tempo participação das dimensões constitutivas do universo, do ser de Deus, o ser único e propriamente ser, ascensão dos entes, cada vez na sua dimensionalidade própria, como alegria e gosto do retorno ao seu origem. Na dinâmica desse retorno, quanto mais o ente está às voltas na cercania da origem, tanto mais universal, simples, total na imensidão e profundidade como na nascividade, de ser, e quanto mais universal, tanto mais partícipe do ser-pessoa, à imagem e semelhança da plena liberdade de ser de Deus na união íntima com a vida inter-personal trinitária. Aqui, portanto, o ser-pessoa ou pessoal, não deve jamais ser entendido como que referido ao sujeito ou ao subjetivo, humano. Refere-se estritamente à realidade realíssima toda própria do sentido do ser, próprio da deidade do Deus uno e trino, denominada por Eckhart de Desprendimento, de Abgescieidenheit.
- Vernunft, Verstand, Intellekt, erkennen, Erkenntnis [Vernunft, Verstand, Intellekt: inteleto, razão, entendimento; erkennen: conhecer; Erkenntnis: o conhecimento]
No pensamento medieval, e principalmente em Eckhart é muito difícil manter-se com precisão nas nuances diferenciais das distinções que os termos acima mencionados, usados por eles conotam. Aqui sem entrar na precisão desses detalhes, a grosso modo, tentemos intuir através desses termos, em que perspectiva devemos nos colocar, ao lermos e ao ouvirmos esses termos no texto dos sermões alemães de Eckhart.
Intelecto, razão, entendimento, o conhecer e o conhecimento não se referem direta e primeiramente à faculdade do sujeito homem e seus atos correspondentes, dos quais é especialista a nossa atual Teoria de Conhecimento e seus variantes. Por isso, não devemos entender esses termos em Eckhart a partir do que comumente entendemos por esses termos no nosso uso cotidiano, mas antes entender a nossa compreensão usual do que seja intelecto e conhecimento, a partir e dentro do que conotam esses termos dentro da perspectiva do pensamento eckhartiano. Para que tudo isso de alguma forma se torne viável, é necessário primeiro explicar que aqui nesse glossário, quando usamos a expressão sentido do ser, não estamos querendo dizer significação do ser, conceito do ser, adequação do nosso saber ao objeto, representação dentro de nós, a saber, na nossa mente do objeto, diante, ao redor, fora de nós. O ser entendido como verbo, dinamicamente, sugere de imediato e originariamente viger, viver, animar-se, perfazer-se, surgir-crescer-consumar-se, liberar-se, desprender-se, despender-se, soltar-se nasciva, espontânea e livremente no que é o seu próprio. E isto apesar de no nosso cotidiano, domine o uso do verbo ser, na significação de estar ali como algo ocorrente diante de mim à mão, ali parado, estático, à disposição do uso, ou como objeto-bloco permanente em si, do qual tenho da minha parte subjetiva impressões, sensações, representações etc. A dinâmica da espontaneidade da liberdade do próprio de si mesmo, portanto, o ser é expressa também por a presença, o vir à fala, o vir à luz, o manifestar-se. Trata-se pois de um movimento, no qual há e do qual vem uma condução, um ductus, um fio condutor, qual subtil tração do sabor e gosto, da graça e beleza, portanto do fascínio da coisa ela mesma ou melhor da causa da propriedade de ser. Esse ductus que nos toca, vindo de e nos induzindo para a dinâmica do ser, se chama sentido do ser.
A essência do homem, no pensamento medieval é definida como animal racional (homo est animal rationale). Essa definição é tradução latina da determinação do ser do homem que nos gregos soava: τὸ ζόων λόγον ἔχον (vivente ou ânimo atinente a lógos, i. é, à colheita do sentido do ser). Essa acepção originariamente grega do ser do homem, como acolhida do ductus que o toca, vindo de e o induzindo para a dinâmica da manifestação do ser, silenciada na sua tradução latina animale rationale vem à fala, quando o medieval dentro da esfera da ordenação do ser que representa a dimensão humana, distingue e escalona o modo de ser da diferença específica do homem como ratio, intellectus, spiritus, e como que se adentrando para dentro do ser de Deus, mens. Nessa escalação, o “ser” primordial do ente enquanto criatura, definido como materia prima (ex nihilo sui et subiecti), a saber, como potentia obedientialis, quanto mais o homem se torna ele mesmo, na ascensão participativa do ser de Deus, pura, límpida e simplesmente recepção livre e grata da doação da Abgeschiedenheit, i. é, da soltura livre do Um da igualdade na Filiação divina. Essa ab-soluta receptibilidade, o ser puro nada do desprendimento na correspondência ao ab-soluto Desprendimento da pura doação da Deidade recebe nos sermões alemães de Eckhart o nome de Vernünftlichkeit, Vernunft, no qual está o verbo vernhemen que conota as significações de receber, aperceber, acolher, colher, captar. Receber em alemão se diz empfangen, mas empfangen, significa também conceber, e Empfängnis significa conceição ou concepção. E a palavra conceito tem a ver com concepção. Isto significa: tudo isso que pensamos ser uma “imagem”, uma representação, ou “idéia” reprodutiva do objeto real, dentro da “cabeça” do sujeito-homem, e nesse sentido também o conhecimento, e o conhecer como ato do homem, colocado como sujeito e agente da faculdade chamada razão, intelecto ou mente, se o intuirmos a partir e dentro da dinâmica da sua gênese, i. é, antes de se ter fixado e encaixado dentro do sentido do ser entificante da coisalidade físico-material, nos acenam para uma referência direta à essência, ou ao ser do homem, a partir e dentro do ontologicum “Filiação divina”, no qual, recebe a possibilidade de ser filho de Deus no Filho Unigênito do Pai, caracterizado na dinâmica da vida íntima trinitária como Intelecto.
7.1 Conhecer, viver, ser: ordo in abstracto e ordo in concreto
7.1.1: Ordo in abstracto
7.1.2: Ordo in concreto
7.2: exemplos
- Nichts [Nichts: nada, o não ser, a privação, a finitude]
Dizemos que nada é privação do ser. Como tal, nada nem sequer é oposto ao ser. Não há simplesmente. Talvez, ens rationis, ente lógico, se é que não é “fantasma da mente”. Se no pensamento medieval, Deus é o ser propriamente dito, todo o ser, o ser em plenitude, e assim, fora de Deus nada é ou é nada, pode haver no pensamento medieval algo que não seja Deus? Não ser Deus significa, portanto, não ser? E se atribuímos aos “algos” que não são Deus o “qualificativo” de ente ou ser, Deus não pode ser algo no sentido da entidade num tal modo. Assim, Deus não é ente, pois o ser de Deus tem sentido do ser totalmente diferente ao da entidade algo. Em Deus não sendo, i. é, não ente, podemos dizer que Deus é nada. Numa tal sequência de raciocínio que dá voltas a partir e dentro de um sentido do ser abstrato lógico, de imediato se percebe que nada assim empostado não faz jus à causa ela mesma da fala do nada, dentro do pensamento medieval. Para que aqui, de alguma forma, podermo-nos mover com maior aderência ao pensamento medieval, é necessário colocar a fala acerca do nada, na ambiência do início da Criação. Ali, se diz: Deus criou o universo, ex nihilo sui et subiecti (do nada de si e do substrato prejacente). Essa niilidade não se refere, portanto, ao ente prejacente “objetivo”, nem ente previamente “existente” enquanto ente sujeito e agente de uma ação eficiente, na produção artesanal de confecção de uma obra a partir de uma dada matéria em vista de um determinado fim (portanto, causa eficiente, final, material e formal), mas sim, diz respeito a quê? Podemos dizer: da niilidade do Desprendimento, da Abgeschiedenheit? Com outras palavras: a Criação não é outra coisa do que (cf. Nicolau de Cusa, o non aliud), o vir à fala do Deus da Abgeschiedenheit, desprendido, ab-soluto, no que há de mais próprio dele mesmo: a pura liberdade da Gratuidade, a Cordialidade, tomando corpo no mistério da Encarnação. Criação é a bela graça do esplendor do Corpo de Deus: Pai, Filho Unigênito, no Espírito Santo, na sua unicidade absoluta, feito Homem, em Jesus Cristo, e o Homem, com toda a sua circunstância, feito filho no Filho, na Liberdade dos filhos de Deus. Se isto for de alguma forma viável na interpretação do mundo medieval, então o nada não é privação do ser, não é a possibilidade de não contradição do ser do lógico-matemático-formal, mas sim a presença entranhada da dinâmica intra-trinitária, a vida íntima da Deidade, como cintilações (scintilla) da sua benignidade, na Filiação divina, como o mistério da Encarnação. Nada então pode significar de um lado a liberdade, o desprendimento, a soltura ab-soluta do sim da doação cordial da deidade, de si mesma na jovialidade decidida da sua liberdade, o deixar-ser, o estar à vontade da sua gratuidade. E o ente criado, é também nada, não enquanto privação ou negação da entidade, mas é o em sendo concreto, de-finido, portanto bem decidido da grata receptividade, portanto também desprendida, solta, ab-soluta, partícipe, prenhe da gratuidade desse Deus, cujo ser, cuja Deidade se chama o Um, o “Uno” desprendido da dinâmica da “geração e processão” trinitária.
Quando se esquece de que no pensamento medieval da Criação, tudo que a ela se refere, em parte e em todo, foi subsumido pelo ontologicum da Filiação divina, na dinâmica da vida intratrinitária, e que o “horizonte” a partir e dentro do qual pronuncia a fala medieval, se dá a queda de nível na manutenção da limpidez dimensional de interpretação, e surgem problemas como o do panteísmo, dualismo, maniqueísmo, do realismo, conceptualismo, idealismo da teoria de conhecimento, projetados para dentro do pensamento medieval, todos eles de alguma forma provenientes da dominação operativa de um determinado sentido do ser, talvez até certo ponto adequado para explicitação do “mundo” de entidades do tipo físico-material, mas insuficiente para o aclaramento da realidade viva, no vigor e na ternura da liberdade.
O medieval denominava, ao falar da Criação, de matéria prima, o nada que no horizonte do ser da Criação subsumido pelo ontologicum da Filiação divina, é expressa na formulação ex nihilo sui et subiecti que por sua vez foi chamado de potentia oboedientialis. Se entendermos a palavra potentia não como possibilidade vazia da não contradição lógica do ens rationis, mas sim como a vigência, o vigor do gosto e da satisfação da acolhida, da receptibilidade da liberdade geradora de Deus, receptibilidade essa por sua vez que ela mesma como e na criatura já é o dom de Deus, cuja intimidade da interioridade é denominada de Um, a se abismar, a se perder de vista para dentro da geração e processão trinitária, i. é, para dentro da sua Abgeschiedenheit, então o nada, o nihil sui et subiecti, a matéria prima é propriamente a liberdade, o nada ser, nada ter, nada poder, nada querer, nada saber a não ser toda e inteiramente ser apenas a disponibilidade de e para a liberdade dos filhos de Deus. Em Eckhart nada é a graça de ser.
- 1. Nada e finitude
8.2. A “Istigkeit”, Ser-Plenitude-Origem
- Rein, lauter, frei, ledig, leer [rein: puro; lauter: limpo, límpido; frei: livre; ledig: solteiro; leer: vazio].
- Jungfrau, Weib, Magd [Jungfrau: moça, virgem; Weib: mulher; Magd: serva]
- recht, Gerechtigkeit [recht: reto, justo, exato; Gerechtigkeit: retidão, justiça]
- Ungeschaffenheit, ungeschaffen; Unerschaffenheit, unerschaffen [Ungeschaffeneheit: o caráter de ser não criado; ungeschaffen: incriado; Unerschaffenheit: o caráter do ser não criável; unerschaffen: incriável].
[1] O que segue com o título glossário comentado, não é propriamente glossário, nem comentário no sentido próprio. Chama-se glossário por apresentar verbetes relacionados, direta ou indiretamente com os sermões alemães de Eckhart. Chama-se comentário, embora não seja um comentário propriamente dito, com esclarecimento historiográfico, cultural e científico dos textos de Eckhart, porque apresenta de modo bastante avulso reflexões não objetivas, mas subjetivo-mentais, digamos diletantes, acerca dos pensamentos expostos nos sermões alemães de Eckhart. Diletantes, porque as reflexões não provem de um saber competente e abalizado-especialista de um conhecedor de Eckhart e suas obras, mas apenas de um amador, embora muito amante do que Eckhart diz para nós hoje, a partir e dentro de um tempo,diferente ao do nosso. O objetivo de um tal glossário-comentado seria o de alguma forma começar, digamos de qualquer jeito, a despertar o gosto e o interesse de ler e entender os textos de Eckhart, cada qual ao seu modo. Por isso as afirmações desse glossário-comentário, mesmo quando afirma “o medieval ou o pensamento medieval diz ou pensa isso ou aquilo”, não é prudente ouvi-las como uma informação,mas apenas como hipótese para um convite à reflexão.
[2] A baixo do respectivo verbete, colocamos entre parênteses, termos afins e possibilidade de suas traduções.
[3] Em latim é operari. O modo passivo, nos recorda o modo medial que indica uma ação reduplicativa, a saber, em agindo uma obra, a ação não se esvai no produto, mas redunda no crescimento do agente, que se perfaz.
[4] O verbo produzir diz pro-ducir, i. é, em latim pro-ducere, a saber conduzir para que apareça diante de.
[5] Cf . 1.1.
[6] Deus, Homem e Universo, enquanto regiões da totalidade do mundo medieval.
[7] Em latim,virtus, i.é, vigor do varão. Cfr. verbete:Varão e mulher.
[8] Cf. 3.2.