Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Fragmentos de reflexões fenomenológicas II

05/02/2021

 

►Nesse segundo encontro tentamos girar ao redor da proposta de entender a fenomenologia como possibilidade, segundo um texto de Martin Heidegger que diz: A fenomenologia “é a possibilidade do pensar que, de tempos em tempos se transforma e que só por isso, permanece, a saber, a possibilidade de corresponder ao apelo daquilo que se há de pensar. Se a fenomenologia for experienciada e considerada assim, então ela pode desaparecer, enquanto título, em favor da coisa do pensar, cuja manifestação permanece um mistério”.

A esse texto de 1963, Heidegger acrescenta em 1969: “No sentido da última frase se diz já em Ser e tempo (1927) p. 38: o essencial da fenomenologia não reside nisso de ela ser real como “corrente” filosófica. Mais alta do que a realidade está a possibilidade. A compreensão da fenomenologia repousa unicamente nisso, em captá-la como possibilidade”.

Compreender uma coisa significa prender algo. Prender se refere à ação de ligar e unir o que está espalhado, ajuntando-o no uno. O movimento de ajuntar-se no uno está dito no com que no grego se diz syn (= uno; synthese = síntese). Algo assim com-preendido não fica encarcerado, mas aderente e coerente, consistente e firme em si mesmo. Firme aqui não deve ser confundido com fixo, estático, imóvel num encaixe. Pois a firmeza significa a própria dinâmica que se assenta em si mesma como movimento. É como o movimento de um dínamo que gira com tamanha velocidade e energia em si a ponto de parecer parado.

Queremos com-preender a fenomenologia. Nessa tentativa de compreender a fenomenologia, nós a colocamos diante de nós, como uma realidade, portanto como algo para o qual nos dirigimos: em linha reta, como a uma meta →→●. Nós ainda não sabemos o que é e como é a meta chamada fenomenologia. É por isso que a buscamos. Cada um de nós, pois, é mais e/ou menos essa flecha. Esse modo de ser e esse modo de caminhar para a meta, esquematizado →● é o modo de busca do saber objetivo. E o assim chamado saber subjetivo em geral, de imediato e na maioria dos casos, é também objetivo →, só que virado para trás •←. Esse modo de saber, de abordar, de buscar e progredir na busca, pode ter os mais diversificados objetos, como, p. ex., arte, história, ciência, religião, tempo, espaço, ser-humano, entes vegetais, entes animais, entes físico-corpóreos, entes ideais como números, equações matemáticas, quimeras etc. No entanto, apesar das diferenças consideráveis nos objetos, o modo de dirigir-se ao objeto é sempre uma seta assim →● ou ●←; nós, seres do saber objetivo em modalidades “objetivo” (→●) e “subjetivo” (●←), embora nos apercebamos das diferenças dos entes, por submetê-los na sua abordagem ao ocular objetivo e objetivante (e isto vale também quando falamos das nossas “coisas” subjetivas como vivências, sentimentos etc.) deixamos escapar o modo de ser próprio do ente em questão, que sob a dominância desse ocular objetivo-objetivante se retrai à e da nossa mira. Damos um exemplo. Lemos no jornal uma notícia, em que se relata o heroísmo de uma menina de 10 anos que para defender o seu irmãozinho de 5 anos da investida de um cachorro pitt-bull, se atracou com ele, gritando para o irmãozinho que fuja. Para ajudar a irmã, em vez de fugir, este se atraca também com o cachorro. Ao ler esse relato, surge na minha vivência um turbilhão de mil e mil colocações acerca dessa situação e acontecimentos. Sinto, porém, no fundo desse turbilhão, um forte “sentimento” de admiração por essas crianças, e me surpreendo exclamando alto dentro de mim: Grande! Um amigo meu ao ouvir a minha exclamação me pergunta: Grande como? O que é que é grande? Tem quantos metros? É pesado? Quantos quilos? E lhe respondo atônito: Mas de que você está falando. E ele: Não é do pitt-bull? Aqui houve um equívoco acerca do objeto. De um lado, o objeto era o pitt-bull. Da minha parte, a grandeza e nobreza da coragem das crianças. Nesse instante do arrazoado, é de grande importância que se perceba o seguinte: o problema não é a troca, o qüiproquó acerca do objeto. Portanto, nesse exemplo a questão é de ver que se trata uma vez da realidade no caso da pergunta; e outra vez da possibilidade, no caso da exclamação. Mas vamos passo a passo:

A primeira vista, o exemplo é fácil de entender, pois todo mundo, principalmente nós, que de alguma forma estamos acostumados com a objetividade das ciências, quer naturais quer humanas, percebemos logo que houve troca de objeto, ou melhor, engano acerca do objeto. O meu interlocutor estava pensando que eu estava falando de pitt-bull e queria saber qual o tamanho do cachorro que se pode medir em metros e peso. Eu estava, porém, em admiração, que nasceu da grandeza heróica da coragem das crianças. Na nossa maneira exata de pensar científico, dizemos: ouve um equívoco. Mas não houve extrapolação. Extrapolação científica haveria se o meu amigo soubesse que a minha exclamação se referia à grandeza da coragem das crianças. Aqui perguntar quantos quilos pesa a coragem das crianças ou quantos metros mede a grandeza do ato heroico das crianças é reduzir um gênero de objetos a um outro gênero de objetos, é sair da impostação ou do enfoque próprio a um gênero de objetos e entrar na impostação ou no enfoque próprios de um outro gênero de objetos, bem diferentes, continuando ingenuamente a pensar que está ainda na antiga impostação dentro do igual modo de ser e pensar do antigo gênero de objetos. Quanto maior são a acribia e o cuidado de uma ciência, sejam ciências naturais ou humanas, em relação à sua cientificidade, de manter-se limpa e sem mistura na precisão, a partir e dentro da lógica operante no gênero próprio da área dos seus objetos, evitando constantemente as extrapolações, tanto mais as ciências são aptas a clarear os objetos que pertencem ao gênero da sua área. Por isso, acribia e cuidado pela limpidez da cientificidade fazem que numa ciência se examinem sempre de novo e constantemente as pressuposições e as pré-compreensões a partir e sobre as quais a ciência avança, progride e constrói o seu sistema.

Nós, aqui presentes, vivemos dentro da busca de excelência científica do saber positivo objetivante e objetivo. Por isso, mais e/ou menos, em diferentes graus, exercemos esse modo de ser da busca do saber objetivo e adquirimos qualidades e competências nesse modo de ser da existência humana chamada existência científico-acadêmica. Mesmo as pessoas que não estão no ambiente dessa existência científico-acadêmica, hoje de algum modo, mais e/ou menos participam dela, pois vivem no mundo funcional da civilização científica tecnológica, criado e sustentado na sua dinâmica por esse modo de ser objetivante-objetivo. Isto significa: é dominante em todos nós, estudados ou não, a impostação da abordagem do saber objetivante-objetivo, configurado no logotipo acima mencionado (→●) (●←) (=saber de objetivação objetiva e subjetiva). Até aqui, até certo ponto conseguimos nos conscientizar e ficar vigilantes em nossas abordagens da “realidade”. O primeiro passo para nos introduzirmos na fenomenologia é começarmos a desconfiar que esse modo de ser do saber objetivante-objetivo (→●)(●←), portanto, a impostação retilíneo-flecha, espanta e “espanca”[1] a fenomenologia, que não pode e não quer vestir a camisa de força do modo de ser da flecha retilínea objetivante. Pois, ela não é em primeiro lugar e antes de tudo produtora, agenciadora, guarda e vigia da consistência e fixação das realidades que se formam na ponta da flecha retilínea e objetivante da dinâmica do inter-esse do saber objetivante-objetivo.

Certamente a fenomenologia aparece também dentro do mundo da existência científico-acadêmico como saber objetivante-objetivo; e quiçá em vários estilos como escolas, movimentos. Como tal, sob esse aspecto exotérico (virado para fora) a fenomenologia é buscada e ensinada nas academias e universidades como sistema de saber ao lado da psicologia, sociologia, antropologia etc. Nesse uso da fenomenologia, ela embora tenha muito gabarito e competência, em vários casos mais recursos de análise e descrição e sofisticação do que outras ciências positivas, ela permanece, na sua impostação, no mesmo modo de ser do saber de objetivação, portanto ►● (→●) (●←) (☼ ↔ ☼). São pois diversas realizações da fenomenologia, fenomenologia como realidades. Temos assim fenomenologia como antropologia, como psicologia, como existencialismo, como fenomenologia descritiva, fenomenologia de Merleau Ponty, de Husserl, de Heidegger, Rombach, Pfänder, Fink, Gabriel Marcel, Sartre, Gadamer. Mas todas essas realizações da fenomenologia, portanto as fenomenologias como realidades na media em que vem à fala e muitas vezes se sistematizam como teses e doutrinas, vivem de alguma forma operativamente a partir e dentro de uma evidência de que na raiz, na gênese do movimento do surgir, estruturar-se e consumar-se como todo um mundo de compreensão, portanto também na raiz, na gênese de toda e qualquer ciência, de toda e qualquer manifestação da arte, da religião, há uma presença, bem no seio de cada existência, como possibilidade de ser. Presença silenciosa qual retraimento do abismo insondável e inesgotável de ser, como que um hálito de suave leveza do toque da possibilidade livre de ser, na precisão de tênue vibração da doação de um sentido do ser, contido com pudor na espera da recepção. É o “aspecto esotérico”, a dimensão de fundo, a inclinação virada para dentro da fenomenologia, a sua possibilidade. Essa disposição de fundo, a “interioridade” profunda do homem como animal rationale[2] (leia-se: ânimo cordial atinente ao logos) é o que na fenomenologia de Heidegger se chamou de clareira do sentido do ser, a aberta, não como a abertura escancarada de uma passividade neutra enrijecida, mas límpida espera no tinir de disponibilidade da generosa pura recepção para o suave toque do sentido do abismo da possibilidade de ser, o ser-aí, o Dasein (Da-sein). Esse aí, o Da, o ex– da existência é clareira e ao mesmo tempo algo como profundo silêncio no in-stante do salto da eclosão do mundo, a entoação do mundo sob o toque da possibilidade de ser. Desse modo de ser da clareira-ponto-de-salto da eclosão do mundo se diz no texto de Heidegger:

É a possibilidade do pensar que, de tempos em tempos, se transforma e que só por isso permanece, a saber, a possibilidade de corresponder ao apelo daquilo que se há de pensar.

►Para entender de alguma forma de que se trata quando falamos da fenomenologia como possibilidade e em que sentido a possibilidade é mais alta do que realidade favor ler e refletir o seguinte trecho da conferência pronunciada por Paul Klee aos 26.01.1924 sob o título: Supervisão e orientação na área dos meios pictóricos e sua ordenação espacial.

Gostaria, agora, considerar a dimensão do objeto num novo sentido para si e ali tentar mostrar como o artista vem muitas vezes a uma tal deformação aparentemente arbitrária da forma natural do aparecer.

Por sua vez, ela não dá a essas formas naturais do aparecer a importância obrigatória como o fazem os muitos realistas que exercem crítica. Ele não se sente tão ligado a essas realidades, porque ele não vê nessas formas terminais a essência do processo natural da criação. Pois para ele há mais interesse nas forças que formam do que nas formas terminais. Sem o querer seja ele talvez justamente, filósofo. E se não faz como os otimistas que explicam este mundo como de todos os mundos, o melhor e se também não quer dizer que esse nosso mundo circundante seja ruim demais para tomá-lo como exemplo, diz ele, no entanto assim:

Nessa sua configuração formada, o mundo não é o único de todos os mundos!

Assim, o artista olha as coisas que a natureza formou e lhe faz desfilar diante dos seus olhos com mirada penetrante.

Quanto mais profundamente mira, tanto mais facilmente ele consegue distender os pontos de vista, de hoje para ontem. Tanto mais o impregna no lugar de uma figura pronta da natureza, a figura somente ela essencial da criação como o gênese.

Então, se permite também o pensamento de que a criação hoje mal poderia estar concluída, e com isso, estende aquela ação criativa do mundo, de trás para frente, dando duração à gênese.

Ele avança ainda mais.

Diz para si, ficando desse lado: Esse mundo apareceu diferente e ele há de aparecer diferente.

Tendendo para além, porém, pensa: Nas outras estrelas se pode ter vindo, de novo, a formas de todo diferentes.

Tal mobilidade nos caminhos naturais da criação é uma boa escola de formas.

Ela consegue mover a quem cria, do seu fundo, e ele mesmo, já móvel, há de cuidar da liberdade do desenvolvimento para seus próprios caminhos de configuração.

A partir dessa impostação, a gente deve ter como a seu favor, quando o artista esclarece o presente estágio do mundo do fenômeno que lhe diz respeito, como casualmente bloqueado, bloqueado temporal e localmente. Como demasiadamente delimitado em contraposição ao intuído profundamente e sentido vivamente por ele.

E não é verdade que, já o relativamente pequeno passo do olhar através do microscópio faz desfilar diante dos olhos figuras, que nós todos haveríamos de declarar como fantásticas e exacerbadas, se, sem pegar o pivô da coisa, as víssemos de todo por acaso em algum lugar?

Senhor X, porém, ao dar de cara com uma cópia de tal figura numa revista sensacionalista, haveria de clamar indignado: isto seriam formas naturais? Isto é, sim, o pior dos comércios de arte!

Portanto, o artista, pois, se ocupa com microscópio? História? Paleontologia?

Apenas a modo de comparação, apenas no sentido da mobilidade. E não no sentido da possibilidade de um domínio do controle científico da fidelidade à natureza (wissenschaftliche Kontrollierbarkeit)!

Apenas no sentido da liberdade!

No sentido de uma liberdade, que não conduz a determinadas fases de desenvolvimento, que uma vez na natureza foram assim exatamente ou hão de ser ou que em outras estrelas (um dia talvez uma vez constatáveis) poderiam ser justamente assim, mas no sentido de uma liberdade, que apenas exige o seu direito de ser igualmente assim móvel, como o é a grande natureza.

Do exemplar para o arquétipo!

Arrogante seria o artista que, aqui, logo fica metido em algum canto. Chamados, porém, são os artistas que hoje penetram até certa proximidade daquele fundo misterioso, onde a lei originária alimenta os desenvolvimentos.

Lá, onde o órgão central de toda a mobilidade espaço-temporal, chame-se ele cérebro ou coração da criação, ocasiona todas as funções. Quem como artista não gostaria de morar, lá?

No seio da natureza, no fundo da origem da criação, onde a chave do mistério para tudo jaz guardada?

Mas não todos devem para lá! Cada qual deve se mover para ali, aonde a batida do seu coração acena.

Assim, no seu tempo, nossos antípodas de ontem, os impressionistas, tinham plena razão em morar junto dos rebentos da raiz, junto do cerrado-chão dos fenômenos cotidianos. O pulsar do nosso coração, no entanto, nos empurra para baixo, profundamente para baixo, para o fundo abissal.

O que então cresce do impulso desse fundo, chame-se ele como quiser, sonho, ideia, fantasia é de todo para se tomar a sério, se ele se liga sem reservas à configuração com os meios pictóricos adequados.

Então, aquelas coisas curiosas tornam-se realidades, realidades da arte, que levam a vida um tanto mais adiante do que parece medianamente. Porque elas não reproduzem só o visto, mais ou menos de modo bem temperamental, mas fazem visível o intuído na intimidade oculta (geheim).

►Quando se fala de possibilidade, nós consideramos a possibilidade como sendo de densidade de ser inferior à realidade. Havia uma viúva que tinha 10 galinhas. Um dia ela se achega de um curandeiro e pede um remédio eficaz para suas galinhas, pois ficaram doentes. Recebeu remédio eficaz: um grão de milho três vezes por dia. Morrem 3 galinhas. A viúva volta ao curandeiro. Pede um outro remédio para galinhas. Novo remédio: um grão de milho, duas vezes por dia. Morrem mais 2 galinhas. A viúva volta de novo ao curandeiro. Este prescreve novo remédio: um grão de milho uma vez por dia. Morrem mais 4 galinhas. Revoltada, a viúva volta ao curandeiro e lhe pergunta: Até quando fica prescrevendo grão de milho? O curandeiro lhe respondeu: Até enquanto a senhora tiver galinhas. Heidegger diz no que se refere ao pensar: “O essencial da fenomenologia não reside nisso de ela ser real como “corrente” filosófica. Mais alta do que a realidade é a possibilidade. A compreensão da fenomenologia repousa unicamente nisso, em captá-la como possibilidade”, e continua: A fenomenologia

é a possibilidade do pensar que, de tempos em tempos, se transforma e que só por isso, permanece, a saber, a possibilidade de corresponder ao apelo daquilo que se há de pensar. Se a fenomenologia for experienciada e considerada assim, então ela pode desaparecer, enquanto título, em favor da coisa do pensar, cuja manifestação permanece um mistério.

    • Em que consiste a moral da estória zen das galinhas da viúva, não para moralizar nossos atos em relação à fenomenologia, mas em relação à compreensão da utilidade da fenomenologia como possibilidade?
    • Quando dizemos: “Acabou! Estou no fim das minhas possibilidades”, entendemos possibilidade como realidade ou como possibilidade?
    • O que pode vir (possibilidade) depois do fim das minhas possibilidades, i. é, a potencialidade, a potência que mantinha a minha realidade? Se nada, se vazio, se “baixa depressão” como representa essa nihilidade? Como realidade no estado 0? Como fim da possibilidade? Como entender a possibilidade no sentido de Heidegger que diz ser mais alta do que realidade? Há aqui um aceno para uma possibilidade que é anterior, é aquém da possibilidade e realidade no nosso sentido usual?
    • Há experiências nas quais estou no fim da picada. No “paredão”. Estou na baixa, na fossa. De tal modo no fundo da possibilidade da minha realidade que nem sequer me resta mais gosto, vontade, ânimo de querer fazer alguma coisa para sair “dessa”. De repente, não sei como, inesperadamente “estou noutra”. Numa outra possibilidade. Essa nova “realidade” seria no fundo continuação, portanto uma possibilidade até agora escondida da realidade anterior ou uma inteiramente nova possibilidade de eclosão de todo um novo mundo da realidade? É possível saber dessa possibilidade? Se não, há possibilidade de ser assim possibilidade? Ser-assim = ser-aí = Da-sein? Mas então já sempre não o fomos? Voltar a ser o que já sempre fui é possível? Possibilidade mais alta do que a realidade: entrar para dentro da re-cordação, ser recolhimento, repouso em-casa (Ge-heim), ser o que somos, a cada instante, sempre de novo, de tempo em tempo na transformação.
    • Em alemão, possibilidade se diz Möglichkeit. (Möglich = possível; –keit = sufixo designativo da abstração essencializada: –dade). Möglich vem do verbo mögen. Mögen significa poder mas no sentido de Mas de que se trata, quando gostar diz mögen? Quando uma veste cai tão bem no corpo que veste e corpo são uma coisa só, que a veste e o corpo estão satisfeitos, então temos o mögen. Se um caldo bem quente (mas não fervente e causticante) num dia de inverso rigoroso no sul do país me cai bem no estômago, e a “barriga” se me assenta de cheio numa satisfação gostosa, aparece, nessa gostosura da identificação do todo, o meu ser no/com/por caldo, o verbo, a ação bem feita em obra: mögen. É a nossa dita alta possibilidade.

[1] Espanca aqui não significa dar uma surra, mas faz sumir, no sentido de a luz espanca a escuridão. Se eu entendo, porém, a luz como triunfadora sobre a escuridão, de tal modo que a escuridão é o que um dia deve acabar, e entendo o saber como a luz que espanca a escuridão do não-saber, tanto a escuridão como o não-saber se retraem na sua essência, e são transformados em objetos a serem eliminados como nada. Com isso, a luz se torna algo semelhante à luz néon que na exacerbação da brancura destilada tudo esvazia numa claridade escancarada, onde todo e qualquer sombreamento das nuanças diferenciais somem, matando a possibilidade do surgir, crescer e consumar-se de toda a espécie de vida. Como é uma música onde não ressoa no fundo de cada nota que se entoa um silêncio profundo? Talvez não ouvíssemos nenhum som, pois tudo se transforma no mutismo exacerbado em gritarias.
[2] Se não o lemos a partir da impostação psicológica e biológica, o termo latino animal rationale não significa bicho, bruto mas o vivente, e no vivente o ânimo: a vitalidade e disposição anímica. A ratio, razão não se refere à faculdade mental chamada razão ao lado da vontade e do sentimento, mas à vigência de uma presença que tudo ajunta, recolhe e reconduz ao uno da origem, à compreensão como foi insinuada no início desse fragmento. Ratio, a razão, aqui é tradução do grego logos. Animal rationale é simplesmente a tradução da expressão grega: tò zõon lógon échon: vitalidade do ânimo atinente ao lógos. Dito de outro modo, fenomenologicamente, é a aberta do e ao sentido do ser.
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