Projeto 01
Projeto de Dissertação
Mestrado de Filosofia
Título: Conceito existencial da ciência e a questão da objetividade.
Capítulo I: Conceito
- Conceito e objetivação
- Objetividade, sua estruturação e níveis.
- Objetividade e o ser-real
- Questão do sentido do ser.
Capítulo II: Conceito de ciência
- Ciência e sua definição
- Características da ciência na compreensão usual e sua indeterminação
- Determinação específica das propriedades da ciência
- Objetividade científica e seu ser.
Capítulo III: Conceito existencial da ciência
- Conceito da ciência e teoria do conhecimento
- Teoria das ciências e metafísica do conhecimento
- Analítica da existência e a questão do ser da ciência
- Conceito existencial da ciência e sua importância para a compreensão heideggeriana da ciência moderna e essência da técnica.
NB: todos esses itens se desenvolvem ao redor dos textos de Heidegger que tenho que ver quais.
Além disso, apenas se concentra em cercar de todo o modo o conceito existencial de ciência. Isso como preparação para o projeto da tese doutoral que teria um título mais amplo como p.ex. A compreensão da ciência moderna e essência da técnica em Heidedgger.
Projeto 02
Conceito existencial da ciência (Uma questão da objetividade em M. Heidegger)
I Capítulo: Conceito
- Conceito e objetivação
- Objetivação, sua estruturação e níveis
- Objetividade e ser-real
- Questão do sentido do ser.
II Capítulo II: Conceito de Ciência
- Ciência e sua definição
- Características da ciência na sua compreensão usual e sua indeterminação
- Determinação específica da ciência na sua propriedade
- Objetividade científica e seu ser.
III Capítulo: Conceito existencial da ciência
- Ciência e teoria do conhecimento
- Teoria das ciências e metafísica do conhecimento.
- Metafísica do conhecimento e ontologia fundamental
- Analítica da pre-sença e a questão do ser da ciência
- Conceito existencial da ciência e sua implicação para a compreensão heideggeriana da ciência moderna e da essência da Técnica.
I Capítulo: Conceito
Conceito não é uma representação, mas sim uma obra, uma cristalização do trabalho da ação chamada objetivação.
Objetivação é pois trabalho de tematização do conhecimento, onde se busca trazer à luz objeto de uma investigação, de modo coerente na sua estruturação. Por isso, logo que se tenta falar do conceito, logo se torna necessário falar da objetivação. No processo de objetivação, entramos em contato com diversos níveis de estruturação que na língua alemã se expressa nos diferentes termos para indicar o objeto: temos assim: Sache, Gegenstand, Objekt. Conforme a diferença existente na indicação do que seja num tríplice sentido o objeto, temos uma compreensão mais diferenciada concretamente do que devemos entender por objeto, e seu modo de investigar. A palavra Objekt indica o objeto tematizado pelas Ciências, que uma vez esquecidas da sua constituição inicial e interna, se transforma no que tardiamente Heidegger chamou de Gestell (cf. a essência da Técnica). Isto significa que a ação humana chamada de conhecimento das Ciências, pressupõe uma colocação, na qual a realidade lhe vem de encontro como objeto
O ser-real: tudo isso significa que na ciência cuja coisa ela mesma da sua ação consiste no projeto de uma compreensão do ser-real como objeto, está implícita uma questão do sentido do ser. Daí a necessidade de explicar bem o que significa e como é a questão do sentido do ser, portanto: diferença entre questão e problema; o que significa sentido, e por fim sentido do ser.
II Capítulo: Conceito de ciência
Hoje, conhecemos diversas definições da Ciência. Assim a palavra Ciência foi usada na antiguidade como epistheme; na idade média como doctrina; Ciência no sentido como nós hoje usamos em geral, indica Ciência moderna. Quando no nosso trabalho usamos o termo Ciência o tomamos nessa acepção moderna. Acerca dela, porém no nosso cotidiano moderno temos muitas notícias, as quais deveríamos selecionar, pois há bastante indeterminação acerca delas. Assim, devemos resumir, brevemente:
As características principais da ciência na compreensão usual e eliminar na medida do possível as indeterminações que provêm de equivocações, entrecruzamentos de diferentes definições etc. para então dar:
A determinação específica da ciência na sua propriedade: esse trabalho de esclarecimento especificado do que é ciência no seu próprio nos dá as características próprias da ciência hoje, cujo vigor essencial se denomina objetividade. Daí a necessidade de explicitar mais em detalhes o que é objetividade científica ou cientificidade da ciência moderna como objetividade. E uma vez assim tendo diante de nós a Ciência tematizada na sua propriedade, enquanto ciência moderna, a colocamos debaixo do interrogatório, em investigando o seu ser, ou o sentido do ser operante numa tal determinação, como a sua essência.
III Capítulo: Conceito existencial da ciência
Tão logo colocamos a Ciência sob o interrogatório acerca do seu ser, acerca da sua essência, hoje devemos nos confrontar com Teoria do Conhecimento e suas teorias das Ciências (epistemologia) que são detentores oficiais da explicação sobre Ciência. Na media em que assim nos confrontarmos com a Teoria do Conhecimento e Teorias das Ciências, agora já dentro da impostação de colocá-las dentro do modo de ser chamado Questão, percebemos que hoje a Teoria do Conhecimento e a sua evolução totalizante para epistemologia, i. é, teorias das Ciências, não é outra coisa do que Metafísica, cujo sentido do ser fundante e fundamental, é o da ontologia tradicional. Assim, a busca, a questão da compreensão da Ciência entra na questão de um sentido do ser renovada, a partir da analítica da existência, como foi feita no Ser e tempo, cujo resultado recebeu o nome de ontologia fundamental.
Colocar a Ciência Moderna na mira do sentido do ser retomado pela analítica da presença é investigar a Ciência Moderna no seu ser ou na sua essência, e assim constituir o conceito existencial da Ciência. Ao assim explicitarmos a Ciência Moderna no seu ser, começamos a perceber que a Ciência Moderna como ela se acha operativamente no seu ser, se move numa ambiguidade de explicitação e implicação que nos conduz a grande questão da essência da Técnica e a posição da Ciência Moderna nessa perspectiva. Na nossa tese de mestrado, apenas deixamos insinuado essa direção, e explicitamos mais em detalhes como remate da nossa tese, como o conceito existencial da Ciência, é importante para a entender bem e melhor a direção na qual o tema da Ciência Moderna se encaminha no pensamento posterior de Heidegger, o qual gostaríamos que fosse o tema da nossa tese doutoral.
Frei Jairo, eu gostaria de lhe indicar mais ou menos os textos de Heidegger que dizem respeito a todos esses pontos acima indicados, mas me falta o texto principal que é o que você colocou como base das suas reflexões, i. é, aquele da interpretação fenomenológica da Crítica da Pura Razão. O volume eu não sei a quem emprestei, pois me lembro que eu tinha esse volume. Será que você não está com ele? Ou se tiver uma cópia, poderia me mandar?
Como nunca sei se o e-mail chegou ao seu destinatário, poderia me responder laconicamente se o recebeu. Muito obrigado. Harada
Capítulo I – A crise das ciências e a necessidade de colocar a questão acerca da essência da ciência
- Crise da ciência enquanto relacionamento de indivíduos para com a ciência
- Crise da ciência enquanto o seu lugar no todo da existência humana social e histórica
- Crise da ciência enquanto a estrutura essencial dela mesma.
Capítulo II – A essência da ciência
- Ciência como conhecimento metódico
- Ciência como conhecimento sistemático
- Ciência como conhecimento exato
- Características usuais da ciência e seus equívocos
- O matemático como a característica essencial da ciência
Capítulo III – Existência científica
- O saber científico como projeto epocal
- Projeto epocal científico como pre-sença e sua facticidade.
- Existencialidade ou Facticidade como o aberto do desvelamento do sentido do ser.
- Existência científica e sua estruturação interna
- Sentido do ser da existência científica
- Existência científica e o esquecimento do sentido do ser da sua existencialidade.
- Ciência e técnica moderna e suas implicações ontológicas na questão do sentido do ser e da verdade do ser.
Procurar para acionar esses itens: M. Heidegger, Einleitung in die Philosohie, Erster Abschnitt: Philosophie und Wissenschaft; erstes Kapitel, zweites Kapitel: Die Frage nach dem Wesen der Wissenschaft; Sein und Zeit; Die Metaphysik des Deutschen Idealismus; Phänomenlogische Interpretation der Kritik der reinen Vernunft etc. i. é, ir catando textos que direta ou indiretamente falam desses assuntos e ajeitá-los dentro do seu esquema.
Fundamentação da ciência moderna em Martin Heidegger
(Conceito existencial da ciência)
I Capítulo
A crise das ciências, hoje
- A era da ciência e técnica: as ciências, hoje, progresso e expansão[1].
- Em que sentido, fala-se da crise da ciência moderna?
- Dificuldades extremas, decadência, confusão acerca da sua identidade?[2]
- Crise de fundamento e volta ao positum inicial para reforma?
- Crise como nova fundamentação do positum de uma ciência.
- Positum de uma ciência, o que e como é?
- Ciência como uma possibilidade livre-histórico-necessária da existência humana.
- Possibilidade científica se caracteriza como existência científica.
- Existência científica na estruturação e exercício de objetivação.
- Existência objetivante pressupõe existência pré-científica enquanto condição da possibilidade da gênese da ciência.[3]
II Capítulo – O característico principal da ciência moderna[4]
- Compreensão usual da ciência moderna em contraposição com a ciência antiga e medieval
- fatos versus conceitos abstratos
- experimentação empírica versus especulação abstrata
- constatação objetiva e cálculo versus opiniões e fantasias subjetivo-intuitivas
- O matemático: o característico essencial da ciência moderna.
- O matemático, a maqesiV
- O caráter matemático da ciência moderna
- Um resumo da História da caracterização da ciência moderna como matemático.
- O conceito grego e medieval da natureza e o conceito moderno da natureza
- O movimento em Aristóteles
- O movimento em Newton
- A essência do projeto matemático
III Capítulo – O sentido ontológico do matemático
- O que significa: o sentido ontológico[5]
- O binômio: ôntico-ontológico
- O binômio: existentivo-existencial
- Os existenciais: ser-no-mundo e liberdade.
- O conceito existencial do matemático.
- Liberdade como vontade do poder da reforma e autofundamentação do saber como mathesis universalis[6].
- Os axiomas: nova liberdade da autonomia e autofundamentação da ciência.
- Cogito sum: Eu enquanto subjetividade em destaque.
- Razão como fundamento principial próprio do princípio eu e não contradição.
- Conceito existencial da ciência[7]
- O que é conceito?
- O que é existência? Existencial? enquanto o aberto e a clareira do sentido do ser:
- aa) Ser-no-mundo enquanto ser-no e
- bb) Liberdade enquanto serenidade da vontade do poder do novo saber.
- O ontologicum-matemático e a questão do sentido do ser[8].
- Uma teoria da ciência, existencial?
- Conceito existencial da ciência e o esquecimento do sentido do ser.
- O esquecimento do esquecimento do sentido do ser: a ciência moderna e a questão da verdade do ser.[9]
NB: Pode ser que o prof. Gilvan ache pouco tudo isso, pois só foi tirado de 2 textos de Heidegger praticamente. Seria interessante, se pudesse discutir com ele e consultar como ele acha que poderia ser etc. Mas talvez uma tal consulta não é praxe ali na Universidade…? Há um modo que em certos ambientes são muito apreciados, a saber: seguir um esquema assim simples, a partir de alguns textos de Heidegger, mas para cada item do pensamento, indicar em citação de roda-pé outros textos de outras obras de Heidegger; e depois de tudo, então acrescentar também indicações de autores principais importantes acerca do tema. Nesse ponto, o que pode confundir a gente é pensar que deve se citar autores que num sentido geral fala das ciências modernas. Se fizer isso, você comete uma imprecisão científica. Aqui sob o aspecto geral, se cita, somente alguns apenas que diz respeito diretamente ao assunto. Pois o tema seu é …… em Martin Heidegger. Isto significa que a bibliografia secundária deve referir se a Heidegger na sua compreensão da ciência moderna.
O fio condutor do esquema 01
O I Capítulo: Nele apresentar brevemente a situação das ciências, hoje, no seu aparecer triunfante, no progresso e na expansão global, de tal modo que se dê uma imagem altamente positiva e promissor da humanidade científica ou da nossa época científica. E ao mesmo tempo apresentar o lado obscuro do progresso e criar um ambiente para perguntar: por que e como se fala de uma crise? Crise em que sentido?
Crise pode significar um estado negativo da ciência, porque ela ainda não chegou a ser ela mesma, ou em tendo chegado a uma culminância começa a decair etc. etc. Depois de percorrer alguns sentidos da crise, enfocar o que se costuma chamar de crise da identidade, no sentido da ausência da autofundamentação da ciência na sua raiz.
A seguir tenta-se detalhar a compreensão do que seja a autofundamentação da ciência, falando do positum da ciência: aprofundar a compreensão do que seja o positum que está assentado no ser da existência humana pré-científica, como uma possibilidade livre, hoje historicamente necessária da existência humana; depois caracterizar em que consiste esse ser da existência humana chamado pré-científico e o surgir da ciência, a partir dessa dimensão de profundidade da existência humana. Mas isso de modo bem breve e conciso, pois mais adiante se volta a falar desse assunto com mais detalhes. Uma vez assim apresentado, por assim dizer, o roteiro de como tratar a ciência moderna, em aprofundando a sua autofundamentação para dentro do abismo de possibilidade do sentido do ser da existência humana, passamos para:
O II Capítulo: aqui se apresenta, passando a delimitar a compreensão da ciência moderna, no seu modo próprio e fundamental, determinar a sua identidade diferencial como o matemático em seus diversos aspectos. Nessa apresentação tentar seguir passo a passo a explanação do tema, à mão do texto de Heidegger, publicado no livro: Frage nach dem Ding.
Aqui com Heidegger mostrar: como a essência da ciência moderna consiste no matemático. Porque o matemático implica diferentes momentos, Heidegger, recorrendo a uma breve história da compreensão do que seja o matemático, mostra o que se deve entender por matemático, seguindo o significado originário da palavra mathesis, e como esse significado modificado no sentido do matemático das ciências naturais, hoje se tornou o fundamento do modo de ser de todas as ciências modernas. Praticamente resumir com inteligência essa história. Referir-se de modo breve mas preciso a ambigüidade, e também imprecisão e equivocação implícitas na palavra hodierna o matemático.
Seguindo o roteiro insinuado no capítulo I de como tratar a ciência moderna, depois de ter exposto em que consiste o essencial da ciência moderna, a saber o matemático, passa-se a tratar de modo mais temático e detalhado no III capítulo da dimensão de fundo da ciência moderna como matemático. Digo com outras palavras, tenta-se expor acerca do ontológico do matemático como foi exposta até agora. Para ficar bem claro: o ontológico pode ser entendido em dois sentidos: •1). o ser geral, o comum que está como a base sobre a qual se erguem as ciências. Nesse sentido o matemático seria o modo de ser da ciência moderna que no fundo, na sua base é a das ciências naturais físico-matemáticas que se tornou como que critério da cientificidade das ciências, também das ciências humanas. Esse sentido 1) foi exposto no capítulo II. • 2.) O ontológico que vai ser tratado no capítulo III seria o ontológico fundamental (Ser e Tempo = Ontologia fundamental) desse ontológico geral, na sondagem do sentido do ser do matemático, acima considerado como o ontológico geral e comum de todas as ciências que se prezam ser científicos na cientificidade própria da ciência moderna.
O III Capítulo diz de início o que se quer significar por ontológico, i. é, na perspectiva da estruturação de fundo do saber científico como possibilidade da existência; portanto do ôntico e ontológico enquanto existentivo e existencial. E para caracterizar o ontológico enquanto existencial, expõe com mais detalhes o que já foi tocado no I capítulo, a saber em que consiste as caracterizações fundamentais do ser da existência humana denominadas Ser-no-mundo e Liberdade. Essas exposições querem determinar melhor o conceito existencial do matemático que é o ontológico da ciência moderna.
Seguindo o encaminhamento de determinar o ontológico da ciência moderna de modo cada vez mais detalhado, fala se do vigor fundamental-ontológico que pulsa na raiz da ciência moderna, cuja característica essencial é o matemático, falando-se da nova liberdade como vontade do poder da autonomia que se concretiza como acribia da reforma e autofundamentação do saber. Essa acentuação em detalhar mais o ontológico da ciência moderna se faz então em se falando da diferença do conceito da natureza nos gregos (Aristóteles), em contraposição com o conceito da natureza na ciência moderna; depois da compreensão mais adequada do cogito sum (Descartes) e então da razão, como a abertura de fundo que pré-jaz como subjetividade transcendental (Kant).
A partir de tudo isso que foi dito, tenta-se então interpretar esse ontológico da ciência moderna enquanto ser do matemático como o aberto, a clareira do sentido do ser da ciência moderna. Essa interpretação é a que está insinuada na exposição de Heidegger quando fala do conceito existencial da ciência moderna no livro Interpretação fenomenológica da Crítica da Razão pura de Kant. Aqui de novo tenta se dizer de modo repetido, mas de modo muito mais aprofundado do que já tratado acima nos capítulos anteriores o que implica Conceito, e Existência, existencial, destacando no existencial Ser-no-mundo o sentido do ser-no e no existencial Liberdade a serenidade da autonomia da vontade do poder do novo saber como o ocultamento e desvelamento simultâneo do sentido do ser da ciência moderna, caracterizada como a mathesis universalis a modo matemático. Essa colocação última conclui a exposição desse trabalho, apenas insinuando numa espécie de esboço de continuação do trabalho, falando de modo sucinto e ainda provisório do ontológico-matemático enquanto clareira de fundo do sentido do ser da ciência moderna e a questão do sentido do ser, na media em que no ontológico-matemático e o sentido do ser ali pré-jacente pulsa na ambigüidade do ocultamento e velamento da verdade do ser que recebe o nome de esquecimento e esquecimento do esquecimento do sentido do ser, ou melhor, da verdade do ser.
Acerca do método:?1
Quanto à questão da bibliografia, de primeiro estudar bastante a literatura secundária etc., depende de o que a Faculdade, onde a gente estuda e o orientador exigem. No entanto, há na maioria dos freis estudantes que depois de estudar em Rondinha, depois estudaram ou estudam nas faculdades de fora, – eu pessoalmente sinto isso – um complexo cuja explicação não está bem clara. Mas como você já estudou depois de Rondinha, teologia em Petrópolis, creio que tenha já solucionado até certo ponto esse problema. Os que foram meus alunos, muitos me culpam de eu não me interessar pela literatura secundária e só cultivar um filosofar na linha da reflexão. E é essa a opinião geral na província, de tal sorte que na realidade, fui e sou no ensino da filosofia, no que se refere aos nossos estudos e estudantes, uma pessoa não grata ou não adequada para as exigências acadêmicas de hoje. Pode ser que em tudo isso que pensam, haja muita coisa de verdadeiro. Mas, para que nessas trocas de idéias que estamos fazendo, as nossas conversas possam ter algum proveito, gostaria de lhe explicar um ponto. Não é verdade que não me incomode, nem deteste ou não dou valor a informação. No meu tempo de estudante, já em Curitiba, depois Petrópolis e uns 4 anos de início de estudos nas universidades alemães o meu estilo de estudo era de me informar doidamente, de tal sorte que quando fiz a primeira entrevista com Professor Rombach, tinha lido quase tudo que havia de artigos e tratados secundários sobre a fenomenologia. O primeiro encontro com Rombach foi um choque para mim. Ele me elogiou a grande (!?) quantidade de saber que eu tinha, mas logo a seguir, ao mandar ler um trecho de meia página em Husserl, sem me criticar nada, me mostrou de maneira bem clara que não tinha entendido nada de Husserl, apesar de ter lido o próprio texto não sei quantas vezes. Para encurtar, o choque que recebi não foi tanto, o de apesar de tudo ser ainda principiante ou iniciante no saber da fenomenologia, mas de ter visto como que numa pancada na cabeça, que não existe esse negócio de linha de reflexão e linha de informação, mas apenas isso: ou se aprendeu a pensar ou não. E aqui pensar não significa simplesmente concentrar-se, meditar profundamente, ter intuições profundas e altas etc. etc., mas sim, em que modo se está (in sein do In-der-Welt-sein) na vida. Dito com outras palavras, se assumo o estudo da filosofia como caminho (met’hodos em sentido fenomenológico) ou como saber.
Isso que estou lhe dizendo do caminho não tem nada a ver com mística, espiritualidade, vitalismo, existencialismo ou vivencialismo, mas sim com o logos da fenomenologia. É por isso que, quando você faz uma tese, tendo como tema Husserl, Heidegger, Rombach etc., é necessário estudar bastante, e isso também no volume quantitativo, os textos diretos desses autores, desde o início, e escolher somente literatura secundária que me incentiva e me conduz a ler, ler os textos. Como lhe disse antes, na filosofia não existe linha de informação e linha de reflexão, nem um equilíbrio entre essas duas linhas etc. Ou se é a caminho, no caminho, como caminho, ou se busca uma outra coisa. E o informativo, o reflexivo, o intuitivo, o analítico, se é caminho, não fazem esse tipo de distinção, pois tudo e, cada um é o pensar corpo a corpo e exercitar-se no “ver”. As pessoas que estudaram filosofia em Rondinha, ao deparar com uma outra situação de estudos acadêmicos, criaram, assim me parece, a idéia de que o estudo que fizeram era doméstica, caseira, acentuadamente de estilo da linha de reflexão, mas muito pouco acadêmico etc. No que se refere a mim, acolho todas as falhas que possam ter havido nas minhas aulas; mas ao mesmo tempo, gostaria de observar que, o que faltou, e para mim essa foi a falha principal, foi volume de estudo, dentro desse modo de encarar a filosofia como caminho. Você foi um dos que, a fazer a sua tesina sobre Fenomenologia e Teologia em Heidegger parece ter intuído algo nesse sentido. Mas pode ser que ainda não está bem claro, nesse ponto. E talvez para fazer doutorado ou mestrado na filosofia ‘academicamente’ não precise, conforme faculdade onde se está, estar claro nesse ponto. Mas, se se referir na tese à fenomenologia, surge esse problema, mais cedo ou mais tarde. Por isso, na sua tese de mestrado e de doutorado, mesmo que você já tenha lido muito do texto de Heidegger, poderia, ou melhor, deveria aumentar o volume de leitura pensada dos textos de Heidegger. Mas com os textos de fenomenologia principalmente de Heidegger (o mesmo se diga de Carneiro Leão = ele é bom mesmo!) não é necessário ler todos os volumes, mas ler bastante, a saber, alguns volumes ou trechos, ajuntados sob um tema em grande quantidade, numa decisão de ler bem, pensando, entendendo o fio condutor. Tenho a impressão de que estou lhe rezando pai-nosso ao vigário, pois creio que você já sabe tudo isso, mas em seu ‘nervosismo’ e ‘pretensa precipitação’ percebi ou talvez só imaginei um certo conflito.
Um outro ponto, você é um desses trabalhadores incansáveis no pensar, mas não tem receio de expor o que escreve, com o medo de julgamento ou crítica do outro? Experimente se expor mais, principalmente entre vocês que estão fazendo estudos filosóficos, mostrando uns aos outros, o que escreve, o que pensa, ajudando-se mutuamente, mesmo que o outro lhe roube suas idéias luminosas.
Projeto 2, sugestões
- O termo conceito usado aqui, corresponde à construção da idéia da ciência, diferente do fato ciência?
- Objetivação corresponde ao processo que caracteriza, segundo Heidegger, a passagem do conhecimento pré-científico para o científico teórico? As estruturações e níveis seriam esta passagem?
Em vez de logo responder a essas perguntas, embora seja bastante chutado, talvez fosse útil explicitar o seguinte: na fenomenologia o que p. ex. em Ser e tempo denominamos de dimensão pré-científica traz consigo uma ambiguidade que consiste no seguinte: como no caso da denominação pré-socrática, os pensadores do grande início como Parmênides e Heráclito são já de antemão “mirados” a partir de Sócrates-Platão-Aristóteles, iniciadores da meta-física. É por isso que essa dimensão da origem é considerada ora como primitiva, mítica, religiosa, indiferenciada, indeterminada, de tal modo que até em Hegel é denominada de o Imediato indeterminado. Assim, acontece com a dimensão pré-científica ou como diz o Ser e tempo pré-predicativa (i. é, antes da estruturação em S é P (= S « O). O que e como é essa dimensão ela mesma não é assim captada nela mesma, pois sempre a captamos mediante a estruturação S é P. Atrás de toda essa colocação, na qual aparecem como categorias fundamentais o objeto, o sujeito, o conhecimento como adequação do S e P, o ser real como a coisa-objeto, coisa-objeto como substância e seus acidentes, o homem como sujeito etc. etc., opera um determinado sentido do ser da ontologia tradicional que Ser e tempo questiona, tentando colocar a questão do sentido do ser, em trazendo à luz o sentido do ser diferencial e próprio do ente (homem) onde se dá a presença desse sentido do ser predeterminado da ontologia tradicional. A tentativa de desvelar o que se pressupunha como o sentido do ser básico e fundamental da realidade como um modus deficiente, ou melhor, um modo já derivado do sentido do ser mais vasto, mais profundo e mais originário se chama analítica da existência: que à primeira vista parece ser uma antropologia, mas na realidade é inauguração do que em Ser e tempo se chamou de ontologia fundamental. O ser ou a essência, o próprio do ente usualmente denominado homem é ser a possibilidade da abertura do sentido do ser, cada vez novo e de novo, e cada vez mais imenso, profundo e originário, abertura que é indicado pelo prefixo Da do termo Da-sein, i. é, a pré-sença. É o que se chama das Offene, Lichtung do ser etc. Esse Anwesen, esse Ab-grund, esse Abismo da possibilidade de ser que é captado de imediato e claramente como o vir à luz, como e-videri, é a dimensão pré-predicativa ou pré-científica que nos pré-socráticos se denominava Physis (= Ser). Essa “percepção”, essa “captação” imediata ela mesma, em sendo, é o Da-, o ex- do Dasein ou da existência. Aqui a maior ou menor clareza da evidência no ser que se constitui como verdade: a-létheia, determina o que é realidade, ser. Aqui ser e pensar coincidem. Portanto a imensidão, a profundidade, a dinâmica da nascividade do abismo da possibilidade de ser, portanto a dimensão pré-predicativa é o que se denomina p. ex. na Origem da obra de arte, de Erde. E o que vem à luz, à fala em e através do aberto, do Da do Dasein, da presença, i. é, do homem na sua originariedade, se chama Welt (cf. a descrição do sapato da camponesa e também do templo grego). Você logo percebe que essa presença-do-abismo da possibilidade de ser, que é ao mesmo tempo um perder-se no abismo insondável do mistério do ser, não tem propriamente nada a ver com o indeterminado, o menos elaborado, o ainda não evoluído, embora usemos expressões como vir à luz, vir à fala etc. Aqui estruturação, trazer à fala, o e-videri, i. é, evidenciar, não é projeto do sujeito, não é explicitar, explicar, dar notícia sobre, mas sim sempre mais intuir, i. é, ir para dentro do abismo insondável, é o estar suspenso da espera do inesperado e ser cada vez de novo passagem “entre” Erde e Welt. Conhecimento aqui não é portanto relacionamento de um eu-sujeito com o objeto diante ou ao redor dele, mas sim nascer juntamente com e como Welt, portanto, In-der-Welt-sein. O que chamamos de ente, das Seiende, não é outra coisa do que o em sendo do tornar-se Welt como todo um mundo de presenças concretas de uma determinada possibilidade de ser que vem à fala. O vir à fala da Welt, através da passagem do Da-sein não é um jorrar, brotar, nascer no sentido físico, vegetal, animal ou anímico, mas uma implicância de percussão e repercussão do que em Ser e tempo se denominou Zu-sein, i. é, Freiheit. Nesse sentido o Da-sein e sua Faktizität ou sua existencialidade é responsável por o como e o que do surgimento do mundo e sua errância.
Todos os nossos atos e afazeres, inclusive todos os não atos e não afazeres, enfim todos os momentos do nosso em sendo passagem responsável pelo nascimento, crescimento e consumação do mundo e a conservação cada vez mais abissal do mundo no enraizamento à terra, i. é, dito com outras palavras, todo e qualquer aparecimento do ente e sua constituição é como concepção, como gestação da responsabilidade do Da da passagem entre Erde und Welt: i. é, do Da-sein, da pré-sença. Essa dinâmica da concepção na genesis do mundo e seus frutos, ou melhor, suas obras se chamam conceitos (Begriffe, Griff, greifen: captar), se as miramos referidas ao seu surgir como toque do abismo insondável na possibilidade da passagem, do Da; se as miramos, referidas como frutos e obras, em surgindo, em sendo como entes, chamamos de das Seiende, o ente.
Conforme maior ou menor limpidez, fluência e liberdade da responsabilização do Da como passagem entre Erde und Welt, o que vem à fala como das Seiende (no seu ser) pode aparecer como Sache, Ding, Gegenstand, Objekt e Gestell. Para cada um desses modos de aparecer do ente corresponde o desvelamento (o Da da responsabilidade de ser passagem do abismo de possibilidade para uma determinada possibilidade no seu ser) do sentido do ser, seu limite e sua atuação, na constituição do mundo. Sache, Ding, Gegenstand, Objekt, Gestell são termos que indicam diferentes níveis ontológicos na constituição dos entes e seu ser.
Quando hoje queremos captar em que consiste a essência da ciência, cujo modo de ser e cuja possibilidade de ser ente sempre nos traz à fala Objekt e sua objetividade (Heidegger diz que na ciência sob o domínio da tecnologia não há mais Objekt, mas apenas Gestell), colocar em questão a objetividade e cientificidade da ciência significa percorrer de volta, i.é reduzir, ou reconduzir a nossa captação, ao sentido do ser que está sendo emitido a partir do sentido do ser possibilitado pela epocalidade, na qual surgiu a ciência.
Depois dessa lenga-lenga, voltemos às suas perguntas:
- Sim, de tal sorte que na ciência de um lado temos o fato e do outro lado temos o conceito. I. é, toda a estruturação está na fixação e predeterminação S « O e correspondentemente S é P (conceito e ligação do conceito = juízo). Mas nessa concepção do que seja todo o processo de conhecimento que cria de um lado conceito e por outro lado pressupõe o fato objetivo, o termo objetivação indica o fruto cujo processo é a maneira como a ciência, dentro da estrutura da constituição do conhecimento como S « O, traz à fala uma rede de juízos concatenados entre si, como imagem e semelhança (adequatio) da realidade objetiva. Sondar em que consiste o sentido do ser que dinamiza tudo isso, e captar como é o modo de ser do comportamento do Da no desvelamento do sentido do ser atrelado a esse modo de processamento do ente como objeto, e mostrar que ver a ciência moderna como uma das possibilidades e responsabilidades do homem no seu ser é ter o conceito existencial da ciência.
- Sim, trata-se da passagem do conhecimento pré-científico para científico. Só que Heidegger ao nos expor como é a estruturação dinâmica do processo de objetivação, nos insinua que há objetivação e objetivação; e na objetivação (Objekt) como é feita na ciência (matematização) está presente o processo de objetivação que já havia nos gregos, mas que lá a objetivação se achava mais próxima ao Gegensstand, Ding e Sache, ao passo que hoje a objetivação se encaminha para Objekt e para Gestell. No texto de Heidegger sobre a objetivação do conhecimento científico ficar de olho quando ele fala do manthánein e no matemático no sentido originário grego.
Com outras palavras, é tentativa de reconduzir a compreensão da ciência, mostrando que ciência que é considerada como um elemento da teoria do conhecimento é um modo de ser do homem, enquanto uma determinada abertura, correspondendo a um determinado sentido do ser que vem da metafísica tradicional, ou melhor, da ontologia tradicional, cujo sentido do ser pode ser colocado em questão pela recondução da explicação epistemológica a uma análise ontológico-fundamental que costumamos chamar de existencial.