Nós, como Frades, pertencemos a uma sociedade toda própria, a Ordem dos Frades Menores Conventuais. Como pertencemos?
Aqui, como sugestão de reflexão, um esquema com uma espécie de tipologia sociológica dos frades, onde se tenta analisar o tipo de pertença dos frades à sua Ordem.
Sociologicamente, existem vários níveis de pertença à sociedade chamada Ordem.
- O primeiro nível é o nível jurídico. Por nível jurídico se entende os deveres e os compromissos externos que a Ordem tem. Toda sociedade como instituição tem certa organização. E o ‘jurídico’ é o que se recebe primeiro quando se entra numa sociedade. É como se dissesse a cada um que entra: “Olha, nossa sociedade é isso. Examine bem se você ao entrar está procurando isso ou não. Se você entrar, você terá deveres externos. Não precisará fazê-los de todo o coração, mas externamente terá que fazê-los”. Neste nível há:
- frades que, juridicamente, estão meio dentro e meio fora, isto é, parecem como alguém que entrou numa firma e, em parte, executa e, em parte, não executa o que a firma pede.
- frades que, juridicamente, estão fora, mas, corporalmente, dentro. Numa firma, não seria possível fazer isso; mas na Ordem dá para fazer. São os frades que não cumprem nenhum dever escrito, externo, mas vivem dentro. Por ex. comem, dormem, etc.
- frades que, jurídica e corporalmente, estão fora. ‘Corporalmente fora’ significa que não moram mais dentro. Às vezes nem se sabe por onde andam. Mas, não assinaram nada e se alguém os alertasse que não dá para ficar assim, nem dão ‘bola’.
Entre esses que jurídica e corporalmente estão fora, incluem-se ainda:
* frades que estão para sair ( podem até morar na comunidade. Podem até ser ajudados ).
* frades que ficam dentro por medo de sair ( têm medo de enfrentar a sociedade civil ).
* frades que ficam por coleguismo ( gostam do grupo e o grupo os mantém; mas quando o grupo se dissolve perdem o sentido, isto é, se vão com os outros ).
* frades que ficam como parasitas mesmo ( para aproveitar de vantagens ).
- frades que, jurídica e corporalmente, estão dentro. Isso não significa que estão vivendo segundo o espírito da Ordem; mas estão dentro e cumprem os deveres externos. Destes, alguns, podem pertencer ao segundo nível, o nível religioso.
- O segundo nível é o nível religioso. Neste nível estão os frades que têm o desejo de ser religiosos. Neste nível a pertença já não é mais só externamente, começa a ser uma pertença de significação mais profunda. Neste nível há:
- frades que, religiosamente, estão meio dentro e meio fora. É que o que distingue a nossa sociedade, a Ordem, das outras, isto é, os deveres religiosos propriamente ditos como por ex. a oração, etc., eles não cumprem bem. Não estão convencidos dessas coisas e as fazem mais ou menos, quase por obrigação.
- frades que, religiosamente, estão fora. Estes simplesmente não fazem as coisas que pertencem ao ser religioso. Não há diferença nenhuma de certas pessoas que, embora boas, só estão jurídica e corporalmente dentro .
- frades que, religiosamente, estão dentro. Esses entraram na Ordem para ser religiosos mesmo. Só que, dentre esses, há alguns que têm idéias vagas ou confusas sobre o ser religioso; mas querem ser religiosos ( por ex. entendem o ser religioso no sentido de sentimentos piedosos, coisa particular de piedade, etc.).
- frades que, aos poucos, começam a entender o ser religioso como Seguimento de Jesus Cristo. Desses alguns podem pertencer ao terceiro nível, o nível comunitário.
- O terceiro nível é o nível comunitário. Sociologicamente, pertença a nível comunitário significa a decisão de pertencer à Ordem como Instituição da Igreja. É que quando dizemos ‘pertença comunitária’ usualmente entendemos a comunidade na qual vivemos, assim sentimentalmente. Então, aqui, não devemos pensar no frade que quer se dar bem na comunidade; mas sim, como ele encara sua pertença à Instituição. Neste nível há:
- frades que, comunitariamente, estão meio dentro e meio fora. De fato, há frades que querem ser religiosos e alguns têm idéia muito clara do Seguimento; outros podem ter idéias menos claras ou vagas e confusas. No entanto, em referência à Instituição, ambos, comunitariamente, estão meio dentro e meio fora. Por exemplo: um frade que entende o ser religioso como Seguimento de Jesus Cristo e entra na Ordem, mas no fundo acha que a Ordem só está atrapalhando a ele no seu Seguimento de Jesus Cristo. Esse está dentro, mas em nível comunitário está meio fora.
- 2. frades que estão, comunitariamente, fora no sentido de que pensam que da Instituição não recebem nada ou quase nada que ajude realmente a ter o Seguimento de Jesus Cristo. Há até os que saem da Ordem e vão buscar outra.
- frades que, comunitariamente, estão dentro. Neste grupo há três classes de frades:
* frades que estão dentro e usam a Ordem para interesse pessoal. Pode ser interesse até profundo e santo, mas a Ordem está em função deles: usam a Ordem como lugar para eles se realizarem no Seguimento de Jesus Cristo. Assim só fazem o que serve para eles. Isso pode acontecer a um indivíduo ou a um grupo. É como dissessem: ‘A Ordem tem que estar a serviço de nós’.
* frades que estão dentro, mas dirigidos por fora. Estão na Ordem, mas são dirigidos ou controlados por pessoas ou grupos, de interesses até muito autênticos, mas alheios aos interesses da Ordem ( por ex.movimentos com espiritualidades próprias, com interesses próprios, criando núcleos dentro de uma outra instituição). Isso dá muita confusão. Na Ordem, onde isso começa, começa a morte da ordem.
* FRADES QUE AMAM OS VALORES, OS OBJETIVOS DA ORDEM COMO SUA CAUSA E SUA COISA.
Esses trabalham, lutam, constroem, criticam em função da dinamização da Ordem para o fim a ela confiado pela Igreja.
A Ordem só tem sentido para este último tipo de pertença. Para todos os demais, a Ordem e tudo que está direta ou indiretamente ligado a ela, não diz absolutamente nada. Provavelmente é difícil sermos inteiramente isso. Há épocas em que se está um tanto quanto balançando. Portanto, há a necessidade de examinarmos sempre o nível de nossa pertença à Ordem. Do contrário, estamos numa sociedade, a Ordem, sem muita responsabilidade.