Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Do Evangelho – A Visão Franciscana do Homem

03/03/2021

 

A Visão Franciscana do Homem, do mundo, das criaturas, do sofrimento, da morte e do pecado, sob o enfoque da minoridade

O tema é muito vasto. E mesmo que fosse capaz de dizer algo sobre o assunto, seria absurdo falar de tanta coisa num artigo. Por incapacidade de dizer algo sobre o assunto no sentido de ‘visão franciscana’ do homem, do mundo, das criaturas, do sofrimento, da morte, do pecado, gostaria de tecer somente reflexões avulsas que de certa forma dizem respeito ao assunto.

Cada experiência originária é uma visão

         Quando falamos de visão franciscana, pensamos na mundividência. Um sistema de explicações dos seres.

Ao lermos, porém, o texto de São Francisco não encontramos um sistema propriamente dito. Ali temos apenas algumas experiências fundamentais. As vivências-culminâncias que deram a dominante da vida de São Francisco.

Aqui seria, talvez, bom, nos recordarmos do que seja o carisma franciscano. Se perseguirmos a gênese de uma mundivisão, percebemos que no núcleo de um sistema está a explosão originária que se chama: experiência primordial. A visão sistemática, a mundivisão não é outra coisa do que a racionalização, a explicitação de uma experiência originária, compacta e viva, que por assim dizer cria todo um mundo de sentidos e significações.

A partir desse modo de ver a experiência originária, podemos dizer que cada experiência originária de São Francisco é uma visão, isto é, o ocular através do qual posso interpretar os seres, homem, mundo, criatura.

Vamos repetir o que acabamos de dizer, pois, é de grande importância para a nossa busca da espiritualidade franciscana.

Existem duas maneiras de ver e avaliar uma obra de arte.

Você pode ver a obra como um objeto diante de você, como o resultado pronto do trabalho artístico de um autor. Você nesse caso não cria uma visão. Você vê a obra dentro da sua visão crítica, apreciadora, econômica, social, etc.

Você pode, porém, ver a obra de arte, não como um ob-jecto da sua contemplação, mas sim como um ocular através do qual você vê e interpreta o mundo. Ali você não conhece sobre, mas você conhece a partir de, através de. A obra não é mais objeto, mas sim janela que me introduz dentro de uma visão, de uma paisagem. É nesse sentido que disse Paul Klee: a arte não reproduz o visível, ela faz visível.

O que acontece com a obra de arte, acontece também com a experiência originária. Eu posso considerá-la como um ato psíquico, um acontecimento histórico, uma vivência dessa ou daquela pessoa. Eu posso, porém, considerá-la também como um ocular, uma fenda, que me abre todo um mundo novo de significações.

Tomemos, por exemplo, a experiência de São Francisco do Servo de Javé na figura de Senhora Pobreza. Se você considera essa experiência como um objeto psíquico, então, você no máximo terá na sua frente algo como ‘vivência intensa’ ou coisa semelhante. Mas, se você a considera como um buraco de fechadura, através do qual você pode ver uma nova paisagem, então, você terá uma visão, uma mundivisão.

Se você coloca a experiência franciscana da Minoridade como o ocular do seu modo de ver e sentir, há de descobrir uma concepção de vida, do homem, da criatura, todo especial, de colorido e gosto bem diverso de uma concepção, por exemplo, de alguém que olha o homem, o mundo e a criatura através do ocular, digamos, da experiência de Deus como Senhor triunfante que aniquila os inimigos da Igreja.

Seria um trabalho muito útil e interessante para nós ver o homem, o universo, a sociedade, o pecado através do ocular: Senhora Pobreza, Paz, Bem, Fraternismo, Imediatez franciscana, etc.

O mal como desgraça sob o ocular da minoridade

         A seguir, uma rápida e superficial tentativa de ver o mal sob o ocular da minoridade, Senhora Pobreza.

Nós dissemos, ao falar da minoridade: A Minoridade é a Senhora Pobreza como o Amor-Pessoa do Encontro.

À luz desse ‘conhecimento’ (sentir, saborear, conhecer no sentido bíblico) o mundo, até nos seus elementos os mais insignificantes adquire uma importância extraordinária: cada pedra, cada verme, cada segundo, todo e qualquer fenômeno cultural, cada ser, tudo é o instante do Encontro, onde o olhar do Tu cruza o meu olhar: me chama, se me oferece, e-voca, convida. A Senhora Pobreza é o olhar que me chama e ao mesmo tempo o meu olhar, que responde, que vai de encontro: aceitação-gratidão desse indizível encontro: Eu-Tu, Pai Nosso!, Maria-Rabboni!

A Minoridade como libertar o ser no respeito e na humildade do nada, para aquilo que ele é pela gratuidade do Amor de Deus é: a espera, a aceitação desse Encontro no Amor e através do Amor, que é Deus, Ele mesmo.

Como tal a Minoridade é: deixar ser, fazer ser o mundo aquilo que ele é na sua raiz, na sua origem: nada e tudo, nada de si, tudo de Deus. Como o tudo de Deus é a Doação do Amor, o libertar o ser para aquilo que ele é se torna uma resposta cheia de gratidão para o convite do amor de Deus.

Respeito e afirmação do ser, deixar ser, tudo na sua originariedade e singularidade é a atitude da minoridade.

Mas, se a nossa atitude é essa, como se comporta a Minoridade diante do mal?

Não sei responder adequadamente a essa pergunta. Pois, no fundo trata-se aqui do difícil problema do mal.

Mas, a nossa reflexão quer tão somente ver em alguns traços superficiais como seria o problema do mal, se o enfocarmos sob o ocular da Senhora Pobreza.

Por mal entendemos em primeiro lugar ‘o mal’ como desgraça, prejuízo, dor, sofrimento, como, por exemplo, enfermidade, fome, necessidade, etc. E então, em seguida, ‘o mal’ como maldade, pecado, etc.

Peço-lhes desculpas que a reflexão está chutada. É somente para servir, talvez, de sugestões.

A concepção franciscana da minoridade, interpretada como a Senhora Pobreza contém qualquer coisa de duplicidade, algo como um duplo sentido na sua atitude perante o mal-desgraça.

São Francisco toma a superação do sofrimento, das desgraças da Terra a sério e ao mesmo tempo não tanto assim. Exagerando, para fazer ressaltar a estrutura, podemos dizer: parece pertencer à essência da espiritualidade franciscana o paradoxo de que Francisco diante de um faminto dá o único pedaço de pão que possui, vai esmolar para ele, com ele, mas jamais pensa em desencadear um movimento, uma reforma social para combater a fome do mundo.

Certamente eu posso com muita facilidade explicar o fato a partir do enfoque histórico-sociológico. Naquela época, os homens não pensavam em moldes sociológicos. São Francisco não pensa em movimento social porque o pensar ‘social’ é o produto do pensar moderno.

A explicação é, talvez, válida empiricamente. Mas, para mim resta a pergunta: Por que a época de São Francisco e com ela o próprio São Francisco não pensava ‘socialmente’? Prefiro ver nessa atitude de São Francisco antes uma atitude do ser, da maneira de ser, que aponta para uma outra dimensão, talvez, para uma dimensão mais profunda do que a dimensão sócio-reformista da nossa época.

Eu não posso me livrar da imagem de São Francisco que pede misericórdia ao fogo que lhe queima a carne, o chama com amor e familiaridade de ‘irmão fogo’. Aqui temos algo mais do que uma simples poesia.

Um São Francisco, por que não seria ele capaz de chamar também a fome de ‘irmã fome’?

Mas, a fome?! A fome traz desgraças; mata milhares de pessoas, crianças inocentes, mães, anciões. Quem uma vez viu a fotografia dos famintos na Índia, Biafra, na América do Sul, se revolta contra tal ‘romantização poética’ da dura e insuportável realidade. E, apesar de tudo isso, estou convencido que São Francisco acolheria a terrível fome e a chamaria de ‘minha querida irmã fome’. E não creio que Francisco tenha sido um poeta alienado. Estou antes convencido que ele conhecia e vivenciou a dureza da Terra muito mais profunda e cruamente, muito mais realisticamente do que todos nós.

O pivô da questão parece estar no seguinte: Francisco vê em tudo o seu último fundamento, a raiz, a origem. Ele vê o que a fome pode e deve ser na sua originariedade para o faminto. Ele vê tudo colocado na última parede, na última barreira do ser-humano. Se cada realidade, se tudo é a manifestação do Encontro que é o Amor, então, também a fome é para o faminto uma chance de Encontro com o Amor, por mais desumana, escandalosa, por mais dura e cruel possa soar tal afirmação para nós homens do século 21, orientados humanística e socialmente.

Certamente, ele fará tudo para o ajudar, para aliviar o faminto, para o libertar da morte. Ele até há de morrer, ele próprio, sucumbir junto com o seu irmão faminto, se não o pode salvar da fome de outra maneira. Tudo isso e mais ainda ele fará na imediatez do seu amor. Mas, tudo isso, o aspecto ‘social’ da promoção é para ele simplesmente secundário. O essencial, o sério, em São Francisco é o anelo, a intenção de atingir o faminto na sua raiz, na sua essência, no seu ser-homem originário. Ele quer ajudá-lo para que o faminto se torne ‘homem’, se torne a ex-sistência-nada, que no salto radical da criatura se lance na provocação confiante ao incompreensível Amor de Deus na gratidão: isto é, São Francisco vê a promoção, a salvação, a humanização, no salto da Minoridade. E Francisco sabe sobriamente e sem ilusão, que o homem justamente no seu sucumbir pode ressurgir na sua última grandeza como ‘criatura’.

Mas, como essa humanização (individuação, na terminologia da psicologia profunda) não se realiza através do ensino, da teoria, da palavra, como a relação, a comunicação com o outro é também o encontro de Amor, tem a estrutura de encontro, São Francisco transmite essa sua visão através da ‘co-existência’, isto é, no com-sofrer, no lutar junto. Ele dá tudo, para que o outro na sua própria situação possa ele mesmo se tornar a ex-sistência gratuita do Amor.

A assistência ‘social’ de São Francisco é, portanto, essa co-existência que se chama solidariedade, a saber: fraternismo. Com outras palavras: ele se coloca justamente na mesma situação do faminto, mas então realmente, assumindo toda a dureza da Terra, tenta tornar-se igual ao seu irmão que sofre, e nessa situação de assumir a situação do outro, ele, Francisco, tenta com todas as fibras do seu ser, tornar-se a ex-sistência do Amor gratuito, a ex-sistência-abertura no sentido da Senhora Pobreza, e assim nessa com-passio (compaixão) tenta apoiar o seu irmão na sua luta pela ‘ autenticidade’.

Se alguém sofre fome, São Francisco há de sofrer fome com ele e louvar a Deus.

Sei que isso soa maluco, imprático. Talvez desumano e escandaloso. Mas, a partir da concepção, da visão do ser como Minoridade, na acepção da Senhora Pobreza, que no fundo não é outra coisa do que o Escândalo da Cruz, me parece não haver outro caminho de interpretação.

Aqui pediria que você lesse de novo o que dissemos na apostila sobre a Minoridade, da nova visão do Amor de Deus que só se revela na Cruz de Jesus Cristo, quando você diante do sofrimento da Terra vai à lona e está suspenso entre o ateísmo e uma nova concepção do Amor de Deus. Chesterton disse uma vez que ele não largava tão facilmente a sua intuição, pois, ele gastara para ter o estalo 15 minutos de reflexão. Parece que na concepção franciscana da Cruz como o Servo de Javé e Domina Paupertas, na nova concepção terrível da Bondade de Deus e da essência do homem, está uma dessas intuições que uma vez compreendida, não se larga tão facilmente, porque lhe custou um instante de Encontro, 15 minutos que é uma eternidade. Tudo depende com que facilidade ou com que seriedade sofrida você fala do sofrimento da Terra!

Portanto, a atitude fundamental e autêntica da espiritualidade franciscana diante da desgraça e do sofrimento da Terra é: fazer tudo, aplicar todos os nossos esforços, todas as nossas energias para ajudar, para aliviar a sorte da Terra, sem, no entanto, considerar esta tarefa como a tarefa originária e a solução última do problema. E ver em cada desgraça, em cada sofrimento da Terra a chance de humanização como a dureza e a exigência da Gratuidade do Encontro. Tornarmo-nos nós mesmos Menores, com-sofrer, e nessa co-existência fraternal de solidariedade ajudar o meu irmão a ser menor na sua situação.

Insistamos na palavra ‘co-existência fraternal’.

Pois, essa maneira de testemunho por solidariedade não é um exemplo. ‘Dar bom exemplo’ pressupõe sempre alguém que dá o exemplo a um outro. Ali há certa distância. Algo como auto-satisfação. Triunfalismo camuflado. Em São Francisco o exemplo é a imediatez da identificação com o outro no amor fraternal. Ele não dá ao outro um exemplo. Ele não lhe dá norma. Mas, ele é simplesmente o outro na com-paixão.

A partir dessa visão, compreendemos a atitude de São Francisco de não querer suportar que alguém fosse mais pobre do que ele.

Portanto, nessa concepção radical e absoluta do mundo, do homem, da sorte da Terra, existe algo de profundo e duro, que por assim dizer atravanca a moderna concepção idealista de desenvolvimento e progresso. Essa dureza, porém, indica uma dimensão que atualmente, no pensar contemporâneo, vem ocupando cada vez mais a atenção, como uma superação do idealismo progressista do século 19, em cuja mentalidade operamos sem muito questionamento (Cf. o absurdo no teatro e na literatura contemporânea. Cf. a filosofia de Nietzsche).

Com muito rigor, atentos para não procurarmos um álibi para a nossa preguiça, egoísmo e incapacidade, possamos dizer: talvez nessa visão da Senhora Pobreza está a causa da impossibilidade franciscana de organizar um movimento ‘social’ no estilo e no sentido moderno da palavra. A falha não está tanto no fato de nós nos ocuparmos muito pouco com as questões sociais, mas antes de tudo e fundamentalmente em não compreendermos o que Francisco entendeu, sentiu, sob o termo Senhora Pobreza e Amor.

Na perspectiva do que até aqui dissemos, Francisco não pode viver ‘sossegado’, se ele ficar sabendo que o seu irmão sofre fome. Se ele não o pode ajudar com um pedaço de pão, irá ter com o seu irmão, sofrerá fome junto com ele, e louvará a Deus.

Esta maneira de ser, imprática e idiota, esconde no seu seio aquela atitude, aquele modo de ser, que duas pessoas que se amam profundamente compreendem sem o por quê. Talvez São Francisco é uma pessoa que compreendeu o escandaloso da revelação do Mistério da Encarnação: Deus não ama como espírito, como um Ser Supremo, como o Deus do além-mundo, do sublime, mas sim com o coração palpitante, apaixonado e humano que se chama Jesus Cristo. Se você quer compreender o Amor de Deus vá procurar o lugar de revelação desse Amor na estrutura, no modo de ser humano do Amor de Encontro.

Em São Francisco, porém, o sofrimento, a dureza da terra se torna transparente na luz da alegria, que somente é compreensível a partir da Senhora Pobreza. Pois, nessa com-paixão com o seu irmão faminto, ele fisga diretamente a última e radical (de raiz) dignidade do homem, o seu Ser propriamente dito: a fome é uma possibilidade bem concreta e real do Encontro do Amor. Portanto, a fome é uma chance concreta para ‘Ser’. Esta afirmação radical e corajosa do ‘ser-humano’, que é representada nas tragédias gregas, adquire em São Francisco a forma de um salto alegre, translúcido no abismo da Gratuidade de Encontro originário com a Fonte do Amor, na confiança, na doação, na gratidão. O otimismo e a alegria que brotam desse salto estão além do sofrimento. Além, não no sentido de diminuição, de fuga do sofrimento, mas como o último sentido de profundidade do sofrimento da Terra: o Encontro. São Francisco é um homem que pela profundidade da sua experiência minorítica justifica e descobre o último e o próprio sentido da dor. Ser alegre, confiante na tamanha aceitação do sofrimento da Terra é talvez a atitude mais difícil do cristianismo. Ela é somente possível a partir do ‘nihilismo’ da Minoridade como gratidão da Senhora Pobreza.

Paradoxalmente se pode dizer: a espiritualidade franciscana da minoridade é tão radicalmente nihilista, que aniquila até mesmo o nada e se abre para a afirmação gratuita, jubilosa da aceitação de tudo como Graça do Amor de Deus.

E essa afirmação de tudo, porque o ‘ser’, o ente, tudo é o Encontro do Amor, se expressa na segunda pessoa: minha irmã morte! A poesia é, portanto, em São Francisco a expressão adequada da dura realidade, que na sua realidade mais profunda não pode mais ser expressa pela linguagem comum e ‘real’ do nosso cotidiano: ela é a linguagem da Senhora Pobreza, que pode ir de encontro ao olhar da Morte, aceitá-la, dar-se a ela, no enamoramento do Encontro: Tu, minha irmã!

O mal como pecado a partir da  minoridade

Mas, existe um outro mal sobre a Terra: a maldade, o pecado!

Na visão, no ocular da Senhora Pobreza, a maldade, o pecado é destruição, a ausência do Amor. O que é isso, não se pode mais dizer em palavras e conceitos. Aqui entra em cheio a dimensão da imediatez ou ‘sentir’. A imediatez ou o sentir não é um modo de ser psicológico ao lado da razão. É um modo de ser, é uma estrutura de profundidade humana, mais originária do que a razão, onde o compreender se identifica com o ser. A capacidade de ‘compreender’ o que é a maldade, o pecado, somente tem aquele que intensamente se abriu à dimensão do Encontro e do Amor. Só quem ama, é capaz de ser ferido pela destruição do amor.

Portanto, só quem ‘sentiu’ o que é o Encontro com a Humanidade de Deus, só quem sentiu na sua ‘carne’ o que é o enamoramento, a doação, a humildade do amor de Deus, pode compreender como São Francisco o que é o pecado. A maldade ali tem qualquer coisa de sinistro, brutal, destruidor como ele é mostrado no filme ‘A fonte da donzela’ de Bergman.

Na espiritualidade franciscana, o pecado não é tanto uma ofensa à Majestade de Deus. É antes uma destruição satânica de um Amor íntimo, terno, uma rejeição brutal da doação humilde do amor, de Deus, do irmão, do outro, da criatura. É algo como o desprezo à criança, à inocência. Diante dessa ferida que é causada no amor de doação pelo espezinhamento brutal da maldade, a reação de São Francisco é uma profunda mágoa que vem do Amor: o Amor não é amado!

Mas, também aqui o olhar translúcido da Senhora Pobreza penetra até as raízes de realidade-pecado. Ele não vê em primeiro lugar o pecado em si, abstrato, ele vê em concreto o pecador, que é seu irmão. E o pecador, o mais brutal dos malfeitores, num recanto escondido do seu coração é uma criatura abandonada, sem defesa, uma criança que se enrola egoisticamente em si, porque tem fome, porque sente frio, porque não experimentou o Encontro. Novamente, também aqui, São Francisco vai direto ao coração do Ser, à sua situação da nihilidade-criatura.

No ocular, no horizonte dessa visão radical da Senhora Pobreza surge uma cosmovisão do homem, do universo e do mal, que pode atrapalhar a visão burguesa moralista do idealismo. Como o Padre Brown das estórias de detetive de Chesterton, São Francisco fica horrorizado diante de uma simples rosa esmagada pela incompreensão, reage duramente contra a melancolia do seu irmão, mas fala com familiaridade, está em-casa com o lobo, fala das suas maldades como se falasse com o seu irmão. Francisco está na sua imediatez tão perto da realidade, é tão penetrante que sempre atinge a coisa mesma no seu âmago. No entrelaçamento complexo das motivações, fraquezas, maldades e imbecilidades, que constituem a vida humana, Francisco atinge cada ser na sua própria situação, e a partir da origem última de todas as coisas, convida, evoca, cria o lugar de Encontro: lugar de Vocação, Conversão, Decisão, que é o Encontro.

Esta clarividência, que é o olhar translúcido e profundo da Senhora Pobreza, é a cosmovisão de São Francisco de Assis.

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