Frei Gabriel Dellandrea, ofm
Desde pequeno ouvi que no tempo da quaresma não se faz muita festa. Todavia, fiquei desconfiado com uma solenidade que sempre é comemorada neste tempo de penitência: o dia de São José, esposo de Maria. Pensei: mas por que não remanejar os calendários litúrgicos e colocar sua comemoração no Tempo Comum para não mudar as características quaresmais? Porém, não demorei muito para responder essa pergunta e percebi que esta comemoração está no tempo certo. E caro leitor, também desejo convencê-lo disso.
Muito é falado das características de São José. Mas quero ressaltar uma que nos guiará muito neste belo tempo de conversão. Destaco que o esposo de Maria foi, sem dúvidas, um homem desapegado.
Este desapego nada tem a ver com aniquilamento ou falta de amor próprio. Antes de tudo José não ficou preso a preconceitos, ou a sonhos próprios. Descobrindo a missão divina, de estar ao lado de Maria, que conceberia o Messias, e recebendo a confirmação de Deus para assumir esta paternidade adotiva, “arregaçou as mangas” e pôs-se a missão!
Sendo assim, assumiu as alegrias e também os desafios e sofrimentos de ser, como sua esposa, escravo do Pai. Imagine a decepção de José por não encontrar pouso para sua companheira grávida. Mas confiando em Deus, foi até a pequena gruta e contemplou o Deus-Menino. Quanta alegria e ação de graças por este desafio superado!
Quando José pensou que talvez passaria o susto, deixou mais uma vez seus planos de lado, e desapegado, fugiu para o Egito a fim de proteger a criança. Todo pai sabe da potencialidade de seu filho e José sabia que nos braços daquela que amava estava o Salvador. Mas ele deve ter sentido uma alegria sem igual ao ver que, muitos anos depois, o menininho que ele salvara, salvou a humanidade inteira numa cruz.
Por isso a festa de São José combina com a quaresma. Este seu desapego para viver a missão do Pai faz dele até hoje um exemplo de cristão: aquele que se desprendeu de tudo para servir a Deus. E neste tempo somos convidados a fazer penitência, ou seja, renunciar algumas coisas da nossa própria vontade para que a Vontade de Deus se faça em nós.
Que São José, este homem verdadeiramente penitente e desapegado, nos ajude a entender como Francisco de Assis que: “Nada de vós retenhais para vós mesmo, para que totalmente vos receba quem totalmente se vos dá!” (CtO 29).