Vocacional - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

A universalidade do vazio

05/02/2021

 

Sérgio Wrublevski*

A existência de frei Hermógenes Harada marcou decididamente a existência de muitos homens e mulheres que tiveram a graça de participar do desafio espiritual nos mais diversos níveis de participação: como irmão, amigo, mestre do espírito. A sua morte tornou ainda mais nítida a sua presença viva, corajosa, prenhe de acenos de  renovação, sempre tão preciosos em nossos tempos de indigência espiritual.

Como poderia ser compreendido o seu principio de vida e trabalho, que o fez trabalhar incansavelmente com tanta alegria e nitidez até os últimos instantes, que o fazia tão procurado e estimado por tantos, e que o fazia, ao mesmo tempo, ser tão incompreendido por muitos?

De seu pai, professor escolar, budista convertido ao exército da salvação e depois ao catolicismo, a modo dos missionários alemães no Japão, frei Hermógenes disse ter recebido acenos para a atitude fundamental: fazer de sua existência algo de benéfico para a humanidade, e isto, de modo entusiasmado, abnegado e sem pretensões subjetivas.

No jargão filosófico, essa atitude significa fazer a existência ser um caminho de niversalidade na condição particular-singular. Buscar, em toda a radicalidade, a universalidade de modo absoluto e finito na existência singular, traz como desafio fazer de cada tempo e lugar da existência o encontro cada vez único, concreto e pleno de realização. Isto significa assumir toda a existência factual como lugar singular e criativo de uma acolhida cada vez mais ampla e originária, e de tal modo que cada  concreção origina, a partir desta pura abertura, múltiplas concreções de universalidade. Este é o vazio cheio, do qual a cultura do oriente e todas as grandes intuições religiosas falam.

Esta exigência de radical transcendência na finitude acolhe e ultrapassa tanto as possibilidades da filosofia acadêmica, como também as possibilidades do budismo, do cristianismo e franciscanismo, enquanto movimentos históricos e juridicamente institucionalizados, para convocar cada homem a exercitar esta transcendência a partir do e no seu enraizamento finito em direção a uma pura disponibilidade, capaz então de ser agenciamento tanto da humanização do homem, de sua autêntica divinização, e da divinização de toda criatura.

Esta atitude de espírito recusa uma filosofia entendida como reunião de conhecimentos e sabedorias de vida, mas admite e busca potenciar a fala desveladora do filosofar. Trata-se de uma atividade reflexiva, na qual problemas filosóficos desabrocham e problemas aparentes são desmascarados. As respostas do presente conduzem, muitas vezes, a uma crítica da cultura explícita, na qual este filosofar perde seu sentido.

Uma tal reflexão filosófica se torna, cada vez, diálogo formativo, que não necessita de medidas objetivas, nem de doutrinas filosóficas, termos técnicos e métodos, mas é, antes de tudo, vida existencial, puro testemunho que forma e transforma o mundo. Esta unidade de vida e atuação é, então, sementeira para novas possibilidades de  renovação da força de espírito. Como lembra o poeta Hölderlin, uma pérola preciosa, mesmo escondida nas profundidades da terra, não deixa de atuar e transformar, pela  força de sua própria essência.

* Doutor em filosofia pela UFRJ, professor de Filosofia no IFITEPS (Nova Iguaçu – RJ).


Scintilla – Revista de filosofia e mística medieval, vol. 8, n.1, jan.-jun.2011

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