Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Frei César aos postulantes: “Não deixem a graça de Deus passar em vão na vida de vocês”!

27/01/2021

Guaratinguetá (SP) – “O Postulantado é justamente esse tempo de experimentar essa vida em fraternidade, abraçando os valores da vida religiosa franciscana. Então, que esse tempo nesta casa, dado a vocês como um tempo muito precioso, seja abraçado com alegria, com ousadia e vivido com muita intensidade. Não deixem a graça de Deus passar em vão na vida de vocês”! Foi com esta motivação que o Ministro Provincial, Frei César Külkamp, explicou a quinze jovens da Província da Imaculada Conceição do Brasil o significado da nova etapa formativa que teve início nesta quarta-feira, 27 de janeiro, no Seminário Frei Galvão de Guaratinguetá (SP). Depois do período de animação vocacional e do discernimento na etapa do Aspirantado, como postulantes na Ordem dos Frades Menores (OFM), esses jovens viverão, neste ano, uma rotina de oração, trabalho, estudo, vida em fraternidade, tudo em vista se aprofundarem no conhecimento de todos os elementos que são próprios da Vida Franciscana e do Noviciado que virá em seguida. Em Angola, esta etapa do Postulantado terá início no próximo dia 11 de fevereiro.

O rito de admissão se deu dentro da Oração da Manhã (Laudes), às 7h30, na presença da Fraternidade do Seminário e de frades da Província, numa celebração fraterna, simples e muito simbólica. Foram acolhidos pelo Ministro Provincial, pelo mestre Frei Walter de Carvalho Júnior e pela Fraternidade formadora, os postulantes: Almiro Luna Xavier,  Erick Eduardo dos Santos, Felipe Miguel Fiamoncini, Felipe Zaros, Filipo Carpi Girão, Francisco Barbosa Mouzinho Junior, Higor Augusto dos Santos, Lucas Alfredo Teston, Luiz Felipe Gouveia Palandi, Marcos Antonio de Morais Junior, Marcos Paulo Pacheco Barbosa,  Paulo Vitor da Silva, Samuel Cavalcanti do Amaral, Vilmar José Bittencourt Júnior e Yure de Oliveira Telles Souza.

“Queridos postulantes! Agora já podemos chamá-los de postulantes depois de acolhê-los em nome de toda a Província para formarem fraternidade conosco, para experimentarem de uma forma mais intensa a nossa vida, seguindo os passos de Jesus Cristo, do modo como conseguiu São Francisco de Assis. Assim como vocês acabaram de pedir e acabaram de receber a acolhida desta Província da Imaculada Conceição”, saudou o Ministro Provincial.

Frei César fez sua reflexão tendo como base o texto do Evangelho de São Mateus (19,16). “Nós ouvimos como inspiração e como orientação para a nossa vida a Palavra de Deus, a palavra do Evangelho, que hoje nos traz a história de um jovem, um jovem como vocês, que também um dia quis dar um passo a mais na sua vida e teve um encontro com o próprio Cristo. É chamado o jovem rico do Evangelho de Mateus. E esse jovem foi considerado bom pelo próprio Cristo que o convida para ser seu discípulo, seguir seus passos, e ele justamente questiona o que poderia fazer a mais para viver na Lei de Deus”, lembrou Frei César. Segundo o texto do Evangelho, o jovem já seguia os mandamentos, as leis mas era preciso dar um passo decisivo para ser verdadeiramente cristão, discípulo e seguidor de Jesus Cristo, que era desapropriar-se, deixar os seus bens, dá-los aos pobres e seguir os passos de Jesus. “E ele, diante disso, não teve outra atitude senão a tristeza, o fechamento, porque nos diz o texto do Evangelho que ele tinha muitos bens. E mesmo diante do convite do próprio Cristo, ele não foi capaz de dar esse passo ousado, generoso, corajoso. Esse texto do Evangelho foi escrito no período em que os judeus convertidos à fé cristã também viviam esse dilema do apego às antigas leis; abraçavam o cristianismo, eram batizados, preparados, mas não conseguiam se libertar das leis, do legalismo de toda a tradição judaica. Então, na verdade, o Evangelho nos indica que essas pessoas eram religiosas, cumpridoras da lei, mas ainda não conseguiam ser cristãs. E talvez esse seja também o desafio para o nosso tempo. O próprio Papa Francisco já nos disse que existe muita religião, muita religiosidade, mas falta cristianismo, abraçado como verdade à proposta do próprio Cristo”, explicou o Ministro Provincial.

Frei César, então, lembrou que depois da história desse jovem rico, um outro jovem na cidade de Assis, Francisco, também recebeu esse convite de seguir os passos do Cristo. Segundo o Ministro Provincial, esse processo de conversão do jovem de Assis, assim como desses jovens postulantes, de abraçar mais plenamente a vida cristã e assimilar esse espírito de vida franciscana, não é outra coisa senão o próprio Evangelho, a pessoa de Jesus Cristo. “Mas Francisco teve outros sonhos na sua vida: sonhos de grandeza, de fama, de riqueza, de prestígio. E por isso ele vai buscar esses sonhos até que ele tem um outro grande sonho na caminhada que fazia para ir à guerra. O caminho daquela época para a fama, para alcançar títulos de nobreza era o da guerra. E nesse caminho, ele tem um outro sonho que o faz repensar seus próprios sonhos. E foi na cidadezinha de Spoleto, como nos conta a legenda, que em sonho ele é questionado: ‘Quem pode dar uma recompensa maior a você? Um grande Senhor ou um escravo?’ E ele logo responde que é o Senhor. Então, essa mesma voz lhe pergunta: ‘Por que você está perseguindo o escravo, aquele que não pode oferecer essas recompensas?’  Essa legenda quer nos mostrar esse processo de revisão de valores de todas as coisas. E Francisco, nesse processo, vai chegar a esta compreensão de que buscar o Cristo vale mais do que todos os outros sonhos que ele tinha na vida. Mas esse buscar o Cristo é um processo também de assumir esses valores para confrontar tudo aquilo que ele tinha, ou aqueles bens que aquele jovem rico tinha”, situou Frei César.

 

“Francisco, então, diante do sonho de grandeza que tinha, envolve-se com o valor da minoridade, da pobreza. Diante de sonhos individualistas, de fama, de prestígio, vai destacar o sonho de fraternidade e assim cada uma das dimensões franciscanas vêm justamente para colaborar no processo de conversão de São Francisco de Assis. Que ele até mesmo nos diz que é o seu processo. E nós precisamos descobrir o nosso”, exortou.

Frei César fez alguns questionamentos diante das dificuldades para abraçar o caminho de Jesus Cristo. “Diante desses bens, quais as dimensões, os valores cristãos que nós precisamos abraçar com mais força?  Francisco vai à nossa frente, já é uma inspiração e nos indica o próprio caminho. Mas nós mesmos precisamos nos confrontarmo-nos: quais são os bens? Talvez, um de vocês, um de nós, tenha muitas riquezas para deixar, mas a gente pode ter outros bens. Podem ser as nossas próprias ideias, convicções, as nossas origens, como a gente já conversava ontem à noite; podem ser legalismos, formas de viver a própria religiosidade. Tem tantas outras coisas que nós precisamos deixar, para então, sim, abraçar o caminho de Jesus Cristo; para então, sim, viver com intensidade esse caminho, que é de expropriação de nós mesmos, dos nossos bens. Mas é um caminho que leva também à partilha nas palavras do próprio Evangelho. Partilhar com os pobres o nosso pouco que seja e seguir os passos do Cristo de uma forma radical. Seguir no Evangelho significa ir até o caminho da cruz, onde nós temos a expressão máxima do amor de Jesus Cristo, a sua entrega total”, orientou.

“Então, que nós possamos vencer esses contravalores que fazem parte da nossa própria constituição e abraçar essa proposta livre, verdadeira, generosa de Jesus Cristo, como já o fez São Francisco, mas que nós precisamos também fazer, também descobrir. Nós temos como modelo a própria Mãe de Deus, que mesmo sem conhecer muitas coisas, recebe também um convite da parte de Deus para deixar projetos, outros caminhos, e tornar-se a mãe do Senhor. Ela é Padroeira da nossa Ordem, da nossa Província, e que ela seja também inspiração de vida cristã para cada um de vocês e intercessora nos momentos mais difíceis neste processo de conversão. E contem, ao mesmo tempo, com essa dimensão franciscana que é a vida de fraternidade entre vocês mesmos, com a Fraternidade que vocês receberam e com a Fraternidade da nossa Província”, completou Frei César.

No rito de admissão, os quinze foram chamados e apresentados ao Provincial pelo guardião e Definidor Frei João Francisco da Silva. Interrogados pelo Ministro Provincial, eles fizeram o pedido para ingressarem neste tempo da formação e ouviram esta resposta: “Com as palavras de Jesus vos recebo, dizendo ‘Vinde e vede’! De bom grado vos acolhemos nesta casa de formação para o tempo do Postulantado. Aqui podereis discernir com clareza a vossa vocação e fazer a experiência da nossa vida de fraternidade e de minoridade a serviço da Igreja”. Depois, ajoelhados, rezaram a Oração de São Francisco diante do Crucifixo de São Damião e receberam o Tau de São Francisco.  Passando esta etapa, no Noviciado, esses jovens irão receber o hábito franciscano, no formato de Tau também.

 

No final, Frei César falou da responsabilidade no acompanhamento de cada um dos postulantes nesta Fraternidade do Postulantado. “Vocês foram acolhidos pela Fraternidade Provincial, mais amplamente pela Ordem dos Frades Menores, mas queremos confiar esse acompanhamento de cada um de vocês especialmente ao mestre Frei Walter Júnior. Vocês têm aqui nesta casa o suporte e a força neste trabalho de Frei João Francisco da Silva, nosso guardião; Frei Claudino Dal’Mago, nosso vice-mestre; Frei Walter Hugo, professor e nossa referência. É uma Fraternidade bastante privilegiada na nossa Província. Muito bem composta e vocês têm muitas referências com quem contar: Frei Virgílio Pereira de Souza, Frei Alexandre Rohling, Frei Alisson Zanetti, Frei Diego Melo e Frei Roberto Ishara, que estão em missão no Santuário Frei Galvão, mas partilham a vida nesta casa. E neste ano, Frei João Maria dos Santos acabou de chegar aqui, um homem que já foi mestre de noviços. Nós recebemos também Frei Ruan Felipe Sguissardi fazendo seu Ano Missionário. Quero, em nome de todos os Frades da Província, confiar a esta Fraternidade a formação desses jovens. Que Deus abençoe esta Fraternidade no testemunho generoso e na formação”.


Moacir Beggo e Nicolas Nathan (fotos)

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