A Celebração Eucarística, nesta sexta-fera (29/9), às 10 horas, no Convento Santo Antônio do Largo da Carioca (RJ), foi carregada de símbolos, a começar pela Festa dos Santos Arcanjos – Miguel, Gabriel e Rafael -, o aniversário de Frei Guido Scottini – completando 88 anos -, a Renovação dos Votos de toda a Fraternidade nos 800 anos da aprovação da Regra de Vida dos Frades Menores e o encerramento do Retiro anual da Fraternidade.
O Jubileu de 800 anos da Regra dos Frades Menores é apenas um da Ordem Franciscana que se celebra. Ainda neste ano, o Natal de Greccio faz 800 anos e no ano que vem será a vez do Jubileu da Impressão das Chagas de São Francisco. Em 2025, será o Jubileu do Cântico das Criaturas e, em 2026, 800 anos da Páscoa de São Francisco. O Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, explicou que a Fraternidade escolheu este dia para renovar a profissão desta mesma Regra. “Alguns a fizeram há quase 70 anos, outros há 60, 50, eu fiz há 18 anos, mas todos caminhando na mesma sintonia ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”, disse Frei Gustavo. A renovação dos votos é, acima de tudo, uma profissão de fé daquilo que se acredita ser enquanto religioso franciscano.
Nesta Festa franciscana dos Santos Arcanjos, Frei Medella citou São Gregório Magno para explicar que a palavra anjo indica o ofício e não a natureza de um ser. “Por isso, todos os anjos são espíritos celestes, mas nem todos espíritos celestes são anjos. Eles só são assim chamados se recebem alguma missão, se fazem algum anúncio e, desta forma, aqueles que levam as maiores notícias e levam as maiores missões são denominados Arcanjos”, explicou.
Por exemplo, para anunciar a concepção de Maria, foi enviado o Arcanjo Gabriel, cujo nome significa força de Deus. Diz Gregório Magno que, para esta missão era justo que viesse o máximo anjo para anunciar a máxima notícia. Deus se faria ser humano. E São Gregório Magno continua e nos ensinar de maneira bela por que a nomeação dos anjos funciona dessa maneira. Olha a explicação como ela é bonita. Diz ele que, naquela cidade santa, a Jerusalém Celeste, onde há plenitude da ciência da visão pelo Deus onipotente, não precisam de nomes próprios para se distinguirem uns dos outros. Lembra São Paulo: ‘Cristo será tudo em todos’. Mas quando eles vêm até nós, descem do céu para a terra, para cumprir uma missão, eles trazem também um nome derivado dessa missão. Por exemplo, Miguel é uma pergunta: Quem como Deus? Quem se iguala a Deus no poder, na onipotência, onisciência, e Rafael Deus cura. Por isso, toda vez que se trata de grandes feitos, disse que Miguel é enviado porque pelo próprio nome e ação dá-se a entender que ninguém pode por si mesmo fazer o que Deus quer destacar. Rafael significa Deus cura porque ao tocar os olhos de Tobias, no Antigo Testamento, como que num ato de cura, lavou as trevas de sua cegueira”, detalhou o Vigário Provincial.
Segundo Frei Medella, hoje foi a conclusão do Retiro e cantaram mais de uma vez o refrão que São Francisco reza: “Senhor, que queres que eu faça. Senhor, que queres de mim?”. “Ao perguntar que queres que eu faça, São Francisco também está perguntando: Senhor, quem queres que eu seja? Ou ainda: Senhor, quem queres que eu me torne? É claro, confiando-se na graça de Deus. E esse fazer empenhado, sintonizado com a vontade de Deus vai fazendo o coração da pessoa. Por isso, é muito importante nós termos esse olhar também para nossa vida, esta autoanálise. Quais são as obras que eu tenho realizado. Se são obras boas, se tenho procurado construir, partilhar, acolher, curar, certamente eu também estou me convertendo, me tornando uma pessoa boa. Se a maioria do tempo eu estou dedicado a xingar, a menosprezar, a agredir, a desprezar, a pensar só em mim, aos poucos eu também vou me despersonalizando, vou perdendo aquilo que tenho de mais sagrado, a centelha divina que me insurge e que me estimula a fazer o bem”, observou.
São Francisco dizia: os anjos andam conosco e são companheiros que nos acompanham por toda a parte. “Por isso também, ele tinha um amor imenso pelo lugar, simples e pequeno, onde a Ordem dos Frades Menores surgiu: a Igreja de Santa Maria dos Anjos. O amor que ele tinha a Nossa Senhora e a devoção que ele possuía para com os anjos”, recordou.
“Por isso também, foi durante uma Quaresma em honra a São Miguel que Francisco recebeu, dois anos antes de morrer, os estigmas do Cristo da Cruz. Ele se conformou a Cristo. Ele fez tanto a vontade de Deus, ele procurou fazer como o Cristo fazia de maneira tão intensa que recebeu essa graça de ser estigmatizado. E a paixão, a devoção e o amor que ele possuía para com São Miguel deriva do fato de, na tradição, Miguel ser aquele que conduz as almas ao paraíso. E que visita o purgatório e leva os fiéis que lá estão para o céu. É nesse desejo profundo, de oferecer e ser salvação para todos, que Francisco no entranhado amor se dispunha a fazer essa longa Quaresma, começada no dia de Nossa Senhora da Glória, da Assunção de Maria, e concluída na véspera de São Miguel no dia de hoje”, detalhou.
E para concluir esses grandes homens e grandes mulheres que buscaram fazer a vontade de Deus e perfazendo a partir deste compromisso se tornaram grandes baluartes. Eles como que abrem o céu para nós, conforme o céu aberto descrito por Jesus no Evangelho de hoje. Ou seja, os anjos sobem e descem e fazem essa ligação entre céu e terra, entre humano e divino.
“O filme que serviu como guia do nosso retiro começa com São Francisco criança pendurado de cabeça para baixo, dizendo a Clara o seguinte: Acabei de descobrir que é o céu que sustenta a terra. E assim que nós, cristãos, devemos caminhar. Pés no chão, mas o coração no céu. E tentando e fazendo todo possível para cada vez mais aproximar estas duas realidades”, contou.
No final, lembrou grandes homens e mulheres, diversos deles fizeram tanto bem, espalharam amor e receberam títulos angélicos. “Vou citar dois: Santa Dulce dos Pobres, que tinha como apelido o ‘Anjo Bom da Bahia’ e São Francisco de Assis, que o chamamos de Seráfico Pai. O Pai que se compara a um Serafim. Ou seja, uma ordem de anjos que se distingue por ter coração ardente no amor. É este amor que continua disponível para nós. É este amor que devemos e queremos seguir. É esta Regra que queremos renovar o nosso propósito de seguir também a Regra entendida como o próprio Evangelho e o próprio Jesus Cristo, amor de Deus infinito para conosco, em nós, entre nós e através de nós, que deve e pode continuar nos conduzindo. Amém”, concluiu.
Depois da homilia, os frades se perfilaram diante do guardião Frei Walter Ferreira Júnior, que fez a seguinte motivação: “No dia 29 de novembro de 1223, o Papa Honório aprovou a Regra Definitiva dos Frades Menores. Lá no início, encontramos a declaração fundamental: A Regra e a vida dos Frades Menores é esta: ‘Observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade’. Aqui se condensa o que Francisco e os primeiros irmãos prometeram ao Senhor, oitocentos anos depois. Embora professos há anos, nós queremos renovar esta mesma profissão e o nosso compromisso em levar uma vida radicalmente evangélica, ou seja, viver em espírito de oração e devoção. E em comunhão fraterna, dar testemunho de penitência e minoridade, anunciar o Evangelho em espírito de caridade para com todas as pessoas. Brigar por boas obras, a reconciliação, a paz e a justiça. E mostrar e promover o respeito e cuidado pela Criação”.
Os frades, então, rezaram e acenderam as velas e fizeram a sua renovação. No final, cantaram “Parabéns” para Frei Guido, que agradeceu à Fraternidade que o “acolhe e o suporta”.