Lugares santos
Acre
Cidade antiqüíssima, Acre foi palco de numerosos acontecimentos históricos. Por sua posição costeira estratégica, esta localidade foi continuamente habitada por numerosos povos ao longo dos séculos.
Retornando de sua terceira viagem, após fazer uma escala em Tiro e encontrado os discípulos, Paulo, com Lucas, partiu para Ptolemaida (Nome dado a cidade de Acre pelos gregos). Aqui os dois encontram os irmãos cristãos locais e permanecem por todo um dia, quando no dia seguinte partem para Cesaréia.
A presença franciscana na Terra Santa remota ao próprio fundador da Ordem, São Francisco de Assis. O Santo ali teria aportado no ano de 1220, após ter se encontrado com o Sultão Malik AL Kamel, no Egito. Ele recebeu do sultão um “salvo conduto” para si e para os seus frades, para que pudessem visitar livremente os Lugares Santos.
Até a reconquista da cidade pelas mãos do exército sarraceno, residiram em Acre o Ministro Provincial da Província Ultramarina e o Custódio da Terra Santa, juntamente com um grupo de aproximadamente sessenta frades. Posteriormente, todos foram coroados com o martírio. Somente em 1620 foi possível restabelecer uma presença franciscana na cidade, nas proximidades do Khan AL Franji.
Em 1737 foi também adquirida a Igreja de São João Batista próxima ao farol, para que servisse como paróquia aos cristãos de rito latino residentes na cidade.
Ain Karem – São João Batista
A igreja cruzada foi restaurada em 1621 pelo então Custódio da Terra Santa, o padre Thomas Obicini de Novara, mas só foi aberta ao culto em 1675. O actual edifício, projetado por Barluzzi é do 1939.
O nascimento de João Batista, Precursor do Senhor, é localizado no vilarejo de Ain Karem, nas proximidades de Jerusalém. Neste santuário comemora-se o nascimento de João, cujos pais anciãos, o sacerdote Zacarias e sua mulher Isabel, prima de Maria.
“E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho”. Luca 1, 57-80
A Igreja de Jerusalém, como nos é testemunhado num antigo lecionário conservado em língua gregoriana (séc. VII e VIII), celebra no dia 28 de agosto, a memória de Isabel, a justa, “na cidade de Ain Karem”. Segundo a tradição que remonta ao séc. IX, nesta localidade também teria nascido São João Batista e uma igreja foi construida em memoria dos fatos que nos narra o Evangelho de São Lucas. O Abade russo Daniel em princípios do séc. XII nos deixa escrito: “A casa de Zacarias está situada aos pés de um monte a ocidente de Jerusalém. À casa de Zacarias chegou Maria para saudar Isabel. Naquela mesma casa nasceu João. Hoje uma igreja ocupa este lugar. Em seu interior, a esquerda do altar central pode-se ver uma pequena gruta onde nasceu João, o Precursor.” Esta mesma igreja existe ainda hoje, não sendo jamais destruida, todavia foi transformada em estábulo pelos muçulmanos por mais de quatro séculos, até que os franciscanos, em fins do séc. XVII conseguiram tomar posse do lugar.
As escavações feitas fora do recinto da igreja pelo Padre Saller (1941 – 42) demonstram que se encontrava dentro de uma área habitada por hebreus (banhos rituais) desde o século I e posteriormente por pagãos (estatua de Afrodite). Na época Bizantina (séc. IV e V) se constata uma ampla zona de cemitérios cristãos ao lado das veneradas sepulturas dois desconhecidos “Martires de Deus”, mencionados numa inscrição de um mosaico no pavimento descoberto em 1885. Na frente destas sepulturas foram encontrados restos de uma capela pavimentada com mosaicos. Em seguida uma outra capela foi encontrada no lado sul. Todos estes elementos apesar de não terem relação direta com João Batista são testemunhos de uma antiga tradição de culto neste lugar.
Ain Karem – S. João no Deserto
Terceiro dos santuários de Ain Karem, depois dos santuários da Visitação e do Nascimento de João Batista, o eremitério de São João no Deserto faz memória do lugar onde o Precursor encontrou refúgio quando escapava do massacre dos Inocentes. Fazem parte do Santuário, a Gruta, a fonte e a túmulo de Isabel.
O Deserto de São João foi adquirido pela Custódia da Terra Santa em 10 de novembro de 1911, do Patriarcado latino, que por sua vez o havia adquirido por volta de 1850-55. O patriarca Valerga havia feito colocar um altar na gruta. A igreja e o convento, do arquiteto A. Barluzzi foram inaugurados no ano de 1922.
A figura do Batista é estreitamente associada ao deserto, lugar de vida ascética e, à luz da história de Israel, o lugar onde se encontra a graça de Deus. Segundo a profecia de Isaías, do deserto haveria de vir o precursor do Messias.
“Ain al_Habís”, a 3 km de distância de Ain Karem, faz memória do lugar onde S. João Batista viveu sua infância e os anos de preparação para o ministério público. Os testemunhos escritos que conhecemos mais tarde, sustentam sua historicidade baseando-se em seu nome e em suas ruínas.
“Ain al_Habís” significa “fonte do eremita”: uma definição muito apropriada à figura do precursor, protótipo dos eremitas. Neste lugar os cruzados erigiram, sobre o que já existia, uma igreja e um convento.
Ain Karem – Visitação
Entre as igrejas de S.João e da Visitação, encontra-se uma fonte chamada pelos peregrinos do século XVI de “Fonte da Virgem”. Segundo uma tradição, naquele lugar Maria teria encontrado sua prima Isabel e entoado um hino de louvor, o Magnificat: canto de gratidão a Deus.
A minha alma engrandece o Senhor,
e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
porque ele olhou para a humildade de sua serva.
Todas as gerações, de agora em diante,
me chamarão bem-aventurada, ”
A visita da Virgem Maria a Isabel é situada pela primeira vez num lugar diferente da natividade de S. João, já nos inícios do século XVI: “A casa de Zacarias se encontra sobre as montanhas da Judéia… Naquele lugar existem duas igrejas… e entre estas igrejas jorra uma fonte abundante de águas. No lugar da primeira igreja se diz que Isabel foi saudada pela Bem-Aventurada Virgem Maria. Se diz também que no mesmo lugar foi escondido o bem-aventurado João Batista no tempo do massacre dos inocentes. No lugar onde se encontra a segunda igreja, nasceu João Batista” (Frei Giovanni Fedanzola de Perugia, 1330).
Além do episódio narrado no Evangelho, na mesma igreja se conserva a memória do “escondimento” de S. João Batista, tomado do apócrifo Proto-evangelho de Tiago (sec. II) e evocado pelo abade russo Daniel (início do sec. XII): “Sobre um estreito vale repleto de árvores, se encontra a montanha pela qual Isabel corria con seu filho e disse: Recebe, oh montanha, a mãe e o filho. E a montanha se abriu e deu a eles refúgio. Os soldados de Herodes que a seguiam, chegando aquele lugar e não encontrando ninguém, retornaram confusos. Se pode ver ainda hoje o lugar onde isto aconteceu, assinalado na rocha. Acima se eleva uma pequena igreja debaixo da qual existe uma pequena gruta, e junto a sua entrada uma outra pequena igreja. Desta gruta surge uma fonte que deu de beber a Isabel e a João, durante o tempo que ficaram na montanha, servidos por um anjo até a morte de Herodes”. Relíquias da “terra da gruta de Isabel e João” eram conservadas desde o século VII em Roma, no tesouro do Latrão como em outros lugares. Uma pedra, amostra na cripta, perpetua até hoje esta tradição.
Betânia
Ao longo da estrada que de Jerusalém desce a Jericó, na encosta oriental do Monte das Oliveiras, encontra-se a vila árabe al-Azarìya, a Betânia da qual fala o Evangelho (do hebraico Bet‘Ananya, que significa casa de Ananìas). No tempo de Jesus, como ainda hoje, Betânia era subúrbio de Jerusalém, pequeno centro vizinho ao limite do Deserto de Judá, onde habitavam alguns amigos mais íntimos de Jesus: Marta e Maria, com seu irmão Lázaro. Hoje, o Muro separa Betânia de Jerusalém, obrigando a seguir um percurso mais longo a quem deseja deslocar-se de uma a outra cidade.
Na época bíblica, Betânia era uma das vilas reconstruídas pelos membros da tribo de Benjamim, após retornar do exílio em Babilônia (Ne 11,32). O nome antigo de Betânia pode ser interpretado como simplificação de Bet Hananya, ou seja, casa de um tal de Ananias. Foi durante o período bizantino que o nome primitivo da localidade foi substituído por Vilarejo de Lázaro, do qual procede o atual nome árabe al-Azariya.
No centro da vila, uma igreja franciscana recorda a casa de Marta e Maria e o milagre da revivificação de Lázaro; essa igreja ocupa o lugar de três igrejas anteriores, cujos restos foram trazidos à luz pelas escavações dirigidas, nos inícios dos anos cinquenta, por Padre Saller, OFM. Os Arqueólogos, além disso, descobriram uma necrópole e, mais no alto, a oeste da tumba, também os restos do antigo vilarejo, além de materiais muito variados que cobrem o período do VI-V século a.C. até o século dezasseis d.C.
Belém
Naqueles dias, um decreto de César Augusto ordenou que fosse feito o censo de toda a terra. Este primeiro censo foi feito quando Quirínio era governador da Síria. Todos foram se cadastrar, cada um em sua cidade.
José também subiu da Galiléia da cidade de Nazaré para a Judéia para a cidade de Davi chamada Belém, pois ele pertencia à casa e família de Davi. Ele teve que ser registrado com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam naquele local, os dias do parto se cumpriram para ela. Ela deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em panos e colocou-o na manjedoura, porque não havia lugar para eles na cabana.
Certamente a fama de Belém, como de todos os Lugares Santos, aumentou também graças à viagem de Francisco de Assis, que entre 1219-1220 foi para o Oriente com outros 12 frades. Supunha-se que Francisco fosse a Belém, porque a tradição lembra o famoso apego do santo à imagem do presépio, mas isso não é confirmado por nenhuma fonte histórica. No entanto, é certo que o frade, tendo entrado no porto do Acre junto com os cruzados, foi ao Egito para a corte do sultão Malek al-Kamil que, impressionado com sua personalidade, concedeu-lhe um salvo-conduto para a viagem à Palestina. Alguns de seus companheiros, que já haviam chegado à Palestina em anos anteriores, passaram a servir a Igreja naquela terra.
Belém – Campo e Gruta dos Pastores
A aldeia árabe Beit-Sahur, localizada nos campos de Booz, citados no livro de Rut (Rt 3,5), foi identificada pela tradição como o Campo dos Pastores, a saber, o lugar onde aconteceu o anúncio do nascimento de Jesus aos pastores pelos anjos.
Em 1953 os franciscanos, em um projeto do arquiteto Antonio Barluzzi, mandaram construir a capela Sanctorum Angelorum ad Pastores nos arredores da aldeia com a contribuição de benfeitores canadenses (dedicado ao anúncio dos santos anjos aos pastores), que tem o formato de uma tenda de pastores nômades, encimada por uma pequena cúpula estrelada. Afrescos reproduzindo a história do Evangelho de Lucas adornam as três capelas internas.
Mesmo a gruta que se ergue atrás da pequena igreja ainda pode ser usada para a liturgia. Na cavidade natural nenhum sinal de devoção antiga foi encontrado, mas o controle que este lugar exerce sobre os corações é tão grande que até outras cavernas foram usadas para esse propósito. E não há dúvida de que nos tempos antigos essas cavernas eram realmente utilizadas por pastores.
A grande área arqueológica pode ser visitada. Em vários espaços foram montados altares e espaços para a missa, para que, sobretudo na véspera de Natal, vários grupos tenham a oportunidade de celebrar a Eucaristia ao mesmo tempo em ambientes adequados.
A Igreja Matriz dos Latinos (projecto de Barluzzi inaugurado em 1950) é dedicado a Nossa Senhora de Fátima.
Betfagé
O santuário de Betfagé está situado no lado leste do Monte das Oliveiras, sobre a antiga estrada que conduzia a Betânia. Aqui se comemora o encontro de Jesus com Marta e Maria antes de ressuscitar Lázaro, e a entrada de Jesus em Jerusalém em meio à alegria dos discípulos e da multidão que bradava hosanas.
A memória da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, foi celebrada bem cedo em Jerusalém, numa forma muito similar a atual: “ O domingo que inicia a semana pasqual […] todo o povo sobe ao monte das oliveiras […] e quando chega a undécima hora (isto é, as cinco da tarde), se lê o trecho do Evangelho onde as crianças vão ao encontro do senhor com ramos ou palmas […] Em seguida o bispo de levanta e com ele todo o povo. Então desde o monte das oliveiras se faz todo o percurso a pé, enquanto o povo precede o bispo, ao canto de hinos e antífonas, conforme o texto bíblico e a tradição cristã: Bendito aquele que vem em nome do Senhor. E todas as crianças do lugar, até mesmo os que não podem ainda caminhar pela idade e são carregados pelos pais, trazem nas mãos os ramos de palma ou de oliveira; no mesmo modo como foi conduzido o Senhor até a cidade, assim também é conduzido o bispo. Do alto do monte se vai até a cidade, e depois, atravessando a cidade, chega-se a Anástasis” (Egéria, fim do séc. IV)
Desde o século IX a procissão se inicia de um lugar ainda mais distante: “Cerca de uma milha, há o lugar onde Cristo se sentou sobre o jumentinho. Lá se encontra uma oliveira da qual todos os anos se corta um ramo, depois de terem pagado o preço, e em procissão andentram a Jerusalém, o dia das Palmas” (Epifanio Monaco). Sobre mesmo lugar há o relato da existência de uma igreja do IV século que conservava a memória do encontro de Jesus e as irmãs de Lázaro, Marta e Maria, na estrada de Betânia.(Egeria).
Jericó
Situada nas proximidades do rio Jordão, Jericó é uma cidade antiquissima na qual estão achados muito antigos, como aqueles de um vilarejo que data de 8000 anos antes de Cristo, enquanto a margem ocidental do rio jordão é lugar de peregrinação para os cristãos que recordam o Batismo de Jesus por João Batista.
É também aqui que Jesus restaurou a visão do cego Bartimeu, e converteu a Zaqueu, realizando em favor de ambos, o seu ministério de Bom Pastor.
Jericó é a cidade que Josué conquistou, em torno de 1200 a.C, de maneira pacífica (Js 2,1-4,24), graças as famosas trombetas que, na simbologia bíblica manifestam a intervenção de Deus: O assentamento do povo da aliança em Jericó foi um dom de Deus. Nesta cidade antiquissima, a cidade fortificada mais antiga do oriente, que remota de 8000 ou 9000 anos atrás, se situal o Tal As-Sultan, uma pequena colina de 15 metros na qual foram feitos os escavos, no ano de 1955-56, por Miss. Kenyon.
Jericó é também o lugar evangélico onde o Senhor Jesus curou dois enfermos: Bartimeu, enfermo por sua cegueira, e Zaqueu, enfermo na alma por seus pecados (Lc 18-19). Os poucos sicômoros que ainda restam na atual Jericó, recordam aos peregrinos o sicômoro por sobre o qual Zaqueu subiu para ver Jesus. A pequena igreja católica latina é dedicada ao Bom Pastor. É a igreja paroquial de uma pequena comunidade de cerca 200 cristãos árabes. Bem próximo está a igreja ortodoxa com cerda de 250 fiéis. Duas escolas católicas (masculina e feminina) reúnem todas as crianças das famílias católicas e ortodoxas, e um bom número de crianças muçulmanas; Jericó possui cerca de 25000 habitantes muçulmanos.
Monte Nebo
O Monte Nebo é o lugar do qual Moisés contemplou a Terra Prometida, sem poder nela entrar. O Nebo surge a 8km, a noroeste de Madaba, nos contrafortes ocidentais dum planalto com vários picos, delimitado ao Norte pelo Wadi Uyun Musa, “vale das fontes de Moisés”, e, ao Sul, pelo Wad Afrit. O ponto mais elevado à direita da estrada – onde foram erguidos alguns dólmens – é o Nebo verdadeiro e exato, em árabe Jebel an-Neba (802m de altura). O monte Pisga, do qual fala a Bíblia (Ras Siyagha) é, ao invés, mais estendido ao oeste, contudo mais baixo (710m). Num declive mais meridional, o Khirbat al-Mukhayyat (790m), estava a cidade de Nebo.
A escultura moderna que pode ser vista no espaço aberto em frente à igreja foi criada em 1983-84 pelo florentino Gian Paolo Fantoni: a serpente de cobre levantada por Moisés no deserto está presa a uma haste em forma de cruz. O artista conecta a história do Antigo Testamento com a cristologia, como o evangelista João fez. Na verdade, não está claro onde a serpente de cobre foi levantada durante o Êxodo, nem a proximidade do Monte Or ajuda a resolver o enigma.
Monte Tabor
O monte Tabor, claramente distinto das outras elevações da Galileia, eleva-se a 450m sobre a planície Jezrael ou a 588m acima do nível do mar. O monte encontra-se a leste de Nazaré, 8km em linha reta, mas por estrada é bem mais. Para os peregrinos cristãos é o local em que aconteceu a transfiguração de Cristo.
O monte Tabor, claramente distinto das outras elevações da Galileia, eleva-se a 450m sobre a planície Jezrael ou a 588m acima do nível do mar. O monte encontra-se a leste de Nazaré, 8km em linha reta, mas por estrada é bem mais. Para os peregrinos cristãos é o local em que aconteceu a transfiguração de Cristo.
“Cerca de oito dias depois dessas palavras, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte para rezar. Enquanto rezava, o aspecto de seu rosto mudou, sua roupa se tornou de uma brancura fulgurante. E eis que dois homens conversavam com ele; eram Moisés e Elias; aparecendo na glória, falavam da partida de Jesus que ia se realizar em Jerusalém. Pedro e seus companheiros estavam acabrunhados de sono; mas, quando acordaram, viram a glória de Jesus e dois homens que com ele estavam. Ora, como esses se apartassem de Jesus, Pedro lhe disse: “Mestre, é bom que estejamos aqui; ergamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, outra para Elias”. Ele não sabia o que dizia. Enquanto ele assim falava, sobreveio uma nuvem que os recobria. O temor se apossou deles no momento em que penetravam nela. E uma voz fez-se proveniente da nuvem; ela dizia: «Este é meu Filho, aquele que eu escolhi, ouvi-o!” No momento em que a voz ressoou, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naquele tempo, não contaram a ninguém nada do que haviam visto.”
(Lc 9,28-36; cfr. Mt 17,1-9 e Mc 9,2-10).
Nazareth
As memórias desta cidade fazem de Nazaré um dos lugares mais sagrados do mundo. Praticamente não há canto que não lembre de Jesus, aquele que aqui passou a sua infância e juventude, a sua vida na pobreza, na alegria e no cuidado da sua família, e que aprendeu, trabalhou e rezou em Nazaré.
A raiz da palavra Nazaré (Natzrat ou Natzeret em hebraico; al-Nāṣira ou al-Naseriyye em árabe) refere-se ao significado de “florescer”, conforme observado por São Jerônimo, mas também de “estar em guarda”.
A posição geográfica da cidade na baixa Galiléia confirma sua vocação como local de observação.
Nazaré está localizada ao longo da encosta sul do complexo montanhoso que desce do Líbano, em uma posição elevada na planície oposta de Jezreel, vale mencionado várias vezes na Bíblia e também conhecido na expressão grega Esdrelon, a cerca de 350 metros acima do mar. nível.
Mas durante séculos Nazaré foi, no coração dos peregrinos e viajantes, a “flor da Galiléia”, que conserva a memória daquele diálogo entre o arcanjo Gabriel e Maria. Com o seu “sim” a jovem fez da aldeia desconhecida a morada do “Verbo que se fez carne”, do Filho de Deus que se fez homem, do fruto do seio da Virgem que se tornou flor, como ela proclamou. em seu comentário sobre o mistério de Nazaré.
S. Francisco Ad Coenaculum
O Convento S. Francisco Ad Coenaculum está perto do Cenáculo, onde a tradição situa a Última Ceia e Pentecostes. Exatamente no Cenáculo, a Custódia da Terra Santa construiu sua sede principal no momento da fundação, em 1333. O título oficial do Custódio da Terra Santa, na verdade, é, ainda hoje, “Guardião do Monte Sião e do Santo Sepulcro”, pela grande importância dos dois lugares.
Os Frades menores habitaram no convento do Cenáculo sobre o Monte Sião desde o século XIV até o século XVI, quando foram expulsos pelos Otomanos. Sobre o Monte Sião retornaram em 1936, em habitações adquiridas de palestinos e adaptadas para a Fraternidade. É o núcleo original daquilo que é, hoje, o Convento S. Francisco Ad Coenaculum, rebatizado afetuosamente como “Pequeno Cenáculo” ou “Cenaculino”.
O reconhecimento do Cenáculo como o lugar da Última Ceia foi atestado desde os primeiros séculos do cristianismo. Foi também residência da primitiva Igreja Apostólica.
Na segunda metade do IV século, os cristãos transformaram a pequena igreja numa grande basílica, a qual chamaram “Santa Sião” e “Mãe de todas as igrejas”, por causa de sua origem apostólica. A igreja da Santa Sião sofreu diversas destruições e restaurações; foi, depois, reconstruída desde os fundamentos na época cruzada (XII século) e rebatizada com o nome de “Santa Maria no Monte Sião”. Depois da demolição, em 1219, ordenada pelo Sultão, permaneceu em pé somente a capela do Cenáculo (medieval), com a Tumba de Davi, comemorativa em seu primeiro piso.
Em 1333, os Franciscanos puderam adquirir o Local, como doação dos soberanos de Nápoles Roberto d’Angiò e Sancha di Maiorca, que se tornou a primeira sede da Custódia da Terra Santa. Entre as muitas dificuldades, o convento foi habitado até 1552, quando os Frades foram expulsos pelos Otomanos, que transformaram o Cenáculo em Mesquita. Desde então, na sala do Cenáculo não é possível celebrar a missa, mas os Franciscanos têm licença oficial de rezar ali no Dia de Pentecoste. Contudo, desde menos de dez anos, os Franciscanos da Custódia da Terra Santa fazem uma etapa no Cenáculo na peregrinação da Quinta-Feira Santa, quando ali realizam o rito do Lava-pés.
Depois da expulsão do Cenáculo
Após sua expulsão do Cenáculo, os Frades foram, primeiramente, hóspedes dos Armênios. Nesse tempo adquiriram o terreno onde fica o Convento S. Salvador (e, até hoje, é sua sede central), que se encontra na Cidade Velha, a poucos passos do Santo Sepulcro. Em 1559, fizeram construir a igreja S. Salvador, no primeiro piso, em recordação do Cenáculo, a assim chamada “sala do piso superior” de 1561, o Papa Pio IV enriqueceu S. Salvador com as indulgências concedidas ao Cenáculo, que o Papa Leão XIII confirmará 324 anos depois. Será essa pequena igreja a ver renascer a vida católica na Cidade Santa, em forma organizada, tornando-se sede da primeira paróquia católica de Jerusalém.
Para manter, porém, uma presença sobre o Monte Sião, em 1936, os franciscanos decidiram habitar numa casa não longe do Cenáculo, adquirida de palestinos. Essa casa se tornou o Convento de S. Francisco Ad Coenaculum, (chamado Cenaculino). Foi, então, construída uma capela em memória da Eucaristia. No dia 12 de outubro de 2014, foi inaugurada a restauração do Convento S. Francisco, junto ao Cenáculo, com a criação de uma capela dedicada ao Espírito Santo e o novo jardim restaurado para os peregrinos.
Caná
Em Caná da Galiléia Jesus realizou o primeiro de seus milagres. Neste lugar mudou a água em vinho atendendo o pedido de Maria, sua mãe. Assim manifestou sua glória divina e suscitou a fé de seus discípulos. Em Caná se recorda também a vocação do apóstolo Bartolomeu (Natanael), sobre o qual Jesus disse: “Eis um verdadeiro israelita no qual não há falsidade”.
“É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora.”
Numerosos testemunhos relatam um santuário edificado em Caná pelos cristãos, em memória do primeiro milagre de Jesus. Eis um testemunho de um peregrino anônimo do século VI: “(Partidos de Séforis), depois de três milhas chegamos a Caná, onde o senhor foi as bodas, e nos sentamos sobre o mesmo lugar, onde eu indigno, escrevi o nome dos meus pais… das talhas ainda restam duas, eu enchi uma de vinho e a carregando sobre as costas a ofereci no altar e na mesma fonte nos lavamos por devoção. Depois fomos a cidade de Nazaré”. Devido a várias necessidades, em tempos diversos, a tradição tem colocado o legado evangélico em diferentes lugares; mas desde o início do século XVI os pelegrinos encontraram em Kfar Kanna uma sala subterrânea na qual se desce pelo interior do edifício em colunas, considerados por eles como uma igreja construída pelo Imperador Constantino e de sua mãe Helena. Colunas e capitéis reutilizados no pórtico da Igreja atual recordam o estilo das sinagogas do séc. III-IV. Uma inscrição em língua aramaica, encontrada debaixo do piso da igreja diz: “Bendita seja a memória de José, fiho de Talhum, filho de Butah, e seus filhos, que fizeram esta mesa (de mosaico). Que a benção esteja sobre eles”.
Cafarnaum
Quando Jesus soube que João havia sido preso, retirou-se para a Galiléia, saiu de Nazaré e foi morar em Cafarnaum, à beira-mar, no território de Zebulom e Naftali, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías.
Uma área específica de toda a aldeia de Cafarnaum foi objeto de múltiplas intervenções ao longo do tempo. É a ínsula sagrada assim definida porque contém a sala venerada pelos primeiros seguidores de Jesus, que se lembraram da presença do Mestre e de seus ensinamentos na casa de Simão Pedro. A mesma sala venerada, que mais tarde se tornou um destino de peregrinação para os primeiros cristãos, foi reconstruída na forma de uma Domus Ecclesia e mais tarde uma
igreja octogonal .
Dominus Flevit
O monte das Oliveiras é rico em memórias bíblico-cristãs. O pranto e o lamento de Jesus sobre a cidade santa, são comemorados neste santuário desde a época medieval.
“Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz! Agora, porém, está escondido aos teus olhos! Dias virão em que os inimigos farão trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados. “. Luca 19,41-44
A memória de Dominus Flevit, aparece pela primeira vez entre fins do século XIII e princípios do século XIV e pode ser considerada como descendente da antiga memória cristã. Acreditava-se que o local exato seria assinalado por uma certa pedra num campo; desde o século XVI em diante a referência passa a ser uma mesquita chamada al_mansuriyeh (reconstruída recentemente), situada sobre o lado setentrional da propriedade franciscana.
Os discursos de Jesus sobre o fim de Jerusalém e do mundo (Mt 24; Mc 13; Lc 21) eram considerados pela igreja antiga, mistérios de salvação revelados aos apóstolos como aos mais íntimos entre seus amigos; enquanto mistérios haviam a sua celebração litúrgica, a princípio numa gruta situada junto a elevação do monte e posteriormente na basílica construída a pedido do imperador Constantino (Eusébio de Cesaréia, início do séc. IV). A celebração acontecia na terça-feira santa: “todos, aquela hora da noite, vão à Igreja que está sobre o monte Eleona (das oliveiras). Chegando a igreja, o bispo entra na gruta onde o Senhor costumava instruir seus discípulos, toma o livro dos Evangelhos e, estando todos de pé, o mesmo bispo lê a palavra do Senhor”… (Egéria, fim do séc. IV). Na época dos cruzados (séc. XII), na mesma igreja se atribuiu também a memória do ensinamento sobre a oração: o Pai nosso.
Emaús – El Qubeibeh
A tradição que os franciscanos recolheram e seguiram atribui a este santuário a memória da manifestação do Senhor Ressuscitado aos dois discípulos de Emáus, Cléofas e Simão.
«“Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”»
Lc 24, 13-35
Sobre o lugar onde Jesus se manifestou a dois discípulos após sua ressurreição, dos quais um de nome Cléofas, o Evangelho precisa o nome (Emaús), o qualifica como vila e dá a distância de Jerusalém como sendo de 60 estádios, segundo os melhores códices, (correspondentes a 11 km). Apesar destas descrições, em diversos períodos, existiram vários pretendentes ao título de lugar autêntico da Emaús evangélica: dentre estes lugares, “el_Qubeibeh” foi reconhecida pela tradição como autêntica atráves dos últimos 700 anos até hoje. A igreja antiga, a patir do século III (Orígenes, Eusébio, Jerônimo, etc.), identificou, por sua vez, o vilarejo de Cleofas com o vilarejo de Emaús (Nicopolis, 70 d.C.), lembrada na história dos Macabeus (1Mac 3,40.57; 4,3; 9,50). No entanto, é importante notar que o nome do lugar correspondia com o relato bíblico, mas não a qualificação e a distância, por isso se encontra em alguns códices bíblicos 160 estádios (correspondente a 30km). No período cruzado (séc. XII), se procurou um lugar com a exata distância de Jerusalém e deste modo foi proposto o castelo de Fontenoid (antiga Kiriat-learim, atual Abu Gosh), mas esta nova localização de emaús não foi reconhecida, em contrapartida, a tradição de el_Qubeibeh permaneceu a única mais digna de crédito desde o século XIV e foi também seguida pelos franciscanos. A situação topográfica do vilarejo situado sobre uma das estradas que provinham de Jerusalém, pode ter influenciado na escolha do lugar, assim como a possível persistência das tradições populares.
Flagelação
A tradição cristã coloca aqui dois momentos da paixão de Jesus, a flagelação e a condenação a morte. Os dois santuários são anexados ao convento franciscano, sede do Studium Biblicum Franciscanum. No piso da igreja onde foi o lugar da condenação, estão conservados algumas pedras do “Litóstrotos”. A imposição da cruz é indicada sobre a parede externa do santuário, ao início da Via Dolorosa.
“Cruéis, duros, iníquos os vincos destes flagelos!
Mas eu os amo, porque a eles foi concedido tocar o corpo santíssimo e se tornarem vermelhos com teu puríssimo sangue.” S. Boaventura
O “Litóstrotos” e a “casa ou pretório de Pilatos, onde o Senhor foi julgado” pareciam abandonados no século IV (Pelegrino anônimo de Bordeaux, Cirílo de Jerusalém). Naquele mesmo local no século V, foi edificada uma igreja com o título de S. Sofia (Sabedoria, em grego) porque “o primeiro dos amigos da Sabedoria naquele lugar ouviu a própria sentença” (Sofrônio de Jerusalém, sec. VII). Pouco se sabe sobre esta igreja, e o que se recorda do Litóstrofos é que foi fixado primeiramente sobre o monte Sion e depois ( ao fim do séc. XII ), nas proximidades da Antonia, a fortaleza que nos tempos de Cristo, dominava o Templo do norte. A igreja da Flagelação foi construída originalmente pelos cruzados no século XII e depois foi abandonada por muitos séculos. No ano de 1838 foi adquirida pelos franciscanos e reaberta ao culto, graças as generosas ofertas de Maximiliano da Baviera, como atesta a lápide na fachada. O arquiteto A. Barluzzi a restaurou no ano de 1929, mantendo seu estilo medieval. São valiosos os vitrais de A. Cambellotti que retratam o julgamento de Pilatos, a flagelação de Jesus e a liberação de Barrabás. Uma tela na parede lateral recorda S. Paulo aprisionado na fortaleza Antonia (M. Barberis). O santuário que recorda a condenação de Jesus, foi reconstruído no ano de 1904 por frei Wendelin Hinterkeuser sobre as ruínas de uma igreja medieval, redescoberta a poucos anos na época. Não se conhece o título da igreja antiga; a nova recebeu este nome (da condenação), por causa do piso feito por grandes placas que continuam até debaixo do santuário vizinho do “Ecce Homo”, considerado então parte do Litóstrofos, no qual Pilatos estabeleceu seu trono para o julgamento de Jesus e do qual o Senhor saiu carregando sua pesada cruz. Entre as referências a paixão é representada a Virgem Dolorosa (cena em papel maché de S. Sacquegna na Condenação, tela de M. Barberis na Flagelação). Segundo a mística cristã, Maria esteve presente no julgamento de Jesus.
Getsêmani
Getsêmani é o termo usado pelos evangelistas Marcos e Mateus para indicar o lugar para onde Jesus foi após a Última Ceia. A palavra vem do aramaico gat semãnê, tradicionalmente traduzido como “prensa de óleo”. San Girolamo, interpretando o nome bíblico do Getsêmani como “vallis pinguendinum”, ou seja, o vale da abundância, destacou a fertilidade do lugar, que se caracterizaria não só pelos numerosos olivais, mas também pelos vinhedos.
Hoje, o termo Getsêmani indica três lugares, guardados pelos franciscanos, que comemoram a agonia e a prisão de Jesus na noite em que foi traído: a Gruta do Getsêmani, o Jardim das Oliveiras e a Basílica das Nações.
A atual propriedade franciscana do Getsêmani faz parte das compras feitas pela Custódia a partir do século XVII.
A fazenda do Getsêmani, antes das escavações arqueológicas e da construção da Basílica, era caracterizada por uma porção de terreno onde cresciam as oliveiras centenárias, enquanto o restante era estéril e coberto pelas ruínas da igreja dos cruzados que foi destruída. Uma coluna, colocada sobre os restos da abside dos cruzados, era muito venerada pelos peregrinos: os latinos chamavam de “Beijo de Judas”, enquanto os orientais a chamavam de “Pater Imon” (Pai Nosso), aludindo à oração de Jesus em o Jardim. Perto da coluna existia uma zona rochosa, conhecida como “Rochas dos Apóstolos”, que segundo a tradição era a pedra nua onde os Apóstolos adormeciam enquanto Jesus, não muito longe, rezava.
A compra da área do Getsêmani, que inclui também a área verde além da estrada, ao longo do Vale do Cédron, foi uma operação longa e complexa, que pode ser resumida em 29 datas que vão de 9 de novembro de 1661 a março de 1905, quando por 57 mil francos , os armênios também cederam as terras ao sul do Jardim. As propriedades da Custódia, tanto da Gruta, nas mãos dos franciscanos desde 1361, como do jardim do Getsêmani, foram inscritas nos registros imperiais otomanos em 14 de dezembro de 1903.
Santo Sepulcro
Jerusalém tem um coração para os cristãos: o Santo Sepulcro, onde se encontram a basílica do Calvário e a tumba de Cristo. Eles são os memoriais dos últimos acontecimentos da vida terrena do Deus que se fez homem para a nossa salvação, morreu e ressuscitou no terceiro dia, de acordo com as Escrituras. São os Lugares Santos de Cristo por excelência, definidos pelos Padres como centro e umbigo da terra, as fontes das quais o homem tira a salvação e a vida. Os dois lugares santos estão interligados e inseparáveis, assim como o mistério pascal da morte e ressurreição de Jesus Cristo, que aqui se cumpriu e que se cumpre continuamente.
Em Jerusalém, na basílica da Ressurreição, é sempre a Páscoa do Senhor.
O túmulo vazio o atesta, o Evangelho o proclama: “O Senhor verdadeiramente ressuscitou!”
São os Frades menores que têm o mandato de guardar os lugares consagrados pela presença de Jesus na Terra Santa . É uma missão particular que lhes foi confiada pela Santa Sé desde 1342, como um legado da visita profética de São Francisco ao Sultão do Egito em 1219.
Os franciscanos no Santo Sepulcro celebram todos os dias segundo o Romano Liturgia católica e assistência aos peregrinos que lotam o santuário. A sua vida no Santo Sepulcro é marcada pelas funções litúrgicas das várias horas do dia e da noite. O Statu Quo estabelece como, quando e onde as várias comunidades devem se alternar para a oração, regulando não só o calendário litúrgico, mas também a maior parte do que acontece todos os dias, meses e anos.
Os franciscanos começam a celebração da Missa depois dos armênios, às 4h30 da manhã, e terminam o serviço no Santuário do Sepulcro com a solene Eucaristia comunitária às 7h15. Para outras orações, eles usam a capela do Santíssimo Sacramento.
Entre as celebrações litúrgicas, a comunidade franciscana anima todos os dias, das quatro às cinco da tarde, uma procissão que percorre o Santuário, inflamando os seus altares e capelas. A evocativa liturgia, acompanhada por grupos de peregrinos, recorda os momentos da paixão, morte, sepultamento e ressurreição do Senhor com hinos, antífonas e orações.
Jaffa
A tradição bíblico-cristã coloca vários episódios do apostolado de Pedro em Jaffa: a ressurreição de Tabita, a hospitalidade com Simão, o curtidor, a visão da toalha de mesa baixada do céu.
Daqui Pedro, chamado pelo centurião Cornélio, foi para Cesaréia onde acolheu os primeiros pagãos na Igreja.
“O que Deus purificou, você não chama mais de profano” A visão de Pedro, Atos 10,15
A importância da cidade de Jaffa (Yafo, Ioppe), nos tempos antigos, deve-se principalmente à presença do porto, natural ainda que de tamanho limitado e perigoso para as rochas. Aqui foi desembarcada a madeira de cedro do Líbano necessária para a construção do Templo na época de Salomão (2Cr 2:15) e Zorobabel (Esd 3,7). De Jaffa o profeta Jonas navegou para Tarsis (Gn 1,3) e nesta mesma praia foi rejeitado pelos peixes (Gn 2,11 – segundo a tradição local: Tel Yonah). Os Atos dos Apóstolos nos falam da presença de uma grande comunidade de judeus que acreditavam em Cristo. Eles foram consolados pela visita do apóstolo Pedro, que ressuscitou uma mulher chamada Tabita neste lugar. Em Jaffa, na casa de Simão, o curtidor, Pedro também teve a famosa visão da toalha de mesa caída do céu e contendo todos os tipos de animais, puros e impuros. Dali partiu para Cesaréia para receber na Igreja o centurião romano Cornélio, que foi o primeiro entre os pagãos a se converter com toda a família (Atos 10).
A igreja, dedicada a São Pedro, quer comemorar esses eventos. A construção foi realizada pela Espanha entre os anos 1888 e 1894 nas ruínas medievais da cidadela construída por São Luís IX, rei da França, durante a sétima cruzada (1251). Foi o mesmo rei que mandou os franciscanos virem a esta cidade: portanto, pode-se ver a estátua na entrada do convento. Desde 1650 os franciscanos são donos de um hospício em Jaffa para a recepção dos peregrinos que, cada vez mais numerosos, desembarcavam no porto da cidade. Na igreja você pode admirar os belos vitrais, feitos em Munique pela FX Zettler, o púlpito de madeira finamente entalhado, e a pintura do pintor catalão D. Talarn i Ribot, acima do altar-mor, representando a visão de São Pedro.
Rio Jordão
A leste de Jericó encontra-se o ingresso ao lugar que faz memória do batismo recebido por Jesus pelas mãos de João Batista, no Rio Jordão. Esse rio corre no meio desse venerado território, cortando-o em duas partes politicamente distintas e constituindo, hoje, o confim entre a área controlada por Israel (ao ocidente) e pela Jordânia (a Leste).
O lugar do batismo é indicado com o nome árabe de Qasr al-Yahud, rocha dos hebreus, provavelmente recordando a passagem do rio por parte dos israelitas, ao chega na Terra Prometida (Js 3,14-17).
O Jordão, cujo nome significa “corre sempre mais para baixo”, nasce da fusão de três cursos de água, todos os três alimentados pelas fontes do Monte Hermon: a torrente Senir ou Hasbani; a torrente Dan e a torrente Banias. O curso do Jordão, até o Mar Morto, se distende ao total de 330 km, mas em linha reta seria apenas 170 km. Na prática, o comprimento do rio é o dobro por causa de seus meandros. Fortíssima é a vaporização, por causa do clima. A quantidade é diminuída mais tarde pelos emissários de ambas as margens, a tal ponto que somente uma porcentagem menor das águas chega até o Mar Morto. O vale fluvial, largo de 10 a 25 km, é a rachadura mais profunda na crosta terrestre, entre aquelas não completamente enchidas de água. Na era glacial (há 100.000 anos) a inteira depressão constituía uma bacia que se ligava ao Mediterrâneo em Bet Shean. Hoje, daquela bacia restaram dois lagos: o Lago Genesaré (212 metros abaixo do nível do mar) e o Mar Morto (a – 426 metros). Em todo o caso, a fossa do Jordão é apenas um segmento de uma fratura muito mais extensa na crosta terrestre, que inicia no vale do Rio Oronte, na Síria, e se prolonga até a África através do Golfo de Áqaba e do Mar Vermelho.
Nain
O vilarejo de Nain situado no declive setentrional de Jabal Dahi (Monte Dahi), deve a sua celebridade ao Evangelho, pois naquele lugar Jesus ressuscitou o filho da viúva.
“A cidade de Nain, onde o Senhor ressuscitou o filho da viúva, se situa a cinco milhas do monte Tabor, junto a Endor”. Com estas palavras Eusébio de Cesaréia, atesta a permanência da memória sagrada no séc. IV. Sobre acontecimentos posteriores, nos informa um testemunho anônimo (provavelmente do séc. V-VI), recolhido por um monge beneditino chamado Pedro Diácono (sec. XII): “Na casa da viúva, na qual o filho foi ressuscitado, agora existe uma igreja, e a sepultura na qual seria colocado existe até hoje.” Uma “bela” igreja existia ainda em Nain no século XIV (frei Nicoló de Poggibonsi), mas a partir do século XVI não se fala mais do que ruínas. A igreja atual, simples e modesta, foi construída em 1881 sobre os restos da antiga. Conserva duas valiosas pinturas do fim do século XIX.
O vilarejo hoje em dia é totalmente muçulmano.
O cemitério antigo devia estender-se a parte oeste do vilarejo, sobre os declives da montanha, onde se pode ver diversas tumbas escavadas na rocha. Um sarcófago romano em pedra é conservado contra a parede da igreja.
Os franciscanos da Terra Santa, não sem dificuldades como descreve brilhantemente M. Sodar de Vaulx (trad. P. E. Crivelli, Milano 1891, pp.473-475), puderam adquirir as ruínas e edificar em Nain uma igreja. Uma relação escrita naqueles anos e publicada no l’Osservatore Romano, e então na La Terra Santa di Firenze (1 maio 1882, pp.94-95), também nos informam os responsáveis pela reconstrução da igreja: Filippo de Montaltoveglio, guardião de Nazaré; Frei Giuseppe Baldi, procurador da Terra Santa na Galiléia e Pacífico Saleh drogomano da Terra Santa que se encarregou de grande parte da disputa com os que queriam colocar obstáculos a obra. O narrador recorda ainda do “chefe do vilarejo, honestíssimo muçulmano de ótimo coração” que “permitiu tomar água da única fonte próxima e tirar pedras do seu fundo: água e pedras quanto necessários para uma fábrica, mesmo sendo recursos escassos no lugar”.
Nazaré – São José
A tradição cristã indica que em Nazaré, além da basílica da Anunciação, está a igreja de São José. Este santuário também é chamado “da Nutrição” porque Jesus alí foi criado até a idade adulta, aprendendo a profissão de seu pai adotivo.
“Lembrai-vos de nós, o beatíssimo São José, e intercede junto a seu filho adotivo com sua poderosa intercessão; e faze-nos também propícia a beatíssima Virgem tua esposa.” São Bernardino de Siena (1380-1444), sacerdote franciscano
Sabemos pelo relato do peregrino Arculfo (670 d.C), que em Nazaré “foram construídas duas grandes igrejas, uma no meio da cidade, fundada sobre dois arcos, onde estava a casa na qual nosso Salvador foi criado e outra no lugar onde estava construída a casa na qual o Anjo Gabriel saudou a Virgem Maria”. No século XVII, o padre Francesco Quaresmi faz referência a um lugar “chamado pelos locais: casa e oficina de José… onde havia uma bela igreja dedicada a São José”. O apócrifo História de José o marceneiro, narra a morte e sepultura do pai adotivo de Jesus de Nazaré, descrevendo como o mesmo Jesus o assistiu e confortou no momento de sua passagem desta vida. Sabemos também que alguns dos parentes de Jesus ficaram em Nazaré, segundo o relato do historiador judeu-cristão Hegésipo (séc. II d.C), citado na História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia: “Da família do Senhor, restavam ainda os netos de Judas, dito irmão segundo a carne, os quais foram relatados como pertencentes a estirpe de Davi.” Se deve supor que estes “parentes do Senhor”, tenham tido uma parte na conservação das memórias cristãs de Nazaré.
Tabgha e Magdala
Os peregrinos seguindo a tradição deixada pelos cristãos que viveram ininterruptamente em Cafarnaum desde os tempos de Jesus, afirmam ser Tabgha o palco de três eventos relatados nos evangelhos: a multiplicação dos pães, a aparição do Cristo Ressuscitado aos apóstolos e o sermão das Bem-aventuranças.
Seguindo em direção a tiberíades, após a planície de Ghinnosar, chega-se a Magdala, lugar do qual traz o nome Maria Madalena, a ardente discípula do Senhor.
“Não muito distante (de Cafarnaum), se avistam degrais de pedras, sobre os quais esteve o Senhor. Lá, junto ao mar, existe um campo verde, com feno abundante e muitas palmas, e próximo a este lugar estão sete fontes, de cada uma delas brota água abundante; foi neste campo que o senhor saciou uma multidão de pessoas com cinco pães e dois peixes. A pedra sobre a qual o senhor colocou os pães foi transformada em altar… próximo a parede da igreja passa a via pública, onde Mateus tinha o seu telônio. Sobre um monte vizinho está o lugar onde o Senhor subiu para proferir as bem-aventuranças”. Este texto, conservado num opúsculo medieval sobre os lugares santos é atribuído a peregrina Egéria (381-384 d.C.), constitui o mellhor atestado de localização dos eventos evangélicos em Tabgha, nome que tem sua origem na deformação do grego Heptápegon (sete fontes). Na planície, entre as fontes, está situada a igreja da multiplicação dos pães (trazida à luz no ano de 1932 pelo monge beneditino E. Mader), com seus antigos mosaicos do gênero nilotico e a célebre rocha debaixo do altar diante o qual estão representados os pães e os peixes utilizados por Jesus para saciar a multidão. Sobre o monte vizinho surge o santuário das Bem-aventuranças: o antigo, mais abaixo, junto a estrada (escavado em 1936 pelo padre B. Bagatti) e o novo santuário (Arquiteto A. Barluzzi, 1938), sobre um outeiro mais elevado.
Tiberíades
O Evangelho atesta que muitas pessoas de Tiberíades com barcos foram a Cafarnaum para encontrar Jesus. A antiga tradição cristã atesta a presença de uma grande comunidade judaico-cristã. A tradição posterior concentrou a memória de numerosos episódios evangélicos em Tiberíades.
“Agora, outros barcos tinham vindo de Tiberíades, perto do lugar onde comiam o pão depois de o Senhor ter dado graças.” Jo 6:23
Imagens e textos: site Custódia da Terra Santa (http://www.custodia.org/)