Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

História

Em 1808 nasce o Comissariado do Brasil

Antigo Hospício da Terra Santa na Rua Evaristo da Veiga, fundado em 1734

O Comissariado da Terra Santa no Rio de Janeiro passou por uma longa história. Em 1808, houve a independência do Comissariado de Portugal, sendo erigido o Comissariado do Brasil, com sua sede à Rua Santo Sepulcro, nº 10, Cascadura, Rio de Janeiro. Tal Comissariado compreendia o Rio de Janeiro (sede), com filiais na Bahia e em Sabará (MG). Por outro lado, constam nos arquivos da Custódia da Terra Santa os nomes (alguns sem o sobrenome) dos Comissários do Brasil da época e o ano em que visitaram a Custódia: Frei Francisco (1808); Frei Leonardo (13/07/1844); Frei José Damasus Pereira (15/10/1855); Frei Rafael Girardengo (setembro de 1872); Frei Aloísio Zaccagni (26/12/1874); Frei José Maria (01/08/1878); Frei Alexandre Ignatius Brid (06/03/1893); Frei Ciríaco Hielscher (12/11/1907); Frei Júlio Berten (15/03/1917) e Frei Paulo Stein (03/02/1923). (Cf. arquivo: Status Terrae Sanctae, De Commissariis Terrae Sanctae, 1924, p. 162).

Documentos da Superintendência Fazendária Imperial revelam que em 1881 a área, calculada na época em 38.229 metros quadrados, passa a ter como foreiro o Frei José Maria Dollarto. Trinta anos depois, isto é, 1911, uma nova demarcação do terreno é feita e a planta imobiliária da Superintendência Fazendária Imperial mostra como proprietária da área a Obra Pia da Terra Santa no Brasil.

Consta no arquivo da Custódia uma carta (manuscrita) ao Revmo. Frei Aurélio da Buya, Custódio, datada a 21 de maio de 1897, na qual ele cita o Comissariado de Petrópolis, ao escrever da Bahia, reclamando que estavam querendo vender o Comissariado de lá e que haveria dificuldades em conseguir outro local, uma vez tal Comissariado não tinha mais espaço junto ao Comissariado de Petrópolis. Esta carta é assinada pelo Frei Isaia Piscitelli . (Fonte: Arquivo da Custódia da Terra Santa, Jerusalém, Israel.)

O Comissário da Terra Santa no Brasil, Frei Alexandre I. Brid, em seu livro, de 1895, escreve os seguintes dados:

“Para recolher as esmolas dos fieis e remette-las á Terra Santa, a Ordem Franciscana tem incumbidos, em todas as nações catholicas, religiosos da mesma Ordem que estão divididos em Commissariados chamados da Terra Santa… […]. Petropolis – Commissariado Geral da Terra Santa no Brasil, Rvd. P. Fr. Alexandre I. Brid – Hospicio da Terra Santa”. (O Santo Sepulchro de Nosso Senhor Jesu-Christo, com mais algumas noticias e appendices, pelo P. Commissario da Terra Santa: Fr. Alexandre I. Brid, Rio de Janeiro (Typ. Leuzinger), 1895, p. 41-42.)

Sabemos que o Comissariado da Terra Santa funcionou em Petrópolis até o ano de 1918. Em 9 de maio de 1919, foi lavrada no Cartório do 2º Ofício de Justiça a escritura de compra e venda do imóvel, tendo como vendedora a Obra Pia da Terra Santa no Brasil e como compradora, a Associação Protetora do Recolhimento de Desvalidos de Petrópolis. Mais tarde, a instituição retomou o nome antigo, passando a ser denominada de Terra Santa ou mais especificamente, Centro Educacional Terra Santa.

A partir de 1998, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil passou a fazer parte, ainda que indiretamente, do trabalho desenvolvido pelo Centro Educacional Terra Santa. Em 2005, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil assumiu, financeiramente, o Projeto Cultura pela Paz, nomeando Frei Ivo Muller, como frade responsável pelo projeto. Em 2007, o Terra Santa passou a ser inteiramente gerenciado pela Província e no início de 2010, a Província devolveu o imóvel à Associação Terra Santa, sendo gerenciada atualmente por uma associação de frades, tendo como Diretor Presidente, Frei Antônio Moser, OFM.

Por determinação do Definitório da Província no final de 2009, a matriz do Comissariado foi transferida para o centro do Rio de Janeiro, no Convento Santo Antônio. Também manteve uma filial em sua velha sede, no Convento Santo Antônio, Pari, São Paulo. No final de 2018, por decisão do Congresso Capitular da Província, a sede do Comissariado, com seu arquivo e funcionalidade jurídica, foi transferida do Pari (São Paulo) ao Instituto Teológico Franciscano, Petrópolis, Rio de Janeiro.
Frei Ivo Müller, OFM
Comissário


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COMISSARIADOS NO BRASIL

            O trabalho dos Franciscanos em prol da Terra Santa no Brasil

A primeira referência documentada que temos sobre Comissariado da Terra Santa em terras brasileiras é da segunda metade do século XVII, e teve como personagem Frei Álvaro do Desterro: “Comissário Geral dos Santos Lugares no Estado do Brasil”, nomeado conforme as normas indicadas pelo visitador Frei Luís da Ressurreição.

Não se pode, entretanto, falar do Brasil Colônia e o princípio dos trabalhos pela Terra Santa, por aqui, sem lembrar que tal iniciativa dependia em boa parte do Reino de Portugal e da presença franciscana. Tempos difíceis marcados por guerras, invasões e inúmeras dificuldades de locomoção nas viagens.

Em 1584, houve a fundação da Custódia de Santo Antônio, com a inauguração do primeiro Convento em Olinda. Daí em diante a Ordem Franciscana, espalha-se rapidamente pelas outras capitanias e vilas da costa brasileira.

Na Europa, o Capítulo Geral de Segóvia em 1621, trata largamente da Obra da Terra Santa e sua organização em todo o território Europeu. Assim também, Portugal e Espanha, bem como suas colônias (É bom lembrar que por motivos históricos, Portugal e Espanha uniram-se de 1580 a 1640). Este Capítulo instituiu Comissários Gerais para cada uma das nações católicas, com colaboradores ou Comissários Particulares, cujo objetivo era a divulgação e auxílio à Terra Santa. É muito provável que só a partir dos primeiros decênios do século XVII, tenha se iniciado por aqui a pregação em favor dos Lugares Santos, por intermédio de frades vindos do reino. Um fato é documentado em 1622, quando o sertanista Belchior Dias, depois de tomar parte em uma expedição às minas de prata para a conquista de Sergipe, entre 1587 e 1590, demonstra grande devoção pela Terra de Jesus. Frei João Batista de Santo Antônio, Vice-Comissário Geral, em seu “Paraíso Seráfico I, 417”, menciona este como sendo o primeiro doador testamentário no Brasil. Frei João canta os louvores dos reis de Portugal pelo muito que fizeram em favor dos Santos Lugares na Palestina.

Foram três religiosos portugueses que em 1715, dirigiram-se por ordem do Comissário de Portugal à longínqua Província do Brasil. Consta que ao menos um deles, Frei Manuel de Santiago era “Clérigo de Missa”, tendo eles desembarcado na Bahia de Todos os Santos. Posteriormente, entende-se que Frei Francisco, Comissário Geral da Corte, nomeara os três frades portugueses, destacados desde então, como Comissários Regionais, para as três principais capitanias: Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.

Com o aumento de religiosos divulgadores e encarregados pela causa da Terra Santa, nota-se um avanço cada vez maior pelo interior do Brasil. Lugares e cidades bem conhecidos e de fácil acesso nos dias de hoje, demandava uma longa e sofrível viagem.

Os religiosos da Terra Santa foram os grandes evangelizadores nestes vastos territórios interioranos, não se limitaram, porém, às montanhas das Minas. Visavam também a terra dos bandeirantes, onde tiveram sérias dificuldades. (São Paulo se desmembrou de Minas Gerais em 1720, sendo elevado à categoria de capitania).

Por longos anos os frades que estavam a serviço da Terra Santa, os Comissários e seus auxiliares, hospedavam-se ou moravam em Conventos das Províncias Brasileiras, tendo aí, a sede de seus trabalhos, ou Comissariados. Depois de 1715, no entanto, começamos a perceber que a Obra Pia passa a possuir casa própria, chamadas de “Hospício”. Em poucos anos o número de hospícios aumentou tanto que dispensava o pessoal da Terra Santa, de pedir hospedagem nos Conventos da Ordem. Pode-se dizer que foi a emancipação desta Obra e que estava na lógica de seu funcionamento, em conformidade com a necessidade imediata: Casa de Hospedagem. Interessante notar que ao que parece, em nenhum outro domínio português, quer na África ou nas Índias, se chegou a fundar hospícios da Terra Santa, mas somente no Brasil. O primeiro hospício da Terra Santa foi construído em Lisboa, próximo ao Convento São Francisco. Na mesma época as cidades marítimas de Nápoles e Livorno tinham seus hospícios da Terra Santa, fundados com o intuito de facilitar os transportes e viagens à Palestina. Enquanto o convento destinava-se a residência estável de uma comunidade religiosa, o hospício era temporário, para religiosos itinerantes. O hospício não tinha as regras e exigências de um convento. Só residiam num hospício os que estivessem doentes, mais os que estavam a serviço da casa.

O hospício de Sant’Ana no Rio de Janeiro foi fundado em 1735, depois de vários anos de negociação, com os frades do Convento Santo Antônio, ferrenhos opositores. A construção só se tornou possível com a intervenção de D. Antônio de Guadalupe, também franciscano e bispo do Rio de Janeiro (1725-1739). Que auxiliou nas negociações com os frades do Convento, por solicitação do incansável Vice-Comissário Geral da Terra Santa, Frei Manuel de Santo Antônio.

Os Hospícios localizados em lugares estratégicos, ainda se mantiveram por um tempo. Poucos, entretanto, escaparam ao sequestro pelos anos de 1830. Acabaram nas mãos do Governo, ou foram abandonados e por fim, desapropriados. Um exemplo de resistência é justamente o de Cascadura no Rio de Janeiro, de onde pode  salvar-se boa parte de seu arquivo. O Comissariado de Cascadura foi entregue aos franciscanos holandeses de Minas por determinação da Comissão Geral da Terra Santa no Brasil. Este é o legítimo sucessor do antigo hospício do Rio de Janeiro, fundado na rua Barbônios, hoje Evaristo da Veiga, altura do nº 65 – 67. Um dos últimos Comissário-Geral do Santo Sepulcro em Cascadura, foi Frei Júlio Berthens (+09.09.1939). Este Comissariado adquiriu grande importância a nível de Brasil, por estar localizado na Capital e ter suas ramificações, posteriormente chamadas delegações em pontos importantes do país, como São Paulo-Itu(SP), Sabará (MG) e São João del Rei(MG), São Salvador(BA) e Petrópolis(RJ).

Novo Comissariado: A Província da Imaculada Conceição do Brasil, com sede em Curitiba-PR, tendo como Provincial Frei Marcelo Balmeister (+09.09.1942), nomeia para Comissário da Terra Santa, seu ex Ministro Provincial, Frei Felipe Niggemeier (+28.05.1952) e o irmão leigo, Frei Afonso Wutkowski (+01.09.1956), no dia 27/10/1934. Residentes no Convento Santo Antônio do Pari, que passa a ser sede do Comissariado de São Paulo. Seis anos mais tarde a sede Provincial, transfere-se também para este Convento em São Paulo. Em poucos anos, o Comissariado da Imaculada tornaria um dos mais atuantes do mundo, com mais de cem Dioceses, abrangendo todos os estados do sul, parte do centro e alguns estados do norte do Brasil.

Tal como em tempos apostólicos, a comunidade cristã da Terra Santa, está longe de ser auto-suficiente. Conhecemos a descrição das Coletas feitas por São Paulo em favor dos cristãos de Jerusalém: (Gal 2, 10; 1 Cor 16,1; 2 Cor 9,5-7).

A razão de ser das Ofertas é a necessidade de manter os Lugares Santos, de torná-los acolhedores para residentes e peregrinos. Auxílio à Igreja de Jerusalém e da Terra Santa, para sua missão de anunciar o Evangelho a todos, a partir da Terra onde Nosso Senhor viveu e foi anunciado.

Frei Luiz Donizetti Ribeiro

– Odulfo, Frei – A Obra Pia da Terra Santa, 1ª parte – 1615 – 1735 – da revista “Santa Cruz” – Divinópolis 1947.

– Arquivo do Comissariado da Terra Santa em São Paulo.

– Tierra Santa – la revista de los Santos Lugares, 660, 665 e 667.