Convento São Francisco
A Igreja e o Convento antigo – onde hoje está a faculdade de Direito – formavam uma única edificação. Destacava-se o imponente claustro, com seus cinco arcos sobre pilastras.
As fundações chegavam a 3 metros de profundidade e sua construção era em taipas, atingindo até 2 metros de espessura em certos pontos.
A estrutura atual do Convento São Francisco, na parte dos fundos da secular igreja, foi construída em 1941 pelo guardião Frei Damaso Venker.
Até 2004 foi a sede da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, fundada em 15 de julho de 1675 e presente nos estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina e Sul de Minas.
No dia 6 de junho de 1997, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, declarou que o Convento de São Francisco passaria a ser também Santuário São Francisco, já que recebia fiéis de toda a Grande São Paulo.
Por ser um Santuário, oferece atendimento espiritual ininterruptamente durante todo o dia.
A REFORMA MAIS RECENTE
A última e uma das maiores aconteceu recentemente, em 2017, para garantir uma vida mais longa a esta casa que é referência e símbolo da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil.
“Há mais de 20 anos se falava e se pensava em fazer uma grande reforma do Convento São Francisco. E isso ficou mais forte depois que o Provincialado saiu daqui. Havia um grande número de quartos da casa em condições muito precárias para acolhimento e para encontros, principalmente no caso dos banheiros, que são poucos por andar e limitados para uso”, explicou Frei Mário Luiz Tagliari, que recebeu a transferência para a guardiania da casa no início de 2016 sabendo que teria pela frente esta missão.
Com a reforma, o Convento também se tornou uma casa de encontros e retiros para grupos menores de 40 pessoas, já que disponibiliza 30 suítes nos 3º e 4º andares, para hospedagem individual ou em grupos. A Fraternidade local ocupa o sexto e quinto andares com 19 suítes.
COMO FICOU
Começando de cima para baixo, no 7º andar do edifício, onde funcionava o Arquivo Morto da Província, fica a Casa de Máquinas. Esse espaço abriga dois grandes geradores (VRF) que levam o ar condicionado (frio e quente) para toda a casa e os boilers do sistema de aquecimento de água através de energia solar. Para isso, todo o telhado foi trocado por painéis solares. “Essa casa, por ser muito alta e em um prédio antigo, o verão é extremamente quente, diria uma sauna, e o inverno é extremamente frio. Por isso, em cada quarto há possibilidade de ar quente e ar condicionado. Outro desafio era como colocar chuveiro elétrico em 53 apartamentos? Então foi feita a opção pela energia solar”, explicou Frei Mário.
Descendo, o 6º andar é o ponto de encontro dos frades. O espaço que já sediou os escritórios da Sede Provincial, os escritórios do Sefras, etc, hoje recebe a nova Capela, a biblioteca, a sala de TV, a cozinha (localizada bem no espaço que era a antiga Sala Capitular) e um grande salão com espaço conjunto para sala de recreio e refeitório. Já no quinto andar estão as 19 suítes para a Fraternidade local. Cada quarto, então, ganhou móveis novos, banheiro, ar condicionado, cabeamento para TV, internet e telefone. Cada andar tem um quarto para portador de necessidades especiais.
É importante lembrar que entre o prédio da Faculdade e o prédio do Convento construído em 1941, existe a construção do Convento antigo, onde estão alguns quartos de frades, a lavanderia etc. Este espaço também será reformado.
Abaixo, nos 4º e 3º andares ficam as 30 suítes que são disponibilizadas para encontros, retiros e hospedagem. Todos os quartos têm a mesma estrutura dos quartos preparados para os frades. No terceiro andar, na parte velha, onde ficavam as salas de TV e Leitura, a capela interna e a sala de Recreio Santa Clara, foram disponibilizadas para encontros e retiros, assim como o segundo andar com o refeitório atual (o Largo São Francisco está num plano completamente diferente da Rua Riachuelo, onde se situam os fundos do Convento, que na verdade é o térreo se a entrada foi feita pela frente da Igreja).
Ainda no terceiro andar, no trajeto que leva ao coro da Igreja, há três altares com pinturas de Frei Geraldo Roderfeld. Neste andar está a Capela do Batismo, reformulada para este propósito em março de 2022, o Salão Santa Clara e Espaço Cultural Franciscano, que abriga exposições e outras ações culturais.
A antiga sacristia se tornou uma sala penitencial. A nova sacristia fica atrás da igreja e ocupa também a sala que era usada pela Pia União de Santo Antônio.
Esta reforma também investiu na construção de um novo elevador. “O nosso elevador antigo tem capacidade para 4 pessoas. Quando entra mais uma, ele desliga. Ele é de 1940 quando o convento foi inaugurado. Estamos trazendo mais movimento para a casa, com encontros e retiros, então foi preciso construir um novo elevador”, observou Frei Mário.
Fora da antiga clausura, o prédio conta com diversas dependências. Começando na parte mais baixa desta rua, temos, no porão, a padaria e a marcenaria, que serve simultaneamente de garagem e depósito. No andar térreo está o grande salão São Francisco, com capacidade para mais de 1.000 pessoas, onde foi teatro e cinema até 1955. Hoje, faz parte do complexo do Sefras para a população em situação de rua.
Ainda no Segundo andar se encontram o salão São Dâmaso e Salão Frei Galvão, onde acontecem encontros e eventos da Paróquia, secretaria paroquial e salas de reuniões. Todos esses espaços foram revitalizados.
Igreja das Chagas
A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco fica anexa ao antigo convento, onde hoje está estabelecida a Faculdade de Direito da USP e foi recentemente reformada, tendo sido reaberta recentemente à visitação. Junto com o Mosteiro de S. Bento e a Igreja do Carmo (no atual Poupatempo), o Conjunto Franciscano é um dos vértices do “Triângulo”, região do atual Centro velho que lembrava um triângulo e que concentrava o núcleo da cidade de São Paulo nos seus primórdios.
A Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, foi inaugurada em 11/9/1787. Em 1676, frei João de São Francisco, comissário dos terceiros, iniciou a construção da capela da Ordem Terceira, que durou décadas, até ser ampliada e se tornar uma igreja independente. Na fase final das obras, decidiu-se que a fachada seria um prolongamento da igreja conventual e que a antiga capela, com planta octogonal, seria transformada em transepto. A técnica construtiva utilizada é a taipa de pilão com embasamento de pedra. O seu interior encontra-se bem conservado, com vários retábulos laterais em talhas de estilo rococó. A cúpula octogonal ostenta pinturas do final do século XVIII e, em outras dependências, trabalhos do mesmo período. Abriga, ainda, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, o antigo retábulo executado por Luiz Rodrigues Lisboa, entre os anos de 1736 e 1740.
Faculdade de Direito de São Paulo
Após o Brasil conquistar sua independência em relação a Portugal, em 1822, ficou evidente a necessidade do estabelecimento do ensino do Direito em terras brasileiras. Assim, deu-se início a discussão que resultou na lei de 11 de agosto de 1827 que cria os cursos jurídicos de São Paulo e Olinda.
Os estudantes brasileiros que antes precisavam atravessar o Atlântico para estudar em Coimbra, agora poderiam fazer seus cursos aqui mesmo. Em São Paulo, o local escolhido para abrigar a Curso de Direito foi o antigo Convento Franciscano que, na época e devido ao momento político, contava com apenas cinco Frades na Fraternidade. Assim, o espaço foi ocupado e a aula inaugural aconteceu no dia 1º de março de 1828.
A demolição do antigo Convento
Pouco a pouco todos os espaços do antigo Convento foram sendo ocupados e readequados para o uso do Curso Jurídico. Os frades foram encaminhados para outras fraternidades e a Igreja ficou aos cuidados da Ordem Terceira e da Irmandade de São Benedito. Até mesmo a biblioteca – que já contava com um valioso acervo de 5000 livros – ficou sob os cuidados da Faculdade. O próprio entorno do Largo São Francisco foi se modificando e ruas foram abertas. Na década de 1920, o edifício não comportava mais as necessidades do curso e o antigo Convento foi completamente demolido.
Um novo edifício neocolonial
Na década de 1930 um novo edifício foi construído. O projeto do arquiteto Ricardo Severo do escritório de Ramos de Azevedo, em estilo neocolonial , manteve as tradicionais arcadas do claustro dos Franciscanos. Os alunos já eram conhecidos como os alunos das arcadas e esta é uma referência que continua viva até os dias atuais. Assim, o projeto agregava à moderna arquitetura, elementos do barroco luso-brasileiro, evocando a tradição cultural do país e do antigo Convento que, naquele mesmo lugar e por mais de cem anos, acolhera a Academia. Nos vitrais da escadaria, logo no térreo, podemos encontrar uma memória do séc. XIX com a imagem do antigo Convento ao lado das igrejas franciscanas.
Disputa judicial
Com apenas três meses de existência do curso de Direito, o seu diretor, José Arouche Toledo Rondon, sugeriu ao governo Imperial a requisição de todo o Convento. Desde então, travou-se uma disputa judicial entre Faculdade e a Província Franciscana.
Em 1932, a Faculdade já estava iniciando obras que iriam mudar toda a configuração arquitetônica do prédio, quando teve início uma outra disputa judicial, já que estavam atingindo uma área que não havia sido cedida pelos religiosos. Os religiosos venceram a causa em 1933, mas a sentença foi reformulada em 37, julgando prescrita a ação da Ordem para o reconhecimento de qualquer direito de domínio quanto ao edifício da Faculdade de Direito.
Nem só de disputas judiciais viveram o Convento e a Faculdade. Nos anos de 1860 e 1971, a Irmandade Acadêmica de São Francisco, composta por professores, doutores e alunos da Faculdade, residentes na Capital, ajudou a manter o patrimônio cultural e religioso do Convento.